Ali Sloper e os Quarenta Mentirosos

Este artigo é um capítulo de Konx Om Pax

Um entretenimento natalino contendo um ensaio sobre a Verdade.

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Leia em 38 min.
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Ali Sloper

الى سـلـوفـير

Contendo um Ensaio Sobre[1]

אמת

Ali Sloper; ou,

Os Quarenta Mentirosos[2]

Um Entretenimento Natalino

هو که دست از جان بشوید هر چه در دل دارد بگوید[3]


Drāmatis Persōnæ

(Com sugestões de elenco)

Ali Sloper (com 120 anos)Sr. Christian Rosencreutz.
Bones (“Grandemente Honrado Frāter C.C.R.”)Sr. W..d..n Gr..ssm..th.
Sra. BonesSrta. C..m..ll.. Cl..ff..rd.
Bebê Bones (quinze meses)Sr. ..sc..r ..sch.. ou
Srta. L..c..l.. H..ll.
Bowley (“Grandemente Honrado Frāter N.L.”Srta. L..ly Br..yt..n.
Os imaginários porta-voz, cantores do coro natalino etc.Quaisquer atores imaginários.

A Famosa Trupe de Pantomimistas do Dr. Waistcoat (“Os Quarenta Mentirosos”):

WhiteheadEquilibrista.
Din e DoniAcrobatas.
DaathBebê Comovente.
NehushtanDançarina Serpentina.
Os Ales (Ralph, Mike e Sam)Sério-cômicos.
Lucy Furr e Florrie FarrDuetistas Egípcias.

O Misterioso Mathers em seu grande esquete, “A Cripta da Família”.

(O Sr. Mathers pedirá emprestado da audiência quaisquer propriedades necessárias).

“Eu resido em Abiēgnus, e meu nome é ‘Flodden’ James. Não estou a fim de pequenos enganos ou quaisquer jogos pecaminosos: E direi em linguagem simples o que sei sobre o divisor Que separou nossa Sociedade – e também faliu seu fundador!”


Os ClippersExcêntricos.
Happy Hal Barthe com
Tim Urah e Ike Baker
Transformistas.
Le MarbreSuper Calculador.
Mac e Mic.Artistas Faciais.

O Yonly Yeats. O que são Yeats?


Berridge e seu Aperto de Mão Mágico.

Mo Locke e Bill Feegur

Serios[4].

Senhorita Schnarr

Diseuse[5].

Shaddai L. Hye com suas grandes canções:

   “O Sugayoni[6] e a Abelha”

   “Novo, a cada manhã, é o amor”
   “Contrate um membro, contrate um membro”
   “Que tal isso para Hye?” e
   “O Lingam está mais Longo, Lucy”.
Dr. JellinekContorcionista.
Barry EtherDeclamador da Sociedade.
La Chic InaEm sua famosa
Canção de Glória.

As Aberrações.

Harry Canpin

O indiano com cara de borracha[7]

May Imm

A única legítima Sereia em exibição

Constance Sylphide, o esqueleto humano, em suas canções “Eu sou a Imperatriz de Rosher” etc.

Tabicat

O Chifrudo[8] de Mazawattee[9].

Superhomens

E outros supers.


Nogah

“O pequeno docinho”.

Lieber Herr Gott com suas bestas treinadas; incluindo o Unicórnio das Estrelas, só há um na Europa.

Adam Cadman

Bufão Crasso.


O Terrível Tetragrammaton. Lutador Greco-Judeu.


Grande Espetáculo Patriótico

Preparativos bélicos – General Eloah chega de Temain de Edom – Coronel Holiun convocado do Monte Paran – O Deserto de Seir – As Tendas de Cushan – Uma fortaleza Dervixe – A coluna voadora do General Tetragrammaton – Cidade de Meroz I. V. deserto em um corpo – Um traidor no acampamento? – O movimento astuto de Melchizek Pasha – O rio Quisom varre afastando os moabitas (pelo Sr. Frank Parker) – Finalmente a batalha – Resistência desesperada dos Reis do Edom – Ataque de flanco do marechal Jah – Montanhas Eternas destruídas – Colinas Perpétuas inclinadas (pelo Sr. Frank Parker) – Ataque do valente Karnaim – Rotas dos Edomitas – Os Duques em plena fuga – E o Grande Final “A Explosão da Torre de Babel” (do Sr. Frank Parker).

“Deus Salve o Rei.”

Cena

Uma sala de estar exequível, repleta de inúmeras folhas de papel duplo Elephant Whatman, prestes a se tornar uma impraticável Tabela de Correspondências[10]. Uma lareira crepitando. Sofás e Cadeiras.

Ao apresentar esta peça a um público britânico, o Diretor deve se apresentar e dizer: “Senhoras e senhores, devido à severa indisposição do Autor, nenhuma piada obscena será encontrada no diálogo desta peça. Entretanto, os atores foram instruídos a fazer uma pausa e dar uma piscadinha em intervalos frequentes, momentos em que vocês terão a liberdade de imaginar um duplo sentido incomumente profundo e peculiarmente sujo. Também contratamos algumas pessoas para sentar-se nas cadeiras e começar as gargalhadas, de modo que não haja desculpa para nenhum de vocês reclamar de ter passado uma noite recatada”.

A cena começa. A Família Bones e o Sr. Bowley estão sentados próximo à lareira. No palco, a Sra. P…tr…ck C…mpb…ll é perseguida pelo Sr. M…rt…n H…rv…y foge de R. e esbarra a canela contra uma cadeira.

Sra. P. C. Eu não estou feliz! Não estou feliz! Ó Glwyndyvaine, o que devo dizer?

Sr. M. H. A maioria das pessoas diria Droga, ma belle Mygraine!

Sra. P. C. [à parte]. Se Maeterlinck me der um nome como o de uma dor de cabeça, Shaw não me chamará simplesmente de pastilha para tosse?

[Ela sai.

Prompter[11]. [com raiva.] A Verdade!

Sr. M. H. A Verdade! A Verdade! A Verdade!

[Ele sai. Toque de Trombetas.

Sra. Bones. Uma trégua para esta loucura teatral! Quer mais café, Sr. Bowley?

Bowley. Sim, por favor. Espero que me perdoe, Sra. Bones, mas honrando a época festiva e como um descanso de nossos árduos trabalhos na Tabela de Correspondências, tomei a liberdade de contratar a celebrada trupe de Artistas de Variedades do Dr. Waistcoat para se apresentar em intervalos regulares durante a noite.

Sra. Bones. Certamente somos muito gratos por sua gentileza; espero que isso não tenha lhe custado muito.

Bowley. Waistcoat é um velho amigo meu, sabe; conectado com os Straights – os Dover Straights[12] – pelo lado da mãe. Nōn Omnis Moriar é o lema dele. Muito provavelmente[13] «não morrerá»; mas, por outro lado, ele na verdade nunca está completamente vivo; assim, pode-se negociar com ele com grande vantagem.

Sra. Bones. Bem, tenho certeza de que tudo isso será muito agradável. Hoje em dia temos poucos Natais à moda antiga.

