O Primeiro Capítulo

Este artigo é um capítulo de Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente Comentado por Aleister Crowley e Marcelo Ramos Motta

O Primeiro Capítulo de Liber LXV comentado por Crowley & Motta.

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O Primeiro Capítulo

Os cinco capítulos referem-se aos cinco elementos. 1 — Terra, 2 — Ar, 3 — Água, 4 — Fogo, 5 — Espírito. Cada capítulo mostra seu Elemento a luz da relação entre o Adepto Menor e seu Sagrado Anjo Guardião. Assim, no Capítulo 1, o mundo material, ou aspecto sensível da Natureza, é demonstrado como uma mera pintura simbólica de algo completamente diverso.

Claro os Elementos abaixo do Espírito são considerados do ponto de vista do Espírito, desde que Akasha é o Centro, ou harmonização dos Elementos mais baixos. Também, as exposições dadas por O. M. em seus comentários não são tão universais em alcance como as imagens do original: elas representam uma limitação, o ponto de vista de um Adepto, somente. Os Comentários são, portanto úteis como referenciais, mas Candidatos devem se esforçar por formar seu próprio traçado de coordenadas, que pode seguramente ser feito somente através dos versos mesmos.

Por que, então, escrever Comentários? Há muitas razões. Uma delas, não a menor, é que religião deveria ser uma Ciência tanto quanto uma Arte. Ciência necessita medição, que depende de abundância de dados. Quanto mais pontos de referência, mais fácil construir sistemas, e eventualmente medição se tornará possível. Então, claro, LXV se tornará obsoleto como um manual religioso. Mas até lá seu Autor, ou Seus discípulos, estarão prontos para produzir outro além do alcance de medição. Ou se não eles, algum outro.

1. Eu sou o Coração; e eis a Cobra enroscada
Da mente em volta ao centro do qual não se vê nada.
Ó minha cobra, sobe! Está chegada a hora
Da flor velada e santa. Ó minha cobra, aflora!
Sobe com esplendor que fulge e que retumba
No cadáver de Asar que flutua na tumba!
Ó coração de mãe, de irmã, coração meu,
Tu és jogado ao Nilo; Tifão, ele é teu!
Ah me! Porém a glória e fúria da tormenta
Enfaixa-te de força, em forma te acalenta.
Aquieta-te, Ó minha alma! a fim de suma o encanto
Ao erguer dos condões; findo aeon; novo, e santo!
Vê! que belo que sou, que alegre assim Te faço.
Ó cobra que me envolves no tempo e no espaço!
Vê! nós somos um só, e o vendaval de arroube
Vai, desce no poente, e o Escaravelho sobe.
Ó Khephra! Teu zumbido, a nota pura e santa.
Seja sempre o só trance e voz desta garganta!
Eu aguardo a alvorada! O chamo de Pai.
O Senhor Adonai, o Senhor Adonai!

Invocação de Kundalini. O Adepto “morre” para o mundo material e floresce como um Lótus. Ele cessa; e entra no silêncio da meia-noite, onde adora Khephra. Então ele aguarda a chegada de seu Senhor.

2. Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Deve haver sempre divisão na palavra.

3. Pois as cores são muitas, mas a luz é uma.

4. Portanto tu escreves aquilo que é de esmeralda-mãe, e de lápis-lazúli, e de turquesa, e de alexandrita.

5. Outro escreve as palavras de topázio, e de profunda ametista, e de safira cinza, e de profundo safira com um toque como que de sangue.

6. Portanto vós vos afligis por causa disto.

7. Não vos contenteis com a imagem.

8. Eu que sou a Imagem de uma Imagem digo isto.

9. Não discutais a Imagem, dizendo Além! Além! Sobe-se à Coroa pela lua e pelo Sol, e pela seta, e pelo Fundamento, e pelo escuro lar das estrelas, partindo da terra negra.

10. Não de outra maneira podeis atingir a Ponta Polida.

11. Nem está bem que o sapateiro tagarele sobre assunto Real. Ó sapateiro! conserta-me este sapato, para que eu possa andar. Ó rei! se eu for teu filho, falemos da Embaixada ao Rei teu Irmão.

2-11. O Anjo diz: cada homem vê a Natureza a sua maneira. O que ele vê é apenas uma imagem. Todas as imagens devem ser ignoradas; o Adepto deve aspirar de todo coração à Ponta Polida. Este assunto não pode ser discutido em linguagem vulgar; o rei tem que falar dos assuntos da realeza de uma forma soberana.

As referências às pedras preciosas deveriam ser compreendidas na luz das correspondências cabalísticas, mas também, particularmente, na luz das Três Grandes Ordálias mencionadas em AL iii 66. Se dois homens visitam um país e então escrevem uma descrição dele, suas descrições irão diferir da mesma forma em que suas normais idiossincrasias diferem, não importa quão geral seja suas intenções para fazer suas descrições. Em se falando sobre domínios tão pouco tratados como aqueles mais sutis Invólucros do Ser, a quase total ausência de experiência geral na questão faz pequenas diferenças na descrição mais confusa, não somente para o ouvinte, mas também mesmo para quem descreve, do que normalmente deveria ser.

