

Capítulo 0
A Teoria Mágica do Universo ¶
Existem três teorias principais do universo em filosofia: Dualismo, Monismo e Niilismo. É impossível discutirmos os méritos relativos de cada uma em um manual popular deste tipo. Elas devem ser estudadas em compêndios de História da Filosofia como o de Erdmann.
Todas as três são reconciliadas e unificadas na teoria que esporemos a seguir. A base desta harmonização é dada por Crowley no ensaio “Berashith”, ao qual fazemos algumas referências.
O Espaço infinito é chamado a Deusa NUIT, e o ponto infinitamente pequeno e atômico, no entanto, Onipresente, é chamado de HADIT1. Estes são imanifestos. Uma conjunção destes dois infinitos é chamada RA-HOOR-KHUIT2, uma Unidade que inclui e dirige todas as coisas3. (Existe também na sua natureza especial, em certas condições, tais como as ativas desde a Primavera de 1904 e.v.). Esta concepção profundamente mística está baseada em experiência espiritual iniciática; mas mesmo a razão, se treinada4, alcança um reflexo desta ideia pelo método de contradições lógicas, que termina com a razão transcendendo a si mesma. O leitor deveria consultar “O Soldado e o Corcunda” em Equinox I (1), e Konx Om Pax.
A Unidade transcende a Consciência. Está acima de toda divisão. O Pai do pensamento – a palavra – é chamado Chaos – a díade. O número três, a Mãe, é chamada Babalon. Quanto a isto, o leitor deveria estudar “O Templo do Rei Salomão” em Equinox I (5) e Liber 418.
Esta primeira tríade é em sua essência uma Unidade, de uma forma que transcende a razão. A compreensão desta tríade é o resultado da experiência espiritual. Todos os verdadeiros Deuses são atribuídos a esta Trindade5.
Um imensurável Abismo separa essa Trindade de todas as manifestações da razão ou das qualidades mais baixas do homem. Analisando por completo a razão, verificamos que ela é idêntica a esse Abismo. No entanto, este Abismo é a Coroa da mente. Faculdades puramente intelectuais estão todas contidas ali. Este abismo não tem número, pois nele tudo é confuso.
Abaixo deste abismo, encontramos as qualidades morais do homem, das quais existem seis. Sua natureza é paternal6; misericórdia e autoridade são os atributos de sua dignidade.
O número cinco está equilibrado com o quatro. Os atributos de cinco são Energia e Justiça. Quatro e cinco são combinados e harmonizados no número seis, cuja natureza é Beleza e harmonia, Mortalidade e Imortalidade.
No número sete a natureza feminina predomina novamente, mas é o tipo masculino da fêmea, a Amazona que é equilibrada no número oito pelo tipo feminino do macho.
No número nove alcançamos a última das qualidades puramente mentais. Este número identifica Mudança com Estabilidade.
Pendendo a este sistema está o número dez7 que inclui toda matéria tal como a conhecemos através dos sentidos.
É impossível explicarmos aqui definitivamente a concepção acima; pois não pode ser claramente compreendido que isto é uma classificação do Universo; não existe coisa alguma que não possa ser colocada aí; tudo está incluído.
O artigo sobre Cabala em Equinox I (5) é o melhor que já foi escrito sobre o assunto. Deveria ser profundamente estudado em conexão com os Diagramas Qabalísticos nos números 2 e 3 do “Templo do Rei Salomão”.
O que foi escrito acima é o esboço cru e elementar deste sistema.
A fórmula do Tetragrammaton é a mais importante de todas para o Magista praticante. Aí, Yod = 2, Hé = 3, Vau = 4 a 9, Hé final = 10.
O número Dois representa Yod, o mundo divino ou arquetípico, e o número Um só pode ser atingido pela destruição do Magista em Samadhi. O mundo dos Anjos está sob os números de Quatro a Nove, e o dos Espíritos sob o número Dez8. Todos estes números são, é claro, partes do Magista, considerando-o como Microcosmo. O Microcosmo é uma imagem exata do Macrocosmo; a Grande Obra consiste em levar o homem inteiro em completo equilíbrio à potência da Infinidade.