Bones. Daqui a dois mil anos, estaremos todos dizendo o mesmo sobre o Dia de Bowleymas no ocaso do Bowleyismo[14].

Bowley. Respeite a minha modéstia – chame-o de Pirro-Zoroastrismo, fazendo o favor.

Sra. Bones. Mais café?

Bowley. Sim, por favor. Você não perguntou o que seu marido quis dizer com isso.

Sra. Bones. Eu já desisti de vocês dois.

Bones. Hoje em dia celebramos o nascimento de Cristo; no futuro, o de Bowley.

Bowley. Eu escondo meu rubor em teu peito, Ó bebê! [Faz isso; a criança chora.] Pegue-a, pelo amor de Deus! [Feito. A criança sorri.]

Sra. Bones. Mas pensei que seu aniversário fosse em outubro.

Bowley. E é mesmo; e por que eu o arranjei nessa data? Porque eu sabia que eu era o Messias – passe a bebê, por favor! – e que as pessoas celebrariam o dia de acordo com a minha palavra.

Sra. Bones. Mas por quê? [Bones gesticula descontroladamente para ela «não perguntar», mas em vão.]

Bowley. Porque as crianças nascidas no verão se desenvolvem melhor.

Sra. Bones. Mas por quê?

Bowley. Irmão, você desperdiça seu alarme. Eles têm ouvidos e não ouvem. Mas eu não estou falando; estou fazendo a minha Tabela de Correspondências. Eu brindo à minha Tabela de Correspondências.

[Ele bebe. Bones pega um livro sobre Misticismo Indiano. Trovões. Música lenta.]

Bowley. Mais café, por favor. Eu atribuo a Bebê a Malkuth. Sra. Bones, posso pintar a bebê todinha de amarelo claro? Indiferente aos suspiros e gemidos da Mãe, Ele pintou de azul a Bebê Bones, no conhecido pórfiro do falecido John Keats, que fique em paz. Neste estágio da minha carreira – para de falar besteira, Babu! – eu ofereço a você a seguinte alternativa desesperada, grandemente honrado Frāter! Continuaremos com a Tabela ou lerei para vocês minha última e gloriosa obra-prima intitulada Amath. É Verdade em hebraico, bebê! Reflita, ó criança de olhos abatidos, sobre a circunstância de Amath totalizar 441, que é o quadrado de 21, Eheieh, o nome divino de Kether, também número místico de Tiphereth – vide a cláusula “J” de Tiphereth – “Eu me dedicarei à Grande Obra” etc., como você deve lembrar – significando que a Verdade é de Kether o fim, e de Tiphereth o meio, também Aleph é o Louco, Kether; Mem o Enforcado, Tiphereth; e Tau, o Sinal da Cruz e a Virgem do Mundo. Pode ser lido pelo Tarô (McGregor Mathers) como “Loucos enforcam Virgens”! E quanto aos sábios? Calma, bebê querida! Espere até você ser uma Arahat no Ararat, e então você saberá tudo sobre isso, sua femeazinha de cabeça de besouro! Nada como instruções precoces e claras, Sra. Bones. Treine uma criança e deixe o bigode crescer – por que você não compra um Pomada Hongroise para o Cecil? Atribuo a Pomada Hongroise a Gêmeos; e ela é chamada de Inteligência Cerosa ou Pegajosa, porque une tudo o que está grudado e dispõe em formação correta os cabelos que estão abaixo das supernas naquele Orifício do Nariz do Santíssimo Ancião que é chamado de Seu Nariz, e distribui dezenas de milhares de severidades sobre os Inferiores. Isso é o que está escrito. Salmos, 99:4[15]. “O Nariz que não é um Nariz”. E novamente “Seu Nariz”; onde nenhuma menção é feita ao Santíssimo Ancião, mas apenas ao Tetragrammaton[16]. Também ouvimos em Barietha que isso é falado sobre as Conchas – você as chama de Qliphoth, bebê! Como está escrito, Ela vende conchas do mar[17]. Não, Sra. Bones, se estou bêbado, é do Vinho de Iaco, do Orvalho da Imortalidade, da Fonte Lustral no cálice do Stolistes ou da Stolistria[18]. Ou melhor, atribua-o à sua própria Torta de Carne picada e suas Groselhas Punitivas Horríveis e Vingativas! Mas, como eu disse, seu suposto marido não treina sua criança e nem deixa o bigode crescer; e lutarei com ele, lutarei e o vencerei; sim, infligirei a ele meu célebre ensaio sobre a Verdade – e ele nunca mais se levantará! Se está escrito à maneira de Immanuel Kant? Sim, mas de Immanuel Kant na cama com Bessie Bellwood. As mãos são as mãos de Schopenhauer, mas a voz é a voz de Arthur Roberts.

Ouça o Jātaka, ó criança da maravilha e dos olhos inocentes, e se você gritar, será posta no depósito de carvão. Superlativamente Honrados Fratres e Sorores da Ordem do Pôr do Sol de Estanho – compare Charles Baudelaire, nosso Senhor! – ajudem-me a abrir o templo – a minha boca, Sra. Bones – a Boca é uma parte do corpo e o corpo é o Templo (Colossenses 4:15[19]), você pode dizer que não preciso de ajuda – no Grau de Dez igual a Um e não se esqueça disso! [Ele lê do manuscrito.]

אמת[20]

Um ensaio sobre a Verdade escrito pelo menino O.M.[21], Membro da Ordem da A∴A∴

No primeiro parágrafo do “Dia da Ascensão”[22] (queridos e amados irmãos), está escrito como uma Placa Indicativa – e digno é de ser gravado com uma agulha nos cantos dos olhos para que quem quer que seja avisado, esteja avisado! “O que é a Verdade? disse o zombeteiro Pilatos; mas Crowley espera por uma resposta”.

Ele fez mais do que esperar: ele tomou medidas ativas para descobrir; e embora uma resposta na Chave da Afirmação pudesse, em seu próprio exórdio, implorar linguagem humana, ainda assim podemos usar uma certa quantia dela para destruir algumas das falácias menores que obscurecem a visão de nossos irmãos mais fracos, que – ai de mim! – não velam seus olhos da Verdade, mas da percepção da Grande Falsidade. Assim como na química o colegial tropeça na lei dos Pesos Combinados e encontra dificuldade em aceitá-la, apenas para descobrir que a verdadeira dificuldade do químico é que a lei não é verdadeira; assim como o jogador de golfe corrige dolorosamente seu pull e seu slice[23], apenas para descobrir que o pull e o slice são as tacadas de mestre do jogo; assim como a pessoa brilhante e estudiosa chega ao ápice de sua carreira acadêmica, apenas para descobrir (se lhe sobrar sagacidade suficiente após o processo) que as qualidades necessárias para o sucesso na vida são um conjunto diferente e até mesmo incompatível com aqueles que lhe deram sua posição no corpo acadêmico; assim também podemos ajudar aqueles irmãos mais fracos que se animam com desdém sobre a circunstância de que um poeta, um filósofo, um adepto, um homem emancipado de qualquer tipo, raramente fala a verdade no sentido de que se espera que a testemunha em um caso de divórcio fale, indicando-lhes a verdadeira natureza daquelas faíscas de luz sacudidas da Coroa de Glória invisível, faíscas que eles confundiram com fogos fátuos ou vapores do pântano, circundando – eles pensam que isso é um paradoxo inexplicável! – alguém que, em todos os outros aspectos, é um ser tão elevado e puro.

