XV – Homem e Deus

Este artigo é um capítulo de Os Pergaminhos Voadores

Sobre a relação do Homem e Deus, e o tornar-se mais do que humano.

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Pergaminho Voador Nº XV
Homem e Deus

pelo G.H. Fra. N.O.M. (Dr. W. W. Westcott)

O círculo dos Membros do Grau de Adeptus da Ordem da R.R. et A.C. é uma fraternidade de estudantes das Ciências Herméticas e da Arte Hermética.

A corrente que nos une é a aceitação das doutrinas e da sabedoria contidas nos Rituais de nossa Ordem. A mesma afirmação vale para a Ordem da G.D., esse curso preliminar de instrução através do qual todos devem ter passado. A base comum da Fraternidade é a aceitação sincera da filosofia Hermética antiga, tal como expressa nas representações Ritualísticas, Pictóricas e Simbólicas que nos foram oferecidas em cada fase de nosso progresso.

Os ensinamentos da G.D. têm referência principalmente à Religião e à Filosofia; mas é claro que é óbvio que os nossos Rituais são apenas esboços e pontos de referência no mundo do pensamento.

Os espaços vagos cada membro preenche por si só, ou deixa em branco.

Um pouco de consideração nos garantirá que estes espaços vagos são preenchidos por membros individuais de maneiras muito diferentes. Toda sombra de heterodoxia é representada entre nós; e alguns de nós são quase ortodoxos, no entanto, todos nós sentimos um laço poderoso que nos une: este é a Sabedoria de nosso Ritual.

Donde vêm esses rituais, por quem vieram, e até mesmo quem são os nossos atuais Chefes do Templo, são todos assuntos de interesse secundário. O elemento pessoal do governo é apenas uma questão do regime de tempo, lugar e finanças, e não há nenhuma pretensão de autoridade de nada além do Ritual aceito. Vocês que estão aqui hoje para ouvir esta palestra (ou vocês que a lerão em seguida), vieram a esta Câmara só para buscar das minhas palavras outras sugestões de pensamento sobre os ensinamentos Ocultistas, você estão bem cientes de que eu só represento a mim mesmo no que eu digo, e que cada um de vocês é perfeitamente livre para reter o que parecer bom para vós e rejeitar o refugo. Na minha honra para com a Ordem na qual eu tenho uma parte, eu sempre fiz a mais clara distinção entre o Ritual Antigo e os nossos comentários modernos, e esta distinção deve-se sempre ter em mente, pois não deve ser considerado que as doutrinas de qualquer indivíduo mais velho ou governante são, necessariamente, completamente verdadeiras à fé Hermética. Todos os indivíduos se desviam, mesmo que alguns vão mais longe do que os outros. Então a presente Ordem não tem nem Papa e nem Papisa, e a nossa Bíblia em cada estágio é imperfeita; somos colegas, ainda implorando pela Luz; e cada aula dada aqui é apenas a expressão de opiniões pessoais de alguém que há muito mais tempo do que a maioria trilhou o caminho do progresso Hermético, e a proporção de doutrina ou fato que você aceita deve ser estimada por vocês, para si mesmos – é um dever que vocês devem a si mesmos trabalhar as suas próprias transmutações – alterar os poderes da vida sensual física nas faculdades espirituais refinadas do Adeptado, tanto em verdade quanto em nome. Como Adepto sênior entre vós, por agora, meus deveres são em mantê-los nas doutrinas de nossos Rituais, até onde seguem, – e deixá-los completamente livres onde elas não levam, mas estimular os seus esforços na busca do Ouro Filosófico por ocasionais breves ensaios meus, que embora bastante sem autoridade, sugerirão temas e linhas de pensamento que aqueles que vieram antes de vocês acharam fecundos de ideais elevados.

Hoje estou prestes a imitar os clérigos e dizer algo sobre dois textos, a partir da Bíblia hebraica; e então todos vocês são livres para pensar o que quiserem sobre o assunto.

Minha opinião é que uma parte é histórica, e uma parte da história é alegórica, e que enquanto ela foi concebida como um manual para a população, ainda há nela muitas referências a um credo esotérico realizado pelos sacerdotes da Nação.

Parece-me que os Nomes Divinos do Volume hebraico escondem especialmente e ainda assim revelam um vislumbre dos segredos do poder, da majestade e da governança Divinos. A Ciência Oculta em todas as épocas viu mistérios poderosos no nome Jeová. Os dois textos que estou prestes a me referir, igualmente, aludem ao grande nome Elohim.

