Cena V. O Jardim da Senhora Astarte

Este artigo é um capítulo de Adônis, uma Alegoria

Uma peça curta. Realizada nos jardins suspensos da Babilônia em tempos clássicos e com personagens clássicos. Um relato em linguagem poética da batalha dos elementos humanos e divinos na consciência do homem, dando sua harmonia seguindo a vitória do último.

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Leia em 7 min.

Cena V.
O Jardim da Senhora Astarte.

O SENHOR ESARHADDON está deitado no sofá com sua senhora. Seus braços estão entrelaçados. Eles e seus escravos e donzelas estão todos caídos nos abismos do sono profundo. É uma noite sem nuvens; e a lua cheia, se aproximando do meio do céu, lança apenas a menor sombra.

O Murmúrio da Brisa

Eu sou a Brisa a abençoar o caramanchões,
Suspiro através das árvores, acaricio as flores;
Cada broto dobrado a oscilar, a desmaiar,
Com o seu sangue verde sob a lua
Agitado suavemente pelo meu beijo; eu levo
A resposta do tipo de ar âmbar
A exalar suspiros do calor
Que sonha e morre dentre o trigo,
Dos seios frescos das montanhas distantes –
Seus cumes cerrados seguram cada um uma estrela!
A terra pulsa palpitações com rios caudalosos;
Com seus soluços baixos o céu de Deus estremece;
O orvalho está em sua testa; com amor
Ela sofre por todos os abismos acima,
Suas rochas e precipícios, a contenda vigorosa
De seus espasmos afiados de luxúria, de vida.
Ouça! o sussurro do meu leque,
O beijo de minha irmã à serva e ao homem.
Através dos úteros de toda a terra, através de todas as ondas do mar, das trevas
Enormes, de túmulos esquecidos,
Eu assombro as tumbas de reis e escravos.
Eu aquieto o bebê, eu acordo o pássaro,
Eu perambulo para além das estrelas imóveis,
Suavizo as ondulas da maré,
Conforto os mamilos machucados da noiva,
Ajudo as estrelas e as nuvens a brincar de esconde-esconde,
Sopro as velas dos marujos, convido as ruínas para falar,
Trago sonhos ao sono, sono para o sonhar
Cujos demônios oprimem os extremos da noite.
E segui mais suave do que o sonho ou a morte
Quieto como os mortos, ou o sopro de amores assassinados,
Eu suspiro de amores que desmaiam sobre
Os pomares suspensos da Babilônia.
Cada terraço acrescenta um banho de cheiro
Onde moça e rapaz seduzem alegres;
Cada videira que paira confirma o estresse
Das dores mais puras da embriaguez;
Cada parede e pilar de mármore desvia
Majestosamente o meu curso em curvas
Sutis como os seios e pernas e cabelos
Dessa feiticeira beijada suavemente
Que balbucia e descansa em selvas
Cujos dons gigantes são a força que cicatriza a
Sua alma e a ergue às estrelas,
Selvajaria, e ternura que harmonizam
O esplendor de seu espírito ao da lua,
E à música da paixão para fugir da
Forma ardente do sol.
Silêncio! há um conflito que não é meu entre os bosques,
Um passo divino que no entanto não é como o do amor.
Silêncio! que eu franza a minha testa! Terei partido
Para tremeluzir e franzir sobre a grande Babilônia.

[O Portão do Jardim abre. A SENHORA PSIQUE avança e abre caminho para O REI DA BABILÔNIA. Ele é atendido por muitas companhias de guerreiros com armaduras de prata e ouro polido, com espadas, lanças e escudos.

Estes assumem posição na parte de trás do palco, em silêncio perfeito tanto de pés quanto de gargantas.]

[A SENHORA PSIQUE permanece de pé junto ao portão; O REI DA BABILÔNIA avança com infinita discrição, dignidade, lentidão, e poder, em direção à poltrona.]

PSIQUE

Vida? Isso é vida? Que hora do destino está no sino?
Desta provação suprema quê causa? Céu ou inferno?
Estou despida de todo o meu poder agora quando eu mais preciso;
Eu sou vazia e irreal, uma sombra ou um fantasma.
Toda a grande aposta foi lançada, até agora os dados estão caindo.
Todas as ações estão atadas em elos, um com o outro remontando
Através do tempo: do trono obscuro a primeira runa que foi proferida enigmaticamente
Por Deus, a Esfinge Suprema, determinou a última ação.

[O REI DA BABILÔNIA alcança sua mão e braço. É a mão e o braço de um esqueleto. Ele toca a fronte do senhor adormecido. Instantaneamente, radiante e nua, uma figura masculina é vista ereta.]

PSIQUE

Adônis!

ADÔNIS

Psique!

[Eles correm juntos e se abraçam.

