Egrégora e seu Modus Operandis

Sobre como ocorre a formação de egrégoras e as implicações das mesmas.

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Egrégora e seu Modus Operandis

[Nota de S.R.: Este texto foi publicado originalmente na lista Thelema-BR, tendo sido compilado em 2004. Existe uma versão revisada, mas ainda não está disponível.]

1. Definição

Egrégora pode ser usado tanto feminino por terminar com a letra “a” ou no masculino por se referir à palavra “grupo”. O termo tem sido amplamente usado para representar tantas coisas diferentes que quando paramos para pensar o que realmente é uma egrégora, não chegamos a uma conclusão clara.

Será possível encontrar sua origem na palavra em Latim “aggregare” que significa reunir, congregar; e também do Latim “egregor” que significa ‘observador'. Sendo esse último usado no livro de Enoch e na Bíblia (como anjo) em diversas passagens de Daniel e também é o mesmo sentido usado por Levi.

Apesar disso, é mais comum ver a aplicação do termo para caracterizar:

  1. Uma forma pensamento de um grupo (qualquer agremiação formal ou informal);
  2. Um ente formado pela ação comum de membros de um grupo;
  3. Um grupo de espíritos protetores (dirigentes) de uma atividade espírita.

Portanto, de forma geral, pode-se concluir que Egrégora refere-se ao fenômeno produzido pela interação de pessoas envolvidas num objetivo comum, isto é, a produção de uma “forma grupo” numa dimensão sutil que cuida dos interesses deste grupo, por exemplo, empresas, clubes, religiões, famílias, partidos et cetera.

2. Na História

Quando pensamos em egrégora, a primeira idéia que nos vem à mente é ser algo relacionado com grupos relacionados com espiritualidade. Mas W.E. Butler em seu livro ‘ The Magician, his training and his work' de 1959, foi mais específico e escreveu:

“Uma clara idéia da natureza da Egrégora mágica, ou forma grupo, deve ser construída na mente no intuito de que o aspirante possa entender que parte ele desempenha em todo um complexo esquema e pelo qual pode saber o quão de perto ele é guiado e ajudado no trabalho escolhido.”

Definitivamente, o termo egrégora fora colocado em voga pela Sociedade Teosófica, no início do séc. XX, se apoderando dele ao se referir ao grupo de seres mais evoluídos que são responsáveis pela condução da evolução da humanidade, a Grande Fraternidade [Loja] Branca.

No entanto, o termo tem uso mais antigo e pode ser encontrado em ordens iniciáticas e círculos religiosos:

  • Templários, na imagem do Baphomet,
  • Maçonaria com a “Cadeia de União”;
  • Teosofia com os Mahatmas;
  • Golden Dawn com os Mestres Secretos;
  • Fraternitas Saturnis com Gotos;
  • AMORC com o Sanctum Celestial (Hierarquia);
  • Espiritismo com seus Guias;
  • Umbanda e os Eguns
  • Catolicismo com Jesus e os Santos
  • Candomblé com os Orixás

Nos séculos XVIII e XIX, o termo Egrégora recebeu maior atenção dos escolásticos da época e tornou-se algo mais técnico, isto é, recebeu uma abordagem mais específica, voltada à magia.

3. Na Magia

As egrégoras podem ser c lassificadas  em dois tipos básicos, a intencional e a casual.

A egrégora intencional surge como resultado da interação de diferentes pessoas envolvidas num propósito “específico”. E nesse caso, a egrégora funciona como um animal adestrado que servirá ao propósito de quem a criou, sempre muito obediente, protetora e pró-ativa. Mas sempre constituída propositalmente.

Já a egrégora casual é formada sempre que as pessoas se reúnem para fazer algo e a menos que algo seja feito para mantê-la, ela se dissipará tão rapidamente quanto o grupo se desfaça. No entanto, caso desejem que sejam mantidas, será é necessário conhecer certas técnicas de como o fazer, a egrégora continuará crescendo em força e podem durar durante séculos.

