Ocultismo e o Psicossoma

Este artigo é um capítulo de Ataque e Defesa Astral

Sobre a influência de forças sutis na vida humana e os habitantes do Astral.

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Ocultismo e o Psicossoma

A palavra psicossoma, ainda pouco usada em português, define o conjunto de processos vivos de qualquer organismo: inclui tanto os fenômenos psicológicos quanto os fenômenos fisiológicos. Na realidade, é impossível separa-los, pois a consciência normal, isto é, egóica, é puramente subjetiva; nós só sabemos,normalmente, do nosso meio ambiente através das modificações que ele provoca em nossa mente e em nossas emoções. Para conhecermos o Universo tal qual ele realmente é, torna-se necessário desenvolver faculdades além dos cinco (assim-chamados) sentidos. A mente do homem normal (assim-chamado) é incrivelmente confusa, e a repercussão de contato com o meio-ambiente pode provocar tanto distúrbios mentais que se manifestam como doenças do organismo físico quanto distúrbios do organismo físico que se manifestam como doenças mentais.

Faz algum tempo, fomos procurados por um jovem casal que obtivera nosso endereço de um conhecido mútuo, o qual fora suficientemente indiscreto para lhes dizer que éramos um grande conhecedor de ocultismo. Embora não gostemos de conversar sobre tais assuntos com profanos, em atenção ao nosso conhecido (1) ouvimos o problema do casal. O marido tinha uma irmã que estava acometida de um mal inexplicável, o qua periodicamente causava um excesso de pressão no fluido espinal, provocando convulsões semelhantes à epilepsia.

Preparamos uma adivinhação do Taro, a fim de ver se poderíamos ser de auxílio a essas pessoas, e o resultado da primeira manipulação das cartas indicou que o problema era de ordem financeira. Ao declararmos isto ao casal, o marido negou veementemente que assim fosse.

Quando isto ocorre, o operador é aconselhado a abandonar a questão por completo, pois não existe afinidade entre ele e os consulentes; conseqüentemente, não poderá lhes ser de auxílio.

Neste particular caso havia afinidade, mas não havia boa fé: conforme pudemos averiguar mais tarde, o problema era, realmente, financeiro. A doença da irmã estava causando despesas extras à família, e o irmão, ambicionando viajar à Europa com a esposa, estava procurando uma solução rápida e barata para o problema consultando um bruxo – no caso, nós! Quer porque não estivesse conscientemente ao par dos seus motivos, quer por vergonha de nós, negou que sua preocupação primordial fosse o dinheiro. Ainda em tais casos, convém afastar imediatamente o consulente, a quem não poderemos ser de qualquer auxílio, devido à sua hipocrisia ou à sua falta de percepção de seus próprios motivos.

Infelizmente não somos perfeitos, e por isto nem sempre fazemos o que devemos: ficamos com pena do casal, e não tivemos coragem de manda-los embora! O amor deve ser sob vontade: o relacionamento todo foi pura perda de tempo e desperdício de energia que poderia ter sido mais eficientemente aplicada alhures.

Contrariando as regras, prosseguimos a um interrogatório do casal, e obtivemos os seguintes dados: a irmã, até recentemente, fora casada com um oficial pára-quedista, o qual, segundo ele próprio confessara à família, estivera envolvido em atividades violentas após 1964 e.v.: pertencia a um dos “aparelhos” clandestinos da extrema-direita responsáveis por torturas e matanças de prisioneiros políticos. Um ano antes, ele se separara da esposa e estava agora vivendo com uma mulata que pertencia a um “terreiro” de macumba. Embora vivendo com outra, ele não se dispunha a se afastar por completo da esposa, a quem visitava regularmente, e a quem tentava conciliar e fazer aceitar a situação de bigamia.

Recentemente, à instância dele, a mulata viera visitar a esposa, a qual se recusara a recebe-la em casa. A partir dessa data haviam começado os misteriosos ataques periódicos em que a esposa caía e se espojava convulsivamente.

O irmão confiou-me que a doente acreditava firmemente que havia sido enfeitiçada pela amante do marido, e perguntou-me o que fazer para se certificar do fato. Explicamos-lhe os métodos de defesa que já detalhamos neste livro, e sugerimos consultar um umbandista sobre o assunto, já que havia a possibilidade de um ataque por alguém daquela linha. Também lhe ponderamos que havia uma possibilidade do problema ter causas naturais, e lhe demos uma lista de vitaminas e complementos dietéticos para a doente, recomendando-lhe que descobrisse se havia alguma relação entre as fases da lua e os ataques misteriosos da irmã.

