Dogma Cabalístico

Este artigo é um capítulo de Liber LVIII — Cabala

Sobre a validade dos métodos da Cabala e um exemplo de sua aplicação à fórmula de IAO.

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Dogma Cabalístico

A Evolução das Coisas é assim descrita pelos Cabalistas.

Primeiro há o Nada, ou a Ausência de Coisas, אין, que não significa e nem pode significar Existir Negativamente (isso se pudermos dizer que tal Ideia signifique alguma coisa), como finge S. Liddell MacGregor Mathers, que interpretou mal o Texto e invalidou o Comentário à Luz de sua própria Ignorância do hebraico e da Filosofia, em sua Tradução de v. Rosenroth.

Em segundo lugar, há o Sem Limites אין סוף, ou seja, Espaço Infinito.

Este é o Dualismo primordial da Infinidade; o infinitamente pequeno e o infinitamente grande. O Choque destes produz uma Ideia positiva e finita que ocorre (consulte בראשית em The Sword of Song para um estudo mais cuidadoso, embora não se deve entender que eu aprove toda Palavra na Tese de nosso Poeta Filósofo) de ser Luz, אור. Esta palavra אור é da maior importância. Ela simboliza o Universo imediatamente após o Caos, a Confusão ou Choque dos Opostos infinitos. א é o Ovo da Matéria, ו é ♉, o Touro, ou Energia-Motriz; e ר é o Sol, ou Sistema de Orbes organizados e móveis. Assim as três Letras de אור repetem as três Ideias. A Natureza de אור é assim analisada, sob a figura dos dez Números e das 22 Letras que juntos compõem o que os Rosa-cruzes diagramaram sob o nome de Minutum Mundum. Será percebido que todo Número e Letra tem sua “Correspondência” em Ideias de toda Sorte; de modo que qualquer dado Objeto pode ser analisado em Termos dos 32. Se eu vejo uma Estrela azul, devo considerá-la como uma Manifestação de Chesed, Água, a Lua, Sal do Princípio Alquímico, Sagitário e muito mais, em respeito à sua cor Azul — outra pessoa teria de decidir quais a partir de outros Dados — e referi-la à Chave XVII do Tarô em Respeito à sua qualidade de Estrela.

O Uso dessas Atribuições é longo e variado: eu não posso me estender sobre o assunto: mas darei um Exemplo.

Se eu desejo visitar a Esfera de Geburah, eu uso as Cores e Forças adequadas: eu vou lá: se os Objetos que então aparecem à minha Visão espiritual são harmoniosos com a mesma, isso é um Teste de sua Veracidade.

Assim também, para construir um Talismã, ou invocar um Espírito.

Os métodos para a descoberta de Dogmas a partir de Palavras sagradas também são numerosos e importantes: posso mencionar: —

(a) A Doutrina das Simpatias: tirada da Numeração total de uma Palavra, quando idêntica, ou um Múltiplo ou Submúltiplo, ou uma Metátese, daquela de outra Palavra.

(b) O Método de encontrar o Menor Número de uma Palavra, somando (e re-somando) os Dígitos de seu Número total, e pegando a Chave do Tarô correspondente como uma Chave para o Significado da Palavra.

(c) O Método de Analogias tiradas da Forma das Letras.

(d) O Método de Deduções tiradas dos Significados e Correspondências das Letras.

(e) O Método de Acrósticos tirados das Letras. Este Modo só é válido para Adeptos dos mais altos Graus, e ainda sob Condições excepcionais e raras.

(f) O Método das Transposições e Transmutações das Letras, que sugerem Analogias, mesmo quando elas falham em explicar de uma Maneira direta.

Todos estes e suas Variações e Combinações, com alguns outros Métodos menos tortuosos e menos importantes, podem ser usados para desbloquear o Segredo de uma Palavra.

É claro, com Poderes tão vastos é fácil para o Tendencioso encontrar seu Significado favorito em qualquer Palavra. Até mesmo a Prova formal de que 0 = 1 = 2 = 3 = 4 = 5 = … = n é possível.