O primeiro ponto é que são necessários dois para criar uma mentira.

A. diz a B.: “Esvaziei toda a água da garrafa” e diz a verdade.

O aluno C. diz as mesmas palavras ao Professor D. e mente. A garrafa e o seu conteúdo são iguais em cada caso. [Bones ri com desprezo e franze a testa.] Porque B. quer servir uma bebida e o Professor D. quer uma garrafa sem umidade. Esta é uma mentira maliciosa se o Aluno C. estiver tentando desculpar sua negligência, e o acidente de ele realmente ter esvaziado a garrafa não o absolveria.

Esta é a Confusão da Questão da Linguagem.

[Bones abre a boca – e a fecha novamente com um grande esforço.

E. diz a F.: “João Batista tinha cabelos ruivos” e mente (não importa se na verdade o cabelo dele era ruivo ou não), porque ele não tem fundamentos para dizê-lo.

Confusão da Modalidade de Afirmação.

Quando o Ouvinte está em uma posição inferior quanto ao conhecimento, esta é considerada uma mentira maliciosa.

A Sra. G. diz ao Padre H. no confessionário: “Não flertei com o Sr. I.” e mente, porque (em teoria) o Padre H. tem o direito de saber disso. [Bones interrompe, “Flertou! Autres temps, Autres mots[24]! Você está melhorando, Frāter!” O leitor responde “Porco!”] Mas ela diz as mesmas palavras com verdade para a Sra. J., que está apenas perguntando por curiosidade. Pois se ela muda de assunto, ou é grosseira, é o equivalente a uma confissão, e a Sra. J. não tem o direito de enganá-la ou forçá-la a falar.

Isso é chamado de Manter o Voto de Sigilo que alguém jurou à sua própria Alma. [Bones protesta violentamente e é lembrado de que a discussão segue, nunca interrompe, o Artigo.] Mas por que insistir? Os chamados casuístas da Igreja Cristã investigaram exaustivamente este assunto; e tudo o que dizem não é menos verdadeiro, porque é sutil ou imoral, como o estúpido e o puritano fingem. O cardeal Newman pode ter seus defeitos, mas ele é pelo menos um contraste agradável contra Gladstone e Kensit. Se a minha verdade não é a verdade do Tribunal do Divórcio, é porque o meu mundo (graças a Deus!) não é o Tribunal do Divórcio. Prefiro Cristo a Sir Gorell Barnes como autoridade sobre o Sétimo Mandamento[25]; e a Interpretação Espiritual dos fatos é a fórmula “Solve” do Alquimista Teúrgico.

O que é um poeta? Quais são seus poderes?

Ele pode vigiar do amanhecer à escuridão O sol refletido no lago iluminar As abelhas amarelas nas flores de hera; Nem prestar atenção, nem ver, que coisas elas são. . .

Que o Sr. Direto e o Sr. Veracidade e o Sr. Abster-se-de-contar-uma-mentira e o Sr. George Washington Redivivus reflitam que existem pessoas no mundo com faculdades sensoriais com visão diferente deles! Existe algo chamado de ponto de vista.

O Reino dos Céus é semelhante ao Homem da Lua, que se postou nas margens do Lago Copérnico e disse: “Que bela elevação! Quão maravilhosas são as sombras escuras no globo de prata! São como uma lebre, como um cão, como um grande coelho com o rabo na boca. Dir-se-ia uma jovem virgem de sandálias cor-de-rosa com o cabelo enrolado com rolos de papel”. (Pois o homem na lua leu Maeterlinck[26] e o divino Oscar.) O anjo respondeu: “Ó Homem na Lua, este é um erro comum quanto a globos de prata, lebres, cães, coelhos, virgens, chinelos cor de rosa e os produtos onipresentes do imortal Hinde. Vamos examinar mais de perto”! Colocando rapidamente o Homem sob sua asa, o Anjo voou imediatamente em direção à terra. “O globo é maior do que eu pensava”, disse o Homem. “Curiosa ilusão: é uma tigela côncava azul”, disse o Homem. “Não! mas é uma vasta planície; e lá vão os navios; sem dúvida, se fosse em agosto, eu veria aquele grande Leviatã, a quem Tu (dirigindo-se ao Todo-Poderoso) fizeste para brincar nele. Mas a temporada boba já passou”. E ele o amaldiçoou por ser um oceano estéril. Felizmente ele não era Cristo, ou o Sr. Swinburne teria achado difícil encontrar símiles para tudo o que escreve; de Blake e Byron a Dekker, Dickens, Dionísio, Dio Chrysostom e Diógenes.

Então disse o Homem: “Não é azul, mas cinza; é muito ressoante e forma um gel anarítmico; é salgado; está molhado; é um gerador de ozônio, ou meus órgãos olfativos são enganados – e ó! mas minhas entranhas estão agitadas dentro de mim como a jovem na Canção de Salomão quando o jovem cavalheiro —”. “ Shhh!” disse o anjo. “Tudo isso é ilusão; examine mais de perto”! “É um universo de coisas vivas!” exclamou o Homem, pois foi a Água do Tamisa que ele examinou pelo Microscópio de bolso 90 h.-p. Mercédès do Anjo. “E ó! se Deus pensava que eles eram bons, que gostos peculiares Ele deve ter”! “Olhe mais de perto!” disse o Anjo, entregando-lhe um par de óculos da firma Kelvin, Boscovitch, Son e Haeckel. “Agora nada está visível”, disse o Homem, “exceto uma concepção puramente geométrica da mente, e ainda por cima contraditória”. “Volte para a lua”, disse o Anjo, jogando-o para lá com o arremesso flexível, porém poderoso, que o fez vencer o evento de Críquete no Atletismo da Universidade Celestial e o intitulou a usar uma fita Azul Escuro em volta da coroa (pois “Como acima, abaixo” – Oxford produz Anjos e Cinaedes[27], Cambridge apenas homens). “Volte para a Lua – e lembre-se! Nada de Contos de Viajante!”

Esta questão do ponto de vista nos leva naturalmente a considerar a fala daqueles para quem o Domínio do Samādhi mudou radicalmente o aspecto do Universo. Como um deus responderá a um homem?

Frāter Neófito K. pergunta ao nosso S. H. Frāter L. 8○=3□: “Existem, no sentido científico, tais coisas como espíritos elementais?”

Bem, Frāter L. sabe que existem (assim como o Professor Ray Lankester asseguraria a um hotentote da realidade dos objetos microscópicos), mas ele também sabe que não existem, visto que tudo é apenas um véu ilusório do Arcano Indizível no Ádito do Silêncio nutrido por Deus.