Não esperávamos mais vê-lo; mas um mês depois voltou a nos procurar, com a esposa. Segundo ele, haviam feito uso dos métodos de defesa recomendados, e haviam consultado uma “mãe-de-santo”; mas os problemas continuavam. Pediu-nos que fôssemos ver a sua irmã.

Isto recusamo-nos fazer. A irmã era católico-romana, assim como ele e a esposa, aliás; e aceitara sem qualquer reprovação a atividade clandestina do marido como torturador e assassino: sua indignação moral contra este datava unicamente do início da infidelidade conjugal! Não era o tipo de pessoa por quem nos abalaríamos a fazer qualquer gasto de energia mágica que poderia ser mais ecologicamente aplicada em outras direções. Entretanto, após fazer diversas perguntas ao irmão, chegamos à conclusão de que não se tratava de um caso de ataque astral.

- Existe tensão mágica em volta de sua irmã – dissemos –lhe. – O marido está sofrendo pressão telepática por parte das pessoas que foram magoadas pelas atividades dele, e a tensão repercutiu sobre sua irmã, porque ela é mais sensível do que ele (2). Como se isto não bastasse, ela se deixou afetar por sentimentos de rancor contra a outra mulher. Seu estado de tensão nervosa é muito grande, e se exacerba periodicamente sob a influência da fase lunar. Isto causa o aumento de pressão no fluido espinal, o que por sua vez causa as convulsões.

- Que é que aconselha? – ele perguntou.

- Continue a administrar-lhe os complementos dietéticos em altas doses, e convença-a a perdoar e a esquecer; se possível, a receber a amante do marido, e a tratala, já não digo com amizade, mas pelo menos com dignidade e decência.

Novamente ele insistiu conosco para que fôssemos ver a sua irmã.

- Olhe – dissemos-lhe – para ser franco consigo, o problema de sua irmã não nos atinge. Nossa energia não é infinita, e somos obrigados a conserva-la e a economiza-la. Iniciados não são super-homens, são apenas homens e mulheres com certos conhecimentos. Se vocês pertencessem ao movimento telêmico, então a situação seria outra. Aí eu me sentiria obrigado a intervir mesmo.

Neste momento vimos passar pela face desse rapaz uma expressão de repulsa e de desprezo. Percebemos que ele julgava que estávamos sugerindo que ele se “convertesse” à nossa “religião” como “pagamento” por tratarmos sua irmã. As suas visitas tinham sido tentativas de se aproveitar de nós, isto é, de conseguir boa pechincha, pois ele sabia que não cobramos por tais consultas; mas ele nos desprezava.

É interessante, a grandeza de alma dos cristãos! Perseguem-nos, apupamnos, caluniam-nos, e ainda esperam que lhes sejamos ocasionalmente úteis de graça. Em verdade, dar é mais santo que receber – quando são os outros quem está dando, e um cristão quem está recebendo.

Somos demasiado corteses para mostrar a porta às pessoas, mas finalmente esse moço se deu conta de que havia esgotado o seu crédito conosco, e retirou-se para não mais voltar.

Eventualmente soubemos, através do nosso conhecido mútuo (a quem solicitamos que fosse mais discreto no futuro quanto ao nosso endereço e à nossa disposição para curandeiro), que esse casal partira enfim para a Europa, e que a irmã estava internada numa casa de saúde.

Problemas emocionais são frequentemente causa de repercussão o organismo físico. (O câncer, por exemplo, na maioria dos casos é de origem psicossomática). Os sintomas dessa infeliz senhora pareciam ser os de um ataque oculto; mas tanto quanto pudemos averiguar, a origem do seu problema era um conflito interno.

Tais casos são comuníssimos, e haverão de se tornar cada vez mais comuns à medida que as vibrações do Novo Aeon se intensificam. As pessoas estão se tornando cada vez mais cônscias do seu contato telepático e empatético (3) umas com as outras. Vivemos dentro de um oceano de energia, do qual somos parte; e à medida que nossos veículos se aprimoram e se refinam, maior se torna a necessidade de harmoniza-los e integrá-los, não só em relação a nós mesmos, como em relação à sociedade em geral.

Por outro lado, é muito comum o reverso do caso acima, e lesões de origem puramente orgânica podem repercutir nos corpos sutis assumindo todos os sintomas de um ataque oculto. Em certa ocasião, uma senhora da “alta sociedade” foi admitida a uma comunidade oculta. Essa senhora vinha recomendada por um dos membros, mas com uma ressalva: seu marido, um homem bem conhecido nos meios políticos, recusava-se a viver com ela, e ameaçava interna-la num asilo de loucos. Aparentemente, ela sofria de obsessão, o que causava ataques periódicos de conduta escandalosa que estava pondo em perigo a carreira pública do marido.

