Primeira Palestra

Este artigo é um capítulo de Oito Palestras Sobre Yoga

Uma introdução ao Dhāraṇā e uma explicação dos quatro últimos estágios do Rāja Yoga.

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Primeira Palestra

Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Vamos começar esta noite retomando brevemente o que foi discutido nas minhas primeiras quatro palestras. Eu lhes disse que Yoga significava união, e que essa união era a causa de todos os fenômenos. Consciência é o resultado da conjunção de um estímulo misterioso com um sensório misterioso. O tipo de Yoga que é o assunto dessas observações é apenas uma expansão disso, a união da autoconsciência com o universo.

Nós falamos dos oito membros do Yoga e tratamos dos quatro que se referem ao treinamento e às experiências físicas.

Os quatro restantes tratam do treinamento e experiências mentais, e formam o assunto das observações que se seguem.

2. Antes de tratarmos deles em detalhes, acho que seria útil considerar a fórmula do Yoga a partir do que pode ser chamado de ponto de vista matemático ou mágico. Esta fórmula foi descrita em meu manual sobre Magia[1], Capítulo III, a fórmula do Tetragrammaton. Esta fórmula abrange todo o universo das operações mágicas. A palavra, geralmente pronunciada Jeová, é chamada de Nome Indizível; alega-se que, quando pronunciada com precisão, suas vibrações destruiriam o universo; e isso realmente é verdade, quando consideramos a interpretação mais profunda.

O Tetragrammaton tem esse nome por causa das quatro letras da palavra: Yod, He, Vau e He. Compara-se isso com as relações de uma família – Yod, o Pai; He, a Mãe; Vau, o filho; e He final, a Filha. (Ela é às vezes distinguida de sua mãe por escrito inserindo um pequeno ponto na letra.) Isso também é uma referência aos elementos fogo, água, ar e terra. Eu posso ir além e dizer que todas as coisas existentes possíveis devem ser classificadas como relacionadas a um ou mais desses elementos por conveniência em certas operações. Mas essas quatro letras, embora em certo sentido representem a estrutura eterna, não são, por assim dizer, originais. Por exemplo, quando colocamos o Tetragrammaton sobre a Árvore da Vida[2], as Dez Sephiroth ou números, não incluímos a primeira Sephirah. Yod se refere à segunda, He à terceira, Vau ao grupo de 4 a 9, e He final à décima. Diz-se que o número 1 é simbolizado pelo ponto mais alto do Yod.

É somente na de nº 10 que temos o universo manifesto, que é assim mostrado como o resultado do Yoga das outras forças, das três primeiras letras do nome, dos elementos ativos, fogo, água e ar. (Estas são as três “letras-mães” no alfabeto hebraico.) O último elemento, terra, é geralmente considerado como uma espécie de consolidação dos três; mas isso é uma maneira insatisfatória de considerá-lo, porque se admitirmos a realidade do universo, entramos no caos filosófico. No entanto, isso não nos diz respeito agora.

3. Quando aplicamos esses símbolos ao Yoga, descobrimos que o fogo representa o Yogī e a água o objeto de sua meditação. (Se quiser, vocês podem reverter essas atribuições. Não faz diferença, exceto para o metafísico. E só faz um pouco!)

O Yod e o He se combinam, o Pai e a Mãe se unem, para produzir um filho, Vau. Esse filho é o estado de espírito exaltado produzido pela união do sujeito e do objeto. Este estado de espírito é chamado Samādhi na terminologia hindu. Ele tem diversas variedades, de sublimidade sempre crescente; mas é o termo genérico que implica esta união que é o assunto do Yoga. Neste ponto, devemos lembrar do pequeno e pobre He final, que representa o êxtase – devo dizer o orgasmo? – e a sua absorção: a compensação que o anula. Eu acho muito difícil de me expressar. Essa é uma daquelas ideias que estão enraizadas profundamente em minha mente como resultado de constante meditação, e sinto que estou sendo inteiramente débil quando digo que a melhor tradução da letra He final seria “êxtase se elevando em Silêncio”. Moral da história: meditem e trabalhem vocês mesmos! No final das contas não há outro caminho.