Mas o Adepto que pôs em prática este Teorema, com o próprio Intento de desacreditar o Modo de Pesquisa Cabalístico, subitamente ficou estupefato pelo Fato de que ele na verdade tropeçou na Prova Cabalística do Panteísmo ou do Monismo.

O que realmente ocorre é que o Adepto se senta e faz vários Truques inúteis com os Números, sem Resultado.

De repente, a Lux baixa, e o Problema é resolvido.

O Racionalista explica isso pela Inspiração, o Homem supersticioso pela Matemática.

Dou um Exemplo do Modo pelo qual alguém trabalha. Tomemos IAO, um dos “Nomes Bárbaros de Evocação”, do qual aqueles que desejaram ocultar sua própria Glória adotando a Autoridade de Zoroastro disseram que nas Cerimônias santas ele tinha um Poder inefável.

Mas que Tipo de Poder? Pela Cabala encontramos a Força do Nome IAO.

Podemos escrevê-lo em hebraico como יאו ou יאע. A Cabala até mesmo nos dirá qual é o Caminho verdadeiro. No entanto, vamos supor que ele é escrito como יאו. Isso soma 17.

Mas primeiramente nos parece que I, A e O são as três Letras associadas com as três Letras ה no grande Nome de Seis Letras, אהיהוה, que combina אהיה e יהוה, Macroprosopus e Microprosopus. Agora, estas Letras femininas ה escondem as “Três Mães” do Alfabeto, א, e מ e ש. Substitua-as, e obtemos אשימוא, que soma 358, o Número tanto de נחש, a Serpente do Gênesis, quanto de Messias. Assim buscamos por Poder redentor em IAO, e pelo Aspecto Masculino daquele Poder.

Agora veremos como esse Poder funciona. Temos um Dicionário curioso, que foi feito por um Homem muito erudito, no qual os Números de 1 a 10000 preenchem a Coluna esquerda, em Ordem, e do lado oposto estão escritos todas Palavras sagradas ou importantes cuja soma totaliza aquele Número.

Pegamos este Livro, e consultamos o 17. Descobrimos que 17 é o número de Quadrados na Suástica, que é o Disco Rodopiante ou Relâmpago. Também há חוג, um Círculo ou Órbita; זוד, ebulir ou ferver; e algumas outras Palavras, que negligenciaremos neste Exemplo, embora não deveríamos ousar fazer isso se realmente estivéssemos tentando descobrir uma Coisa que nenhum de nós soubesse. Par ajudar em nossa Dedução sobre Redenção, também, encontramos חדה, abrilhantar ou alegrar.

Também trabalhamos de um outro Jeito. I é a Linha Reta ou Pilar Central do Templo da Vida; também simboliza a Unidade, e a Força Gerativa. A é o Pentagrama, que significa a Vontade do Homem trabalhando a Redenção. O é o Círculo do qual tudo veio, também o Nada, e o Feminino, que absorve o Masculino. Então o Progresso do Nome mostra o Caminho da Vida para o Nirvāṇa por meio da Vontade: e é um Hieróglifo da Grande Obra.

Observe todos os nossos Significados! Cada um mostra que o Nome, se realmente tiver algum Poder, e isso nós precisamos experimentar, tem o Poder de nos redimir do Amor da Vida que é a Causa da Vida, por seus Rodopios masculinos, e de nos tornar felizes e de nos trazer ao Seio da Grande Mãe, a Morte.

Antes daquilo que é conhecido como o Equinócio dos Deuses, algum Tempo atrás, havia uma Fórmula iniciada que expressava estas Ideias para os Sábios. Já que estas Fórmulas estão terminadas, não há Consequências se eu as revelar. A Verdade não é eterna, não mais que Deus; e só um Deus pobre que não poderia e não alteraria seus Caminhos a seu bel Prazer.

Esta Fórmula foi usada para abrir a Cripta da Montanha Mística de Abiegnus, na qual jaz (assim supõe a Cerimônia de Iniciação) o Corpo de nosso Pai Christian Rosen Creutz, para ser descoberto pelos Irmãos com o Postulante conforme dito no Livro chamado Fama Fraternitatis.

