O Terceiro Capítulo

Este artigo é um capítulo de Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente Comentado por Aleister Crowley e Marcelo Ramos Motta

O Terceiro Capítulo de Liber LXV comentado por Crowley & Motta.

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O Terceiro Capítulo

Este capítulo é atribuído à Água; trata dos reflexos preliminares da verdade qual apreendida pela intuição, antes de qualquer apreensão intelectual; e da natureza da Compreensão e do instinto sexual.

O Elemento da Água é claro identificado com Emoções e Sentimentos. Paixões, apesar delas partilharem da água, são iniciadas pelo Elemento Fogo. Assim os problemas (e a solução deste) de kama, prana e sthula sharira são mais especialmente tratados aqui. Manas está somente envolvido até onde o intelecto é afetado por Apas.

1. Em verdade e Amém! Eu passei pelo mar profundo, e pelos rios de água corrente que ali abundam, e cheguei à Terra Sem Desejo.

1-2: O mar é o Sensório da Alma, e as correntes suas tendências — essas atividades em que ela se compraz. Até que tenhamos passado pela totalidade de experiências possíveis (qual adivinhadas pela estimativa das atualidades disponíveis em nosso caso particular), a gente não pode alcançar o estado em que todo Desejo é reconhecido como fútil. Somente quando isto está fixado podemos perceber o Unicórnio — Μονοκερως — de Astris — o único, puro (é branco) Propósito cujo nome é escrito da maneira a ser explicada.

A coleira representa compleição — a ‘infinidade’ ou ‘eternidade’ simbolizada por um anel. Está em volta do pescoço, i.e., o lugar do Conhecimento (Daath — o Visuddhi cakkra) e feito de prata, o metal da Virgem Isis-Urânia, a qual anima Aspirações puras.

O nome Unicórnio (cujo chifre significa o poder criador) é ‘A Linha Verde cinge o Universo’. Note-se a etimologia de Viridis, a qual está ligada a ‘vir’ e ‘vis’; também a ideia de ‘gyra’ lembrando-nos do aforisma ‘Deus é Ele com a Cabeça do Falcão, tendo uma força espiral’. A Linha Verde, aqui escolhida para sugerir o Limite do Universo, lembra o Cinturão de Vênus. O limite da Existência, portanto, não é uma ideia fixa, mas um sempre crescente Principio Vegetal de Vida, da natureza do Amor. Em suma, podemos dizer que a expressão inteligível da pura Ideia criadora é o principio oniforme do Crescimento.

2. Onde estava um unicórnio branco com uma coleira de prata, na qual estava gravado o aforisma Linea viridis gyrat universa.

3. Então a Palavra de Adonai veio a mim pela Boca do Magister meu, dizendo: Ó coração que estás cingido com os anéis da velha cobra, levanta-te à montanha da iniciação!

O Anjo fala então à consciência humana do Adepto por intermédio de seu Ser Iniciado — de outra forma ele não poderia compreender uma tão elevada mensagem. Ele comanda o homem, qual homem (o coração, Tiphereth, o lugar do Eu Consciente), a que adquira o ponto de vista do Iniciado. A cobra velha representa o Desejo natural, o qual é a ‘causa da Dor’, condena o homem a rastejar no pó, e o une à baixa vida animal.

Veja LXV ii 5. A mensagem é dada através de Binah, que é, Buddhi mesma: o Anjo está se comunicando em um plano muito elevado. Como o rastejante do pó, e base de vida animal, que é parte do homem; somente, o Iniciado há de dirigir estas forças ao Serviço das Mais Altas Faculdades. Quando o Iniciado Egípcio dizia ‘Não há parte de mim que não seja parte dos Deuses’, ele não queria dizer com isto que seu corpo material, seus corpos etérico e astral, seu baixo manas, sua vitalidade e suas paixões tinham de repente se tornado divinas no senso de transcender os planos onde eles normalmente funcionavam. Ele simplesmente queria dizer que todas suas faculdades foram geradas para o propósito dos Deuses, isto quer dizer, sua Verdadeira Vontade estava sendo feito sem interferência de qualquer parte de seu ser; e, portanto dizendo isto ele estava afirmando que ele era Deus Feito Carne. E o sacerdote hoje quer dizer o mesmo quando ele diz estas palavras durante a Missa Gnóstica (Veja LIBER XV).

4. Mas eu me lembrei. Sim, Than, sim, Theli, sim, Lilith! estas três me cingiam de há muito. Pois elas são uma.

Than, Theli e Lilith são três formas serpentinas descritas na Qabalah. Than é realmente Tanha — nenhum trocadilho é intencionado, mas Th é a letra da matéria, e N representa a forma de Vida réptil ou pisciana. Está relacionada com o ‘glúten no sangue’ que von Eckartshausen chama ‘o corpo do pecado’.

Theli: li significa satisfação secreta — uma ideia que sugere vergonha. Lilith: li duplicado e portanto tornado tedioso, e terminado em escuridão material.

Than e Tanha: não há nenhum trocadilho envolvido, mas simplesmente uma derivação direta, da mesma forma que Satã, a Energia, e SANATANAS, o Eterno, título dos Sois da Trimurti. O contato entre os Judeus e os sistemas Orientais foi sempre temido pelos Judeus por causa da grande ênfase deles no monoteísmo e seus séculos de condicionamento na adoração de ‘Jeová’, com punições acompanhantes para as faltas.

