Sobre como Reconhecer os Juramentos de Nossa Ordem no Ritual do Pentagrama e no Ritual de Fazer Chá

Este artigo é um capítulo de Liber Zelotes

Liber “Zelotes” faz parte da trilogia com Liber “Adeptus” e Liber “Magistri”. “Zelotes” no geral descreve o significado e as práticas da A∴A∴, “Adeptus” trata da “Ordo Thelema”, e “Magistri” é uma coletânea dos Livros Sagrados de Thelema com comentários.

.
Leia em 10 min.

Sobre como Reconhecer os Juramentos de Nossa Ordem no Ritual do Pentagrama e no Ritual de Fazer Chá

Considere, se quiser, o seguinte:

GrauSephirothAtuAtu por Valor NuméricoAtu pela Sequência
ProbacionistaMalkuth (externo)10XEremitaFortuna
NeófitoMalkuth (interno)10XEremitaFortuna
ZelatorYesod9IXTesãoEremita
PracticusHod8VIIICarruagemAjustamento
PhilosophusNetzach7VIIAmantesCarruagem
Dominus LiminisO véu: Paroketh----
Adeptus MinorTipharet6VIHierofanteAmantes

Essas tabelas são apresentadas como um resumo e introdução de algumas ideias e princípios sobre a “influência” das Iniciações sobre a Árvore da Vida. Minha intenção é dar motivos para pensar e estudar isso.

Por exemplo, veja que é dado (pelos números) o relacionamento dos Graus e certos ATU do Tarô: Malkuth com o Eremita e a Roda da Fortuna (o Eremita aqui é o ocultador e místico, dá uma ideia de como Mercúrio, através da abordagem sistemática de Virgem, organiza o mundo material. A Fortuna é de Júpiter, o que representa multiplicidade e manifestações infinitas, mas também princípios que atuam em tudo); Yesod com Tesão e o Eremita (Tesão é de Leão e da Serpente, o despertar das energias sexuais-astrais – estes são os fundamentos do ensinamento sobre a união das polaridades – através da aspiração ao Sol – o Ponto no Círculo – “0=2”; a Rosa e a Cruz, etc.); Hod com a Carruagem e o Ajustamento (A Carruagem é de Câncer e da Lua, mas na “filosofia” thelêmica ela aponta para compreensão prática, aceitação e gnose de fórmulas e sistemas Universais; Hod é Água, assim como a Carruagem. O Ajustamento nos lembra do juramento do Practicus, que aspira a obter o controle das vacilações do seu próprio ser de modo que ele possa realizar a Grande Obra)...; Netzach com os Amantes e a Carruagem (os Amantes são de Gêmeos e Mercúrio, mas também apontam ao casamento dos atributos opostos e partes do ser; Sete é o número de Vênus e Netzach, a Carruagem aqui é ardente energia da satisfação da natureza feminina, que se esforça com ardor para superar os partidarismos e repulsões); o Véu de Paroketh não está relacionado com Atus do Tarô desta forma (e por enquanto eu recomendaria primeiramente estudar o Ritual de Iniciação em LIL); o Hierofante é o Iniciador (HOOR) – o Sagrado Anjo Guardião; Seis é o Sol, Tipharet. Aqui os Amantes são o encontro do Magista e Deus, o Eu Inferior e o Superior, o Microcosmo e o Macrocosmo, etc.

... poderia ser discutido mais sobre isso, mas não há necessidade de balbuciar demais.

Saiba, seja Capaz, Ouse e – fique Quieto. Vá.

II

Tomemos por exemplo em consideração como os nossos “juramentos” (ou seja, “promessas solenes”) podem ser relacionados com o Ritual Menor do Pentagrama.

O Probacionista jurou obter conhecimento científico sobre a natureza e os poderes do seu próprio ser. E o que ele faz – ele estuda este Ritual em (quase) todos os pormenores, os significados de todas as partes e do todo, e os Sábios disseram que este Ritual é de grande importância e que nele estão o Conhecimento e Poderes do Ser.

