O Círculo anuncia a Natureza da Grande Obra.

Se bem que o Magista foi limitado em sua escolha do quarto, ele está mais ou menos livre para escolher em que parte daquele aposento trabalhará; levará em consideração o máximo de conveniência possível. Seu círculo não deve ser tão pequeno que estorve os seus movimentos; nem tão grande que ele tenha muita distância a percorrer. Uma vez o círculo feito e consagrado, o Magista não deve deixá-lo ou mesmo debruçar-se além dele, para que as forças hostis que estão de fora não possam destruí-lo.

O círculo, e não outra figura linear, é escolhido por várias razões, e.g.:

Ele afirma desta forma sua identidade com o infinito.

Ele afirma a proporção equânime do seu trabalho; todos os pontos da circunferência são equidistantes do centro.

Ele afirma a limitação implicada em sua devoção à Grande Obra. Não perambula mais sem fito pelo mundo.

O centro deste círculo é o centro do Tau de dez quadrados inscrito nele, como é mostrado na ilustração. O Tau e o círculo, juntos, são uma forma da Rosa Cruz: a união de sujeito e objeto que é a Grande Obra, a qual é às vezes simbolizada como esta cruz e círculo, às vezes como o Lingam-Yoni, às vezes como Ankh ou Cruz Ansata, outros como a Espira e Nave de uma igreja ou templo, às vezes como um festim de casamento, bodas místicas, bodas espirituais, “bodas químicas”, de centenas de outras formas. Qualquer que seja a forma escolhida, ela é o símbolo da Grande Obra.

O local de trabalho, portanto, declara a natureza e o objetivo da Obra do Magista. As pessoas que supõem que o uso de tais símbolos implica na adoração dos órgãos genitais, simplesmente atribuíram aos sábios de todas as épocas e todos os países mentalidades do calibre das suas.

O Tau é composto de dez quadrados, correspondentes às dez Sephiroth^[1]. Em volta deste Tau está inscrito um triângulo, o qual está circunscrito pelo grande Círculo; mas no triângulo nada está marcado senão os três cantos, as áreas definidas pelo traçado das linhas encerrado este triângulo. Este triângulo só é visível nas partes que são comuns a dois dos lados; estas partes têm, portanto, a forma do losango mostrado na ilustração, o qual é uma forma do Yoni. O significado disto é demasiado complexo para nosso simples tratado; pode ser estudado no “Berashith” de Crowley.

O tamanho da figura inteira é determinado pelo tamanho de um quadrado do Tau. E o tamanho deste quadrado é o tamanho da base do Altar, que é colocado em Malkuth. Concluímos disto, portanto, que a despeito da aparente liberdade do Magista de fazer o que lhe apraz, ele está na realidade absolutamente compelido e determinado; pois como o Altar deve ter uma base proporcional à altura, e como aquela altura deve ser conveniente para o Magista, o tamanho de tudo dependerá da própria natureza dele. É fácil extrair lições de moral destas considerações. Nós indicaremos aqui somente esta: o alcance do trabalho de qualquer homem dependerá do próprio gênio original dele. Mesmo o tamanho das armas deve ser determinado por uma necessária proporção. As exceções a esta regra são a Lâmpada, que está dependurada do teto, sobre o centro do Círculo, acima do quadrado de Tiphareth; e o Óleo, cujo frasco é tão pequeno que servirá a qualquer altar.

No Círculo estão inscritos os Nomes de Deus; o Círculo é verde, e os nomes estão em vermelho de fogo, da mesma cor que o Tau. Fora do Círculo estão nove pentagramas equidistantes^[2], no centro de cada um dos quais queima uma pequena Lâmpada; estas são as “Fortalezas sobre as Fronteiras do Abismo”. Veja o Décimo Primeiro Æthyr, Liber 418 (Equinox I (5)). Elas mantêm fora essas forças da escuridão que poderiam de outra forma invadir.

Os nomes de Deus formam ainda outra proteção. O Magista pode escolher que nomes usará; mas cada nome deveria de alguma forma simbolizar a sua Obra em método e consecução. É impossível entrar aqui por completo neste assunto; a descoberta ou construção de nomes apropriados poderia ocupar o mais instruído Qabalista durante muitos anos.

Estas nove Lâmpadas eram originalmente velas feitas de gordura humana, a gordura de inimigos mortos^[3] pelo Magista; elas assim serviam de aviso a qualquer força hostil daquilo que poderia esperar se causasse incômodo. Hoje em dia tais velas são difíceis de conseguir; e é talvez mais fácil usar cera de abelha. O mel foi tomado pelo Magista; nada resta do trabalho de todas essas hostes de abelhas senão a mera casca, o combustível da luz. Esta cera de abelha é também usada na construção do Pantáculo, e isto forma um elo entre os dois símbolos. O Pantáculo é o alimento do Magus: ele renuncia a parte deste para dar luz àquilo que está fora. Pois estas luzes são hostis à intrusão apenas em aparência; elas servem para iluminar o Círculo e os Nomes de Deus, e assim exibem os primeiros e mais externos símbolos da iniciação à visão dos profanos.

Estas velas estão de pé sobre pentagramas, que simbolizam Geburah, severidade, e dão proteção; mas que também representam o microcosmo, os quatro elementos coroados pelo Espírito, a Vontade do Homem tornada perfeita em sua aspiração ao Alto. Elas são colocadas fora do Círculo para atrair as forças hostis, para dar-lhes o primeiro vislumbre da Grande Obra, que também elas devem algum dia executar.

Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.