4. Eu acho que é muito importante, já que estamos estudando Yoga do ponto de vista estritamente científico, enfatizar a exatidão da analogia que existe entre o Yoga e o processo sexual. Se vocês observarem a Árvore da Vida, verão que o Número Um no topo se divide nos Números Dois e Três, os iguais e opostos Pai e Mãe, e sua união resulta na complexidade do Filho, o Grupo do Vau, enquanto a figura inteira recupera sua simplicidade na Sephirah única de He final, da Filha.

Na biologia é exatamente a mesma coisa. Biologicamente, o espermatozoide e o óvulo são a separação de uma única célula não-manifestada, que em sua função é simples, embora contenha em si mesma, de forma latente, todas as possibilidades da célula única original. Sua união resulta na manifestação dessas qualidades na criança. Suas potencialidades são expressadas e desenvolvidas em termos de tempo e espaço, enquanto também, acompanhando o ato de união, há o êxtase que é o resultado natural da consciência de sua aniquilação, a condição necessária para a produção de sua prole.

5. Seria fácil desenvolver esta tese por analogias extraídas das experiências humanas comuns do crescimento da paixão, da fome que a acompanha, do intenso alívio e alegria proporcionados pela satisfação. Eu prefiro pensar no fato de que toda religião verdadeira tem sido a representação artística e dramática do processo sexual, não apenas por causa da utilidade desse culto na vida tribal, mas como o véu desse significado mais verdadeiro que estou explicando para vocês hoje à noite. Penso que toda experiência na vida deve ser considerada como um símbolo da experiência mais verdadeira, da vida mais profunda. No Juramento de um Mestre do Templo, ocorre a cláusula: “Eu interpretarei todo fenômeno como um trato particular de Deus com minha alma”.

Não cabe a nós criticar a Grande Ordem por expressar sua ideia em termos facilmente compreensíveis pela pessoa inteligente comum. Devemos deixar de lado as implicações metafísicas da frase, e compreender seu significado óbvio. Então todo ato deveria ser um ato de Yoga. E isso nos leva diretamente à questão que adiamos até agora – a Concentração.

6. Concentração! A analogia sexual ainda nos serve. Vocês se lembram do Abade na obra de Browning? Quando foi solicitado que presidisse no Tribunal do Amor, ele escolheu a mulher cujo objeto de paixão era completamente sem valor, neste admirável julgamento:

“O amor que para um, e um somente, tem referência
Parece terrivelmente com o que talvez Deus tem preferência.”

É comum, e em algumas circunstâncias (como constantemente são encontradas entre anglo-saxões mal-intencionados) uma espécie de piada, que amantes são lunáticos. Tudo que estiver ao seu comando é pressionado à serviço de sua paixão; todo tipo de sacrifício, todo tipo de humilhação, todo tipo de desconforto – são completamente desconsiderados. Toda energia é esgotada e distorcida, toda energia é direcionada para o único objetivo do seu fim. A dor de uma separação momentânea parece intolerável; a alegria da consumação impossível de descrever: na verdade, quase impossível de suportar!

7. Agora, isso é exatamente o que o Yogī tem que fazer. Todos os livros discordam em todos os outros pontos, mas concordam com essa estupidez – dizem a ele que ele tem que desistir disso e daquilo, às vezes com fundamentos sensatos, mas mais frequentemente por motivos de preconceito e superstição. Nos estágios avançados, é preciso abandonar as próprias virtudes que o trouxeram a esse estado! Toda ideia, considerada como uma ideia, é bagagem desnecessária, peso morto, veneno; mas é errado representar esses atos como atos de sacrifício. Não há questão de se privar de algo que se quer. O processo na verdade é de aprender a descartar o que se pensava que se queria na escuridão antes do alvorecer da descoberta do objeto real da paixão de alguém. Por isso, notem bem! A concentração reduziu nossas obrigações morais a seus termos mais simples: existe um único padrão ao qual tudo deve ser apontado. Para o inferno com o Papa! Se uma Lagosta à Newberg perturba sua digestão – e uma boa digestão é necessária para sua prática – então você não come uma Lagosta à Newberg. A menos que isso seja claramente entendido, o Yogī será constantemente desviado pelas sofisticações dos fanáticos religiosos e morais. Para o inferno com os Arcebispos!

8. Vocês perceberão prontamente que empreender um curso desse tipo requer um planejamento cuidadoso. Vocês têm que planejar a sua vida antecipadamente por um período considerável, até onde for humanamente possível fazê-lo. Se vocês falharem nesta disposição estratégica original, vocês simplesmente não concluirão a campanha. As contingências imprevistas certamente surgirão e, portanto, uma de nossas precauções é ter algum tipo de reserva de recursos para combater ataques inesperados.