PSIQUE

Ah! há muito tempo perdido!

ADÔNIS

Minha esposa! Luz, ó intolerável! Amor infinito! Ó vida Além da morte!

PSIQUE

Eu te encontrei!

ADÔNIS

Eu era teu.

PSIQUE

Eu tua De todas as eras!

ADÔNIS

Às eras!

PSIQUE

Meu!

[O REI passa por eles e parte.

Coro de Soldados

Saúdem o Senhor!
Sem uma lança, sem espada,
Ele feriu, ele feriu, um golpe de seu valor de todos os nossos poderios armados.
Nenhum elmo, nenhuma cota de malha, nenhuma couraça,
Nenhum escudo de aço sétuplo e de bronze sétuplo
Resiste ao seu toque; nenhuma espada, nenhuma lança que não trema
Ante seu olhar. Eternamente a vida treme
E cambaleia diante dele; a própria morte, o cão de deus,
Rasteja em seu calcanhar, e lambe a poeira que ele trilhou.

[Eles seguem seu Senhor, cantando.

PSIQUE

Eu sou uma gota de orvalho focando o sol
Que incendeia a floresta até o horizonte.
Eu sou uma nuvem sobre a qual o sol gera
O arco íris, uma fonte em cujos jatos
Pulsa o fogo interior do coração da terra, uma flor
Assassinada pela doçura da chuva de verão.

ADÔNIS

Eu sou eu mesmo, sabendo que eu sou tu.
O esquecimento esquecido agora!
A verdade, a verdade primordial, a verdade eterna,
Incondicional, sempiterna,
Põe a Deus no Santuário
E minha boca na tua, na tua.

[A SENHORA ASTARTE acorda. Em seus braços está o cadáver do SENHOR ESARHADDON.]

ASTARTE

Ó sonho terrível! Desperta e beija-me! Desperta!
Eu pensei que era esmagado e estrangulado por uma serpente.

[Ela se levanta. O corpo cai.

Ele está morto! Ele está morto! Ó lábios de rubor ardente,
Você está pálido.

[O queixo cai.

O riso negro da tumba!
Então deixem que eu me mate! Tragam a morte destilada
De erva-moura, de acônito. Que nenhum amanhecer redoure
Esta noite. Que eu não veja a maldita luz
Do dia, mas que eu me afogue nessa noite de coração negro!
Ó, escravos!

[ADÔNIS e PSIQUE avançam para ela.

ADÔNIS

Tu uma escrava! Que maldição (sem pausa
Até que a própria terra paciente está nauseada)
É pior do que essa, uma serva que se arrasta
À cama de sua amante enquanto seu senhor dorme,
E a rouba?

ASTARTE

E que calamidade pior
Do que a vingança dele? Mas deixe-me, que eu morra!

[Ela cai de bruços aos seus pés.

PSIQUE

Junte roubo a roubo! Precisamos de ti
Para nos servir. Que a levantemos e alimentemos,
Confortemos-te e acalentemos-te até o fim,
Menos escrava do que criança, menos serva do que amiga.

ADÔNIS

Levante-te! que o sopro flua, que os lábios afirmem a
Fidelidade e o amor. À condição designada
No teu jardim como convidados amados
De ti, respeitemos. Agora os lábios e os peitos
Tocando, três corpos e uma alma, a tripla promessa
Confirma.

PSIQUE

O grande juramento indissolúvel!

ASTARTE

Ergam-me!

[Eles a levantam; todos se abraçam.

Por ele, que sempre reina sobre
O trono, e usa a coroa, da Babilônia,
Eu sirvo e amo.

PSIQUE

Esse beijo confirma!

ADÔNIS

Isso!

ASTARTE

Eu ganhei tudo ao perder tudo. Agora beije
Mais uma vez de braços dados!

ADÔNIS

O romper do amanhecer!

ASTARTE

Eis o rubor do Amor!

PSIQUE

A luz está rompendo!

ADÔNIS

O grande globo de ouro da vida!

ASTARTE

Venham! quebremos o jejum.

PSIQUE

Meu longo jejum está quebrado.

ADÔNIS

Falemos do amor.

PSIQUE

A primeira-última palavra foi dita.

ADÔNIS

Não! mas as marés dos problemas estão transcendidas.
A palavra está começada, mas nunca será terminada.
E através do sol abandona o leste virginal, a
Vida seja para nós uma festa que nunca desvanece.

[Eles vão para a casa, cantando.

TODOS

A Coroa da nossa vida é o nosso amor,
A coroa do nosso amor é a luz
Que governa toda a região acima
Da noite e das estrelas da noite;
Que governa todas as regiões corretamente,
O abismo a abismos acima;
Pois a coroa de nosso amor é a luz,
E a coroa de nossa luz é o nosso amor.


Traduzido por Alan Willms

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