Do ponto de vista do Iniciado, todo o movimento do sêmen, ou toda paixão, ou todo desejo, ou todo sentimento que não está diretamente concentrado ao Serviço do Mais Alto é uma brecha da Castidade — a mais importante das virtudes de um Adepto, desde que o instinto sexual conecta todas as faculdades mais baixas diretamente com. Essas formas Serpentinas representam assim desperdício da Kundalini, que é o famoso ‘pecado contra o Espírito Santo’. É um desperdício de sua Força de Vida mesma.

Que seja entendido que os homens comuns não são afetados por este ‘pecado’. O destino normal deles é nascer, viver e morrer. Os problemas deles começam no momento que eles assumem o Juramento de Aspiração. Não é exatamente que eles estão nadando contra a maré — não neste Aeon, felizmente. Mas eles estavam boiando, e agora eles estão tentando nadar e assim ir mais rápido que seus camaradas. A energia deve ser economizada, por que ela é necessária para o esforço extra que das custas da Iniciação. Se você a desperdiça, você desperdiça sua substância mesma. Assim prudência é irmã da Castidade, não, sua gêmea, não elas são ambas a mesmíssima Virtude! Veja Atu IX no Tarô, e Capítulo 53 de LIBER ALEPH.

5. Linda eras tu, Lilith, tu mulher-serpente!

5-12: O Adepto analisa essa Rainha-Demônio do seu Nephesch. Ele se recorda do apelo sensual dela, e nota que, sendo a dissolução de todas as coisas inevitável, o apego a elas leva ao sofrimento e à destruição. Nos versos 11-12, de mais a mais, ele mostra que à parte considerações da passagem do tempo, a natureza desse Desejo é, intrinsecamente, corrupção.

6. Eras esguia e teu rosto uma delícia, e teu perfume era de almíscar misturado de ambergris.

7. Tu apertavas o coração com teus anéis, e isso era como a primavera de alegria.

A natureza do “Amor” deveria ser estudada em Pequenos Ensaios Em Direção a Verdade, o capítulo do mesmo nome, particularmente o último parágrafo. Não pode ser compreendido em demasia que toda manifestação do amor humano, mesmo o mais lírico, o mais feliz, o mais puro, aqueles que todas as igrejas, da Romana à Budista, todos os Estados, da Itália à China, aprovem e “santifiquem” com cerimonias e leis, são simplesmente as convulsões da velha serpente, a atividade de um instinto animal, os grunhidos e contorções, um tanto refinados em aparência, sem dúvida, dos grandes macacos.

8. Mas eu vi em ti certa mancha, mesmo naquilo em que me deleitava.

A Maldição do Juramento. Esta mancha é totalmente invisível a humanidade normal. Você tem que ter as sementes da mais alta diligencia em você para percebê-la.

9. Eu vi em ti a mancha de teu pai macaco, do teu avô o Verme Cego do Lodo.

Isto é, dos animais ancestrais da bestial metade de nossa raça. Compare LXV ii 3-5 e os Comentários ali.

10. Olhei no Cristal do Futuro, e vi o horror do teu Fim.

O fim aqui significa tanto o propósito desta força que é puramente animal quanto a consequência de se entregar a ela, que é a ruptura das Faculdades Mais Altas.

11. Mais, eu destrói o tempo Passado, e o tempo Vindouro — não tinha eu o Poder da Ampulheta?

12. Mas mesmo na hora eu vi corrupção.

13. Então eu disse: Ó meu amado, Ó Senhor Adonai, eu te rogo que desfaças as roscas da serpente!

13-14: É inútil pedir ao Anjo que livre o Adepto dessa coerção: a força mágica do Adepto, a qual é necessária para este fim, é pelo Desejo impedida mesmo de começar.

14. Mas ela estava apertada em volta minha, de modo que minha Força era impedida em seu começo.

Este é um ponto muito importante: é inútil pedir ao Anjo para fazer por você as coisas que você deve fazer por si mesmo. O Anjo não é um mestre com um escravo, ou um titeriteiro com seus títeres: ele é um Professor para quem a Lei de Θελημα está em primeiro lugar. “Assim com teu tudo tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade.” (AL i 42)

15. Também eu orei ao Deus Elefante, o Senhor dos Começos, que derruba obstrução.

O Adepto invoca Ganesha, o qual representa o poder de quebrar obstruções. O elefante, ‘o semi-pensador com a mão’, é a força moral do homem, parcialmente inteligente e dócil ao controle de seu Mestre Espiritual.

16. Estes deuses vieram prontamente em minha ajuda. Eu os vi; eu me uni a eles; eu me perdi em sua vastidão.

Essa força moral sendo posta em ação, o Anjo também se torna um auxiliar eficiente, e a constrição do Desejo desaparece totalmente.

O Anjo só auxilia ativamente quando o seu cliente dá o primeiro passo na direção certa; se o cliente não dá o primeiro passo, ou vai na direção contrária aos seus interesses espirituais, o Anjo se abstém. De outra forma, seria escravidão, e não guarda, a relação.

17. Então me percebi Cingido pelo Infinito Círculo de Esmeralda que circunda o Universo.

O Adepto agora percebe que ele está limitado apenas pela Linha Verde do verso 2.