Portanto, Frāter L. responderá “Sim!” se ele pensa que Frāter K. está em perigo de ceticismo. Ele responderá “Não!” se ele pensa que Frāter K só busca curiosidades. Em nenhum dos casos ele considerará o fato da questão, a menos (com um sorriso secreto) que, para seu próprio bem, deseje afirmar a ilusão de todos os pensamentos. Nesse caso, ele está realmente mais próximo da “inveracidade” do que de outra forma, mesmo embora sua resposta coincida com o fato.

Isso é chamado de Percepção da Ilusão da Oposição dos Contrários.

Mais uma vez, o Professor M. responderá com sinceridade à pergunta de seu discípulo N.: “Mestre, você está com fome”? dizendo “Não sei” ou lançará melancolia sobre o θάλασσα θάλασσα[28] de Xenofonte com φάντασμα φάντασμα[29] ou até mesmo κολυμβήθρα κολυμβήθρα[30]. Porque ele é cético em relação ao instrumento do conhecimento. Mas ele mentiria ao dizer as mesmas palavras (tomando o segundo exemplo) a um soldado comum dos 10.000 que não sabia quem ele era, mas o tomou por uma pessoa familiarizada com a região.

No entanto, ele não se importaria em estar mentindo ou não – a menos que estivesse fazendo experimentos envolvendo o assunto. Ele se importaria em sua resposta demonstrar ou não que ele está pensando como um filósofo cético. Se sim, ótimo.

Isso nos leva – quão sutilmente! – a uma afirmação que não desejo sustentar com provas. Imagino que quem for capaz de recebê-lo, o receberá.

Esta é a Verdade, que devemos nos preocupar com nossos próprios assuntos, e nada mais. Se eu entrar em teu laboratório, ó Professor do Instituto de Química, que protesta que tu aspiras à Grande Fraternidade Branca, e demandar: “O que estás fazendo?” tu responderás: “Estou extraindo as enzimas deste fermento”, ou melhor, “Estou aspirando à Grande Fraternidade Branca”? E se essa pergunta te intriga, como bem pode, visto que qualquer uma das respostas é, em um sentido ou outro, uma mentira – então cuide, eu digo, para que não mintas para o Espírito Santo!

Alguns talvez considerem (ou mesmo creditem?) Shakespeare como tendo escrito as linhas:

Para ti mesmo, sejas verdadeiro, E então seguirá como a noite segue o dia Que não conseguirás ser falso com ninguém.

Este é um aforismo digno. Que a consciência seja sempre direcionada para o Self – por qualquer Nome que eu Te chame, Tu és Inominável para toda a Eternidade! – e a possibilidade de mentir é evitada.

Pois ele não fala e mesmo que falasse não haveria alguém para ouvir. Saiba que quanto maior o Adepto, mais verdadeiro ele é; se ele – erroneamente – falar, deve parecer ainda mais um mentiroso para aqueles de seus semelhantes que ouvem sua voz. Pois ele fala contemplando o rosto de Deus; eles ouvem como ídolos a obra das mãos dos homens que têm ouvidos e não ouvem, nem têm entendimento. Portanto, as palavras casuais dos Adeptos têm sido mal-ouvidas ao longo dos tempos; portanto, o mundo ficou vermelho de sangue porque os Adeptos falaram a Verdade, e a falsidade disso fez soar sua convocação sepulcral pelos Salões que os homens chamam de Tempo.

[Bones está perdendo a paciência. A Sra. Bones afaga a testa dura dele.

Agora acontece que alguns dos Adeptos mais jovens, os despreocupados e tolos da Grande Fraternidade Branca, aqueles que voltam com mais frequência à consciência normal do Universo, de modo que até mesmo suas asas puras estão sujas no atoleiro dos sentidos, da percepção, da razão e de sua espécie asquerosa, alguns daqueles meninos, eu digo, se esquecem da Escrita no Véu externo do Arcano Indizível, aquela runa que diz “Nenhuma existência separada!” em letras douradas sobre a cor prateada do véu (assim como está escrito do lado de dentro “Nenhuma existência!” em letras prateadas sobre o véu dourado).

[Bones sorri, vendo a maneira de destruir o argumento do Artigo.

Aqueles meninos esquecem dessa runa, aqueles miseráveis!

Portanto, perdidos nas profundezas impensáveis de sua depravação, eles sonham sonhos malignos chamados de “Outros”, “Semelhantes” e coisas do tipo (Semelhantes é realmente um pesadelo tão apavorante que apenas os “colegas”[31] da G. F. B. sonham com eles, pois implica no fantasma medonho e horrível da “humanidade”).

Agora, em seu melhor estado, existe uma certa força cujo reflexo perturbado é chamado de “Amor”. Isso tinge o sonho, e eles instantaneamente sentem compaixão pelos “Outros” – que, sendo apenas partes não purificadas da consciência, simplesmente precisam ser aniquilados – e começam a trabalhar (por favor!) para redimir esses “Outros”, para iniciar estes “semelhantes”, para emancipar esses “seres separados”.

[O tom amargamente sarcástico dessa passagem gela o sangue da Sra. Bones, e ela apressadamente prepara mais café.

Portanto, eles decidem anunciar a Verdade aos homens, para que a Verdade os torne livres – é apenas um passo para a baleia de Jonas.

Agora, o processo de despertar desses sonhos malignos, de levantar na Aurora da Glória que é a verdadeira consciência do Adepto, de aniquilar esses fantasmas perturbados, pode envolver algum tratamento simbólico com eles; mas eu estaria mais inclinado a afirmar que nunca é necessário ir tão longe a ponto de postular sua realidade, embora se possa concebê-los como seres a tal ponto crédulos.

Porém, só se poderia prejudicá-los se lhes permitisse possuir tais pensamentos (envolvendo ainda mais discriminação) como a percepção dos pares de opostos como algo real. Na verdade, meu pensamento chamado “Bones” pode ser autorizado a acreditar que ele é real, e que não há outro Deus além dele – pois tal pensamento dificilmente é uma ilusão – mas Bones não precisa e nem deve pensar que existe uma oposição de preto e branco, bem e mal, verdade e falsidade.

Um de nossos irmãos mais fracos (e eu, infelizmente, confiava nele como um dos mais fortes entre os fortes!) recentemente se dedicou amplamente a esta percepção da Ilusão da Árvore do Conhecimento do Bem e do Mal – embora “Por que em nome da Glória ele estava orgulhoso?” considerando que ele tinha o ditado autêntico do próprio Tikkunim para referir aquela Árvore a Malkuth, o primeiro e mais fácil rompimento dos falsos fogos de Loki que cercam a Virgem do Mundo! – e ainda assim uma semana ou mais se passou, e ele foi encontrado criticando uma questão de mera precisão verbal. [Bones, com a consciência ferida, protesta debilmente.] Verdade e falsidade no sentido britânico de “Sou um homem simples, senhor, e gosto de uma resposta simples para uma pergunta simples” são, nos fundamentos mais baixos, apenas detalhes de Moralidade: a Moralidade é apenas um ramo dessa Árvore do Conhecimento; e ainda assim o Adepto pode cair tão longe de sua consciência samádica que ele é encontrado com ardor atávico relembrando as últimas instruções de seu pai antes de sair de casa para a escola – “e, Talbot, lembre-se de dizer sempre a verdade, aconteça o que acontecer!”, o próprio “Talbot” sendo uma mentira deliberada contada sob o selo sagrado do batismo na esperança tola e esnobe de persuadir estranhos de que seus ancestrais eram todos Talbots, e que é apenas por alguma complicação da loi Salique que seu sobrenome é Stubbs – até mesmo embora isso seja notoriamente apenas uma corrupção britânica e honesta de St. Hubert.