Obviamente, esta é meramente a concentração na vida cotidiana, e é o hábito de tal concentração que prepara a pessoa para a tarefa muito mais severa da concentração mais profunda das práticas do Yoga. Para aqueles que estão realizando um curso preliminar, não há nada melhor, enquanto eles ainda estão vivendo vidas mais ou menos comuns, do que as práticas recomendadas em The Equinox. Deveria haver – precisa haver – uma rotina definida de atos calculados para lembrar o estudante da Grande Obra.

9. O clássico do assunto é Liber Astarte vel Berylli, o Livro da Devoção a uma Divindade em Particular. Este livro é muito admirável, revendo todo o assunto em todos os detalhes com uma locução de brilho impecável. Sua prática por si só é suficiente para levar o devoto a altas consecuções. Isso só é para poucos. Mas todo estudante deve fazer questão de saudar o Sol (da maneira recomendada em Liber Resh) quatro vezes ao dia, e ele deve saudar a Lua em sua aparição com o Mantra Gāyatrī. A melhor maneira é recitar o Mantra instantaneamente ao ver a Lua, notar se a atenção vacila, e repetir o Mantra até que ela não vacile de forma alguma.

Ele também deve praticar assiduamente Liber III vel Jugorum. A essência desta prática é que você seleciona um pensamento, palavra ou gesto familiar, um que recorre com frequência muitas vezes durante o dia, e toda vez que você é traído a usá-lo, faça um corte no pulso ou antebraço com um instrumento conveniente.

Há também uma prática que eu acho muito útil quando ando em uma cidade cristã – a de exorcizar (lançando o braço em um movimento circular para fora e para baixo e com as palavras “Apo Pantos Kakodaimonos”[3]) qualquer pessoa em trajes religiosos.

Todas essas práticas auxiliam a concentração e também servem para nos mantermos em alerta. Elas formam um treinamento preliminar inestimável para o Trabalho colossal da genuína concentração quando se trata de ser uma questão dos movimentos sutis, e cada vez mais sutis, da mente.

10. Podemos agora nos voltar para a consideração das práticas de Yoga em si. Presumo que nos quinze dias que se passaram desde a minha última palestra, vocês todos se aperfeiçoaram em Āsana e Prāṇāyāma; que vocês equilibram diariamente um pires cheio de ácido sulfúrico em suas cabeças por doze horas sem acidentes, que todos vocês pulam como sapos quando não estão seriamente levitando; e que o seu Mantra é tão regular quanto o seu batimento cardíaco.

Os quatro membros restantes do Yoga são Pratyāhāra, Dhāraṇā, Dhyāna e Samādhi.

Eu lhes darei a definição de todos os quatro de uma só vez, já que cada um explica, até certo ponto, o próximo. Pratyāhāra pode ser descrito como introspecção, mas também significa um certo tipo de experiência psicológica. Por exemplo, você pode de repente adquirir uma convicção, como Sir Humphry Davy, de que o universo é composto exclusivamente de ideias; ou você pode ter a experiência direta de que você não possui um nariz, como pode acontecer com os melhores de nós, se nos concentrarmos na ponta dele.

11. Dhāraṇā é a meditação propriamente dita, não o tipo de meditação que consiste em profunda consideração do assunto com a ideia de esclarecê-lo ou obter uma compreensão mais abrangente dele, mas a real restrição da consciência a um único objeto imaginário escolhido para esse propósito.

Portanto, esses dois membros do Yoga são, em certo sentido, os dois métodos empregados mentalmente pelo Yogī. Pois, muito tempo após o sucesso em Samādhi ter sido alcançado, é preciso conduzir as mais extensas explorações nos recessos da mente.

12. A palavra Dhyāna é difícil de definir; é usada por muitos escritores em sentidos totalmente contraditórios. A questão é discutida em algum detalhe na Parte I do meu Livro IV. Vou citar o que conclui sobre isso:

“Vamos tentar uma definição final. Dhyāna se assemelha a Samādhi em muitos aspectos. Há uma união do ego e do não-ego, e uma perda do senso de tempo e espaço e causalidade. A dualidade em qualquer forma é abolida. A ideia de tempo envolve duas coisas consecutivas, a do espaço duas coisas não coincidentes, a da causalidade duas coisas conectadas.”