Na prática, o que acontece é que um Adepto pode estar serenamente cuidando de seus próprios assuntos, e expondo seu próprio sistema de realização, e sendo bem sucedido em trazer outros homens a auto-realização através de seu sistema, e de repente ele é confrontado com o que parece ser uma série de símbolos e plano de treinamento totalmente diferente que, apesar disso, ele sente ser pelo menos tão válido quanto o seu próprio. Este “sentimento” é claro simplesmente a percepção espiritual do trabalho. Mas seu Mais Baixo Manas não divide está percepção espiritual (exceto nos mais raros casos) em sua plenitude, e inquieta-se. O Mais Baixo Manas é o “sapateiro” cuja função é meramente consertar o sapato (se lembre da tira de sandália na mão do deus Egípcio, significando seu poder de Akasha, o poder de Ir) de maneira que as mais altas faculdades possam andar (ele é mencionado em outra parte deste Santo Livro como o “escriba”, mas o sapateiro é um conceito mais complexo. O “escriba” é meramente o Mais Baixo Manas, mas o “sapateiro” é o complexo Mais Baixo Manas + Kama + Prana + Linga Sharira + Sthula Sharira considerado como o total “homem normal”. Certamente, no caso de um Adepto, no entanto este “homem normal” é Iniciado, e terá grande controle de seus veículos, e uma maior infusão neles dos princípios espirituais, do que é a real norma humana) .

Não importa que diferença em abordagem possa haver entre legítimas Escolas de Iniciação (há falsas escolas, e há escolas que não são falsas, mas estão tão fragmentárias em seu treinamento que se torna impossível chama-las de legítimas) , a raça humana é de tal forma constituída que ela somente pode alcançar Integração, isto é, Iniciação, pelos equilibrantes Trances do Caminho Médio da Qabalah. Essas experiências são, portanto, as cruciais (se você perdoar o trocadilho). Contanto que o sistema em questão os inclua em uma forma ou outra, o sistema está correto.

Certamente, outras linhas de evolução podem ser diferentemente constituídas. Eles todos tem em comum a Ponta Polida, portanto, ou pelo menos o Anjo parece dar a entender.

Adeptos frequentemente mal-treinados ou iniciantes (aqueles que estão alcançando Tiphereth pela primeira vez em uma particular encarnação, e nunca a alcançaram antes, e, portanto não tem nenhuma Memória Mágica — a assim chamada Intuição — para ajudá-los) se perturbarão quando fizerem contato com outro sistema que pode parecer diferir largamente do deles próprio (algumas vezes como se ele fosse o seu completo oposto) , e que no entanto eles sentem, corretamente, ser verdadeiro. Em tais casos é fatal deixar seu sistema e seguirem o outro. Está misturando os planos. Se há uma necessidade de contato entre seu ramo de atividade e aquele outro, este contato deveria ser feito no plano de Buddhi-Manas, e não sobre qualquer outro plano mais baixo. É o “filho do rei”, isso é, o Príncipe, isso é, a consciência de Tiphereth, que deveria manejar a “Embaixada” para o outro Rei envolvido. O “sapateiro” deve ser construído para fazer esse trabalho, isto é manter os veículos mais baixos em boa saúde e disciplinado para o Chamado do Mais Alto.

Há, naturalmente, uma exceção a regra de não entrar em detalhes de outro sistema: quando você está tentando aperfeiçoar uma novo sistema que deveria incluir os melhores pontos de dois — ou mais — outros. Normalmente, contudo, o impulso será conhecido, neste caso, vir do Príncipe — Tiphereth. Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

12. Então houve silêncio. A fala nos deixará por algum tempo. Existe uma luz tão estrênua que não é percebida como luz.

Silêncio. O Adepto registra as suas impressões. O grau máximo de qualquer tipo de energia ultrapassa o poder receptivo do observador. Parece então como se fosse energia de alguma outra ordem.

13. O acônito não é tão agudo quanto o aço; no entanto, fere o corpo mais sutilmente.

Quanto mais sutil a forma de energia, tanto mais potente, mas menos fácil de observar.

O uso de venenos e armas como símbolo indica que o primeiro impacto de energia mais alta nos veículos mais baixos é, pelo menos aparentemente, destrutivo. O ataque produz um aumento no existente ritmo da vibração, com consequente expansão e agitação de todo processo psicossomático. O fenômeno puramente físico acalma-se rapidamente por causa do corpo humano, materialmente falando, é o mais alto veículo desenvolvido que nós possuímos, normalmente, neste estágio da evolução. Emocionalmente nós também somos mais bem desenvolvidos que mentalmente, assim os êxtases conectados com Trances são facilmente absorvidos dentro de poucos dias, no máximo. Mas desde que nosso Manas é o nosso mais recente desenvolvido Invólucro, distúrbios mentais podem durar por muito mais tempo e, em alguns casos, podem se tornar irreversíveis. Resumindo, nós podemos nos tornar insanos como um resultado de Trance. Muitos se tornaram. Isto explica fanatismo e perseguição religiosa, por toda a história da humanidade, mas também explica o excesso de revolucionários e de exércitos vitoriosos em toda parte. Não esqueça, também, a disputa de cientistas confrontados com um novo fato incapaz de se ajustar com suas teorias preferidas, ou o conceito existente do Universo.

14. Tal como beijos malignos corrompem o sangue, assim minhas palavras devoram o espírito do homem.

A verdade destrói a razão.

Não é completamente correto dizer que verdade destrói a razão. O impacto de um dado novo sobre nosso existente conceito do Universo destrói a linda casa de cartas que nós construímos, e pode causar angústia, perturbação mental, e assim por diante. Mas a razão não é mais que a faculdade de integrar informações, e se a mente resistir o choque ela logo começa o processo de construir um novo sistema de coordenadas que deverá incluir o novo fato introduzido em nossa consciência.