Você notará que a Força Serpentina é a mesma, mas agora, por assim dizer, os polos magnéticos foram mudados. Em essência, o Verme Cego do Lodo também é o verme do Inferno, Hadit, que é Vida, e o doador de Vida. A Kundalini é enviada do Muladhara para cima, que suficiente para transforma-la de Rainha-do-Demônio Lilith em uma Manifestação de Nuit. Não é o material a mão que é importante, mas o que você faz com ele; ou melhor, não é o material a mão que é maligno ou “mau”, mas você que entrega seu baixo ser a indulgências grosseiras.

18. Ó Serpente de Esmeralda, Tu não tens tempo Passado, nem tempo Vindouro. Em verdade, Tu não és.

Está linha é reconhecida como equivalente ao Negativo — Nuit Ela Mesma.

19. Tu és gostosa além do tato e do sabor, Tu não podes ser vista de glória, Tua voz está além da Fala e do Silêncio e da Fala no Silêncio, e Teu perfume é de puro ambergris, que não é de se pesar contra o mais fino ouro fino.

19-20: Está Ideia de Puro Amor é sem limites; ela outorga a verdadeira, a máxima satisfação possível; seu perfume (significado espiritual) não está misturado com qualquer concepção imperfeita (Ambergris é o perfume de Kether; almíscar refere-se ao Amor em um senso um pouco animalizado.) .

20. Também Tuas roscas são de infinito alcance; o Coração que Tu cercas é um Coração Universal.

Também o Anjo é identificado com está Linha Verde, e desta forma a consciência do Adepto se expande para incluir o Universo.

21. Eu, e Mim, e Meu, estavam sentados com alaúdes na praça de mercado da grande cidade, a cidade das violetas e das roscas.

21-26: A ideia do Ego não deve ser utilizada para unificar a experiência do Adepto. Em tal caso, a música da Vida cessa quando a dúvida obscurece, problemas perturbam, ou o tempo cansa o consciente. O Adepto deve perder-se por completo na Consciência de seu Anjo, que está além de tais limitações e imune de tais ataques, pois Ele não pode ser expresso por nenhuma Imagem fixa que pode ser destruída.

Isto não é exatamente o que é suposto ser feito. A ideia de Ego deve ser usada para unir a experiência do Adepto abaixo do Abismo; é impossível funcionar como um ser humano sem o Ahamkara. É para este propósito que o Ahamkara foi construído. Mas a consciência do Ego deve ser percebida como uma conveniência, e como relativa, não um absoluto. As linhas normais unindo Kama, Manas e Ahamkara devem ser dissolvidas e substituídas por novas linhas — as linhas da Iniciação. Em resumo, as velhas sinapses devem ser dissolvidas no cérebro, e novas sinapses devem ser estabelecidas.

A Travessia do Abismo (que pode ser feita em dois planos, o do Manas e o do Kama, que são tratados respectivamente em Liber Os Abysmi e Liber Cheth; ambas as Travessias devem acontecer, no entanto não necessariamente ao mesmo tempo) é a dissolução do ego mortal, ou o ego do homem lunar, e a criação de alguma coisa que não pode ser mais chamada ego, mas é a consciência do homem solar, ou o “Corpo de Glória”. O Ahamkara ainda existe, e ainda funciona; mas agora a mente sabe que ela é um instrumento e mediador — um “escriba” — e o Kama não está mais apegado às reações do Ahamkara.

“Eu” — o aspecto ativo do Ahamkara. “Me” — o aspecto passivo do Ahamkara. “Meu” — o apego a qualquer coisa abaixo do Abismo, possível somente quando alguma parte ou outra do Ahamkara se torna estática, ou através de falta de energia naquele ponto, ou através da formação nós — complexos, como os psicanalistas diriam.

“A cidade das violetas e das rosas” é, claro, a mente de Aleister Crowley, que é assim esplendidamente descrita.

22. A noite caiu, e a música dos alaúdes parou.

Surge a dúvida: “Se a Vontade para e grita Por Que, invocando Porque, então a Vontade para & nada faz.” Compare LXV i 54-56.

Note que embora somente “Eu” estar “sob ataque”, todos os três alaúdes são parados. Isto é devido ao Apego; cada função do Ahamkara destreinada reage sobre a outra.

23. A tempestade rugiu, e a música dos alaúdes parou.

A tempestade representa cólera, medo, ou alguma outra paixão, sendo uma turbulência de Kama surgida sensibilidade do Ahamkara a qualquer coisa que ele interprete como um “ataque” contra a sua integridade.

24. A hora passou, e a música dos alaúdes parou.

“Meu” é um conceito necessário somente até onde o Ahamkara deve estudar um determinado fato para transmitir informação ao Buddhi. Qualquer memória do cérebro é um caso de “Meu”. Mas apego a posses, seja elas de qualquer tipo, é um vício do Ahamkara destreinado. Obviamente a hora deve passar, isto é, o Universo deve fluir. Nada é permanente no Universo.

Há um apólogo, narrado se eu não me engano por Swami Vivekananda, de um yogui que viu um raj sentado perto do lago em frente de seu castelo, e soltando sua tanga e a depositando aos pés do castelo, foi e se banhou no lago sem antes pedir permissão ao dono. Depois de seu banho o yogui, ainda nu, aproximou do raj e começou a repreende-lo por seu apego a possessões. Nesta altura ambos perceberam que o castelo tinha pego fogo. O yogui saiu correndo para salvar sua tanga das chamas; o raj continuou sentado e contemplou o fogo. Na nomenclatura do Livro da Lei, o raj era um Rei; o yogui era um mendigo tentando esconder sua pobreza.