Entretanto, uma vez que deixe A Verdade, a mente interpreta aquele Aleph da Língua Samádica, e parece que não há caminho de volta até ela. Assim, Samādhi chega como um choque, como uma negação, como uma cessação; porque somente pela destruição alguém pode alcançá-lo. Samādhi nunca é o Castelo de Cartas ideal que alguém pensa em construir; mas a queda de tal casa pode significar algo. A queda de Babel por Temurah (no modo Athbash) é Sheshak (Jeremias 25:26), 620, Kether. Não é possível construir um Adepto, treinar, procriar, ou mesmo imaginar ou criar um; mas destruindo todos os pensamentos de um homem – o que resta?

Concebemos que Davi não entrou em intrigas para obter a Coroa de Israel; pelo contrário, ele matou um leão e um urso[32] que se levantaram contra ele; e quando além disso ele destruiu Golias[33], o profeta o procurou e o ungiu como Rei de Israel.

Certamente quem é ungido será coroado. Em verdade; mas quando? Quando não apenas Saul, o usurpador, mas Jônatas, a quem ele amava mais do que sua própria alma, estiverem Mortos.

Não ouvimos falar da ressurreição de Jônatas; não lemos sobre uma Ala Memorial Jônatas no Hospital de Doenças Venéreas de Jerusalém; nenhuma palavra chegou até nós através dos tempos de um dia do Favo de Mel, em vista do fato de que a prímula não é nativa da Palestina.

[Risos e aplausos.

Jônatas estava morto e provavelmente Davi deixou que os mortos o enterrassem. Vinde Tu, e segui-Me! acrescenta Cristo a uma exortação semelhante, e enquanto passamos com um sorriso misericordioso pela antítese, ou admitimos que é apenas uma denúncia ao nível de seu ouvinte, devemos reconhecer com adoração a unidirecionalidade do comando. Deixe tudo morrer e continuar morto. Que haja uma coisa, que é coisa Nenhuma. Chega.

Essa é a tentativa tola do menino O.M. de instruir os adultos com quem é lançado pela força da Grande Falsidade. Que ele se torne como uma criancinha!

Ele procurou escrever a Verdade; alguém está pronto para recebê-la? Ele não será mal interpretado? Nenhum conjunto de tolos gritará “Casuísta!” e seus irmãos gêmeos exclamarão: “Aqui, de fato, finalmente brilha a sabedoria, a virtude e a verdade multisciente!”?

Não: pois o Ensaio e o Ouvinte, o que são eles senão demônios com cara de cão, que não manifestam nenhum sinal da Verdade, mas sempre seduzem para longe dos Mistérios Sagrados? Afirme a identidade deles com Aquele que é Nenhum, ou destrua-os – esses são os dois aspectos do Ritual supremo, e esses dois são um, que é Nenhum. Esta foi a voz autêntica de O.M.

[Silêncio respeitoso.

O Porta-Voz. Agora, Sr. Bones, com a ênfase no Agora, ficaremos felizes em ouvir quaisquer comentários que você possa querer fazer.

Sr. Bones. Todos nós ouvimos, tenho certeza, com grande atenção o valioso artigo do Sr. Bowley. A esta hora, no entanto, não me caberia [Não! Não!] – não estaria de acordo com a disposição desta reunião se eu [Uma voz: “Chega de cacarejo, homem, e volta ao assunto.”] – Tenho certeza de que nosso grandemente honrado Frāter [Uma voz: “Fale mais alto!”] – Eu trovejo em seus ouvidos! É um bom artigo, mas está completamente P. O. D. R. E. Podre[34].

[O coro natalino espera do lado de fora para começar o hino:

Na cama do hospital, ela estava vivendo, Apodrecendo – Apodrecendo!

Um ataque da Sra. Bones para dispersá-los.] O que eu desejo apontar principalmente é o elemento de contradição no valioso artigo que todos nós, tenho certeza, ouvimos com notável prazer. [Ah! Desiste disso!] Eu que fui chamado, ou foi você?

O Porta-Voz. Ordem, por favor, grandemente honrado Fratres. O Sr. Bones tem a palavra.

Uma Voz. O que a Sra. Bones dirá sobre isso?

O Porta-Voz. [Severamente.] Se eu tiver mais interrupções impróprias desse tipo, mandarei esvaziar o Tribunal.

Sr. Bones. Obrigado, senhor. O mui valioso artigo para o qual tenho certeza—

[Tumulto.

O Porta-Voz. Todos aqueles abaixo do grau de Senhores da Ausência de Caminhos no Abismo do Grande Golfo Fixo gentilmente deixarão o Tribunal. Eu mesmo darei o exemplo.

[As personagens deixam o palco. Bones e Bowley ficam a sós.

Bowley. Seu método de manter silêncio é bom. Afinal, o diálogo é a melhor forma. Mas silêncio! quem vem lá?

Entra o Yonly Yeats, com flores de maçã druídicas em seu cabelo, e uma tarrafa de estrelas druida em uma mão. Faz sua performance e sai.

Bones. Continuando – Verdadeiro! E dizendo “verdadeiro”, vamos discutir a “verdade”. Nos mundos inferiores, onde estamos? Pegue essa frívola Sra. I. Por que ela foge da Sra. J.? De medo.

Bowley. Medo é fracasso.

Bones. Mais do que isso, G. H. Frāter! É o precursor do fracasso.

Bowley. Certamente, recomendo às pessoas que não tenham medo.

Bones. Tanto é que a virtude não habita no coração do covarde.

Bowley. Passe adiante!

Bones. Pego a página 39 de sua hábil monografia e sigo meu guia Axiokersos, o Segundo dos Cabiros da Samotrácia, até o Portal em cujo véu está escrito “Nenhuma existência separada!” Se eu afirmo meu próprio ponto de vista, eu nego a Unidade – mas silêncio! quem vem lá?

Entra Whitehead*, o equilibrista, faz a sua performance, faz uma Longa Bisbilhotagem e sai*.

Bowley. Quanto ao que você acabou de dizer, você não pode brincar de Kether estando em Malkuth!

Bones. Eu desprezo a observação. Espere! Respondendo ao tolo de acordo com sua tolice—

Bowley. Você se rebaixa ao nível dele. Mas silêncio! quem vem lá?

Entra Nogah.

Meu pequeno docinho!

[Ela exibe seu Esplendor Externo e Corrupção Interna, e sai.

Bones. Porém, quanto aos níveis, todos os níveis são um. Se eu cancelo a e -a, o resultado será o mesmo que se eu cancelar 1000a e -1000a. Estou apenas preocupado em cancelar.

Bowley. Tudo bem, meu alegre 10=1 – em Kether está tudo muito bem. No Ruach deve-se fazer como o Ruach faz.