Razão, no sentido descrito em Liber AL, indica uma estrutura mental que faz deste integrador orgânico de nosso âmago e fonte de nossa consciência. Este tipo de insanidade não é tão difícil de ocorrer como parece, se você considerar que a infusão dos planos espirituais de energia no Baixo Manas pode desorientar um pensador descuidado em acreditar que ele está funcionando em Buddhi Manas quando ele está meramente chafurdando em super-energia do Baixo Manas. Os cabalistas indicam esta possibilidade de erro por englobar ambos o Baixo Manas e Buddhi Manas em sua concepção de Ruach. Tanto quanto Daath continua fluida, sempre-mudando, sempre-integrando, sempre transmitindo e recebendo, não há nenhum perigo. O minucioso se torna estático e continua assim, há perigo, não importa quão belo o cristal possa ser. Nenhuma visão estática do Universo, não importa quão ampla e gloriosa, pode ser válida. Pois o Universo é uma coisa vivente, e está continuamente mudando.

15. Eu respiro, e há infinito desassossego no espírito.

A vida perturba o comodismo com que a mente aceita símbolos sem vida como realidade.

16. Como um ácido corrói o aço, como um câncer corrompe por completo o corpo, assim sou Eu para o espírito do homem.

O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião dá uma nova e mais alta forma de energia que destrói os tipos mais grosseiros de existência.

17. Eu não descansarei, até que o tenha dissolvido todo.

O processo continua até ser completado.

18. Assim também a luz que é absorvida. Um absorve pouca, e é chamado branco e reluzente; um absorve toda e é chamado negro.

Fenômenos resultam de resistência ao ‘amor’. A união perfeita é silenciosa.

Em um senso muito importante A.C. quer dizer aqui que quanto mais dramático e catastrófico é um samadhi, menos ele é perfeito. União verdadeira é inconsciente, sem esforço; colocando na linguagem Taoísta, é o Caminho do Tao. Um samadhi muito perceptível é indicação que o parapsicosoma envolvido não é familiar com o plano mais alto do qual a energia está sendo instilada. Como ela gradualmente se ajusta a seu novo nível de existência o samadhi se torna menos intenso e eventualmente parece desaparecer completamente. O Baixo Manas frequentemente se torna disturbado então correto: ‘Eli, Eli, lama sabacthani?’ Mas o que na verdade acontece é que a energia do Anjo penetra as “entranhas” — isto é, penetra o subconsciente. Somente então você pode dizer que um Trance particular foi conquistado. Se o Baixo Manas se dá ao trabalho de analisar o comportamento, dia a dia ele logo perceberá que o total homem não reage mais ao mesmo estímulo como ele costumava fazer no passado. Uma Iniciação a uma nova atitude da vida tem sido tomada.

Em outro, e igualmente importante senso, o verso adverte clarividentes contra um erro muito comum: aquele de pensar que uma aura brilhante necessariamente indica avanço espiritual. Isto depende sobre quais os planos mais altos o clarividente é sensitivo. A energia impingida de um plano imediatamente acima pode simplesmente parecer completamente “negro” ao olho interno. Visto que clarividentes raramente tem qualquer senso de perspectiva — ou controle do ego, se você prefere — eles raramente descontam suas limitações como observadores. Daí, por exemplo, a brilhante descrição das auras dos ‘mahatmas’ do ‘Bispo’ Leadbeater.

Ainda outro senso importante, também útil para clarividentes, é quando você é (como ocasionalmente acontece) testemunha de uma iniciação nos planos internos. Quanto mais perfeitamente o iniciado seja capaz de fazer contato com a força espiritual envolvida, menos sua aura brilhará. Nos melhores exemplos, no momento culminante da iniciação o iniciado se torna invisível a outros olhos. É como se ele tivesse sido envolto em uma nuvem de total escuridão. Você nem sequer ‘sente’ mais sua presença.

19. Portanto, Ó meu querido, tu és negro.

20. Ó meu lindo, Eu te tornei semelhante a um retinto escravo núbio, um menino de olhos tristes.

21. Ó o cão! o imundo! eles gritam contra ti. Porque tu és bem-amado.

19-21: V.V.V.V.V., tendo alcançado em perfeição o Grau de Adeptus Minor, parece maligno.

O problema é o mesmo que o daqueles clarividentes mencionado acima. Quando eles veem uma aura ‘negra’, não ocorre a eles que talvez a radiação esteja correndo além de seu plano de percepção. Fazer isso seria humilhante para eles, visto que estarão admitindo uma inferioridade implícita. O sensitivo capaz de tal admissão estaria bem no caminho de transcender suas então limitações e de passar à nível mais alto do ser.

O antagonismo superficial é muito real, e iniciados mais baixos, como regra, ressentem e temem o Adepto. Eles são incapazes de compreender, por exemplo, como um homem pode ser sublime o suficiente para reproduzir, digamos, a Renascença, e ao mesmo tempo grosseiro o suficiente para querer manter relações sexuais com suas esposas (se você mostrar a eles que este desejo é uma simples corroboração do bom gosto deles em esposas, portanto um complemento, eles não são apaziguados). Nós temos — graças aos Adeptos! — nos tornados tolerantes o suficiente, a grande maioria de nós, para viver com nossos pequenos pênis. Mas nós ainda nos tornamos exasperados aos grandes pênis de nossos vizinhos. Medo e ódio no Ruach resultam de uma percepção psicológica da inferioridade pessoal. Certamente, esta inferioridade é ilusória, e seria dispersada pelo Adeptado. Mas frequentemente o homem tolamente se amua, planta o pé, e recusa se tornar um Adepto. Em tais casos o iniciador não tem alternativa a não ser golpear duro e baixo, e para o inferno com eles, mestre!

22. Felizes aqueles que te elogiam; pois eles te veem com Meus olhos.

Aqueles que compreendem todo este Trabalho elogiam V.V.V.V.V.

Aqueles que elogiam um Adepto, ao invés de condená-lo e persegui-lo, alcançaram um nível equivalente de discernimento. Eles veem da perspectiva de Tiphereth, não de qualquer outra perspectiva mais baixa.