As egrégoras intencionais estão relacionadas às atividades espirituais ou esotéricas coletivas, sendo que as características básicas e essenciais de tais grupos são:

  1. que possuem um propósito claro e bem definido;
  2. que congregam pessoas em torno desse propósito;
  3. que elegem uma liderança ao grupo;
  4. que escolhem um símbolo para caracterizar esse propósito;
  5. que consagram esse símbolo por “cerimônia” e na presença do grupo e seu líder.
  6. que mantém reuniões regulares para tratar do propósito;
  7. que revezam seus cargos e/ou postos regularmente.

Como disse, todos esses elementos são essenciais para a constituição de uma egrégora. Mas note que os itens 3, 6 e 7 são os de maior importância na Manutenção de uma egrégora como mostrarei mais adiante.

A vantagem de se ter uma egrégora está nela ter uma ação mais constante que a soma de seus membros individualmente, isto é, ela age pelo propósito original 24 horas sem qualquer interrupção. Isso sem mencionar que por estar numa dimensão sutil, é capaz de antecipar alguns eventos que poderiam desferir algo contra um dos seus.

Ela interage continuamente com seus membros, influenciando-os e sendo influenciada por eles. Geralmente essa interação costuma ser de forma positiva estimulando e ajudando seus membros, basicamente por intuição, sonhos e por outras faculdades que o membro venha a possuir, desde que estes ajam conforme o propósito original. Sua ação estimulará todas as faculdades do grupo que permitirão a realização dos objetivos, individual e coletivamente, de seu programa original.

Se esse processo for continuado por muito tempo a egrégora toma vida por si própria, e pode ficar tão forte que até mesmo se todos seus membros morressem, ainda continuaria existindo por algum tempo, podendo ser reavivada posteriormente.

Sendo que o reavivamento de uma egrégora depende da capacidade de se viver como os fundadores originais, particularmente se estão dispostos a fazer a “contribuição inicial” de energia para fazê-la começar novamente.

De qualquer maneira, o reavivamento de uma egrégora é um ato consciente e intencional, cujo preparo passa pelo processo descrito anteriormente.

4. Manutenção

Uma egrégora traz benefícios, mas como tudo na vida, também traz certa carga para sua manutenção.

Independente de ela ser casual ou intencional, uma egrégora é como qualquer "entidade astral", i.e., necessita de “alimento” para seu sustento (existência) e suporte do propósito de sua criação.

A egrégora se “nutre” basicamente dos elementos que a criou, como qualquer ser vivo, quer dizer, das emoções, pensamentos e outros materiais “devotados” à sua criação. Está na base instintiva da natureza, pois tudo que ganha vida luta por mantê-la (lei da sobrevivência). E com a egrégora ocorre a mesma coisa. Além disso, ela possuirá psicologia, intensidade e personalidade herdada dos próprios criadores, um amálgama.

A “alimentação” da egrégora ocorre durante os encontros regulares do grupo. E no caso dos grupos espiritualistas ou iniciáticos, mais especificamente em seu ritual e/ou cerimonial regular. Funciona como uma recarga que é retirada dos membros, aos oficiais e sendo canalizada destes ao líder do grupo à egrégora.

Nesse momento, novos pedidos e objetivos podem ser imputados à egrégora.

No final de um período previamente combinado, os oficiais de tais grupos devem revezar seus cargos. Essa é uma contramedida de segurança importante para que a egrégora não se vicie.

5. Efeitos Colaterais

Pode ser que o grupo se disperse por diversas razões ou mesmo seus líderes comecem a agir contra o objetivo original, ou ainda, os oficiais permanecem no mesmo cargo por muito tempo.

No primeiro, caso seu “alimento” lhe seja suprimido :

  1. a egrégora tenta influenciar os membros para retornarem às atividades;
  2. caso não tenha êxito, começará a influenciar seus líderes mais intensamente;
  3. caso não tenha êxito, haverá a possibilidade da egrégora;
    1. ou definhar-se até desaparecer;
    2. ou ocorrer o "efeito vampiro", quer dizer, dela se tornar "obsessiva" e passe a atuar como um cascão.