Neófito disse que sua vontade é obter o controle da natureza e poderes do seu próprio ser. E isso é feito pela realização deste Ritual. Portanto, após o conhecimento da natureza e poderes serem obtidos, procura-se controlá-los – porque tudo deve estar “sob Vontade”, como o Amor. Em tudo isso, ou seja, no Ritual do Pentagrama, existem partes e características específicas dessas unidades e também o equilíbrio em todas. E pelo despertar dessas energias – através do trabalho, através da realização desse Ritual usando a visualização, a vibração dos Nomes Divinos, movimentos e gestos – o ser se sincroniza com sua essência e a controla com o seu saber, ousar, querer e calar-se. Além disso, pode ser visto também que este Ritual “descreve” as Fundações, ou seja, os fatores básicos – os elementos do Ser, de tal forma que o Magista, ou seja, agora Zelator, conhece em detalhes a si mesmo a partir de dentro e sua consciência lhe traz controle sobre essas fundações. Parece que os elementos, ou seja, as partes do Ritual do Pentagrama estão sendo reconhecidas dentro de si mesmo e na vida, e que isso pode ser aplicado na vida como um método de atuar no código Universal – que é o mais simples e o mais puro método.

Além disso, esse controle sobre os Fundamentos do Ser (este Fundamento também é sutil-astral, e de natureza sexual, pois une os opostos em equilíbrio) desperta na consciência do aspirante a existência de certas vacilações no Ser – e essas vacilações são superadas pelo ajustamento, e isso não é só pela percepção e conhecimento intelectual, mas também pela ação-trabalho; no Ritual do Pentagrama essas vacilações aparecem no movimento, mas o “quadro” geral ao final é entendido como equilibrado – o círculo completo é feito (e também na primeira “Cruz Cabalística” e na de encerramento, e durante o despertar das forças do Pentagrama no meio, conforme no equilíbrio dos Arcanjos que não são apenas sefiróticos, mas também elementais – portanto da Fundação – a essência do Ser).

Em seguida poderia ser possível perceber que estas vacilações vêm de determinadas atrações e repulsões que ocorrem na natureza do Ser, e pela conquista destas “coisas” o equilíbrio mantém o magista no Pilar do Meio: “Ao meu redor flamejam os pentagramas, e na coluna brilha a estrela de seis raios!” Tudo até agora foi seguindo as tendências do ser para fazer “isso ou aquilo”, a fim de realizar a Grande Obra que no caso é realizar o Ritual do Pentagrama: aqui se deve reconciliar-se com esta tendência e criar tal equilíbrio de forma que o Véu se abra e o Hexagrama do Sagrado Anjo Guardião seja “visto”.

Alguns de nossos Irmãos, por exemplo, descrevem o processo todo de forma semelhante, mas também de maneira específica: a primeira Cruz Cabalística é a “Criação da Ilusão”, os movimentos no meio do ritual são “Viver a Ilusão”, a Cruz Cabalística final é a “Libertação da Ilusão”, e depois de realizado o Ritual, entramos na quarta fase, que é a “Liberdade da Ilusão”. Então, alguns diriam que com o pentagrama no Leste se faz conexões com as forças do Ar, no Sul com o Fogo, etc., então esses nomes-fórmulas nos levam à gnose da seguinte maneira: “YHVH” – a doutrina dos princípios que tudo-abrangem (através Tetragrammaton – em cuja fórmula quádrupla estão também as outras fórmulas do Ritual dado); “ADNY” – a aspiração e o conhecimento do Sagrado Anjo Guardião; “AHYH” – Travessia do Abismo (Oeste-Morte-Água) e ascensão em direção ao Altíssimo (e AHIH é o nome-fórmula de Kether) e “AGLA” – a transferência do ensinamento aos outros e a celebração da Verdade. Arcanjos participam da criação do equilíbrio, e as Cruzes Cabalísticas despertam a LVX no Pilar do Meio – também o mantendo em equilíbrio (a primeira “desperta”, a última “estabelece” ele).