23. Não em voz alta eles te elogiarão; mas na guarda noturna um se aproximará furtivamente e te dará o aperto secreto; outro, em privado, te coroará com uma coroa de violetas; um terceiro ousará grandemente, e beijará com lábios únicos os teus.

24. Sim! a noite cobrirá tudo, a noite cobrirá tudo.

23-24: Eles o fazem de modos secretos.

A razão para o segredo é simples. O Colégio Interno da A∴A∴ tem um influxo muito mais forte das Supernas que o Colégio Externo, necessariamente. Portanto sua Energia Mágica é mais intensa. No entanto, apesar de toda sua su0blimidade, o Colégio Interno está abaixo do Abismo, e sujeito as leis da Dualidade e Glamour. O assim-chamado “Irmãos Negros” e suas correntes são, portanto facilmente atraídos por qualquer demonstração de energia do Colégio Interno, e aqui a interferência é intensa — mais intensa que nos níveis mais baixos.

Silêncio e segredo são, portanto a essência. Os antigos assim chamados “Rosa Cruzes” tinham uma simples e solitária regra para o mundo externo: eles não deviam ser conhecidos como “Rosa Cruzes”. Da mesma maneira, um Adepto prudente velará sua energia e seu trabalho com ultimal segredo, Tanto quanto seja possível ele manterá suas operações sub rosa — se você perdoar o trocadilho.

Não é possível escapar totalmente a interferência, desde que você tem atravessado aquele Véu sobre o qual de um lado está escrito ‘Nenhuma Existência Separada’ e no outro lado do qual está escrito ‘Nenhuma Existência’. O simples fato de que você está vivo, radiante, é suficiente de uma provocação dos “Irmãos Negros”. Se, contudo, você poder evitar que eles identifiquem o corpo do qual você está trabalhando, e melhor de tudo, se você poder evitar que eles percebam o que você está tentando fazer, você reduzirá a maioria das interferências deles para um nível negligenciável.

Assim na novela Moonchild de A.C. uma operação mágica é conduzida em dois níveis ao mesmo tempo, mas somente um nível é tencionado atrair a atenção da oposição e atrai; portanto o outro nível realiza seu objetivo sem interferência.

Normalmente, operações mágicas não são conduzidas de um tal modo. Interferência com qualquer tipo de operação, portanto, é muito comum. Há aqui vários fatores aparentemente complexos, mas ultimalmente muito simples, que depende da natureza do grande ‘diabo’ Choronzon, do qual todos “Irmãos Negros” são meros instrumentos.

Coroa de violetas — a violeta é púrpura, uma importante cor Thelemicamente, e cresce melhor em lugares escondidos, sob a cobertura de outras plantas.

Muito do simbolismo de LXV é homossexual. Talvez isso seja devido ao sexo do corpo do Escritor, desde que o Casamento que toma lugar em Tiphareth é aquele da alma como noiva de seu deus. Seja essa alma encarnada como um macho ou uma fêmea na época, sua formula é feminina nesta Operação. Reações e atitudes femininas são mais naturalmente expressadas se o corpo ocupado na época for o de uma fêmea; mas para alguns tipos de Orgias, em alguns casos, outras dificuldades surgem. No caso do Magus do Aeon, por exemplo, o trabalho duramente poderia ser feito sem a possessão de uma imagem física do Poder Criativo.

25. Tu me procuraste longamente; tu correste tanto avante que Eu não pude te alcançar: Ó tu, querido tolo! Com que amargura te coroaste os dias.

Perdurabo impediu seu próprio sucesso pela sua ânsia exagerada.

Uma virtude não muito comum entre Adeptos, que usualmente temem o Anjo pelo menos tanto quanto eles aspiram a Ele, e, portanto dançam como caranguejos ao longo do caminho. Mas Perdurabo sempre foi uma Estrela excepcional.

26. Agora Eu estou contigo; Eu jamais deixarei o teu ser.

27. Pois Eu sou aquela macia, sinuosa, e enroscada em volta tua, coração de ouro!

26-27. União quando feita é permanente.

28. Com doze estrelas está a minha cabeça adereçada; Meu corpo é branco como o leite as estrelas; brilha com o azul do abismo de estrelas invisível.

O Anjo está coroado com o Zodíaco. Seu corpo é o de Nuit.

Neste verso é enfatizado que o Ser Espiritual mencionado como “Anjo” aqui está na realidade acima de todas as assim chamadas hierarquias Angélicas em profundidade de perspectiva. Nós não estamos lidando com uma natureza planetária, ou mesmo estelar. O Anjo não pode ser conectado com um Signo particular do Zodíaco, como seres humanos podem. Não é sua natureza cósmica. Ele é identificado com nossa própria Galáxia, a Via Láctea; mas é salientado que seu poder está de alguma forma conectado com o nosso Sol, desde que o Zodíaco existe somente do ponto de vista do Sol, é claro. Assim, nós estamos lidando com um Ser que está além de nós, no entanto de nosso próprio tipo, em um senso. Ele é “de nós”. Veja AL i 60.

29. Eu achei aquilo que não podia ser achado; Eu achei um vaso de mercúrio.

A estabilidade foi achada na base de uma mudança contínua.

30. Tu instruirás teu servo em seus caminhos, tu falarás muito com ele.

Parece uma injunção ao Sagrado Anjo Guardião para que se mantenha em contato constante com o Adepto.