O primeiro texto se encontra em Êxodo 32, Versículo 1, e foi usado, da forma que lembrarei, como um texto de meu G.H. Fra. D.D.C.F. em uma palestra que ele deu há dez anos para a Sociedade Hermética de minha querida amiga Anna Kingsford – é a palavra dos israelitas para Arão, quando Moisés subiu para buscar a Deus.

Faze-nos Elohim, que vão adiante de nós, ou, que nos faça Deuses para nos ajudar, para formar os nossos ideais. O outro texto está em Gênesis 1:26, Veamar Elohim Nosher Adam Be Azelinunu Re demuthun. E os Elohim disseram, façamos o homem em nossa imagem e após nossa semelhança. Perceba o contraste e a alternância de expressão. Os homens gritaram façamos deuses. Os Deuses disseram façamos homens. Estamos aqui em busca dos deuses, ou dos ideais divinos, e estamos fazendo homens; porque os homens fazem a si mesmos e fazem seus próprios deuses. O Poeta canta:

Os deuses etíopes têm olhos etíopes
Lábios grossos e cabelos encrespados;
Os deuses da Grécia eram como os gregos
Igualmente fortes, frios e Belos

Um filósofo moderno escreveu: “Os Deuses podem ter feito o homem, mas os homens fizeram os seus próprios Deuses, e fizeram uma grande confusão disso”. Tenhamos cuidado com que deuses fazemos para nós mesmos, e em que pedestais os colocamos.

O grande Jeová pode ter criado o homem no Jardim do Éden, não importa para mim; mas eu sei que eu me crio, e eu sei que vocês o tempo todo criam a si mesmos – a criança de fato é o pai do homem, tão certo como que o homem é o pai do filho – um poderoso mistério. Ora, Moisés subiu o monte santo para buscar a ajuda divina: este Sinai era a Montanha de Deus – a Montanha das Cavernas, a Montanha de Abiegnus, a Montanha mística da Iniciação – ou seja, da instrução divina. Mesmo assim buscamos inspiração na Montanha mística, passando pelo deserto de Horeb, esse período da vida que a princípio é um deserto para nós, enquanto deixamos de lado os prazeres mundanos, e procuramos passar através das Cavernas – nossa Cripta, para a união com os poderes espirituais acima de nós, que enviam um raio de luz para iluminar as nossas mentes e incendiar os nossos corações, o centro espiritual, com um entusiasmo pela vida superior do maior auto-sacrifício, do maior auto-controle – pelo qual significa que o homem sozinho pode chegar até o Divino e tornar-se um com o Todo – o grande Um-Tudo.

Nossa M.H. Sor. S.S.D.D. em um pergaminho anterior apontou essa passagem pelo deserto, e aquele volume de belos pensamentos, A Voz do Silêncio, faz alusão ao mesmo período do teste, que deve preceder o sucesso na realização da Vida Superior – Luz no Caminho também retrata bem o período de transição, quando pela energia do entusiasmo o pupilo inspirado deixa de lado a ambição mundana e as alegrias da vida, o orgulho do olho, a luxúria da carne, e aguenta firme buscando o ponto de apoio do primeiro degrau da escada mística, cuja ascensão pode preencher o coração com tais aspirações sublimes que o caminho não é mais íngreme e nem triste, e quando o Sol nascendo de Tiphareth, lançando um raio de esplendor sobre o Caminho, incentiva o labutador à consumação a ser desejada devotamente. Eu disse que nós criamos os nossos próprios deuses, e essa é uma grande verdade secreta. Moisés criou o seu Deus, e impressionou o seu ideal sobre as pessoas que ele liderou – Maomé formulou sua própria idéia de Deus, e de união pós-mortem com Deus, e de um Céu onde os homens são visitantes de um vasto Harém Celestial. Jesus ensinou a sua ideia de seu Pai, e suas sugestões tingiram o ideal de Deus de milhões; mas a mera adesão de milhões a qualquer doutrina é somente uma fraca evidência de sua verdade, pois como disse Carlyle, a maioria dos homens são tolos – o Homem não só formula uma Divindade, mas também projeta um contraste com a nossa noção de grandeza, conhecimento e poder Supernos. Assim também o Gênesis, pois ali encontramos Jeová frustrado pela Serpente; encontramos no livro de Jó que o Supremo foi conduzido à insensatez ou ingratidão ou pior, por Satanás, que veio diante dele entre os Filhos de Deus – e por força da aplicação a Jó de cada sofrimento terreno, procurou degradá-lo diante de seu Mestre. Encontramos os Evangelistas descrevendo um Satanás somente segundo a Jesus, que tinha poder para prometer, e, devemos supor, a conferir a Jesus, ou o Senhorio do Mundo ou uma supremacia divina sobre a matéria, – se ele apenas propusesse uma submissão nominal.