25. Mas Tu és a Eternidade e o Espaço; Tu és Matéria e Movimento; e Tu és a negação de tudo isso.

Novamente ressonância é a chave. Por concentrar-se no Anjo, o Adepto aprende como reconhecer o Ahamkara, assim sendo ele reportará tudo verdadeiramente e não interferirá.

26. Pois não existe Símbolo de Ti.

Compare LXV i 7-11.

27. Se eu digo Subi sobre as montanhas! as águas celestiais fluem ao meu comando. Mas tu és a Água além das águas.

27-30: O Adepto aprende a controlar todas as variedades de imagens que se apresentam, e a criar quaisquer que ele deseje. Mas seu Anjo representa seu Ideal que seu limite neste assunto. Todas as ideias de que ele é capaz estão compreendidas na natureza de seu Anjo.

Este ponto é disputável e, em minha opinião, correto somente relativamente a cada Passo na Iniciação. Mas nestas matérias é a Experiência que conta. Que cada um descubra por si mesmo. Certamente todas as ideias das quais os Adeptos é capaz no presente são abrangidas da natureza de seu Anjo. Mas estrelas humanas crescem. Os Anjos também crescem. Veja LIBER A’ash, verso 16.

28. O rubro coração triangular foi colocado em Teu templo; pois os sacerdotes desprezaram igualmente o templo e o deus.

29. No entanto o tempo todo Tu ali oculto estavas, como o Senhor do Silêncio está oculto no botão do lótus.

28-29: Estes versos são especialmente obscuros e devem até certo ponto assim permanecer. Pois eles contêm uma alusão ao ponto mais secreto e mais crítico da Carreira Mágica de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ. ‘O rubro coração triangular’ é o símbolo peculiar de Ra-Hoor-Khuit; e o Profeta hesitou em aceitar o Livro da Lei, que proclama o Deus, porque considerava isto incompatível com o seu Juramento de alcançar o Conhecimento e Conversação do seu Sagrado Anjo guardião. Somente dezenove anos mais tarde foi que ele percebeu por completo que o Sagrado Anjo Guardião está escondido neste símbolo R.H.K. Os “sacerdotes” aqui parecem representar os Chefes Secretos da A∴A∴, os quais executaram seu propósito de estabelecer a Lei através de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ, com completo descaso pelas ideias pessoais dele quanto ao seu Trabalho (templo) e ao objeto de sua adoração (deus). A metáfora ao fim do verso 29 nos lembra de que o lótus (a Natureza-Isis) esconde debaixo de sua aparência externa as perfeições secretas da Criança.

30. Tu és Sebek o crocodilo contra Asar; tu és Mati, o Assassino no Profundo. Tu és Tifão, a Fúria dos Elementos, ó Tu que transcendes as Forças em seu Concurso e Coesão, em sua Morte e Ruptura. Tu és Píton, a terrível serpente em volta do fim de todas as coisas!

O Sagrado Anjo Guardião é agora identificado não apenas com Ra-Hoor-Khuit, mas com símbolos ostensivamente hostis. Ele é para ser encontrado em todos os fenômenos.

De outra forma o Juramento do Mestre do Templo seria uma zombaria.

31. Eu me virei três vezes em todas as direções; e sempre eu cheguei a Ti por fim.

31-32: Em qualquer direção que o Adepto decida mover-se, ele deverá chegar eventualmente ao seu Anjo. Tudo que ele vê não é mais que um véu sobre a Sua Face.

32. Muitas coisas eu vi, mediadas e imediatas; mas não as vendo mais, eu vi a Ti.

33. Vem Tu, Ó Bem-Amado! Ó Senhor Deus do Universo, Ó Vastidão, Ó Minúcia! Eu sou o Teu amado.

33-36: Está passagem, puramente lírica, não requer comentário especial. Ela assevera a ultimal identidade de todas as coisas com o Anjo, incluindo o próprio Adepto, que se reconhece unido a Ele na relação triuna de Pai, Governante e Noivo: a fonte de seu Ser, o determinante de sua Vontade, e a inspiração de sua Fertilidade e Alegria.

Nenhuma passagem de um Livro Santo de Θελημα é “puramente lírica”. Senhor Deus do Universo: Heru-ra-ha. Ó Vastidão: Nuit. Ó Minúcia: Hadit. O Anjo, portanto, existe em todos estes. Abarca todos estes. É todos estes.

34. O dia inteiro eu canto o Teu deleite; a noite inteira eu me deleito em Teu canto.

Isto se refere a um grau muito elevado de Iniciação, que muitos poucos Adeptos até agora são capazes de manter permanentemente em manifestação enquanto ocupam um corpo de carne.

35. Não existe nenhum outro dia ou noite que não este.

36. Tu estás além do dia e da noite; eu sou Tu Mesmo, Ó meu Criador, meu Mestre, meu Esposo!

37. Eu sou como o cachorrinho vermelho que está sentado nos joelhos do Desconhecido.

O cão é a baixa natureza animal — ‘vermelho’ é o símbolo da sua energia, sensibilidade e poder de amar. Ele está impotente (nos joelhos) e no circundante Mistério da Vida (Desconhecida) mas permanece quieto e confia.