Não é assim: é uma injunção para o Adepto manter em contato com o “escriba” — seu instrumento físico de manifestação. A injunção vem do Anjo. Adeptos frequentemente não gostam de descer a lama suja da matéria para instruir aquela criatura cega do lodo da qual eles emergiram como borboletas de um casulo. Este tipo de atitude, levada longe demais, fixa a “irmandade negra” na parte do Adepto. Este assunto tem sido tratado extensivamente por muitos sistemas diferentes.

31. (O escriba olha para cima e grita) Amém! Tu o disseste, Senhor Deus!

O Adepto aceita isto como uma promessa definida.

Nesta nota nós vemos a essencial humildade espiritual de Aleister Crowley, para quem o Adepto era apenas um escriba de seu Anjo. Mas o verso diz, e significa escriba: aquela síndrome Linga Sharira-sthula sharira-prana-kama-manas do qual nós já falamos. Naturalmente o escriba aproveitou a ocasião e apoiou a decisão do Anjo.

O pior erro que uma natureza espiritual pode fazer é desprezar ou negligenciar as coisas “materiais” e “animalísticas”. O homem, a grande besta dos campos, é neste planeta e no tempo presente a encruzilhada da Criação: o ser que une anjo (não confunda com S.A.G.) e besta em uma só natureza, o ser onde as Quatro Forças Elementais são para ser harmonizadas, sob a influência de Akasha, no Pentagrama. É o deus suspenso na cruz. Deveria o Iniciado negligenciar e desprezar aquela parte mais baixa (mas é ela Mais Baixa, do ponto de vista do Abismo Infinito do Vácuo? Pois então o que é alto? o que é baixo? o que está acima? o que está abaixo?) da esfinge onde ele cavalga, por tanta negligencia se tornará ele menos bem servido por aquelas faculdades ali representadas. E desde que, até onde nós atualmente somos capazes de perceber, o objetivo da evolução é a espiritualização da matéria cega, por tanto negligenciar se tornará ele contra o curso cósmico. “Meus adeptos estão retamente erguidos; suas cabeças acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos”. Liber XC 40.

32. Adonai falou mais a V.V.V.V.V. e disse:

33. Deleitemo-nos na multidão dos homens! Construamos deles um bote de madrepérola para nós, a fim de que naveguemos no rio de Amrit!

32-33: Proposta para se encarar o mundo fenomênico do novo ponto de vista.

34. Tu vês aquela pétala de amaranto soprada pelo vento das baixas sobrancelhas de Hathor?

35. (O Magister viu-a, e regozijou-se na beleza dela.) Escuta!

36. (De certo mundo veio um lamento infinito.) Aquela pétala caindo pareceu aos pequeninos uma onda para engolir seu continente.

34-36: Dois pontos de vista, tal como o sorriso de uma moça é morte para muitas células do seu corpo.

37. Assim eles recriminarão teu servo, dizendo: Quem te encarregou de nos salvar?

Isto explica porque os homens ressentem o seu salvador. Eles interpretam seus atos como destrutivos.

E, certamente, muito frequentemente eles estão corretos. Se você vai construir uma casa nova, você primeiro deve demolir a velha. O Magus destrói com a adaga; quanto mais habilidoso Ele é, melhor Ele maneja está arma. A.C. mesmo, picotando um pedaço de madeira em seu retiramento no Lago Pasquaney, subitamente compreendeu como o trabalho de destruição pode resultar em criação: você picota seu material assim sua visão toma forma no que é deixado. Mas certamente você picota. E o material picotado tem sempre direito de gemer. Certamente, você tem também todo direito de picotar!

Há vários outros significados paro o verso, todos eles mui sutis e mui sábios. Nós chamaríamos a atenção aos Adeptos Majores, por exemplo, para a construção verbal incomum da questão.

38. Ele sofrerá muito.

Ele em sua mente humana se entristece com isto.

O “servente” é, certamente, o “escriba”, que é, o instrumento de carne do iniciado.

39. Todos eles não compreendem que tu e Eu estamos fazendo um bote de madrepérola. Desceremos o rio de Amrit até os bosques de teixos de Yama, onde podemos nos regozijar extremamente.

40. A alegria dos homens será nosso brilho prateado, e sua tristeza o nosso brilho azulado — tudo na madrepérola.

39-40: Mas a relação toda é ilusória. Na realidade, o Anjo e o Adepto estão se preparando para partir juntos pela eternidade; o Trabalho do Adepto de redenção da Humanidade é apenas uma imagem vista enquanto ele prepara sua madrepérola.

Bem, não completamente. A relação é muito real: somente, no plano dos homens os Adeptos parecem estar ocupados “salvando” a humanidade; no plano onde o rio Amrit corre, ele e seu Anjo estão fazendo um bote de madrepérola. O bote, além de ser um símbolo feminino, é um símbolo da persistência da vida através das gerações. A Madrepérola é a substância que dá origem a pérola, que é sagrada a Lua e a Binah, isto quer dizer, Nuit.

O suposto processo de “salvação” da humanidade é, portanto um processo mágico de imortalização, ou perpetuação, daquele complexo de energias que nós chamamos de Adepto. Ir mais fundo nesse assunto no presente seria encorajar especulação e fantasia no inexperiente. É suficiente dizer que todo esse processo é completamente comum. Todo Adepto passa por ele. Nós referimos o estudante sério a AL ii 44.

41. (O escriba se enraiveceu com isto. Ele disse: Ó Adonai e meu mestre, eu tenho carregado o tinteiro e a pena sem salário, a fim de que eu pudesse buscar esse rio de Amrit, e navegar nele como um de vós. Isto eu exijo como paga, que eu partilhe do eco de vossos beijos.)

42. (E imediatamente lhe foi isto concedido.)

41-42: A mente humana exige que a aliviem da dor de ver a Natureza sob este aspecto, alegando que tem servido os Mestres com devoção sem egoísmo.