Essa paciente foi mantido sob observação pelos membros da comunidade, e durante um mês e meio sua permanência entre eles esteve completamente isenta de fenômenos anormais: ela demonstrou ser alegre, encantadora e prestativa. Na sétima semana, entretanto, seu comportamento se alterou. Ela ficou intensamente agitada, e subitamente acusou o administrador da comunidade de faze-la passar fome e de agredila fisicamente. Estas graves acusações foram verificadas pela pessoa responsável pelo movimento de que a comunidade fazia parte, e chegou-se à conclusão de que eram totalmente infundadas. Poucos dias após, a própria paciente se esqueceu do que havia feito, acalmou-se, e voltou a ser a pessoa alegre e companheira que fora antes.

Sete semanas depois, entretanto, sintomas de desassossego reapareceram. Ela declarou que influências malignas a estavam atacando, e que provinham de um armário em seu quarto; deu para caminhar semi-nua pela residência e tentar seduzir sexualmente os outros membros, tanto homens quanto mulheres, reagindo com palavrões e agressão física quando repelida, por mais gentil que fosse a recusa. Estes sintomas, também, desapareceram após alguns dias.

Como a comunidade estava sempre cuidadosamente selada magicamente, e a paciente, em particular, estava sob guarda mágica, foi concluído que um ataque astral não podia ser a causa da doença. A periodicidade dos sintomas sugeriu uma causa orgânica relacionada com a fisiologia feminina. A paciente foi levada a uma clínica e submetida a um rigoroso exame ginecológico. Foi estabelecido que um dos seus ovários estava infeccionado, assim como o seu apêndice. Os sintomas maníaco-depressivos estavam ligados ao seu ciclo menstrual, que era extremamente irregular e doloroso. A paciente foi operada de apendicite e tratada com antibióticos até que a infecção ovariana desapareceu. Com a regularização do seu ciclo menstrual, os sintomas de “obsessão” sumiram permanentemente. A situação foi explicada ao marido, que recebeu a esposa de volta com regozijo. Até a presente data, não houve ressurgência do problema.

Deveria ser evidente a qualquer pessoa dotada de um mínimo de bom senso que uma doença altera, e pode até deformar, a personalidade das pessoas; e isto mesmo quando a sua causa é puramente orgânica. O mau funcionamento do fígado está relacionado há séculos com a idéia de irritabilidade e depressão; a palavra “histeria” vem de hister, útero em grego, e durante séculos julgou-se que fosse uma doença exclusivamente feminina.

A moderna pesquisa científica indica que a maioria das assim-chamadas doenças mentais, a não ser que uma lesão orgânica seja patente no sistema nervoso central, são causadas por distúrbios metabólicos. Um fisiologista norte-americano vem há anos fazendo experiências sistemáticas no tratamento de esquizofrênicos pela aplicação de doses maciças de nicotinamida, e tem curado uma grande quantidade de “doentes mentais”, para indignação de psicanalistas, os quais vêem suas teorias de doença puramente “mental”, assim como os seus gordos honorários, ameaçados!

Note-se que a esquizofrenia é considerada uma doença mental normalmente irreversível. No entanto, esse fisiologista tem conseguido reabilitar pacientes que já se encontravam internados como residentes em asilos. Note-se, também, que o paciente tem que continuar a tomar as doses maciças de nicotinamida diariamente, para o resto da vida, ou em poucos meses os sintomas de insanidade mental reaparecem. Isto indica que se trata, definitivamente, de uma deficiência metabólica cuja causa ainda não foi identificada. As pesquisas continuam.

Isto absolutamente não obsta a que muitos casos de esquizofrenia possam ter outra origem: não é todo esquizofrênico que reage ao tratamento químico-terapêutico. Entretanto, torna-se evidente que o primeiro passo, em qualquer caso de “esquizofrenia”, é tentar a aplicação da nicotinamida, a qual já era conhecida entre ocultistas como um coadjuvante na defesa contra ataques ocultos.

Outro aspecto que tem sido pouco explorado (e muito menos comentado!) no Brasil, é a influência de deficiências dietéticas em distúrbios da personalidade. Os proletários brasileiros são acusados de burrice, teimosia, irracionalidade, pieguice, eprincipalmente, os favelados – até mesmo de desonestidade. Mas não se leva em conta que o proletário brasileiro ganha tão pouco, e vive em um meio-ambiente tão retardado em matéria de dietética, que não se pode esperar que sua personalidade funcione com eficiência, mesmo no caso de uma alta inteligência (e talvez principalmente num tal caso!). Por exemplo, comida de pobre é basicamente arroz, farinha de mandioca e (quando o havia) feijão preto. Se pelo menos o arroz fosse integral , isto já evitaria inúmeras doenças. Os chineses se conservavam vivos (e demonstraram sua inteligência e capacidade) durante séculos em que se alimentaram quase exclusivamente de arroz; mas este arroz era, e é, integral.