Na verdade, desde que ele senta nos joelhos do desconhecido, ele não está impotente, mas protegido. O “Desconhecido” é a estátua do Deus Desconhecido, que ambos Gregos e Egípcios mantinham como símbolo do Infinito. Ele é, claro, Hadit. Confira AL ii 4.

38. Tu me trouxeste o grande deleite. Tu me deste da Tua carne a comer e do Teu sangue como uma oferta de intoxicação.

O Anjo substitui esta atitude por uma satisfação e nutrição completas. É n’Ele que o Adepto vive, é Sua Vida que o embriaga.

Isto está naturalmente relacionado com o simbolismo Cristão, mas este simbolismo precede de muito o Cristianismo — veja O Ramo de Ouro de Sir James Frazer, a completa ou a edição condensada autorizada pelo autor.

Na verdade, o relacionamento Anjo-Adepto-Escriba é uma das simbioses com completa troca de energia de ambas as partes.

39. Tu ferraste as presas da Eternidade em minha alma, e o Veneno do Infinito me consumiu inteiramente.

O inimigo do Tempo foi devorado, e o Ego limitado dissolvido no Infinito.

A referência da moeda do verso 38 enfatizando o intercurso das partes.

40. Eu estou tornado como um opulento diabo da Itália; uma mulher loura e forte de face cavada, comida de fome de beijos. Ela bancou a rameira em diversos palácios; ela deu seu corpo às bestas.

A referência é à Marquesa de Brinvilliers; ela representa o Nephesch ou Alma Animal. Esta Alma tem procurado satisfazer as suas paixões de diversas formas extravagantes.

Os estudantes sérios deveriam meditar profundamente no modo como a memória de Perdurabo desta encarnação é assumida no Êxtase de Tiphereth. Cf. LXV ii 34 e 35 e os Comentários ali.

41. Ela matou seus parentes com forte veneno de sapos; ela foi castigada com muitas varas.

Ódio de outras almas — a dor de receber verdades.

42. Ela foi despedaçada sobre a Roda; as mãos do verdugo a amarraram ali.

Com isto a unidade dela acaba sendo despedaçada por Mudança. Ela foi presa no ciclo de Samsara pelo Ministro da Justiça.

43. As fontes d’água foram abertas sobre ela; ela lutou contra tormento extremo.

Sua solidez não pode mais resistir à ação da Pureza; seus complexos são invadidos pelo Solvente Universal. Sua resistência é uma tortura tremenda.

44. Ela rebentou sobre o peso das águas; ela afundou no horrendo mar.

Finalmente a coerência dela é quebrada, e o senso de separação desmorona e dissolve-se no infinito Oceano de Amor.

Amor Thelêmico — amor sob vontade. Isto é, certamente, a Abominação da Desolação para o profano. É por isso que ele é ‘horrendo’. Este Oceano é o Mar de Binah.

45. Assim sou eu, Ó Adonai, meu senhor, e assim são as águas da Tua intolerável Essência.

45-46: O texto confirma esta interpretação da Iniciação como o equivalente de extensa psicanálise.

Porém essa extensão vai imensamente além daquilo que a psicanálise de mundana pode atingir. Até o presente, os psicanalistas estudaram apenas seções do Nephesch e do Ruach.

46. Assim sou eu, Ó Adonai, meu amor, e Tu me arrebentaste por completo.

Novamente A.C. se deixa levar pela sua modéstia. Não psicanálises; parapsicanálises, talvez, desde que faculdades do homem das quais psicanalistas nem sequer começaram a estar despertos, estão envolvidas no processo. Certamente, contudo, a analogia se mantém. Mas é meramente uma analogia, de outra forma analistas começaram a proclamar Iniciação como resultado de vinte ou trinta anos de análises a cem dólares a hora!

Há três problemas fundamentais com psicanálises. Primeiro, ela toca somente os níveis mais baixo de kama e manas, e está totalmente inconsciente das faculdades mais altas. A única tentativa que nós conhecemos por um psicólogo para estudar estas faculdades é As Variedades da Experiência Religiosa por William James. É deplorável que ele não tenha sido estudado por alguém mais.

Segundo, Freud, embora um gênio, infelizmente não se submeteu a análises — como poderia ele, pobre companheiro? Pioneiros sempre sofrem esta desvantagem. Ele nunca percebeu que sua definição da Libido como imoral resultou de sua criação precoce em uma sociedade Judeo-Cristista. Sua inteira teoria de psicanálises está viciada pelo Dogma de Pecado Original. Max sofreu o mesmo problema. Na verdade é raro um Judeu que não sofre. (Talvez você não possa ser um Judeu se você não sofre.).

Terceiro, ou por causa de uma interpretação errada da aplicação das estatísticas do comportamento, ou por causa de uma aproximação marxista do conceito de normalidade, a psicanálise moderna não tenta integrar o indivíduo dentro de si mesmo, porém mais adapta-lo a sociedade. Se o prego de madeira é quadrado ou em ziguezague, picote até que ele possa encaixar em um buraco redondo — ou vice-versa. Um belo termo está na verdade bailando nas rodas da intelligentsia: sociopatia, isto é, a condição de ser incapaz de se adaptação ao status quo. A ovelha a considera uma doença. A opinião dos bodes não foi perguntada. Afinal de contas, ELES são os vilões da peça.