Por isso, é extremamente salutar o revezamento dos cargos, especialmente para grupos religiosos, místicos ou iniciático. Nesses casos, e por segurança, a troca dos oficiais ocorre nas cerimônias de equinócios.

No segundo caso, a egrégora tentará motivar o líder para continuar no propósito original, caso ela não obtenha sucesso, começará a excluir o dito membro do grupo.

Portanto, ao assumir a liderança de um grupo, que o líder não negligencie suas funções mais sutis.

No terceiro caso, se os oficiantes não forem periodicamente renovados, pode ser criada certa dependência da egrégora.

6. Possíveis Perigos

Como disse antes, uma vez que algo ganha vida, este algo lutará para continuar vivendo. E uma egrégora (assim como a larva astral) não é diferente. Portanto, uma vez iniciados, os rituais devem ser executados com certa regularidade.

É muito comum, nos tempos atuais, ver grupos surgindo a esmo na mesma velocidade que encerram suas atividades. No entanto, encerram suas atividades por dispersão dos membros, não encontrando tempo de encerrar devidamente seus trabalhos.

Nesses casos, a egrégora continua ativa mesmo tempos depois. A egrégora começará a “pedir” alimento, como um “cão sem dono”, aos mais próximos. Isto é, às cabeças do grupo e se não tiver sucesso, aos demais membros.

A egrégora agirá exatamente como um obsessor ou cascão astral, sendo que mais fraca, pois sua natureza é diferente. Tentará influenciar o retorno das atividades do grupo a partir de um membro.

7. Observações e Devaneios

  1. Geralmente não conhecemos o processo de sua criação, as egrégoras vão sendo criadas a esmo e os seus criadores logo se tornam seus servos já que são induzidos a pensar e agir sempre na direção dos elementos que caracterizaram sua criação. Serão tão escravos quanto menos conscientes forem do processo. Se conhecerem sua existência e as leis naturais que as regem, podemos nos tornar senhores dessas forças.
  2. Submetamos Thelema ao processo descrito anteriormente. Há algum símbolo que seja o ícone de Thelema, pelo qual seja possível se trabalhar regularmente? Sim, vários, mas existe algum em especial? Em THELEMA não, mas nas Ordens Thelêmicas sim. Observe as festas e cerimônias recomendadas em Liber AL.
    Portanto, não há egrégora para Thelema, porque não há o elemento básico que é um evento cíclico e um ícone de “veneração” como ponto de apoio, tal como o Catolicismo com seu Jesus Cristo.
  3. Na A∴A∴ a coisa fica mais difícil ainda, é uma ordem individual, não há como haver egrégora. Os Mestres Secretos são outra coisa diversa de egrégora.
  4. O “efeito vampiro” já foi comentado, é como um obsessor ou cascão astral e caso ocorra, deve ser banido como tal.
  5. Apesar de agirem de forma parecida, não confundam egrégora com um obsessores. Os obsessores se “alimentam” de sentimentos de revolta e ódio, exige mais revolta, ódio e sentimentos afins, enquanto que a Egrégora se sustenta pela congregação de seus membros e só atuará como obsessor se for por sobrevivência.
  6. Não entrem em ordens para pertencer a uma egrégora. Pessoas frequentemente querem “pertencer a uma egrégora”, porque se não houver sintonia interna para com o propósito do grupo, nenhuma conexão será feita.
  7. Uma última, repetindo o que já fora dito. Como todo ser vivo, uma egrégora não quer morrer e cobrará sua subsistência aos seus genitores, induzindo-os a produzir, repetidamente, as mesmas emoções. Caso tentem eliminar uma, façam sem hesitar. Pois do contrário, a egrégora achará um ponto fraco para se manter.

Notas do Autor

Esse texto foi desenvolvido a partir de anotações iniciadas em abril de 1997, sendo alterado conforme novas descobertas até 2004 quando foi encerrado.

Minhas principais fontes de pesquisas foram:

  • participação ativa em Ordens que mantém egrégoras
  • trabalho ativo e direto com obsessores em Centros Espíritas
  • estudo e treinamento de médiuns
  • projeção astral individual e grupo
  • invocação e banimento de “espíritos”
  • livros, dezenas deles.
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