13. Samādhi, pelo contrário, é muito fácil de definir. A etimologia, auxiliada pela persistência da tradição religiosa, nos ajuda aqui. Sam é um prefixo em sânscrito que se desenvolveu no prefixo syn em grego, sem alterar o significado – é o “sin” em “sinopse”, “síntese”, “síndrome”. Significa “junto com”.’

Adhi também passou por muitos séculos e muitas línguas. É uma das palavras mais antigas da língua humana; data da época em que cada som tinha um significado definido próprio, um significado sugerido pelo movimento muscular feito na produção do som. Assim, a letra D significava originalmente “pai”; então o pai original, morto e transformado em um “Deus”, foi chamado de Ad. Este nome chegou inalterado ao Egito, como vocês veem n’O Livro da Lei. A palavra Adhi em sânscrito era geralmente traduzida como “Senhor”. Na forma síria, a temos duplicada, Hadad. Vocês devem se lembrar de Ben Hadad, Rei da Síria. A palavra hebraica para “Senhor” é Adon ou Adonai. Adonai, meu Senhor, é constantemente usado na Bíblia para substituir o nome Jeová onde era sagrado demais mencioná-lo, ou por outras razões impróprias para escrever. Adonai também passou a significar, através da tradição Rosacruz, o Santo Anjo Guardião e, portanto, o objeto de adoração ou concentração. É a mesma coisa; adoração quer dizer veículo-digno, significa dignidade; e tudo, menos o objeto escolhido, necessariamente é um objeto indigno[4].

14. Como Dhyāna também representa a condição de aniquilação da individualidade, é um pouco difícil distinguir entre ele e Samādhi. Eu escrevi na Parte I do Livro IV

“Essas condições dhyānacas contradizem as do pensamento normal, mas em Samādhi elas são muito mais marcantes do que em Dhyāna. E enquanto no segundo parece uma união simples de duas coisas, no primeiro parece que todas as coisas se juntam e se unem. Pode-se dizer isso, que em Dhyāna ainda havia essa qualidade latente, que o um existente era oposto aos muitos não-existentes; em Samādhi, muitos e um estão unidos em uma união de existência com não-existência. Esta definição não foi feita a partir de reflexão, mas de memória.”

15. Mas isso foi escrito em 1911 e, desde então, colhi uma imensa quantidade de experiências. Eu estou inclinado a dizer neste momento que Dhyāna está para o Samādhi como saltar como um sapo, descrito em uma palestra anterior, está para a Levitação. Em outras palavras, Dhyāna é uma aproximação desequilibrada ou impura de Samādhi. Sujeito e objeto se unem e desaparecem com êxtase culminando em indiferença, e assim por diante, mas ainda há uma apresentação de algum tipo no novo gênero de consciência. Nessa visão, Dhyāna seria como uma explosão de pólvora descuidadamente misturada; a maior parte dispara com um estrondo, mas há alguns detritos dos componentes originais.

Essas discussões não são de grande importância em si, porque toda a série dos três estados de meditação é resumida na palavra Saṃyama; vocês podem traduzi-la bem por si sós, já que vocês já sabem que saṃ significa “juntos” e que yama significa “controle”. Representa a fusão de pequenos atos individuais de controle em um único gesto, assim como todas as partes separadas do braço, como células, ossos, veias, artérias, nervos, músculos e assim por diante se combinam em unanimidade inconsciente para dar um único golpe.

16. Ora, a prática de Pratyāhāra, propriamente falando, é a introspecção, e a prática de Dhāraṇā, propriamente falando, é a restrição do pensamento a um único objeto imaginário. O primeiro é um movimento da mente, o segundo uma cessação de todo movimento. E vocês provavelmente não obterão muito sucesso em Pratyāhāra até que tenham feito um avanço considerável em Dhyāna, porque por introspecção entendemos a exploração dos substratos da consciência que são revelados somente quando progredimos a uma certa altura, e nos tornamos conscientes de condições que são totalmente estranhas à concepção intelectual normal. A primeira lei do pensamento normal é A é A: é chamada de lei de identidade. Então podemos dividir o universo em A e não-A; não há terceira coisa possível.