Há três Oficiais, e eles repetem a Análise da Palavra como segue: —

Chefe. Analisemos a Palavra Chave — I.

2°. N.

3°. R.

Todos. I.

Chefe. Yod. י

2°. Nun. נ

3°. Resh. ר

Todos. Yod. י

Chefe. Virgem (♍) Ísis, Poderosa Mãe.

2°. Escorpião (♏) Apófis, Destruidor.

3°. Sol (☉) Osíris, morte e ressuscitado.

Todos. Ísis, Apófis, Osíris, IAO.

Todos estendem os Braços como se estivessem em um Cruz, e dizem: —

O Sinal de Osíris assassinado!

O Chefe inclina a Cabeça para a Esquerda, levanta seu Braço Direito, e baixa seu Esquerdo, mantendo o Ombro em ângulo reto, assim formando a Letra L (também a Suástica).

O Sinal do Luto de Ísis.

2°. Com a Cabeça erguida, levanta seus Braços para formam um V (mas na verdade para formar a tripla Língua de Chama, o Espírito), e diz: —

O Sinal de Apófis e Tifão.

3°. Abaixa sua Cabeça e cruza seus Braços sobre seu Peito (para formar o Pentagrama).

O Sinal de Osíris ressuscitado.

Todos dão o Sinal da Cruz, e dizem: —

L.V.X.

Então o Sinal de Osíris ressuscitado, e dizem: —

Lux, a Luz da Cruz.

Esta Fórmula, sobre a qual pode-se meditar por Anos sem exaurir suas maravilhosas Harmonias, dá uma excelente Ideia do Modo pelo qual a Análise Cabalística é conduzida.

Primeiramente, as Letras foram escritas em Caracteres Hebraicos.

Então as Atribuições delas ao Zodíaco e aos Planetas são substituídas, e os Nomes dos Deuses Egípcios que pertencem às mesmas são invocados.

A Ideia cristã de I.N.R.I. é confirmada por elas, enquanto suas Iniciais formam a Palavra sagrada dos Gnósticos. Ou seja, IAO. Do Caráter das Divindades e suas Funções, deduz-se seus Signos, e descobre-se que estes sinalizam (como se fosse) a Palavra Lux (אור), ela mesma contida na Cruz.

Um Estudo cuidadoso destas Ideias, e da Tabela de Correspondências que um de nossos Irmãos Ingleses está fazendo, permitirá que se descreva uma grande Quantidade de Matéria para Reflexão nestes Poemas que passariam despercebidos para uma Pessoa não-tutorada.

Retornemos ao Dogma geral dos Cabalistas.

A Figura do Minutum Mundum mostrará como eles supõe que uma Qualidade procede da última, primeiro no puro Mundo de Deus de Atziluth, então no Mundo dos Anjos de Briah, e assim por diante até o Mundo dos Demônios, que, no entanto, não são assim organizados. Na verdade, eles são o Material que se separou do Curso da Evolução, como a Pele Morta de uma Serpente, de onde vem seu Nome de Conchas, ou Cascas.

Fora as Questões tolas do tipo se a Ordem das Emanações é confirmada pela Paleontologia, uma Questão que é bastante impertinente discutir, não há Dúvidas de que as Sephiroth são tipos de Evolução em oposição a Catástrofe e Criação.

A grande Acusação contra esta Filosofia baseia-se em suas alegadas Afinidades com o Realismo Escolástico. Mas a Acusação não é muito verdadeira. Sem Dúvidas, mas eles supuseram vastos Armazéns de “Coisas de um Tipo” das quais, puras ou misturadas, todas as outras Coisas procederam.

Desde que ג, um Camelo, se refere à Lua, eles disseram que um Camelo e a Lua são simpáticos, e vieram, essa Parte deles, de um Princípio comum: e que um Camelo sendo marrom amarelado, partilhou da Natureza da Terra, à qual aquela Cor é dada.

Daí dizem que tomando todas as Naturezas envolvidas, e misturando elas em Proporções adequadas, tem-se um Camelo.