47. Eu estou derramado por como sangue sobre os picos; os Corvos da Dispersão me levaram por completo.

A vida do Ego é dispersa sobre todas as ideias salientes. Os corvos são os pássaros de Netzach, a esfera de Vênus. Isto é, a vida do Adepto é transportada para longe, voando, pelo Amor Universal.

Note Dispersão (Dispersion=333), que é um número de Binah, e note que a Guardiã do Abismo é BABALON, que é uma forma de Vênus (Sua estrela é de sete pontas, entre outras coisas) . Cf. Liber CLVI, vv. 4-6.

48. Portanto está afrouxado o selo que guardava o Oitavo abismo; portanto é o vasto mar como um véu; portanto há uma dilaceração de todas as coisas.

Este processo conduz à completa passagem do Abismo — a respeito do que se consulte Libri 418 e VII.

49. Sim, também em verdade tu és a fresca, quieta água da fonte encantada. Eu me banhei em Ti, e me perdi em Tua quietude.

50. Aquilo que entrou como um valente menino de lindos membros sai como uma donzela, como uma criancinha em sua perfeição.

49-50: As ideias acima são aqui repetidas sob a forma de outro símbolo. A ‘fonte’ é Salmacis. A individualidade positiva se torna a Universal e Perfeita Virgem do Mundo. Veja novamente Liber 418.

Também Liber VII i 49. O processo de entrega separada muda a fórmula do Ego na Fórmula da Fêmea, e então para a da Mãe Regozijante. O “bebê” é claro o Bebê do Abismo, e também, evidentemente, uma forma de Heru-ra-ha: Ra-Hoor-Khu. Ele crescerá à uma Mestre do Templo, alimentado pela ‘Mãe’, isso é, o velho complexo de energias que tem sido, por assim dizer, “raptado” pelo Senhor do Inferno. Há uma analogia aqui com a vespa que paralisa uma aranha e a deixa para alimentar suas larvas com seu corpo ainda vivo; mas neste caso as larvas são filhos da vespa com a aranha. Assim o Anjo é o Vampiro que vem somente a noite (a Noite de Pã) para sugar o sangue dos seres humanos. Todos os símbolos, sejam os mais sublimes ou os mais imundos, tem seus lados reversos. Na verdade, sem mostrar ambos os lados da moeda, eles não podem estar verdadeiramente acima do Abismo. Assim nós vemos, nos vv. 4-20, como a velha serpente, a fonte de todo mal, é em verdade uma forma do Zodíaco, a circunferência de nossa Senhora Nuit.

51. Ó Tu luz e deleite, arrebata-me ao oceano leitoso das estrelas!

52. Ó Tu Filho de uma mãe que transcende a lua, abençoado seja Teu nome, e o Nome de Teu Nome, através das idades!

51-52: Um desabafo lírico sobre o tema. Note-se Nuit, e o novo Verdadeiro Eu nascido d’Ela agora que o velho Falso Ego é aniquilado.

Naturalmente a dissolução do complexo de energias que formou o velho ego resulta em uma identificação do inteiro ser do Adepto com Nuit: veja AL i 27-30, 58, 61; AL ii 44, 62, 72; AL iii 43-45. Os “beijos das estrelas” são o impacto da energia direcionada da Verdadeira Vontade daqueles que já atravessaram o Abismo; o bofetear sobre o neutralmente flutuante Ponta Polida  cria uma Resultante queda para o Infinito; esta Resultante é a Verdadeira Vontade do novo Magister, que será refletida abaixo do Abismo como uma Estrela Matutina ou Estrela Vespertina.

(A explicação acima é uma tentativa de colocar em linguagem astronômica algumas ideias que acontecem no nascimento do Bebê do Abismo; a linguagem astronômica estando mais próxima das matemáticas pura, que é a coroa do Manas, isso é, o grupo de células cerebrais que melhor representam o Ahamkara do Iniciado. O leitor sábio compreenderá que a analogia não deve ser levada longe demais. Mas as matemáticas puras são, em nossa opinião, a faculdade mais provável ponte da brecha entre Daäth e Binah na evolução futura da humanidade. Nós estamos falando, evidentemente, de faculdades intelectuais) .

Assim a Verdadeira Vontade é, ao mesmo tempo, a expressão da posição da estrela individual no cosmos, e a expressão da Verdadeira Vontade de todas as outras estrelas no cosmos. A Vontade Livre e Necessidade são assim Uma — não, são Nenhuma, como o próximo verso mostrará.

53. Vê! eu sou uma borboleta na Fonte da Criação; deixa-me morrer antes da hora, caindo morto em Tua corrente infinita!

A referência é ao Atu XVII. A borboleta é o Neschamah (puro ψυχη). Sua natureza é aquela de um ente separado momentaneamente, sem dor, de Nuit.

A borboleta foi escolhida como um símbolo do Renascimento Iniciático porque ela é um ser com belas asas que emerge de um casulo feio. Também, ela se alimenta do néctar das flores (que são símbolos análogos as estrelas), é totalmente inofensiva e parece uma joia em movimento.

54. Também a corrente das estrelas flui sempre majestosamente à Habitação; carrega-me no Colo de Nuit!

A corrente das almas (estrelas) flui sempre em direção a Nuit, isto é, cada homem e mulher tem a mesma Verdadeira Vontade — recuperar a sua Mãe original.

Ela é o Infinito, no qual todas as estrelas estão caindo. Nosso Destino é o mesmo.