O leitor observará que toda tentativa de criticar a Hierarquia Mágica é fútil. Não se pode chamá-la de incorreta; o máximo que se poderia dizer é que ela é inconveniente. Da mesma forma, não podemos dizer que o alfabeto latino seja melhor ou pior do que o alfabeto grego para representar línguas ocidentais, pois todos os sons destas podem ser mais ou menos satisfatoriamente representados pelas letras de qualquer dos dois; no entanto, ambos se mostram tão insatisfatórios para representar os fonemas de idiomas orientais que foi necessário acrescentar o uso de itálicos e outras regras diacríticas. Da mesma maneira, nosso alfabeto Mágico das Sephiroth e dos caminhos (trinta e dois no total) foi expandido nos Quatro Mundos que correspondem às quatro letras do nome יהוה; e convencionou-se que cada Sephirah contém a Árvore da Vida em si mesma. Assim, temos quatrocentas Sephiroth ao invés das Dez originais, e os caminhos podendo ser similarmente multiplicados, ou antes, subdivididos, o número é expandido ainda mais. É claro que este processo poderia ser continuado indefinidamente sem destruir o sistema original.
A Apologia por este Sistema é que suas mais puras concepções são simbolizadas pela matemática. “Deus é o Grande Arquiteto”. “Deus é o Grande Geômetra”. É melhor, portanto, prepararmo-nos para entendê-lo organizando nossas mentes de acordo com essas medidas9.
Continuando: cada letra deste alfabeto pode ter seu símbolo Mágico especial. O estudante não deve esperar que lhe demos uma definição dogmática definitiva e exata do que é significado por cada uma destas coisas. Pelo contrário, ele deve trabalhar em retrospecto, colocando toda a sua estrutura mental e moral nestas classes. Você não espera comprar um fichário com os nomes de todos os seus correspondentes passados, presentes e futuros registrados de antemão; o fichário contém um sistema de letras e números sem significados em si mesmos, mas prontos a adquirir significado para você à medida que vá preenchendo as fichas. Seus negócios se expandindo, cada letra e número adquirirá significado para você; e adotando este arranjo você terá todas as suas atividades “na ponta dos dedos”, por assim dizer, coordenadas e prontas a cada momento para exame, verificação e uso; muito mais do que você teria de outra forma. Pelo uso deste sistema o Magista finalmente é habilitado a unificar todo seu conhecimento a transmutar, mesmo no plano intelectual, os muitos no Um.
O leitor poderá agora compreender que o esquema acima dado da Hierarquia Mágica não é sequer um esboço da verdadeira teoria do universo. Esta teoria pode de fato ser estudada no artigo já mencionado, Equinox I (5) e, mais profundamente, no Livro da Lei e seus comentários pertinentes, mas a verdadeira compreensão depende inteiramente do próprio trabalho do Magista. Não havendo Experiência Mágica, não pode haver significado.
Nisto nada há de peculiar. O mesmo ocorre com todo conhecimento científico. Um cego poderia acumular dados sobre astronomia para passar em um exame, mas seu conhecimento estaria quase que inteiramente sem relação com sua experiência e certamente não lhe outorgaria a faculdade de visão. Um fenômeno similar pode ser observado quando um cavalheiro possuidor de um diploma honorário de Cambridge em línguas modernas chega a Paris e é incapaz de ordenar o seu jantar. Acusar o Mestre Therion seria agir como uma pessoa que, observando o cavalheiro em questão, atacasse tanto os professores de francês quanto os habitantes de Paris, e passasse talvez, a negar a existência da França.
Repetimos que a linguagem Mágica não é mais que um sistema conveniente de classificação para habilitar o Magista a fichar suas experiências à medida que ele as obtém.
No entanto, isso também é fato: que uma vez a linguagem esteja dominada, nós podemos adivinhar o desconhecido por estudo do conhecido, como nosso conhecimento do latim e do grego nos habilita a compreender uma palavra inglesa derivada destes idiomas. Também, há o caso similar da Lei de periodicidade em Química, que habilitou cientistas a predizerem, e por fim descobrirem, a existência na natureza de certos elementos previamente inexistentes. Todas as discussões sobre filosofia são necessariamente estéreis, pois a verdade transcende a linguagem. Tais discussões são, entretanto, úteis, se empurradas ao extremo suficiente – se empurradas ao ponto em que se torna aparente que todos os argumentos são argumentos em círculo10. Mas discussões dos detalhes de qualidades puramente imaginárias são frívolas, e podem se tornar mortíferas. Pois o grande perigo desta teoria Mágica é que o estudante pode tomar o alfabeto pelas coisas que as palavras representam.
