XIII – Sigilo e Amor Hermético

Este artigo é um capítulo de Os Pergaminhos Voadores

Sobre a Vontade, a convivência com os outros, a individuidade de nosso caminho e o silêncio.

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Pergaminho Voador Nº XIII
Sigilo e Amor Hermético

pela M.H. Sor. S.S.D.D. (Florence Farr)

Sem dúvidas todos nós ouvimos falar dos terríveis testes físicos aplicados nas Iniciações egípcias e estamos conscientes de que a violência a ponto de tortura foi usada nos Mistérios Antigos antes que o Neófito fosse considerado apto a dar os primeiros passos na sua Ascensão da Montanha de Deus.

Embora os métodos de nossa Ordem sejam diferentes, o Espírito é o mesmo, e a menos que nós aprendamos a indiferença ao sofrimento físico, e tornemo-nos conscientes de uma Vontade Forte, uma vontade que não teme nada que o destino possa nos causar, nós nunca poderemos receber a Iniciação Verdadeira.

Estas cerimônias nos graus inferiores de Nossa Ordem são principalmente ativas em disciplinar as nossas mentes, pois elas nos levam a analisar e compreender a nós mesmos. Elas lidam com os Quatro estados da Matéria, os Quatro Elementos dos Antigos, que com sua síntese respondem aos cinco Sentidos. Nossos Sentidos são os caminhos através dos quais a nossa Consciência se aproxima do poder central que, por falta de uma palavra mais precisa, eu chamarei de Vontade.

É o objetivo de nossas vidas como iniciados trazer essa Vontade a um tal estado de perfeição, força, e sabedoria, que, em vez de ser o joguete do destino e encontrar nossos cálculos inteiramente frustrados por circunstâncias materiais triviais, construímos dentro de nós uma fortaleza de força para que possamos nos retirar em tempos de necessidade.

O Homem natural é uma massa caótica de forças contraditórias. Nos graus mais elevados da Primeira Ordem, (apresentando aos sentidos uma série perfeitamente equilibrada de símbolos) nós nos esforçamos em impressionar a imaginação dos iniciados, as formas pelas quais eles podem obter a perfeição e trabalhar em harmonia com a força do mundo.

Na Cerimônia de 0=0 os princípios em que mais se insistiam eram o Sigilo e o Amor Fraternal. Inteiramente à parte da necessidade prática de sigilo em nossa Ordem, está o fato de que o Silêncio em si é uma enorme ajuda na busca por poderes Ocultos. Na escuridão e na quietude as formas Arquetípicas são concebidas e as forças da natureza germinam. Se estudarmos os efeitos da concentração calma veremos que em silêncio, os pensamentos que estão acima da consciência humana vestem-se de simbolismo e apresentam coisas à nossa imaginação, que não podem ser ditas com palavras.

Quanto mais o pensamento e a concentração de propósito precedem uma ação, o mais efetivo e eficaz ela será. Mais uma vez ao falar sobre assuntos como estes, há sempre um perigo terrível da influência pessoal ou da obsessão entrarem em ação. A Águia não aprende a voar das aves domésticas – nem o Leão usa sua força como o cavalo – e, embora o conhecimento deva ser adquirido a partir de todas as fontes disponíveis, a Opinião dos outros deveria receber a atenção mínima do verdadeiro estudante da Vida .

Se livrem de seus ambientes. Não acredite em nada sem pesar e considerar por si mesmo; o que é verdadeiro para um de nós, pode ser totalmente falso para outro. O Deus que irá julgá-lo no dia do acerto de contas é o Deus que está dentro de você agora; o homem ou a mulher que iria levá-lo por este ou aquele caminho, não estará lá para então tirar a responsabilidade de seus ombros.

“A antiga beleza já não é mais bela; a nova verdade já não é mais verdadeira”, é o grito eterno de uma vida que se desenvolve e realmente se vitaliza. A nossa civilização passou através do Primeiro Império de sensualismo pagão; e o Segundo Império do sacrifício enganoso, de abrir mão de nossa própria consciência, do nosso próprio poder de julgar, da nossa própria independência, da nossa própria coragem. E o Terceiro Império aguarda aqueles de nós que podem ver – que não só no Olimpo, não apenas pregado na cruz, – mas em nós mesmos está Deus. Para tal de nós, a ponte entre a carne e o espírito é construída; pois tal entre nós detêm as Chaves da vida e da morte.