Se a farinha de trigo que compõe o pão do pobre, o arroz que ele come, e o leite que ele (às vezes) bebe fossem integrais, é provável que o proletário brasileiro fosse mais inteligente e mais ativo. Agora, quanto a ser tão dócil, isto já seria outro caso bem diverso!

Não há grande diferença entre os princípios de nutrição para o ocultista e os princípios de nutrição para o atleta profissional: o trabalho oculto gasta tanto, ou mais, energia nervosa quanto um grande esforço físico. Os princípios fundamentais são os seguintes:

1. Não comer alimentos “refinados”. Isto quer dizer, não comer farinha de trigo branca, ou fubá fino, ou açúcar, ou qualquer outro produto que não esteja tão próximo do estado natural quanto possível. Não comer arroz polido, nem pão branco, nem doces feitos com farinha branca, nem sobremesas que contenham açúcar branco. Por outro lado, ingerir farinha de trigo integral, centeio integral, melado, rapadura, mel, frutas, vegetais (preferivelmente crus ou cozidos na casca e ingeridos com a casca) e legumes (idem) à vontade. Comer arroz integral e farinha de mandioca grosseira. Misturar, sempre que possível, o assim-chamado “farelo” de trigo (normalmente reservado para a alimentação de quadrúpedes) com sopas, ensopados, molhos, etc. Como substituídos do açúcar natural em casos de regime, utilizar os ciclamatos cálcicos, nunca os sódicos.

2. Comer carne de acordo com a nossa conveniência física, e não os nossos princípios “morais” (se é que são nossos, e não incutidos por terceiros!). Em outras palavras, se a carne te dá dor de barriga, não a comas; mas se te dá dor de consciência, remodela a tua consciência de acordo com o bom senso. Em nossa experiência, nada se pode esperar do vegetariano que é vegetariano por “princípios morais” a não ser hipocrisia, falsidade, e uma sutil perversidade que, a seu modo, é tão assustadora quanto a crueldade grosseira dos antigos inquisidores e dos modernos torturadores da polícia política. Não há qualquer crime moral em consumirmos a substância de outros seres vivos; eventualmente a nossa carne, também, serve de alimento a outros; e é sublime impertinência por parte de vegetarianos afirmar que as plantas ressentem menos ao serem ingeridas por nós do que os animais. Como é que eles sabem? A crueldade e o descaso humano dos hindus vegetarianos tem sido proverbial através dos tempos: ate´hoje, a Índia dos “maharishis” é um dos poucos países do mundo onde se aleija deliberadamente um recém-nascido para que cresça um mendigo.

3. Durante o treino mágico (ou atlético), ingerir nicotinamida, ácido ascórbico, levedura de cerveja e óleo de germe de trigo (Rico nas vitaminas E) em quantidades moderadas mas constantes.

4. Não forças o cérebro nem o corpo a esforços bruscos e irregulares; buscar um desenvolvimento gradativo, metódico, persistente e paciente das nossas faculdades sutis, exatamente da mesma forma como o atleta sensato se esmera por desenvolver gradualmente a sua musculatura física.

Existe um tipo mais de distúrbio psicossomático que devemos mencionar, pois é um dos mais comuns, e mais difíceis de curar: aquele que resulta de um sentimento íntimo de culpa.

Talvez um exemplo concreto seja de auxílio em esclarecer o mecanismo. Faz algum tempo, uma senhora de temperamento decidido veio nos solicitar iniciação na O.T.O.. Como ela vinha a instância de terceiros, tratamo-la com ainda mais precaução do que é usual, submetendo-a a diversas provas. Eventualmente tornou-se claro que ela tencionava fazer um “negócio” conosco: ela entraria para a O.T.O., contanto que nós a curássemos de um enfeitiçamento a que fora submetida e que a impedira de se tornar uma cantora lírica.

É claro que na O.T.O., como em qualquer Ordem séria, tais “negócios” são impossíveis; mas, sem quaisquer interesses ulteriores, e por pura curiosidade, indagamos quanto às circunstâncias do feitiço. Averiguamos o seguinte: essa senhora fora realmente, em sua juventude, uma cantora lírica de fôlego (com perdão do trocadilho); mas entregara-se à orientação de um professor de canto que era ocultista, e em certa ocasião, desentendendo-se com ele, o havia desafiado. O professor, encolerizado, lançara sobre ela a maldição de que ela perderia a voz. E ela, efetivamente, a perdera.

