Yama e Niyama

Este artigo é um capítulo de Liber ABA – Magick – O Livro Quatro

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Capítulo III
Yama e Niyama

Os hindus colocaram estas duas consecuções em primeiro lugar no seu programa de treino. Elas representam as qualidades “morais” e ações boas que, supostamente, predispõem à tranquilidade mental.

Segundo os hindus, Yama[1] consiste em não matar, não mentir, não roubar, manter continência e não aceitar presentes.

No sistema budista, Sila, “Virtude”, é da mesma maneira recomendada. As qualidades (para os leigos) são estas cinco: Não matarás. Não roubarás. Não mentirás. Não cometerás adultério. Não beberás líquidos intoxicantes. Para os monges, muitas outras são acrescentadas.

Todo o mundo no Ocidente conhece os mandamentos de Moisés; parecem-se bastante com os acima, assim também os dados por Cristo[2] no “Sermão da Montanha”.

Algumas destas “virtudes” são simplesmente as “virtudes” de um escravo, inventadas pelos senhores para manter os escravos em ordem. O que é importante perceber sobre o Yama hindu é que a quebra de alguma de suas regras tenderia a excitar a mente.

Os Mestres ensinaram; os teólogos, subsequentemente, têm tentado justificar os seus salários ou cargos “melhorando” o ensino dos Mestres. Uma importância “mística” tem sido atribuída a essas “virtudes”. Os dogmatistas têm insistido em que elas têm valor por si mesmas, e é assim que as “religiões” resultam de sistemas de teurgia, sempre acompanhadas de formalismo, intolerância, e até de perseguições. Assim, “Não matarás”, que no sistema hindu originalmente significava “Não excites tua mente caçando tigres ou participando de brigas” já foi interpretado até como sendo um crime beber água que não seja filtrada, pois desta forma podemos matar alguma bactéria.

Mas uma preocupação constante com a ideia de não matar coisa alguma é em geral pior para a quietude mental do que uma luta corpo a corpo com um ladrão ou uma fera. Se o latido de um cão perturba constantemente nossa meditação, seria mais simples dar um tiro no cão e não pensar mais no assunto!

Dificuldades análogas com esposas têm levado alguns mestres a recomendar o celibato. Em todos estes assuntos, o bom senso deve sempre ser nosso guia. Nenhuma regra fixa pode ser estabelecida: as idiossincrasias individuais do estudante variam de pessoa para pessoa, de grupo cultural para grupo cultural, de época para época. “Não aceites presentes”, por exemplo, é bem importante para um hindu, que ficaria perturbado durante semanas se alguém lhe desse um coco de graça; mas o europeu médio recebe as coisas como elas vêm desde a adolescência, e é mal-agradecido!

O único problema é aquele da continência, que é complicado por várias considerações, como a da energia nervosa, por exemplo. Mas a mente de todo o mundo está embaralhada quanto a este assunto, que alguns confundem com o erotismo, outros com a sociologia. Não será possível considerar com clareza o problema da continência enquanto ela não for compreendida como uma simples faceta do treino de um atleta.

Podemos, então, deixar de discutir Yama e Niyama com este conselho: que cada estudante decida por si que maneira de vida e que código moral menos tenderá a lhe excitar a mente; mas, uma vez tendo se decidido a seguir uma regra particular de vida, que persista em sua decisão, evitando o oportunismo; e que se precavenha contra se atribuir “mérito espiritual” pelo que faz ou pelo que deixa de fazer: qualquer código é simplesmente de valor prático, relativo à intenção de acalmar a mente. Não tem nenhum valor absoluto ou intrínseco.

A higiene escrupulosa, que auxilia um cirurgião em seu trabalho, impediria um mecânico de carros de executar o seu.

(Questões éticas estão adequadamente discutidas em “Tian Dao”, em Konx Om Pax, e devem ser estudados ali . Veja também Liber XXX [Liber Libræ] da A∴A∴ e Liber CCXX [Liber AL vel Legis]. Ali está escrito: Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei. Lembremo-nos de que, para os propósitos do verdadeiro treino em Yoga, o único valor de Yama e Niyama estará em que nos auxiliem a viver de tal maneira que nenhuma emoção ou paixão perturbe nossas mentes.)


  1. Yama significa, literalmente, “controle”. Isto é tratado em detalhe na Parte II, “A Baqueta”. ↩︎

  2. Os mandamentos de Cristo não são, porém, de autoria dele. O sermão inteiro pode ser encontrado no Talmude. ↩︎


Traduzido por Marcelo Ramos Motta (Frater Ever). Revisado por Frater ΑΥΜΓΝ.

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