Um excelente homem de grande inteligência, cabalista mui letrado, em certa ocasião espantou Mestre Therion ao asseverar que a Árvore da Vida é a estrutura do universo. Isso é como se alguém afirmado seriamente que um gato era uma criatura construída ao colocarmos as letras g.a.t.o. nesta ordem. Não espanta que a Magick tenha provocado o ridículo das pessoas menos inteligentes se até seus estudantes educados podem cometer uma violação tão grosseira das mais simples regras do bom senso11.
Uma sinopse dos Graus da A∴A∴ como ilustrativos da Hierarquia Mágica no homem é dada em Uma Estrela à Vista. Este opúsculo deveria ser examinado antes do leitor continuar com a leitura deste capítulo. O assunto é muito difícil. Tratar dele por inteiro estaria completamente além dos limites deste pequeno tratado.
Mais Sobre o Universo Mágico ¶
Todas estas letras do alfabeto Mágico a que nos referimos são como nomes em um mapa. O homem é, ele mesmo, um completo microcosmo. Poucos outros seres possuem essa equilibrada perfeição. É claro que todo Sol, todo Planeta, podem ter habitantes similares constituídos12. Mas quando falamos de lidar com planetas na Magick, em geral a referência não é aos planetas em si, mas às partes da terra que são da natureza atribuída a esses planetas. Assim, quando dizemos que Nakhiel é a “Inteligência” do Sol, não queremos dizer que Nakhiel vive no Sol, mas apenas que Nakhiel pertence a uma certa classe e tem um certo caráter; e se bem que nós podemos invocar Nakhiel, isso quer necessariamente dizer que ele existe no mesmo senso em que nosso açougueiro existe.
Quando nós “conjuramos Nakhiel a aparição visível”, pode ser que o processo que usamos se assemelhe muito mais a criação – ou antes, a imaginação – do que a invocação. A aura de um homem é chamada de o “espelho mágico do universo” e, tanto quanto podemos afirmar, nada existe fora desse espelho. É pelo menos conveniente representar o todo como se fosse o subjetivo. Causa menos confusão. E como o homem é um perfeito Microcosmo13, torna-se perfeitamente fácil remodelar nossa concepção a qualquer momento para incluir novas descobertas.
Agora, existe uma correspondência tradicional que recente verificação comprovou merecer certa confiança. Existe uma certa conexão natural entre certas letras, palavras, números, gestos, formas, perfumes, etc., de maneira que qualquer ideia ou, como poderíamos chamá-las, “espírito”, pode ser composto ou invocado pelo uso dessas coisas que lhe são harmoniosas e que expressam partes particulares de sua natureza. Essas correspondências foram cuidadosamente registradas no Liber 777, de uma maneira muito conveniente e compreensiva. Será necessário que o estudante faça um estudo cuidadoso deste livro em conexão com alguns rituais práticos de Magick, por exemplo, o da evocação de Taphthartharath, onde ele verá exatamente porque estas coisas devem ser usadas. Claro, à medida que o estudante progride em conhecimento através da prática, ele encontrará uma progressiva sutileza no Universo Mágico, que corresponde à sua própria; pois – diga-se uma vez mais! – não é só a aura do estudante um espelho mágico do universo, mas o universo é um espelho mágico da aura dele.
Neste capítulo podemos dar apenas uma pequena ideia da teoria Mágica ‒ traçado débil por dedos frágeis e hesitantes ‒, pois neste assunto, podemos quase dizer, é coextensivo com a existência inteira de cada um de nós.
O conhecimento da ciência exotérica está comicamente limitado pelo fato de que não temos acesso, a não ser de maneira mais indireta, a qualquer corpo celeste senão o nosso. Nos últimos anos, o homem semieducado adquiriu a impressão de que sabe muito sobre o universo, e o principal motivo desta impressão usualmente é o telefone ou a aeronave. É triste lermos sobre a bombástica tolice escrita sobre “progresso” por jornalistas e outras pessoas que desejam evitar que os homens pensem. Nós sabemos pouquíssimo sobre o universo material. Nosso conhecimento detalhado é tão exíguo que quase não vale a pena mencioná-lo, a não ser que pelo fato nossa vergonha nos estimule a novos esforços. O pouco conhecimento14 que nós temos é de caráter abstruso e genérico, de caráter filosófico e, quase diríamos, Mágico. Consiste principalmente nas concepções da matemática abstrata. É, portanto, quase legítimo dizermos que a matemática abstrata é nosso elo com o resto do universo e com “Deus”.