Mas isso não é nada mais do que é dito pelos Defensores da Teoria Atômica.

Eles têm seus Armazéns de Carbono, Oxigênio, e etc. (não em um único Lugar, mas também Geburah não está em um único Lugar), e o que é a Química Orgânica senão a Produção de Compostos úteis cuja Natureza é deduzida absolutamente de Considerações teóricas muito antes de serem produzidas no Laboratório?

A diferença, você dirá, é que os Cabalistas mantêm uma Mente de cada Tipo através de cada Classe de Coisas de um Tipo; mas assim também o fez Berkeley, e seu Argumento a este Respeito é, como o grande Huxley demonstrou, irrefutável. Pois por Universo eu quero dizer o Sensível; qualquer outro Não é para ser Conhecido; e o Sensível depende da Mente. Não, embora diz-se que o Sensível é um Argumento de um Universo Insensível, o último se torna sensível à Mente tão logo um Argumento é aceito, e desaparece com sua Rejeição.

Nem a Cabala é dependente de seu Realismo, e da Aplicação de seus Trabalhos mágicos — mas eu estou defendendo uma Filosofia que solicitaram que eu descrevesse, e isso não é válido.

Muito pode ser aprendido da Tradução do Zohar por S. Liddell MacGregor Mathers, e sua Introdução ao mesmo, embora para aqueles que saibam latim e tenham alguma familiaridade com o hebraico seja melhor estudar o Kabbala Denudata de Knorr von Rosenroth, à Despeito de seu alto Preço; pois o Tradutor distorceu o Texto e seu Comentário para atender à sua crença em um Deus Pessoal supremo, e naquela degradada Forma da Doutrina do Feminismo que é tão popular entre os Emasculados.

As Sephiroth são agrupadas de diversas Maneiras. Há uma Tríade ou Trindade Superior; uma Hexada; e Malkuth: a Coroa, o Pai, e a Mãe; o Filho ou Rei; e a Noiva.

Também, uma Divisão em sete Palácios, sete Planos, três Pilares ou Colunas, e outras.

A Espada Flamejante segue o Curso dos Números; e a Serpente Nechushtan ou Serpente da Sabedoria, rasteja subindo pelos Caminhos que os conectam sobre a Árvore da Vida, a saber as Letras.

É importante explicar a Posição de Daäth ou Conhecimento sobre a Árvore. Ela é chamada de Filha de Chokmah e de Binah, mas não tem Lugar. Mas é na verdade o Ápice de uma Pirâmide da qual os três primeiros Números formam a Base.

Agora a Árvore, ou Minutum Mundum, é uma Figura em um Plano de um Universo sólido. Daäth, estando acima do Plano, é, portanto, uma Figura de uma Força em quatro Dimensões, e assim é o Objeto da Magnum Opus. Os três Caminhos que a conectam com a Primeira Trindade são as três Letras perdidas ou Pais do Alfabeto Hebraico.

Diz-se que em Daäth se encontra a Cabeça da grande Serpente Nechesh ou Leviatã, chamada de Maligna para esconder sua Santidade. (משיח = 358 = נחש, o Messias ou Redentor, e מלכות = 496 = לויתך, a Noiva[1]). É idêntica com a Kuṇḍalinī da Filosofia Hindu, e o Koan-sè-im dos Mongóis, e significa a Força mágica no Homem, que é a Força sexual aplicada ao Cérebro, ao Coração e aos outros Órgãos, e o redime.

A gradual Revelação destes Segredos mágicos ao Poeta pode ser identificada nestes Volumes, e foi meu Privilégio ter sido solicitado para explicá-la. Foi impossível fazer mais do que colocar nas Mãos de qualquer Pessoa inteligente as Chaves que permitirão desbloquear as muitas e Belas Câmaras de Santidade nestes Palácios e nestes Jardins de Beleza e de Prazer.


[1] [Na verdade לויתך soma 466 ou 946 se considerar o valor diferente para a letra final.]


Traduzido por Alan Willms em agosto de 2018.

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