Agora, logo no começo das práticas de meditação, o Yogī provavelmente obterá como experiência direta a consciência de que essas leis não são verdadeiras de qualquer maneira definitiva. Ele alcançou um mundo onde as concepções intelectuais não são mais válidas; elas permanecem verdadeiras para os assuntos ordinários da vida, mas as leis normais do pensamento são vistas como não mais do que um mero mecanismo. Um código de convenções.

Os estudantes de matemática e metafísica avançadas muitas vezes têm um certo vislumbre desses fatos. Eles são obrigados a usar concepções irracionais para maior conveniência na condução de suas investigações racionais. Por exemplo, a raiz quadrada de 2, ou a raiz quadrada de menos 1, não são passíveis de compreensão em si; pertencem a uma ordem de pensamento além da primitiva invenção de contar com os dedos.

17. Será igualmente bom que o estudante comece com as práticas de Dhāraṇā. Se o fizer, obterá como subproduto alguns dos resultados de Pratyāhāra, e também adquirirá uma percepção considerável sobre os métodos de praticar Pratyāhāra. A princípio, parece como se Pratyāhāra estivesse fora da linha principal de consecução do Yoga. Isto não é verdade, porque ele permite lidar com as novas condições que são estabelecidas na mente pela compreensão de Dhyāna e Samādhi.

Agora posso descrever as práticas elementares.

Vocês deveriam começar com períodos muito curtos; é muito importante não sobrecarregar o aparato que estão usando; a mente deve ser treinada muito devagar. Nos meus primeiros dias eu ficava satisfeito com um minuto ou dois de cada vez; três ou quatro desses períodos, duas ou três vezes por dia. Nos primeiros estágios, não é necessário ter chegado muito longe em Āsana, porque tudo o que vocês podem tirar das primeiras práticas é realmente um prenúncio das dificuldades de fazê-las.

18. Eu comecei tomando um objeto geométrico simples de uma só cor, como um quadrado amarelo. Vou citar as instruções oficiais do The Equinox:

“Dhāraṇā — Controle do Pensamento

1. Restrinja a mente a concentrar-se sobre um único objeto imaginado simples. Os cinco tattvas são úteis para este fim; eles são: um oval preto; um disco azul; uma crescente de prata; um quadrado amarelo; um triângulo vermelho.

2. Avance para combinações de objetos simples; por exemplo, uma oval preta dentro de um quadrado amarelo, e assim por diante.

3. Avance para objetos simples em movimento, como um pêndulo balançando, uma roda girando, etc. Evite objetos vivos.

4. Avance para combinações de objetos em movimento, por exemplo, um pistão subindo e descendo enquanto um pêndulo está balançando. A relação entre os dois movimentos deve ser variada em diferentes experimentos.

Ou até mesmo um sistema de motor composto por volantes, excêntricos e governador centrífugo.

5. Durante essas práticas a mente deve estar absolutamente limitada ao objeto determinado; não se deve permitir que nenhum outro pensamento invada a consciência. Os sistemas em movimento devem ser regulares e harmoniosos.

6. Anote cuidadosamente a duração dos experimentos, o número e a natureza dos pensamentos intrusos, a tendência do próprio objeto a afastar-se do curso estabelecido para ele, e quaisquer outros fenômenos que podem se apresentar. Evite o esgotamento. Isto é muito importante.

7. Avance para a imaginação de objetos vivos; como um homem, de preferência um homem que você conheça e respeite.

8. Nos intervalos destes experimentos você pode tentar imaginar os objetos dos outros sentidos, e concentrar-se sobre eles. Por exemplo, tente imaginar o sabor do chocolate, o cheiro das rosas, a textura do veludo, o som de uma cachoeira ou o tique-taque de um relógio.

9. Por fim, se esforce em calar todos os objetos de todos os sentidos, e evite todos os pensamentos surgindo em sua mente. Quando você sentir que alcançou algum sucesso nestas práticas, apresente-se para exame, e se você passar, práticas mais complexas e difíceis serão prescritas para você.”