Besteira! A mente humana exige a recompensa pela qual ela tem estado querendo carregar o tinteiro e a pena sem recompensa material. Sua devoção tem sido inteiramente egoísta, mas inteligente. De outra forma a mente seria malsã. É uma mentira, essa tolice contra si mesmo. Nós não servimos aos Mestres porque nós somos escravos que queremos servir. Nós servimos a fim de aprender seus “segredos” e nos tornamos Mestres nós mesmos. (Eles na realidade não tem nenhum “segredo”. O único segredo deles é a maior percepção e experiência deles. Servindo-lhes nós aumentamos a nossa.) O escriba nos versos, indignado com a percepção de que Adeptos não estão realmente “salvando” ninguém a não ser eles mesmos, exige o cumprimento de seu contrato. A conta é imediatamente paga, pois os Mestres, diferente dos “irmãos negros”, pagam seus débitos.

43. (Não; mas não com isto ele se contentou. Por um infinito rebaixamento em vergonha ele se esforçou. Então uma voz:)

A mente exige completo alívio.

Não é assim: exige completa iniciação. Ela é abatida em vergonha por que compreende o quão grossa e sem percepção ela é comparada com o Anjo e seu Mestre (a Consciência de Buddhi) .

44. Tu te esforças sempre; mesmo em te entregando tu te esforças por entregar-te — e vê! tu não te entregas.

45. Vai aos lugares mais externos e submete todas as coisas.

46. Submete teu medo e teu desgosto. Então — entrega-te.

44-46: O método. Conhece tudo que é possível, torna-te indiferente a tudo. Isto feito, torna-te perfeitamente passivo.

Por “tudo que é possível” se quer dizer o “mais externo”. Isso se refere aos limites mais externos da consciência, que certamente inclui o qliphótico microcósmico. É um fato bem conhecido que nós não conhecemos o universo externo, nós conhecemos somente a reação produzida em nossa consciência pelo contato de nosso “ego” — o Ahamkara — com ele. Este contato está constantemente modificando, e o Ahamkara mesmo é um ser vivente, isto é, dinâmico. O Universo inclui “demônios”, larvas, “cascões” dos Cabalistas — ele inclui, na verdade, todo tipo de coisas desagradáveis das quais nós usualmente não estamos conscientes, pois nós raramente temos o trabalho de estender a consciência a linha de frente de nosso ser. No entanto, inteligência — no senso de comunicação eficiente — é uma das prioridades de um exército vitorioso. Nossa consciência é uma Legião, mas a menos que esta Legião seja disciplinada e tenha um General em comando, nós somos vítimas de uma forma de insanidade ou outra. E se parte de nossa Legião está sob nosso controle, mas nós não estamos nem sequer conscientes da existência de outros, não pode ser dito que o Comandante é verdadeiramente um General. O General comanda all (tudo) .

Tudo isto está conectado com a lenda que a consciência de Cristo — o Adepto — tem que descer  ao inferno. As forças  que são fortes o suficiente, grossas o suficiente, insensitiva o suficiente — e no entanto sensitiva o suficiente ao mesmo tempo — para sustentar nosso contato com o Universo externo. Assim os “pagãos” e “ateus” e “demônios” que habitam os limites do Círculo do Magista. O Círculo deve expandir continuamente, e ter controle sobre seu ambiente é o objetivo é o objetivo do Mestre. Ele deve subjugar todas coisas mais externas. Somente quando ele é o verdadeiro Comandante de si mesmo — o verdadeiro Mestre do Templo — ele está qualificado a se entregar ao Anjo. Sua expansão de consciência está sempre em direta proporção a sua capacidade de autocontrole.

Assim pode ser percebido que qualquer Iniciado que se torna estático está passando por um estado físico similar àquele dos “irmãos negros”. Usualmente, contudo, a Energia — o Universo externo — logo vem atacar sua defesa e desafia-lo para combate mortal na eterna Tragicomédia de Pã. Se isto não acontece — e algumas vezes, no Jogo das Águas, um galho pode permanecer estacionário por uma estação (veja Liber Aleph, 166) — então o Iniciado pode temporariamente se tornar um “irmão negro” na verdade. A única diferença será na influencia telepática — se alguma!

47. Houve uma virgem que andava a esmo no trigal, suspirando; então nasceu algo novo, um narciso, nele ela esqueceu seu suspirou.

48. No momento instante Hades se abateu sobre ela e possui-a e a levou.

47-48:

Perséfone, a alma presa à terra. Trigo — sustento material; o resultado é sofrimento. Narciso — o instinto sexual florescendo como Beleza.

No instante em que a alma esquece o ‘trigo’ e deseja a flor, Hades vem e carrega com ela. Hades é o senhor do ‘Inferno’, isto é, a Alma escura, secreta, porém divina, dentro de cada homem e cada mulher. O estupro, portanto significa que o desejo de beleza acorda o subconsciente, o qual toma posse da Alma e a entroniza, permitindo-lhe voltar à terra (Conhecimento do mundo material) somente em certas ocasiões, para atender ao bem-estar da humanidade.

49. (Então o escriba conheceu o narciso em seu coração; mas como não lhe subia aos lábios, ele envergonhou-se e se calou.)

Eu fui tomado de um impulso de adorar a Beleza, e senti vergonha da minha incapacidade de escrever na mesma hora um poema que fosse digno do tema.

Todavia, isto é exatamente o que ele estava fazendo então, escrevendo LXV! Mas claro, não era o escriba que o estava escrevendo... Ou assim o escriba pensava.

Este tipo de efeito gangorra é característico da operação de Ahamkara, ou faculdade de causar-o-Ego, e precisa ser cuidadosamente estudada. Veja e compare com LXV v 23-26.