Ora, as concepções da Magick são, elas mesmas, profundamente matemáticas. A base de toda nossa teoria é a Cabala, que corresponde à matemática e à geometria. O método de operação na Magick está baseado na Cabala, muito da mesma forma que as leis da mecânica estão baseadas na matemática. Tanto, pois, quanto poderíamos dizer que possuímos uma teoria Mágica do universo, ela estará circunscrita apenas a leis fundamentais, com umas poucas proposições simples e compreensíveis expressadas de maneira muito generalizada.
Eu poderia passar uma vida inteira experimentando os detalhes de um plano, da mesma maneira que um explorador poderia dedicar sua existência inteira a um recanto da África, ou um químico a um subgrupo de compostos. Cada uma de tais pormenorizadas peças do estudo pode ser muito valiosa; mas em regra não esclarece os princípios gerais do universo. Sua verdade é a verdade de um ângulo. Pode até conduzir ao erro, se alguma pessoa de menor inteligência começar a generalizar partindo de demasiados poucos fatos.
Imagine um marciano que desejasse filosofar sobre a Terra e não tivesse nada que se basear a não ser um diário de um terráqueo explorando o Polo Norte! Mas o trabalho de todo explorador, sobre qualquer ramo da Árvore da Vida que seja, é imensamente auxiliado por uma compreensão dos princípios gerais. Todo Magista, portanto, deveria estudar a Santa Qabalah. Uma vez ele tenha dominado os princípios gerais, ele verá que seu trabalho se torna mais fácil.
Solvitur ambulando; o que não quer dizer: “Chame a ambulância!”
Eu apresento apenas um esboço dessa teoria. Não posso sequer explicar – por exemplo – que uma ideia pode não se referir de forma alguma a Ser, mas Ir. O Livro da Lei exige estudo especial e compreensão iniciática. ↩︎
Mais corretamente, HERU-RA-HA, para incluir HOOR-PAAR-KRAAT. ↩︎
A base desta Teologia é dada em Liber CCXX, AL vel Legis. Assim, só passarei para o leitor o assunto de uma forma muito generalizada. Um tratado aparte seria necessário apenas para discutirmos o verdadeiro significado dos termos empregados, e para mostrarmos como o Livro da Lei antecipa as recentes descobertas de Frege, Cantor, Poincaré, Russell, Whitehead, Einstein e outros. ↩︎
Todo avanço em compreensão exige a aquisição de um novo ponto de vista. As modernas concepções da matemática, da química e da física são simples paradoxos para o homem comum que pensa que a matéria é alguma coisa com a qual ele pode brincar. ↩︎
Considerações sobre a Trindade Cristã são de natureza apropriada apenas a Iniciados do IX° O.T.O., uma vez que incluem o Segredo final de toda Magick Prática. ↩︎
Cada concepção é, no entanto, equilibrada em si mesma. Quatro é também Daleth, a letra de Vênus, de forma que a ideia da mãe está incluída. Novamente, a Sephira de quatro é Chesed, fazendo referência a água. 4 é regido por Júpiter, O Senhor do Raio (fogo), no entanto, regente do ar. Cada Sephira é completa à sua maneira. ↩︎
O Equilíbrio das Sephiroth:
Kether (1) “Kether está em Malkuth e Malkuth está em Kether, mas de outra maneira.”
Chokmah (2) é yod de Tetragrammaton, e, portanto, é também a Unidade.
Binah (3) é he de Tetragrammaton, e portanto “O Imperador”.
Chesed (4) é daleth, Vênus, a fêmea.
Geburah (5) é a Sephira de Marte, o macho.
Tiphareth (6) É o Hexagrama, harmonizado, o mediador entre Kether e Malkuth. Também reflete Kether: “Aquilo que está acima é como aquilo que está abaixo, e aquilo que está abaixo é como aquilo que está acima.”
Netzach (7) e Hod (8) estão equilibrados como descrito no texto.
Yesod (9) como no texto.