Nosso contato com esta senhora nos trouxe à conclusão de que, embora uma pessoa boníssima em seu caráter essencial, ela era realmente geniosa e respondona. O professor lançara sobre ela uma sugestão hipnótica criminosa; infelizmente, como já esclarecemos ao longo desse volume, muito comum num ramo de pensamento onde o desregramento egóico impera. Mas a sugestão se firmara, e se mantinha, porque subconscientemente a vítima admitia que ofendera o agressor; e além disto fixara todos os seus rompantes de cólera neste particular incidente. Em suma: essa senhora perdera a voz para se punir a si mesma pelo seu mau gênio.

Tivesse a sua afasia lírica como origem apenas a sugestão inescrupulosa do professor, uma simples palavra nossa – talvez até a participação do problema – teria sido suficiente para “cura-la”. Mas essa senhora condenara a si mesma, e estava cumprindo a “pena” que se impusera, embora usando a “maldição” do professor como pretexto; poderíamos “perdoa-la”, em cujo caso assumiríamos em nossa aura responsabilidade por ela. Mas iniciados telêmicos não fazem isto. Não estamos aqui para escravizar psiquicamente os nossos semelhantes, e sim para conduzi-los àquela libertação interna que resulta da verdadeira maturidade anímica.

Demos a perceber a essa senhora que não poderíamos pactuar com ela: ingresso na O.T.O. não é assunto para regateio. Encolerizou-se conosco, como era próprio do seu temperamento, e afastou-se. No entanto, somos-lhe reconhecidos pela sua inegável generosidade (muito comum, aliás, em pessoas de temperamento colérico): ela foi uma das muitas fontes que contribuíram para a publicação de O Equinócio dos Deuses.

Casos como o dessa senhora abundam: os “Salvadores” se aproveitam de tais infelizes para produzirem “milagres”. Lembramo-nos aqui de uma anedota verídica, relatada por um respeitado diretor teatral norte-americano. Numa conferência a estudantes de arte dramática, um jovem perguntou-lhe:

- O senhor já teve alguma vez um fracasso em teatro?

- Várias – respondeu o diretor. – Às vezes você faz o melhor que pode, e trabalha o melhor que pode, e acredita firmemente no que faz; e apesar de tudo isto, o resultado é um fracasso de bilheteria que o público não aceita.

- E que faz o senhor quando isto ocorre?

- Eu me perdôo a mim mesmo – respondeu o diretor.

As pessoas que se punem a si mesmas pelos seus fracassos estão, embora não percebam, sendo vaidosas. Auto-punição é um sintoma de vaidade egóica (e é por isto que foi tão comum entre os “santos” crististas!). Não somos perfeitos: somos criaturas que evoluem e aspiram a uma perfeição que teremos que abandonar (se quisermos continuar progredindo!) no momento em que a atingirmos. Devemos, para nossa própria proteção, conservar sempre nosso senso de humor e nosso senso de perspectiva. Qualquer reles “santo” cristista é capaz de chorar seus “pecados”, verdadeiros ou imaginários. Feliz daquele raro místico ou magista que é capaz de rir de si mesmo!...

(1) Um probacionista que eventualmente se desligou da Ordem.

(2) Isto ocorre frequentemente: uma pessoa é envolvida por uma nuvem de ódio telepático, mas em vez dela ser afetada, é um dos seus familiares, mas sensível, quem se torna a vítima. É claro que isto não é “justo”; mas não há “justiça” no Universo, há apenas causa e efeito. O Carma não é uma lei “moral”, é uma manifestação da lei inexorável de seleção natural. O progresso humano deve-se apenas ao fato de que cooperação inteligente é mais produtiva para a nossa espécie do que um egotismo desenfreado e estúpido. (Veja-se Dos Propósitos Políticos da Ordem). Mas a “nobreza” da cooperação entre indivíduos é apenas uma projeção psicológica dos sentimentais. O Universo exige compensação de forças, e não “justiça”. É por isto que a Deusa da Justiça era representada como cega entre os romanos. Também é por isto que nenhuma lei humana que contradiga os fatos da natureza pode ser realmente ecológica – isto é, realmente “justa”.

(3) O contato telepático é essencialmente mental, e ocorre no nível do Manas (ou Ruach); o contato empatético é essencialmente emocional, e ocorre no nível do Kama-Rupa (ou Nephesch). Certas pessoas têm mais capacidade para um do que para o outro.

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