50. Adonai falou uma vez ainda a V.V.V.V.V. e disse: A terra está madura para a vindima; comamos de suas uvas, e embriaguemo-nos com elas.

50-58: Uma longa parábola em dialogo.

50. O Anjo convida o Adepto a regozijar-se em certos acontecimentos que estão a ponto de ocorrer na terra.

51. E V.V.V.V.V. respondeu e disse: Ó meu senhor, meu pombo, meu excelso, como parecerá esta palavra às crianças dos homens?

O Adepto duvida que sua doutrina venha a ser retamente compreendida pela humanidade.

52. E Ele respondeu-lhe: Não qual podes ver. É certo que cada letra desta cifra tem algum valor; mas determinará o valor? Pois varia sempre, de acordo com a sutileza d’Aquele que a fez.

O Anjo concorda; mas é ainda mais céptico que o Adepto, sugerindo que qualquer evento pode ser interpretado como significando qualquer coisa que a gente queira.

Não exatamente isto: o Anjo antes insinua que mensagens produzidas em certos planos de consciência são universais em caractere, e podem ser traduzidas pelo ouvinte em termos relacionados ao sistema de coordenadas dele ou dela sem por isso diminuir seu significado ou importância básica. Tal é o caso com todas as publicações em Classe A da A∴A∴.

53. E Ele respondeu-lhe: Não tenho Eu a chave da cifra? Eu estou vestido com o corpo de carne; Eu sou um com o Eterno e Onipotente Deus.

O Adepto protesta que é capaz de interpretar fenômenos corretamente; que existe uma relação particular que é verdadeira, e que todas as outras são falsas. Ele lembra ao Anjo que ele se percebe a Si Mesmo (como um Ente único sempre idêntico a Si Mesmo) tanto na mais baixa matéria quanto no mais elevado espírito.

Como nós podemos ver, Mestres (note o us de maiúscula em ambos os pronomes e compare com 52) não estão mais imunes aos sintomas do Ahamkara que qualquer outro tipo de ser humano. É como se Picasso, indignado, protestasse que suas pinturas tinham somente um significado legítimo: o significado que ele mesmo encontrou nelas. Certamente, o Anjo logo corrige seu cliente.

54. Então disse Adonai: Tu tens a Cabeça de Falcão, e teu Falo é o Falo de Asar. Tu conheces o branco, e tu conheces o negro, e tu sabes que estes são um. Mas por que buscas tu o conhecimento da equivalência deles?

O Anjo pergunta por que alguém que possui absoluta Visão, Senhorio e poder de subir (a Cabeça do Falcão), que possui energia criadora capaz de fertilizar a Natureza, sua mãe, irmã e esposa (o Falo de Asar), alguém que conhece os pares de opostos e o fato de sua identidade, se preocupa em calcular as equações que expressam as relações entre os ilusórios símbolos de diversidade.

55. E ele disse: Para que minha Obra possa ser correta.

O Adepto replica que ele precisa compreender as leis da ilusão para poder trabalhar no mundo de ilusão.

Não exatamente: por favor, note a minúscula no pronome. Aqui não é mais a consciência do Adepto, a consciência do Mestre, falando: é o mero homem iniciado, o ego ferido, que quer preservar o bolo ao mesmo tempo em que ele o come. Sua explicação é uma mera racionalização de sua frustração ao fato de que ele aparentemente não tem nenhum controle sobre sua própria obra.

56. E Adonai disse: o segador forte e moreno varreu a sua ceifa, e regozijou-se. O homem sábio contou seus músculos, e ponderou, e não compreendeu, e ficou triste. Sega tu, e regozija-te!

O Anjo replica que tais cálculos leva a gente a acreditar na realidade das ilusões, a atrapalhar-se com suas complexas falsidades, e finalmente, a abster-se de agir por medo de errar; quando na realidade não tem importância o que a gente faz, pois uma ilusão serve tanto quanto qualquer outra. O dever do Adepto é executar seu Trabalho viril e alegremente, sem ânsia de resultado ou medo de acidentes. Ele deve exercer por completo suas faculdades; o livre e espontâneo funcionamento dessas faculdades é suficiente justificativa. Tornar-se cônscio da atividade de qualquer órgão é prova de que o órgão em questão não está funcionando bem.

Realmente, o ponto colocado é: Faze o que tu queres. O escriba está meramente aborrecendo, ele não está realmente interessado nas equações, como outra estrela poderia estar. Ele serve a um Magista, não a um Contador.

57. Então o Adepto alegrou-se, e levantou seu braço. Vede! um terremoto, e praga, e terror sobre a terra! Uma queda daqueles que sentavam em lugares elevados; uma fome sobre a multidão!

O Adepto aceita o conselho e exerce seu poder. O aparente resultado de sua Obra é desastre.

Não assim: isto é a demolição preliminar da velha casa antes que a nova possa ser construída. As duas últimas guerras mundiais são apenas preliminares para o estabelecimento da Lei de Thelema sobre a terra.

58. E a uva caiu madura e rica em sua boca.

Mas sacrifica-se que a ideia toda do Adepto da sua relação de Redentor para com a humanidade é uma fantasmagoria. A verdade é que ele “comeu uma uva”, isto é, começou a saborear o banquete que seu Anjo propôs no Verso 50. (Veja-se CCXX, I, 31)

A relação do Adepto com a humanidade como Redentor não é fantasmagórica neste plano. Ele é um Redentor; ele é o novo Cristo. Mas no plano do “rio de Amrit” ele e seu Anjo estão meramente fazendo seu barco madrepérola. Estas duas “verdades” não são exclusivas; na verdade, a existência de uma depende da existência da outra.