Isso também é o rio de Amrit mencionado em LXV I.33-40. O Bote de madrepérola, sendo um símbolo feminino, agora fica claro. Cf. LXV III.47-50.

55. Este é o mundo das águas de Maim; esta é a água amarga que se torna doce. Tu és belo e amargo, Ó dourado, Ó meu Senhor Adonai, Ó tu Abismo de Safira!

O acima é declarado um Mistério do Atu XII. O ‘afogamento’ do Adepto transforma o Trance de Sofrimento no Trance de Amor. O Anjo é visto como um símbolo positivo desse “Grande Mar”.

56. Eu sigo a Ti, e as águas da Morte lutam estrênuas contra mim. Eu passo às Águas além da Morte e além da Vida.

Pelo seu Conhecimento e Conversação esta transmutação é realizada.

Não, não transmutação: transcendência. As águas (observe o baixo caso) da Morte e as águas da Vida governam abaixo do Abismo. As Águas além desta dualidade são as Águas do Grande Mar.

O Caminho da Iniciação tem que lutar com inércia natural do corpo e o inteiro complexo de energias relacionado com a vida animal, a reação passiva ao meio ambiente, resumindo, tudo que faz do homem meramente aquela criatura que Olaf Stapledon primeiro chamou “homo saps” em sua brilhante e profética novela Odd John. Esta resistência passiva (é puramente automática) parece se tornar ativa e maligna de acordo com que o Aspirante progride. Não importa para onde ele vira, ele vê uma corrupta face maligna zombando dele. A ele dá a impressão de que há uma atividade maliciosa, uma sutil energia perversa pronta para saltar sobre ele em toda esquina. Como está escrito: “Tu serás atormentado por dispersão.”.

Em verdade, é seu próprio esforço para nadar mais rápido do que seus companheiros que cria ondas na correnteza. Fosse ele mais velho e mais habilidoso, ele poderia seguir o Caminho do Tao, e nadar rápido sem fazer ondas; mas cf. LXV ii 62.

57. Como responderei ao homem tolo? Por nenhum caminho ele chegará à Tua Identidade!

57-59: O ‘homem tolo’ é o homem natural, o profano. ‘Tolo’ neste sentido significa vazio, vaidoso, cheio de si. Ele é o ‘pequeno louco’, adiante comparado com o Louco, Atu 0, א, do Taro, o qual é o primeiro Caminho de Kether.

(Cf. AL i 11, 31, 45, 48, e os Comentários ali.)

Hoor-paar-kraat ou Harpócrates, o “Bebê no Ovo de Azul”, não é meramente o Deus do silêncio no sentido convencional. Ele representa o Eu Superior, o Sagrado Anjo Guardião. A conexão é com o simbolismo do Anão na Mitologia. Ele contém tudo em Si, mas não-manifestado. Ver CCXX II.8. Ver Comentário a CCXX I.7

Este homem não pode ser conduzido à perfeição, pois ele é composto de Qliphoth ou excremento.  Sua emancipação é precisamente de tais partes de seu ente; elas não são da sua essência.

Isto não está corretamente correto. Não há nenhuma ‘emancipação’ envolvida: a essência está incorrupta e é incorruptível. Mas o Caminho da Iniciação consiste em usar material qliphótico do qual o homem comum é composto para criar um “escriba”, isto é, um Iniciado. Seria então mais correto dizer que este homem não pode ser trazido a perfeição no seu presente estado, que é somente a matéria prima da Obra. E ele não sofrerá a dolorosa transmutação necessária a produção da Quintessência — o Quinto Elemento, Akasha — o Pentagrama, ou o Deus Crucificado, ou o Homem Enforcado — a menos que seja sua Verdadeira Vontade. E, como já sabemos, sua Verdadeira Vontade é uma função de Dois, Um, Nenhum e Tudo. Ele não somente deve chamar a si mesmo a Iniciação, ele também deve ser escolhido por Ela, chamado por Ela. Pois a menos que Adonai construa a casa, eles laboram em vão para construi-la. E assim por diante. Esta verdade é obscurecida ou explanada em todos os sistemas. O que deve ser compreendido acima de tudo é que do ponto de vista das Supernas NÃO HÁ DIFERENÇA. Um cão deve latir, o marido deve labutar, o Adepto deve “salvar”. Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

58. Mas eu sou o Tolo que não liga ao Jogo do Mago. A mim a Mulher dos Mistérios instrui em vão; eu quebrei os grilhões do Amor e do Poder e da Adoração.

O Adepto se identifica com este Puro Tolo. Ele é indiferente à Ilusão da Existência Fenomenal causada pelo Mago (Pekht, Extensão, o Atu I, 2, כ, Mayan, ☿) . A Mulher dos Mistérios (Isis, Atu II, נ, 3, ☽) não estraga a pureza dele com seus fantásticos reflexos da Verdade. Ele não está mais à mercê da Imperatriz, Atu III, ד, 4, ♀; nem do Imperador, Atu IV, צ, 90, ♈; nem do Hierofante, Atu V, Σ, 6, ♉. Isto é, nem as distinções sutis (I, II) da Verdade nem as suas imagens grosseiras (III, IV, V) podem causar injúria na sua perfeição de Zero.

Na verdade não é correto chamar Daleth uma “imagem grosseira” da Verdade: ela está inteiramente acima do Abismo, e não deveria ser confundida com Netzach ou mesmo Eros dos Gregos. É o Imperador e o Hierofante que, atravessando o Abismo, necessariamente partilha da grosseria da Dualidade. O mais provável é que por “Amor” ele queira dizer Atu VI, Os Amantes. Cf. AL i 41, e os Comentários ali.