[Sra. Bones, de fora, gritando: “Minhas colheres! Minhas colheres de prata! Onde estão as minhas colheres?”

Bones. Então e quanto à nossa Grande Obra?

Bowley. Ignorar o tolo e suas perguntas tolas é uma fórmula tão boa quanto a sua. Mas silêncio! Quem vem lá?

Entra o Misterioso Mathers*, mas, não conseguindo pegar emprestado as coisas necessárias, não consegue realizar sua atuação, e sai*.

Bones. Esta ação de fato interrompe o diálogo.

Bowley. Vai lá! Você acha que eu estudei Drama Britânico por anos em vão?

[Vozes do lado de fora, reclamando da perda de pertences.

Bowley. Como eu estava dizendo, prefiro destruir o tolo ignorando-o e ignorando suas perguntas tolas. Mas silêncio! quem vem lá?

Entra Nehushtan e executa a Dança Serpentina. Sai.

Bones. Em resposta à sua última observação, você e eu estamos próximos o suficiente dos Salões da Grande Ordem para saber o quão secreta é a Fraternidade. E se o seu tolo com sua pergunta tola fosse um Mestre do Templo falando contigo na linguagem samádica?

Bowley. Meu caro, vou destruir ele tão rápido quanto o resto. όὐ μή é minha resposta a Binah, bem como a Yesod. Mas silêncio! quem vem lá?

Entra Shaddai L. Hye*, canta suas canções e sai[35].*

Enfim, tudo isso é um pouco de moralidade boba. Surgiu da minha tentativa de salvar a dor de minha esposa, escondendo dela o fato de que ela não era, na grande frase de Emerson—

Bones. Washington Irving, eu acho—

Bowley. Algum Ianque – a única ostra do guisado.

Bones. Quem te pediu, Magus Supremo de nossa Antiga Ordem! [com profundo sarcasmo] para salvar as pessoas da dor?

Bowley. Eu desisto. Mas realmente lhe digo que você nunca alcançará a Fraternidade até que tenha genuinamente conquistado a Ilusão dos Pares de Opostos. Verdade e Mentira são tão opostas quanto branco e preto, bem e mal—

Bones. Às vezes duvido que algum desses sejam opostos. Da próxima vez que você correr até Kether, olhe para baixo na Árvore e veja como é a Verdade lá de cima! Tome o exemplo do calor e do frio, que uma vez eram típicos opostos. Hoje em dia, concebemos um corpo quente como aquele em movimento interno violento, um corpo frio como aquele em movimento moderado.

Bowley. Rápido e lento.

Bones. Ou mesmo (digamos para permitir ao inimigo todas as vantagens) movendo-se e repousando. Mas estes não são opostos. Zero e unidade não são opostos.

Bowley. No entanto, em outro sentido, quaisquer duas coisas são opostas.

Bones. Isso em Kether novamente. Se você deseja cancelar um número, entretanto, zero não é útil para você; você precisa de uma quantidade negativa.

Bowley. O que (sem dúvida você dirá) exige uma interpretação geométrica, e muito convencional.

Bones. Sim; até mesmo o Ruach pode, em certo sentido, se livrar dos Opostos. Ainda mais quando observamos o assunto do ponto de vista de Samādhi!

Bowley. Então qual é o inverso da Verdade?

Bones. Meu caro Pilatos, certamente não é a falsidade. Uma linha torta não é contraditória com uma reta. Curvas e cantos excluem igualmente a linha reta e—

Bowley. Nenhuma proposição pode ter duas contradições lógicas.

Bones. Agora eu passo.

Bowley. Keynes.

Bones. Eu certamente o teria acusado de homicídio justificável se o comentário fosse de Abel.

Bowley. Nossa velha amizade—

Bones. Está tudo muito bem – você sabe que eu nunca deveria ter feito tal comentário na vida real e é péssimo fazê-lo em um diálogo onde eu não consigo evitar fazê-lo e tenho que dizer exatamente o que você quer.

Bowley. Ah, qual é! Eu te dei todas as melhores falas. O Senhor deu[36] – cuidado!

Bones. Eu confio em sua honra. Onde nós estávamos? De qualquer forma, eu te digo uma coisa: é uma fórmula excelente como tal.

Bowley. Agora descemos até o Magista Negro e seu círculo novamente; tudo bem, estou com você. Eu nunca posso deixar de suspeitar de sua moralidade, no entanto; você é um Johnny profundamente diabólico, mas o atavismo transparece. Contanto que você use uma gravata que um Neandertal teria descartado como fora de moda, nunca consigo classificá-lo neste século.

Bones. Antes que Abraão existisse, eu existia.

Bowley. [Sem perceber.] Eu chamo isso de gravata cristã. Fé na afeição de sua esposa sobrevivendo a isso; caridade, que não é vergonhosa; esperança[37] – não, apenas Hope Brothers[38].

Bones. Isso é, de certa forma, uma digressão—

Bowley. Eu posso provar—

Bones. Eu sei que você pode. Mas não.

Bowley. Bem, sobre a verdade. Certamente estou certo ao dizer que “Eu não sei” e ficar em silêncio – ambas fórmulas subjetivas – são iguais em valor à sua de dizer a verdade a um homem no sentido que ele entende.

Bones. Sim; posso concordar até aí: mas minha fórmula também é boa.

Bowley. Eu prometo tentar.

Bones. Você tem duas vantagens. Uma é a Magia comum ou de Jardim; você adquire o hábito de dizer a verdade no sentido objetivo material inferior, e a natureza é obrigada (como diz Levi) “a se acomodar à declaração do magista”. Assim, pode-se segurar um ferro ou brasa quente, dizendo “Não dói” e não vai doer.

Bowley. Eu tenho tentado isso. Mas pensei que era uma questão de coragem e vontade.

Os hindus têm um jogo que chamam de Ato da Verdade. Lembro-me de uma vez que o Rei Brahmadatta ou algum asno quis cruzar o Ganges com seu exército e sendo um tolo não trouxe botes; então, ele ficou resmungando por aí como um gato quando você joga pimenta no nariz dele, e pouco a pouco vem “bem, eu não vou dizer que é uma —, mas uma senhora sem reputação”, e diz: “Por Deus, rei, por que não ralhamos com Brishma, o de braços longos, e aquela multidão”? “Tudo bem, seu atrevido!” diz Brahmadatta, “como vamos atravessar essa trincheira desgraçada”?

“Relaxa aí, velhote”, gorjeia a queridinha da população da Índia – abundante, porém não salva. “Chega pra lá um pouco e deixa a Destemida Daisy da Drenos Deccan agir. Vejam aqui, rapazes, eu sou uma” — bem, quão melindrosa ela cresceu! – “e a cada filho de uma— que…” – tut! tut! esta história é muito difícil de contar – “… flertou comigo eu fiz valer o dólar, e só o Senhor sabe quantos centavos de troco, sem mencionar um monte de coisas raras que não vou especificar, no negócio. Qualquer um neste exército que negue isso pode vir a qualquer momento e receber quatro vezes isso gratuitamente”.