59. Manchada está a púrpura da tua boca, Ó brilhante, com a glória branca dos lábios de Adonai.

Todo ato do Adepto é na realidade o beijo do seu Anjo.

Não é exatamente o que se quer dizer aqui; pois púrpura do suco de uva sobre os lábios do Adepto está manchada com a glória branca dos lábios do Anjo. É melhor dizer que todo ato magicamente criativo do Adepto é energizado ou guiado ou ajudado pela energia espiritual de seu Anjo. Veja-se LXV iii 13-17 e os comentários.

60. A espuma da uva é como a tormenta sobre o mar; os navios tremem e sacodem-se; o capitão está com medo.

O êxtase da relação do Adepto com o seu Anjo dispersa pensamentos “normais”; o Ego receia perder controle da mente. Isto, naturalmente, ocorre em um plano menos real, o plano normal de consciência. O receio do Ego é justificado, pois este êxtase conduzirá a uma situação em que a aniquilação do Ego será decretada para que o Adepto possa cruzar o Abismo e tornar-se um Mestre do Templo. Lembre-se de que o Ego não é realmente o centro e coroa do indivíduo; de fato, a dificuldade toda parte do falso conceito que o Ego tem de sua importância.

61. Isso é a tua embriagues, Ó santo, e os ventos rodopiam a alma do escriba para dentro do porto feliz.

O êxtase do Conhecimento e da Conversação do Sagrado Anjo Guardião traz paz à “alma do escriba” (sua mente consciente) pelo processo de imprimir tal energia aos seus pensamentos que o conflito normal entre eles (que causa a dor) torna-se insignificante, tal como os antagonismos pessoais de um regimento de cavalaria são esquecidos no ardor de uma carga.

62. Ó Senhor Deus que o porto caia na fúria da tormenta! Que a espuma da uva tinja minha alma com Tua luz!

Mas a mente sabendo que as velhas brigas recomeçarão assim que passe o êxtase, pede que esta anestesia seja removida. A mente aspira a entrar no êxtase com todos os elementos do seu ser, não importa com que dor. A mente sabe que não pode estar realmente contente até que cada fibra individual vibre harmoniosamente naquele supremo encanto.

63. Bacchus envelheceu, e foi Silenus; Pan sempre foi Pan, para sempre e sempre mais, através dos aeons.

A mente sabe que os tipos mais baixos de embriagues eram apenas excitações, as quais terminam em estupor e senilidade. A mente exige a loucura de Pan, a ereção de cada partícula de seu ser em um só símbolo que inclua Tudo. Este símbolo deverá combinar a inteligência (onisciência) do Homem com a onipotência tipificada por chifres, e o êxtase criador do Bode pulando. Este Pan não está embriagado, mas completamente louco, estando além da discriminação (Conhecimento) porque inclui tudo em si mesmo; igualmente, ele é imune aos assaltos do tempo, uma vez que tudo que acontece só pode acontecer  dentro dele; isto é, todos os acontecimentos são igualmente o exercício das funções dele, e, portanto são acompanhadas por êxtase, já que ele incluiu todas as possibilidades em Sua unidade, de forma que toda mudança é parte da sua vida, um ato de amor sob vontade.

64. Intoxica o mais íntimo, Ó meu amante, não o mais externo.

Presumivelmente isto é uma vez mais a voz do Anjo. Ele aconselha o Adepto a prestar mais atenção no futuro à transmutação de impressões grosseiras em êxtases de união. A obra maior é fazer com que a Mente Inconsciente se interpenetre com o Anjo. Pois este é o Sacramento definitivo. O Adepto corre perigo de se contentar com a alegria consciente de fazer com que justamente esses pensamentos que tem sempre sido causa de erro brilhem com esplendor e pureza ao toque do Anjo. Mas é muito mais importante renunciar a estas recompensas, se bem que elas sejam inefavelmente santas e deliciosas, e lançar-se ao trabalho de aperfeiçoar o Ente mais íntimo, purificá-lo de personalidade e uni-lo ao Universo, ainda que esta Consecução seja demasiado profunda para ser experimentada diretamente na mente consciente.

Em resumo, vá aos lugares mais externos e submeta todas as coisas, então te entrega — e intoxica o mais íntimo.

65. Assim foi — sempre o mesmo! Eu mirei à baqueta pelada de meu Deus, e eu atingi; sim, eu atingi.

Em um código secreto o Adepto afirma que ele é (por assim dizer) do mesmo sexo que o seu Anjo. Não se trata aqui a união de opostos para produzir um tertium quid, mas uma realização de identidade, como o retorno à consciência após delírio, cujo êxtase não produz fruto envolvendo novas responsabilidades, novas possibilidades de sofrimento.; é completamente autossuficiente, sem passado nem futuro. A “baqueta pelada” é a Energia criadora do Anjo, despojadas de todos os véus, apontando ao Zênite, pronta  e impetuosa por agir. O Adepto exclama com alegria que ele aspirou a unir-se a esta ideia, e foi bem sucedido.

Em resumo, por indução, puberdade espiritual foi alcançada. O Anjo é bissexual, ou melhor, pansexual. Ele é um ser cósmico, ou se você prefere, macrocósmico. Em seu senso mais alto, claro, Pã é Nuit.

* * *

Assim se conclui a descrição das relações do Adepto com o seu Anjo no que concerne ao elemento Terra, o aspecto concreto e manifestado da Natureza. A ilusão foi completamente destruída; o pão tornou-se o corpo de Deus. No entanto, esta é apenas a forma mais baixa de existência; no capítulo seguinte compreenderemos como a mente — qual distinguida do assunto dos pensamentos — é concentrada e santificada pela Magia do Adepto.

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