19. Agora, uma das características mais interessantes e irritantes de suas primeiras experiências são os pensamentos que interferem. Em primeiro lugar, há o mau comportamento do objeto que está sendo contemplando; ele muda de cor e de tamanho; muda de posição; altera a forma. E uma das dificuldades essenciais na prática é que é preciso muita habilidade e experiência para ficar realmente atento para o que está acontecendo. Vocês podem seguir sonhando acordados por longos períodos antes de perceberem que seus pensamentos se desviaram. É por isso que insisto tão fortemente nas práticas descritas acima para produzir alertidão e vigilância, e vocês obviamente perceberão que é bastante evidente que é preciso estar em condições perfeitas e no estado mental mais favorável para fazer qualquer progresso. Mas quando vocês tiverem uma pequena prática em detectar e contar as quebras em sua concentração, descobrirão que elas próprias são úteis, porque seu caráter é sintomático do seu estado de progresso.

20. As quebras são classificadas da seguinte forma: —

Em primeiro lugar, sensações físicas; estas deveriam ter sido superadas pelo Āsana.

Em segundo lugar, quebras que parecem ser indicadas por eventos imediatamente anteriores à meditação: sua atividade se torna tremenda. Somente com essa prática é que se compreende o quanto é realmente observado pelos sentidos sem que a mente se torne consciente disso.

Em terceiro lugar, há uma classe de quebras que partilha da natureza do devaneio ou do “sonhar acordado”. Essas são muito insidiosas – pode-se continuar por um longo tempo sem perceber que divagou.

Em quarto lugar, temos uma classe muito alta de quebra, que é uma espécie de aberração do controle em si. Você pensa: “Como estou indo bem!” ou talvez fosse uma boa ideia se você estivesse em uma ilha deserta, ou se estivesse em uma casa à prova de som, ou se estivesse sentado perto de uma cachoeira. Mas estas são apenas variações insignificantes da própria vigilância.

Uma quinta classe de quebra parece não ter nenhuma fonte detectável na mente – ela pode até assumir a forma de alucinação real, geralmente auditiva. Naturalmente, tais alucinações são pouco frequentes, e são reconhecidas como tal. Caso contrário, é melhor que o estudante consulte um médico. O tipo usual consiste em frases estranhas, ou fragmentos de frases, que são distintamente ouvidas em uma voz humana reconhecível, não na voz do próprio estudante ou de qualquer um que ele conheça. Fenômeno semelhante é observado pelas estações de rádio, que chamam tais mensagens de “interferências atmosféricas”.

Há um outro tipo de quebra, que é o resultado desejado em si.

21. Já indiquei quão tediosas essas práticas se tornam; quão grande é o desnorteio; quão constante é a decepção. Muito antes da ocorrência de Dhyāna, há muitos pequenos resultados que indicam o rompimento da limitação intelectual. Vocês não devem ficar perturbados se esses resultados fizerem com que sintam que os alicerces de suas mentes estão sendo derrubados debaixo de seus pés. A verdadeira lição é que, assim como vocês aprendem em Āsana que o corpo normal em si não é nada além de um veículo de dor, assim também a própria mente normal é insana; por seus próprios padrões ela é insana. Vocês só precisam ler um trabalho bastante simples e elementar, como o Guide to Philosophy do Professor Joad, para descobrir que qualquer argumento levado suficientemente longe leva a uma contradição nos termos. Existem dezenas de maneiras de mostrar que, se você começar com “A é A”, você termina com “A não é A”. A mente reage contra essa conclusão; se anestesia contra a ferida auto infligida e regula a filosofia à categoria de truques paradoxais. Mas essa é uma atitude covarde e vergonhosa. O Yogī tem que encarar o fato de que todos nós somos loucos delirantes; que a sanidade existe – se é que existe – em um estado mental livre das regras de jardim de infância do intelecto.

Portanto, com um apelo pessoal sincero de francamente ir até o propiciatório e balbuciar, me despeço de vocês esta noite.

Amor é a lei, amor sob vontade.


  1. «Magick no original. Crowley empregava esta palavra para diferir a magia dos iniciados da mágica dos ilusionistas. O manual mencionado é o Liber ABA, Magick, O Livro Quatro: Parte III: Magia em Teoria e Prática. Editora Penumbra, 2020.» ↩︎

  2. «Consulte a figura na página 57.» ↩︎

  3. «Grego para “Afastem-se todos, daemons malignos!”» ↩︎

  4. «No original há um trocadilho com as palavras worship (adoração), worth-ship (veículo-digno) e worthiness (dignidade).» ↩︎


Traduzido e anotado por Alan Willms em maio de 2019.

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