Então o rio rolou para trás e Brahmadatta atravessou e deu a Bhishma de braços longos o Toque de Togo, e limpou o maidan com Brer Bhima, e perfurou o Grandemente Honrado Frāter Dritirashtra no olho, e enxugou o Velho Saraswati, e separou Sir Jnanakasha da nave ao maxilar, e geralmente venceu a partida de cartas com o naipe de Espadas. Qualquer um, exceto um hindu ignorante, teria declarado Copas e enviado a garota em uma jangada!

Bones. Eu não entendi muito bem.

Bowley. Nem eu. No entanto, essa é a história.

Bones. Suponho que a devoção à própria profissão seja uma forma de Verdade. Mas mesmo que, como você diz, muitas vezes seja uma questão de coragem e vontade, essas são as próprias qualidades que essa declaração da verdade estimula. Se uma senhora perguntar se o chapéu ficou bem nela, é um ato heroico responder com “nem um pouco”.

Bowley. Parece-me mera grosseria.

Bones. Não! a senhora não piorou com a apunhalada em sua vaidade tola; e, embora ela possa ficar brava ou mal-humorada, ela se lembrará disso ao seu favor quando algo sério acontecer.

Bowley. Seu cachorro! Seu demônio! Seu sátiro maquiavélico! Juro que me faltam palavras, senhor.

Bones. Mais uma coisa –é a primeira verdade que é difícil de dizer; o hábito é facilmente adquirido.

Bowley. Você sabe como sempre fui um mentiroso perito. Você conhece minha capacidade de fazer uma confissão completa e verdadeira de incontáveis crimes sem iluminar uma alma. Você conhece minha máxima desavergonhada “Diga a verdade, mas leve uma vida tão improvável que não acreditarão na verdade”. Para experimentar sua fórmula, preciso controlar não apenas minhas palavras, mas também meu tom, o formato de minha boca, a alegria de meus olhos, a pronta ambiguidade de meus ombros.

Bones. Um bom exercício, Frāter.

Bowley. Outro ponto. Eu sou, afinal, um Poeta. Isso é bem sobre o sol refletido no lago iluminando as abelhas nas flores. Costumo ter longas conversas com as pessoas e descobrir muito depois que eu não estive lá. Muitas vezes sonho e honestamente fico intrigado se os eventos de fato ocorreram ou não.

Bones. Recuse-se conscientemente a admitir que seus sentidos não são os de outra pessoa – isso é tudo. Sobre minha segunda vantagem – irmão, o que é um Magista Negro?

Bowley. Um homem corajoso e mau, irmão.

Bones. O que ele faz, irmão?

Bowley. Ele compra ovos sem pechinchar, e os chifres de uma cabra cum quō, crânios de parricidas, e varinhas, e adagas, e absorventes íntimos, e—

Bones. Então o que ele faz, irmão?

Bowley. Ele pega um grande círculo bonito—

Bones. [Em uma voz de trovão.] Pare! não parodie as palavras mais formidáveis que a agonia já arrancou dos lábios da iniciação. Ele trabalha em um círculo, irmão. Ele diz: eu estou do lado de dentro e você não consegue me pegar. Ele diz que Um e Um são Dois!

Bowley. O judeu blasfemador! Eu quero seu fígado.

Bones. Para o seu próprio caldeirão, filho desabrochado de Belial que você é!

Bowley. Entendo. Quando você está em 10=1 ou próximo a isso, e vê que demônios com cara de cão são apenas ilusões (com o resto de Māyā), não há sentido em mantê-los do lado de fora. Depois de perceber o Universo como L.V.X. Infinita, ora, para o Inferno com o Círculo – deixe-o entrar rapidamente!

Bones. Bom garoto!

Bowley. Muito bem: estamos de acordo; mas o problema é que você me parece correr até Kether para tomar uma atitude e, em seguida, trazê-la para Malkuth. Você pega a Virgem do Mundo e jura que ela tem uma Barba Venerável com treze Fontes de óleo magnífico escorrendo por ela. Se todos são um, por que não escovar o seu cabelo com um forcado?

Bones. É um assunto muito difícil de tratar em palavras; na prática, nunca há dúvidas ou hesitações. O que eu digo sobre Kether é claro que não é verdadeiro; não posso sequer conhecer a verdade a menos que eu realmente esteja em Kether. Se descrevo Samādhi, eu fracasso. Você entende o suficiente (pode ser) para ter certeza de que eu estive lá; mas como um estranho pode julgar isso?

Bowley. Verdade; Buda, Cristo, Maomé, todos tentam descrevê-lo – quão grande é a contradição de seus ensinamentos!

Bones. Especialmente conforme interpretado por seus seguidores absolutamente chafurdando no Ruach.

Bowley. Vamos deixar por isso mesmo? Que Bones encontra a verdade objetiva no Caminho para o alto da Árvore e uma Fruta no galho mais alto?

Bones. Eu sou mais positivo do que isso.

Bowley. Menos Zoroastro e mais Pirro, por favor Senhor, para o Irmão Bones! do contrário, você cairá no caminho de Paulo e perecerá na contradição de Maomé.

Bones. Você é obstinado quanto à necessidade de desprezar os resultados objetivos da iluminação. Mas vamos considerar o homem perfeito.

Bowley. Ó, irmão, isso é enfadonho.

Bones. Imbecil! . . . Ele vive (é verdade) em Kether; mas sua mente e corpo, por mais perfeitos que sejam, funcionam, por assim dizer, automaticamente, em seu próprio plano. No momento, não tenho consciência das batidas do meu coração; não é nem sequer uma ilusão! No entanto, ele mantém sua relação apropriada com as outras coisas ilusórias. Portanto, sem dúvida, um adepto está totalmente inconsciente dos atos e pensamentos realizados por ele, atos e pensamentos que parecem implicar volição consciente. E quanto à sua poesia?

Bowley. Certamente, nunca estou – muito raramente – muito, muito raramente – ciente do que vou escrever, estou escrevendo, escrevi. Eu sei, por exemplo, aproximadamente, que temos falado sobre a Verdade esta noite. Mas que Deus me ajude se eu tentar reproduzir os argumentos ou repartir os discursos! Grande parte dos meus versos são mero reflexo do meu arrebatamento – um arrebatamento talvez de natureza diferente. Eu me apaixono e escrevo “O Devorador de Deus”; vejo Citlaltépetl, e lá vem “Noite no Vale”! “O que ele derramou na boca do moinho como uma 33ª Sonata (imagine agora!) Vem do funil como farelo de lama, nada mais, o Hino dos Shakers em G com um F natural, Ou as Estrelas e Listras naturais para quartos consecutivos”. Eu não sou um poeta; sou uma máquina de escrever. Uma máquina muito complexa e capaz de autoajuste e aperfeiçoamento; mas não consigo ditar nem mesmo uma carta comercial. A máquina precisa do operador antes que uma única tecla possa ser pressionada. Se Bowley enlouquecer (as páginas divididas em quatro têm “enlouquecer ainda mais”), ou morrer, nosso Superlativamente Honrado Frāter fulano de tal perde sua máquina e precisa encontrar outra; e essa é o ponto de vista de Binah; mas o ponto de vista de Chesed é “Deixe-me manter esta máquina em perfeita ordem, caso nosso S. H. Frāter queira ditar algo”.

