Magick (Teoria Básica)

Este artigo é um capítulo de Liber ABA – Magick – O Livro Quatro

.
Leia em 5 min.
Banner

Parte II:
MAGICK[1]

TEORIA ELEMENTAR

Aleister Crowley em seu Robe e Coroa, armado com Baqueta, Taça, Espada, Pantáculo, Sino, Livro e Óleo Santo.
O Magista em seu Robe e Coroa, armado com Baqueta, Taça, Espada, Pantáculo, Sino, Livro e Óleo Santo.

MAGIA CERIMONIAL, O TREINO PARA MEDITAÇÃO

Observações Preliminares

Até agora falamos do caminho místico, e particularmente de seu aspecto exotérico. As dificuldades que mencionamos eram apenas obstáculos naturais. Por exemplo, a grande questão da entrega do ser, que aparece tão profusamente na maior parte dos tratados de misticismo, não foi discutida por nós. Dissemos apenas o que o homem deve fazer; não examinamos as implicações de tudo que ele faz. A rebelião da vontade contra a terrível disciplina da meditação não foi discutida; podemos agora dedicar algumas palavras ao assunto.

Não existe limite para aquilo que os teólogos chamam de “maldade”. Somente através da experiência pode o estudante perceber a engenhosidade com que a mente tenta escapar ao controle. O estudante está perfeitamente a salvo enquanto persiste em meditação, praticando nada a mais ou a menos do que aquilo que nós prescrevemos; mas a mente, é provável, não permitirá que ele permaneça nessa simplicidade. Este fato é a raiz de todas as lendas sobre a tentação do “Santo” pelo “Diabo”. Considere-se a parábola do Cristo no Deserto, quando ele é tentado a usar seu poder mágico para fazer tudo, menos o que deve ser feito. Estes ataques contra a vontade são tão maus quanto os pensamentos que se intrometem em Dharana. Parece quase como se não pudéssemos praticar meditação com sucesso antes que a vontade se tenha tornado tão forte que nenhuma força no Universo possa desviá-la ou quebrá-la. Antes que concentremos o princípio mais baixo, a mente, é necessário concentrarmos o princípio mais alto, a Vontade. A falta de compreensão disto tem anulado o valor de todas as tentativas de ensinar “Yoga”, “Cultura Mental”, “Novo Pensamento”, etc.

Existem métodos para treinar a vontade, através dos quais se torna fácil verificarmos nosso progresso.

Todo o mundo conhece a força do hábito. Todo o mundo sabe que se persistimos em agir de uma maneira particular, aquela ação torna-se progressivamente mais fácil, e, por fim, absolutamente natural.

Todas as religiões têm devisado práticas com este objetivo. Se você persistir em rezar com os lábios durante um suficiente período de tempo, você se perceberá um dia rezando em seu coração.

O problema todo foi analisado e organizado pelos antigos sábios; eles construíram uma Ciência da Vida completa e perfeita; e eles deram a esta ciência o nome de MAGIA. Ela é o principal segredo dos Antigos, e se as chaves nunca foram realmente perdidas, certamente têm sido pouco usadas[2].

Mais: a confusão acerca do assunto, causada pela ignorância de gente que nada entendia dele, levou-o ao descrédito. E agora nossa tarefa é restabelecer esta ciência em sua perfeição.

Para fazê-lo, devemos criticar as Autoridades; algumas tornaram a ciência demasiadamente complexa, outras fracassaram completamente em assuntos tão simples quanto a coerência. Muitos dos escritores são empiristas, outros meros escribas, enquanto a maior parte é composta de estúpidos charlatões.

Tomaremos em consideração uma forma simples de magia, harmonizada de muitos sistemas velhos e novos, e descreveremos as diversas armas do Magista e o mobiliário de seu templo. Explicaremos a que cada um destes objetos corresponde, e discutiremos a construção e o uso de tudo.

O Magista trabalha em um Templo: o Universo, que é (lembremo-nos disto!) contérmino com o Magista mesmo[3]. Neste Templo um Círculo é desenhado no chão para limitar o trabalho do Magista. Este Círculo é protegido por nomes divinos, por influências nas quais ele confia para manter de fora pensamentos hostis. Dentro do Círculo está um Altar, a base sólida sobre a qual ele trabalha, a fundação do edifício. Sobre o Altar estão sua Baqueta, Taça, Espada, e o seu Pantáculo, para representar respectivamente sua Vontade, Compreensão, Razão e as partes mais baixas do seu ser. Sobre o Altar está também um frasco de Óleo, rodeado por um Flagelo, uma Adaga e uma Corrente, enquanto que acima do Altar pende uma Lâmpada. O Magista usa uma Coroa, um Robe único, e um Lâmem, e ele carrega na mão um Livro de Conjurações e um Sino.

O óleo consagra tudo o que toca; é a sua aspiração; todos os atos executados de acordo com ela são santos. O flagelo tortura o Magista; a adaga o fere; a corrente o encadeia. É por virtude destes três que sua aspiração se conserva pura, e é capaz de consagrar todas as outras coisas. Ele usa uma coroa para afirmar o seu senhorio, a sua divindade; um robe para simbolizar o silêncio, e um lâmem para declarar o seu trabalho. O livro de encantamento ou conjurações é o seu relatório mágico, seu Carma. No Oriente está o Fogo Mágico, em que tudo é consumido por fim[4].

Consideremos cada uma destas detalhadamente.


  1. A antiga ortografia MAGICK foi adotada para distinguir a Ciência dos Magi de todas as suas falsificações. ↩︎

  2. Os possuidores das chaves têm sido sempre muito discretos a respeito do fato de sua posse. Isto foi especialmente necessário na Europa, devido à prevalência de igrejas perseguidoras. ↩︎

  3. Isto é, com o conteúdo de sua mente. Nada de que você não possa se tornar consciente existe para você. ↩︎

  4. Para invocar, ele não necessita senão do aparato aqui descrito, por meio do qual chama aquilo que está acima dele e dentro dele; mas para evocações, através das quais chama à manifestação o que está abaixo e fora dele, pode colocar um triângulo fora do círculo. ↩︎


Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.

Gostou deste artigo?
Contribua com a nossa biblioteca