Nós encontramos o sacerdote medieval europeu formulando o demônio humano com chifres e rabo grotescos e, finalmente, somos instruídos sobre a enumeração cabalística das Sephiroth Malignas e Avessas. Não são todas estas ideais humanos, e se fôssemos somente filosóficos no coração, não devemos confessar que essas noções são apenas tentativas fúteis de expressar o desconhecido e incognoscível? Nenhum homem pode ir além de seus próprios poderes, e se nós somente formularmos como divino o nosso próprio ideal altíssimo pouco dano pode ser feito, contanto que outorguemos poderes iguais de formulação aos nossos irmãos.

Mas no que diz respeito a Seres Malignos, evitemos, e tomemos cuidado ao especular ou projetar forças contrastantes aos nossos altos ideais; pois a mente tem uma força criativa que pouco conhecemos ou compreendemos, e em nossa ignorância, podemos criar em nossa própria auras personalidades malignas em espaços que poderiam ter permanecido vagos.

Nunca arrisque a criação de forças Malignas, vamos evitar e repelir com coragem, firmeza e decisão todas as prontidões do mal que nos atacam – mas evitemos a arrogância e a impertinência, pois até mesmo as assim chamadas forças malignas, os poderes contrastantes, têm funções a desempenhar, e até mesmo as forças do mal pode ajudar a avançar as do bem, como é tão lindamente aludido em nosso Ritual de Adeptus. É suficiente dizer que cada homem tem uma natureza dual, ou que todo homem tem forças duplas – Yetza ha Ra-Yetzer ha Job – atendendendo a ele; ou como o teósofo prefere colocar a questão, o homem tem um manas superior e um manas inferior, e o destino de qualquer indivíduo está dentro de limites sob seu próprio controle.

O resultado geral da vida presente pode ser positivo ou negativo, pois o Homem tem Livre Arbítrio, dentro de limites, e limites muito expansíveis também. Deus, ou os Poderes Divinos, de fato projetaram e constituíram o plano da constituição, origem e destino do Homem, e é somente de momento superficial se na filosofia consideramos o Homem como um Ternário, um Setenário ou como uma Década, mas é de vital importância lembrar que com o Livre Arbítrio vem a responsabilidade pessoal, e que todo pensamento e ato; que estamos diariamente e a cada hora realizando fazem a história futura de nós mesmos, e acumulando destino cuja realização não pode ser impedida por intervenção divina nem alterado por um piegas arrependimento sentimental, nem pelos sofrimentos sub-reptícios substituídos de outros. O tipo do homem pode realmente ser visto como emanando dos Elohim da Vida, do Alto Setenário dos Poderes, e a sua constituição pode ser em forma elementar atribuída ao Sol como o Doador do Fogo Vital, à Lua pela Moldagem Astral da Forma, à Terra pelo corpo Material: os Planetas e Estrelas podem influenciar a forma, o crescimento e as tendências do homem, mas o destino do Pensador dependerá dos Pensamentos. Isto é tudo verdadeiro para o homem como um tipo de Criação – o Homem como um Indivíduo a todo instante cria a si mesmo – Uma vida cria a outra. Pode haver um Céu final, um descanso final, uma re-absorção na Deidade, mas isto não é agora. A escada da progressão da terra para o céu deve ser escalada, antes do pé poder atingir o cume. Alguns egos podem subir rapidamente, alguns podem passar lentamente, o próprio esforço é a medida do sucesso.

Então criemos o Homem – criemos o Homem Divino a partir do Homem Humano. Criemos o homem Hermético ideal do homem material sensual. É nosso dever sagrado abrir o Véu de Paroketh e deixar o nosso intelecto humano atingir a percepção do Santo dos Santos que brilha dentro de nós a partir de cima. Porque agora vemos-nos através de um vidro escuro, mas quando o Véu aberto, veremos Deus face a face.

Assim como os Alquimistas do passado, quando passando do físico, desenharam a imagem da transmutação das Almas ou a tradução para a eternidade do tempo – assim como eles também perceberam este Crescimento e Desenvolvimento da Alma.

Eles escreveram em bela alegoria:

O Coração do homem é como o Sol, o órgão de recepção do Raio Divino da intuição espiritual descendo para o Homem. O Cérebro do Homem é como a Lua, – a fonte do intelecto humano. O Corpo do Homem é o veículo terreno.

Que o Sol impregne a Lua, ou que o Fogo Espiritual induza o intelecto humano – e que o resultado frutifique no seio de um Corpo purificado, e você desenvolverá o Filho do Sol, a Quintessência, a Pedra dos Sábios, a Verdadeira Sabedoria e a Felicidade Perfeita.


Traduzido por Alan Willms

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