A este respeito, posso mencionar que o Grau 0=0 de Neófito tem um profundo significado como um símbolo; um 0 significa nada para o mundo – para o iniciado sob a forma de um círculo isso significa tudo, e a aspiração do Neófito deveria ser “Em mim eu não sou nada, em Ti eu sou tudo; Ó traga-me a aquele self, que está em Ti”.

Tendo até agora considerados alguns dos pensamentos que a prática do silêncio pode lhe trazer, vamos continuar com o tema do amor fraterno.

Naturalmente, devemos tomar a palavra, como nós tomamos todo ensinamento superior, como um símbolo, e traduzi-lo para nós mesmos em um plano maior. – Deixe-me começar por dizer que qualquer amor para uma pessoa como um indivíduo não é de modo algum uma virtude Hermética; isso simplesmente significa que as personalidades são harmoniosas; nascemos sob certas influências, e com determinadas atrações e repulsões, e, assim como as notas na escala musical, alguns de nós combinamos, alguns não combinam. Nós não podemos superar esses gostos e desgostos; mesmo se pudéssemos, não seria aconselhável fazê-lo. Se na Natureza uma planta se mantivesse crescendo em solo inadequado para ela, nem a planta e nem o solo seria beneficiados. A planta murcharia, e provavelmente morreria, o solo seria empobrecido sem qualquer bom fim.

Portanto, o amor fraternal não implica procura, ou permanecer na sociedade daqueles a quem temos uma repulsa involuntária natural. Mas significa que devemos aprender a olhar para as ações das pessoas a partir do ponto de vista delas, que devemos nos simpatizar e dar subsídios para suas tentações. Então eu definiria o Amor Hermético ou Fraternal como a capacidade de compreender os motivos do outro e simpatizar com suas fraquezas, e lembrar se de que geralmente é o infeliz que peca.

Um crime, uma falsidade, uma mesquinharia, muitas vezes nasce de um vago terror de nossos companheiros. Nós desconfiamos deles e de nós mesmos.

São os oprimidos e os fracos a quem temos de temer; e é oferecendo-lhes simpatia e fazendo o que podemos para dar-lhes coragem que podemos vencer o mal.

Mas ao praticar o Amor Hermético, acima de todas as coisas, conquiste aquela picada terrível do amor-invejoso. O ciúme do benfeitor, o ciúme do amante, ou do amigo, são paixões odiosas e degradantes. O ciúme está profundamente enraizado na natureza humana alimentado pelo costume, até mesmo elevado à categoria de virtude sob o pretexto de fidelidade.

Para ver a natureza humana no seu pior você só tem que ouvir os delírios e as ameaças de uma pessoa que considera que o seu monopólio da afeição de alguma outra pessoa foi violado. Este tipo de paixão maníaca é o resultado do egoísmo – Deux, que tem sido tão promovido pelo romance.

Mas é natural querer ajudar e ser necessário para aqueles que amamos, e quando encontramos outros igualmente necessários ou úteis, sentimo-nos magoados de que a nossa “ocupação” se foi; mas esses ressentimentos serão impossíveis para nós quando pudermos viver no mundo percebendo a cada dia mais plenamente que o maior e melhor princípio dentro de nós é a Luz Divina que nos cerca, e que, em condições mais ou menos manifestas, está também nos outros. O veículo pode ser desagradável para nós, a personalidade do outro pode ser antipática, mas a luz latente está lá tudo da mesma forma, e é isso que nos torna todos irmãos. Cada indivíduo deve chegar à consciência da Luz em seu caminho; e tudo o que podemos fazer um pelo outro é apontar que o caminho certo e reto está dentro de cada um de nós. Ninguém voa alto demais com suas próprias asas; mas se tentarmos forçar o outro a tentar mais do que a sua força garante, sua queda inevitável estará à nossa porta.

Este é o nosso dever para com os nossos próximos; nosso dever para com Deus, é nosso dever para com nós mesmos; pois Deus é idêntico com o nosso maior gênio e se manifesta em uma vontade forte e sábia, livre do governo do instinto cego.

Ele é a Voz do Silêncio,
O Preparador do Caminho,
O Que Resgata à Luz.


Traduzido por Alan Willms

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