Portanto, se podemos reconhecer estes princípios das nossas Iniciações e Juramentos através do Ritual mais básico que ensinamos aos Iniciados, então podemos facilmente identificar esses princípios e fases na totalidade do nosso ser e no âmago da natureza do nosso Ser. Pela aprendizagem e trabalho nós obteremos (é claro, os “métodos científicos” estão implícitos) aquele conhecimento científico essencial da natureza e poderes de nosso próprio ser, portanto, através disso obter o controle sobre os poderes das fundações também, e através do controle sobre vacilações, atrações e repulsões, e as tendências básicas em si – reconhecer o que o Verdadeiro Ente sempre nos fala: “Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei” e “Tu não tens direito senão fazer a tua vontade”; por tudo isso atingir o conhecimento, com toda a vontade e ousadia (pelos poderes da Pirâmide e da Esfinge, e os poderes da Rosa e da Cruz), e também silêncio específico (que é também a dignidade e o orgulho desta espiritualidade), virá (através da abertura do véu) ao Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, que é alcançar o conhecimento de nossa Verdadeira Natureza (de Estrela) e da Vontade que nós devemos realizar externamente como a Grande Obra.

E mais uma vez para ser claro, se nós aprendemos o que é a Obra, a “Grande Obra” não está longe. Aqui está outro exemplo de “obra”: se eu digo “minha vontade é fazer um chá!” – como é que eu reconheço todo o processo numa tal operação banal? Desta forma: Primeiramente obtemos conhecimento científico sobre a natureza do chá, das suas características, sabores... Ou seja, aprendemos a fazer chá, praticamos e melhoramos as nossas capacidades de fazê-lo; as fundações deste trabalho são tomadas para si, por exemplo, de um dos clássicos “rituais”, ou seja, técnicas, de fazer o chá. As “vacilações” são superadas com o conhecimento de todo o processo, as medidas exatas e elementos específicos, e “quando fazer o quê” durante o procedimento. Retirar a panela com água do fogo, antes ou depois de algum tempo pode influenciar no sabor ou qualidade do chá. É claro que os gostos variam, portanto afinidades e repulsões têm influência, mas, por exemplo – se for necessário para a saúde ele tem que ser tomado – e devidamente preparado – mesmo que seja muito amargo, pois é um chá que cura.

Assim, no final, toda a nossa aspiração para fazer chá nos levou a isso, que nós: obtemos conhecimento, quisemos tudo isso e ousamos fazê-lo; e no final, o que permanece para nós é desfrutar do belo sabor do chá em silêncio.

... Nós podemos aprender o seguinte com isso: assim como nós escolhemos o sabor específico do chá, do mesmo modo a nossa Verdadeira Vontade nos leva a escolher aquilo que é autointrínseco a nós, isto é, o “sabor” adequado e específico de nossa vida, nossa Obra e a Grande Obra – assim alguém pode se reconhecer nisto como um cozinheiro, alguém como um operário, alguém como um escritor ou poeta, alguém como um astrólogo, alguém como um "eterno" estudante, alguém como arquiteto, alguém como mago e alguém como algo completamente diferente, intrínseco à luz de sua própria Estrela – enquanto alguém realmente não poderá se reconhecer nisto (“os escravos servirão”).

E mais, através disso que todos possam ver que, assim como há muitos modos de se fazer o chá, existem muitas maneiras de realizar a Verdadeira Vontade – mas! – Todo mundo escolhe seu próprio caminho, ou seja, seu “ritual” de fazer o chá, e sua própria maneira e “ritual” de executar a Grande Obra – a Opus Magnum.

Neste texto eu dei algumas ideias, desde as puramente técnicas até as mais simples, ou seja, do Tarô e Sephiroth, pelo Ritual do Pentagrama, até fazer chá; e essas ideias, se você assim for inspirado, podem se aplicar aos seus próprios exemplos pessoais. Nunca se deve esquecer de que todo o propósito do trabalho “externo” é chegar à descoberta da Verdadeira Vontade e ao Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, e isso através da “fórmula” mais alta: “0=2”; e isso é o equilíbrio e união dos pares de opostos das polaridades, de modo que não estamos apenas “aspirando” ao Sol, cujo símbolo é o Ponto no Círculo, mas também para a aquilo “além” ou “dentro” dos “Mistérios”.

Sobre todo pensamento, fala ou ação, você pode se perguntar: “E o que isso tem a ver com a minha Verdadeira Vontade?” – E se você sentir prazer, pode ser que você esteja no caminho certo, e se você sentir náuseas – pode ser que você fez chá do modo errado.


Traduzido por Alan Willms

Gostou deste artigo?
Contribua com a nossa biblioteca