Malkuth (10) contém todos os números. ↩︎Não é possível darmos aqui uma descrição completa dos 22 caminhos neste reduzido tratado. O assunto deve ser estudado com todos os atributos deles em 777, mas em especial, as tabelas dos elementos, dos planetas, dos signos e também as cartas do Tarô, enquanto que suas posições na Árvore e as Sephiroth que eles ligam são as Chaves para sua Compreensão. Será notado que cada capítulo deste livro III faz referência a cada um deles. Isso não foi premeditado. Este livro foi, originalmente, uma coleção de diálogos entre Frater Perdurabo e Soror Achita (Roddie Minor). Mas ao se unir este manuscrito, houve a necessidade desta divisão. Por outro lado, meu conhecimento do esquema indicou-me diversas lacunas em minhas exposições originais; graças a isso, eu pude fazer delas um tratado completo e sistemático. Isto é, quando minha preguiça foi despojada pelas críticas e sugestões de vários colegas, aos quais, eu tive o prazer de submeter os manuscritos originais. ↩︎
Pela palavra “Deus” eu quero aqui significar a Ideal Identidade da natureza mais íntima de um homem. “Algo nós mesmo (eu omito aqui o ‘não nós mesmos’, imbecil e culpado, da definição original de Edwin Arnold) que nos impele ao que é correto”; correção sendo apropriadamente definida como coerência interna. (A Coerência Interna implica aquilo que está escrito: Detegitur Yod). ↩︎
Veja-se “O Soldado e o Corcunda”, Equinócio I (1). O aparato da razão humana é simplesmente um sistema particular para a coordenação de impressões; sua natureza foi determinada pelo curso da formação da espécie. Não é mais ‘absoluto’ que a evolução da espécie. Não é mais ‘absoluto’ que o mecanismo de nossos músculos é um tipo ‘completo’, com o qual todos os outros sistemas de transmissão de força devessem se conformar. ↩︎
Bastante tempo após o acima tenha sido escrito, uma imbecilidade ainda maior foi cometida. Alguém que deveria ter sido mais sábio tentou melhorar a Árvore da Vida virando a Serpente da Sabedoria de cabeça para baixo! Ele não foi sequer capaz de tornar seu sistema simétrico; o pouco que lhe restava de seu bom senso revoltou-se com as supremas atrocidades que resultaram. No entanto, ele conseguiu reduzir todo o alfabeto mágico à tolice, e demonstrou que nunca compreendera seu real significado.
A absurdidade de qualquer modificação deste tipo de arranjo dos Caminhos será evidente a qualquer estudante sóbrio de exemplos como os que se seguem: Binah, a Compreensão Suprema está ligada a Tiphareth, a Consciência Humana por Zain, Gêmeos, os Oráculos dos Deuses ou a Intuição. Isto é, a atribuição representa um fato psicológico: Substituí-la pelo “Diabo” é piada ou idiotice. Também, o trunfo Força, Leão, equilibra Majestade e Misericórdia com Força e Severidade: de que adianta colocar Morte, o escorpião, em seu lugar? Existem vinte outros erros na nova, maravilhosa atribuição “iluminada de cima”; o estudante pode, portanto, estar seguro que dará mais vinte novas gargalhadas se estudá-la. ↩︎Igualmente, é claro, nós não temos meios de saber o que realmente somos. Estamos limitados a símbolos. E é certo que todas as nossas percepções sensoriais dão apenas aspectos parciais de seus objetos. A visão, por exemplo, nos diz pouquíssimo sobre a solidez, o peso, a composição química, a capacidade elétrica, a condutividade térmica, etc. Não nos diz coisa alguma sobre a existência de ideias importantes como o calor, a solidez e assim por diante. A impressão que a mente coordena das mensagens dos sentidos não pode jamais ser apurada ou completa. De fato, as mais recentes descobertas científicas nos têm ensinado precisamente que nada é em si aquilo que nos aparenta ser. ↩︎
Ele o é apenas por definição. O Universo pode conter uma infinita variedade de ideias inacessíveis à apreensão humana. Mas por isso mesmo, tais ideias não existem para os propósitos de nossa discussão. O homem, no entanto, possui alguns instrumentos através dos quais ele pode obter conhecimento; podemos definir o Macrocosmo como a totalidade de coisas que o homem pode perceber. À medida que a evolução desenvolve nossos instrumentos de percepção, o Macrocosmo e o Microcosmo se ampliam; mas sempre mantêm sua relação mútua. Nenhum dos dois pode possuir qualquer significado a não ser em termos do outro. Nossas “descobertas” são tanto de nós mesmos como da natureza. A América e a Eletricidade existiam, em certo senso, antes de nos tornarmos cônscios delas; mas ambas são, mesmo agora, não mais que ideias incompletas, expressas em termos simbólicos de uma série de relações entre dois conjuntos de fenômenos inescrutáveis. ↩︎
Conhecimento é, além do mais, um conceito impossível. Todas as proposições do intelecto ultimamente se resumem em “A é A”. ↩︎
Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.