59. Portanto é a Águia unida ao Homem, e a forca de infâmia dança com o fruto do justo.

O resultado é que os símbolos de Realeza e de Espiritualidade são agora equivalentes àqueles da vida plástica (♒ e ♏) e manifestação vibratória. A força é encontrada no Atu XII, מ, 40, Água (Veja-se verso 55) ; nela está pendurado, isto é, livre da terra, movendo-se alegremente (dança) o homem manifestado ou estendido (Atu VIII, ל, 30, ♎: a forma positiva ou expressada do Atu 0, א; Aleph e Lamed são a Chave de CCXX) .

Novamente parece-nos que está explicação é desnecessariamente complexa. A Águia (referida a Escorpião) e o Homem são os dois poderes femininos da Esfinge. Escorpião é referido a BABALON, Aquarius a NUIT (veja Liber V). Estes dois são unificados precisamente em Daleth, e assim o fruto do justo — o recém-nascido Magister Templi — pende pendurado da Força do Céu, como uma testemunha e uma luz para a humanidade. E ele está dependurado de cabeça para baixo, como necessita ser. Ele é, sem dúvida, o “São Pedro” do Novo Testamento, segurando as chaves do céu e inferno. Ele é também, evidentemente, o verdadeiro “Papa”, do qual os Bispos de Roma não tem sido mais que uma patética imitação. No presente Aeon, evidentemente, ele representa ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ, que é o Cristo. A Igreja Católica Romana mantém a letra dos Mistérios Menores que ela herdou dos Adeptos do oriente médio, se não o espírito. Agora ela está descartando mesmo isto. Que é como deveria ser. (Isto está sendo escrito AN LXXI, 10 de Fevereiro de 1975 e.v.).

60. Eu abaixei, Ó meu querido, às águas negras e brilhantes, e Te como uma pérola negra de valor infinito.

60-61: (Estes versos podem ser lidos como Estrofe e Antístrofe; mas antes, quando o Anjo fala, nós somos informados de é Ele falando.) As ‘águas negras brilhantes’ são as do Akasha, o mênstruo de manifestação; a Pérola é a simétrica, redonda perfeição do Anjo, o qual é assim um símbolo tangível da Amorfia de Nuit. (Quanto à ‘negra’, vede novamente Cap. I, vv. 18-20.)

61. Eu desci, Ó meu Deus, ao abismo do todo, e eu Te encontrei lá no meio sob o disfarce de Nada.

62. Mas como Tu és o Último, Tu és também o Próximo, e como o Próximo eu Te revelo à multidão.

Se bem que assim ultimal, o Anjo está também em íntimo contato com o homem. Isto explica a política de 666, revelada no resto do parágrafo.

Durante sua peregrinação na China, Crowley atingiu a recordação de suas encarnações passadas e definiu sua Vontade Mágica, ou Grande Obra, como conduzir a humanidade ao próximo passo em sua evolução espiritual, isto é: a obtenção do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.

Consulte os Diários da China, onde Perdurabo meditou, após uma queda que ele não se feriu, sobre o fato de que ele tinha escapado por um fio toda a sua vida, e portanto deveria ser inútil; e ele decidiu ensinar aos homens o próximo passo, que ele chamou, para deixar claro que ele não tinha nenhuma implicação teológica em mente, o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.

63. Aqueles que sempre Te desejam Te obterão, mesmo no Fim do  seu Desejo.

O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião representa a suprema necessidade, e sua consecução coincide com a destruição final do Desejo (no sentido que os budistas dão a esta palavra.)

64. Glorioso, glorioso, glorioso Tu és, Ó meu amante superno, Ó Ser do meu ser.

65. Pois eu Te achei igualmente no Mim e no Ti; não há diferença, Ó meu belo, Ó meu Desejável! No Um e no Muitos eu Te encontrei; sim, eu Te encontrei.

64-65: O capítulo termina em um desabafo de exaltação lírica. “Todo número é infinito; não há diferença.” AL I. 22 “Portanto agora vós me conheceis por meu nome Nuit, e ele por um nome secreto que Eu lhe darei quando afinal ele me conhecer. Desde que Eu sou o Espaço Infinito, e as Infinitas Estrelas dali, fazei assim também. Nada amarreis! Que não haja diferença feita entre vós entre qualquer coisa e qualquer outra coisa; pois daí vem dor.” O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião dissolve todo pensamento na identidade da insignificância. Ele existe igualmente na Unidade de Ra-Hoor-Khuit e em todo e qualquer detalhe de manifestação fenomênica.

Verdade, mas omitiu o ponto. “Eu te achei igualmente no Mim e no Ti”, isto é, o mais alto caso M e T, os Eus Supernos envolvidos são idênticos, são um, não, são nenhum. Acima do Abismo não há nenhuma diferença; abaixo, há profusão de diferença. Mas não é isto que se quer dizer pelo verso, de qualquer forma. Coisas não são Reis, ou melhor, Reis são casos especiais de coisas... Cf. AL i 45, 48, 52 e os Comentários ali.

O Muito é em um senso Dispersão, e outro nome para Choronzon, porque ele não é o Todo, que certamente, é perfeito. Cf. LXV iii 30-33.

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