Bones. Exatamente; e se o Irmão Bowley continuar mentindo, nosso S. H. Frāter um dia apertará a tecla A e encontrará um B no papel. Então ele provavelmente dirá: Dane-se a máquina! – e fará isso.

Bowley. Estamos deixando a exatidão e chafurdando na analogia. Temos corrido para cima e para baixo nos planos até sermos menos Adeptos Isentos do que macacos com gravetos; nós…

Bones. Nós deveríamos ir dormir.



  1. «A frase acima é a transliteração de “Ali Sloper” para o árabe. A frase abaixo é “Verdade” em hebraico.» ↩︎

  2. «Uma mistura de “Ally Sloper” (um personagem de tiras de jornal de 1867, que se envolvia em esquemas e trapaças) e “Ali Babá e os Quarenta Ladrões” (um dos contos de As Mil e Uma Noites).» ↩︎

  3. «“Quem está perdendo a vida, deveria dizer o que jaz em seu coração”, em persa. Trecho do primeiro capítulo do Gulistão de Saadi de Xiraz» ↩︎

  4. «Outra dupla de “sério-cômicos”.» ↩︎

  5. «Uma recitadora profissional de longos discursos.» ↩︎

  6. «Yonisuckle no original, um trocadilho com Honeysuckle, uma madressilva.» ↩︎

  7. «Pessoa com destoante mobilidade facial.» ↩︎

  8. «Horny no original, que pode significar tanto algo com chifres como uma pessoa sexualmente excitada.» ↩︎

  9. «Nome de uma marca inglesa de chás. Junção de “maza” (prazer) e “wattee” (jardim).» ↩︎

  10. «Esta peça se baseia em um diálogo real ocorrido entre Aleister Crowley (Bowley) e George Cecil Jones (Bones) no final de 1906, enquanto trabalhavam na tabela de correspondências mágicas que seria publicada em 1909 como 777, o “uma compilação de símbolos, para uma sistematização do caminho cético-místico proposto, uma base hieroglífica das coisas mais sagradas do conhecimento superior”.» ↩︎

  11. «Profissional de teatro que ficava escondido no palco, segurando uma cópia do roteiro e auxiliando os atores quando esqueciam suas falas ou ações.» ↩︎

  12. «Trocadilho com o Estreito de Dover, região onde a ilha da Grã-Bretanha está mais próxima do continente Europeu.» ↩︎

  13. «Frāter Nōn Omnis Moriar é um dos motes mágicos de William Wynn Westcott (1848-1925) na Ordem Hermética da Aurora Dourada. Esta expressão em latim significa “não morrerei de todo”, daí o trocadilho que segue.» ↩︎

  14. «Trocadilho com Christmas (Natal) e Christianism (Cristianismo).» ↩︎

  15. «Parece que o autor ou o diagramador errou a referência, pois este salmo diz “Também o poder do Rei ama o juízo; tu firmas a equidade, fazes juízo e justiça em Jacó”.» ↩︎

  16. «Estas frases sobre o Nariz foram adaptadas a partir do Capítulo XV da Grande Assembleia Maior: “Sobre o Nariz do Microprosopo”. Consulte A Kabbalah Revelada de Knorr von Rosenroth, Editora Madras.» ↩︎

  17. «Uma aliteração no original: She sells sea shells↩︎

  18. «Um dos oficiais de templo da Aurora Dourada, responsável por purificar o templo e os candidatos com um cálice com água.» ↩︎

  19. «“Saudai aos irmãos que estão em Laodicéia e a Ninfa e à igreja que está em sua casa”. Vide também 1 Coríntios 6:19: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?”.» ↩︎

  20. As visões neste ensaio foram deliberadamente mantidas assim como foram originalmente escritas no dia 18 de dezembro de 1906 por Aleister Crowley. A discussão que segue representa com essencial fidelidade a discussão real que ocorreu após sua leitura no Dia do Natal. As direções de palco neste ensaio representam os fatos. ↩︎

  21. «Iniciais de “Oh Me”, a transliteração do grego οὐ μή, o mote mágico de Crowley como um Adeptus Exēmptus 7○=4□.» ↩︎

  22. «Consulte The Sword of Song (“A Espada da Canção”) de Aleister Crowley.» ↩︎

  23. «Dois tipos de tacadas de golfe onde a bola não atinge seu alvo.» ↩︎

  24. «Francês para “outras épocas, outras palavras”.» ↩︎

  25. «O sétimo mandamento é “Não cometerás adultério” (a posição de alguns mandamentos varia de acordo com a fonte). John Gorell Barnes (1848-1913) foi um advogado e juiz. Na época em que este livro foi escrito, ele era o presidente da divisão de inventários, divórcios e almirantado da Suprema Corte de Justiça britânica.» ↩︎

  26. «Maurice Polydore Marie Bernard Maeterlinck (1862-1949), um dramaturgo, poeta e ensaísta, ganhador do prêmio Nobel de literatura em 1911.» ↩︎

  27. «Cianede é latim para “sodomitas” e “catamitas”.» ↩︎

  28. «Trecho da Anábase de Xenofonte. É grego para “O mar! O mar!”.» ↩︎

  29. «Grego para “Fantasma! Fantasma!”» ↩︎

  30. «Grego para “Piscina! Piscina!”» ↩︎

  31. «Pass-men no original, um termo usado para indicar pessoas que se graduam em uma universidade tradicional sem honrarias.» ↩︎

  32. Babel – soletrada corretamente como באבאל‎ – = 36, 6 × 6. ‎אריה‎ = 216 = 6 × 6 × 6. E דב, urso = 6. Seis é Tiphereth, o símbolo do Ruach. ↩︎

  33. גלית‎, 443, uma Unidade a menos que 444 – o Tetragrammaton divino sem Kether, a ponta superior do ‎י‎ (pois 444 = 4 × 111 que é ‎אלף‎ o tipo das letras). De modo que Golias é tudo aquilo que não é Kether – e precisa ser destruído. ↩︎

  34. «R.O.T., Rot, no original.» ↩︎

  35. Não é preciso muito gênio criativo para introduzir habilmente os vários membros da trupe do Dr. Waistcoat. Portanto, eu deixo o restante disso ao encargo dos Gerentes de Palco para organizá-los conforme quiserem. ↩︎

  36. «“O Senhor deu, o Senhor tomou; louvado seja o nome do Senhor” –  1:21. » ↩︎

  37. «Fé, Esperança e Caridade (Amor) são as três virtudes teologais católicas, com base em Coríntios 13:13: “Assim, permanecem agora estes três: a fé, a esperança e o amor. O maior deles, porém, é o amor”. Também são chamadas de três graças maçônicas na Maçonaria. Consulte o simbolismo do Painel Alegórico do Aprendiz Maçom.» ↩︎

  38. «Uma loja de gravatas que existia em Londres, fazendo trocadilho com hope – esperança.» ↩︎


Traduzido por Alan Willms em abril de 2021.

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