O Quarto Capítulo

Este artigo é um capítulo de Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente Comentado por Aleister Crowley e Marcelo Ramos Motta

O Quarto Capítulo de Liber LXV comentado por Crowley & Motta.

.
Leia em 107 min.

O Quarto Capítulo

Este capítulo é atribuído ao Elemento Fogo. Trata dos raios salientes de Ideia Positiva, além de qualquer intuição; e da natureza da Vontade e da energia sexual, o aspecto dinâmico do Ente.

Estando assim além da Compreensão, sendo a Voz do Inconsciente, torna-se naturalmente impossível mesmo para o Iniciado o apreender o capítulo tal como é. O capítulo trata das Unidades Originais; e compete ao Mestre do Templo (o Adepto em Tiphereth não pode de forma alguma compreender o capítulo) a tarefa de receber, interpretar, dar nascimento e expressão consciente ao sublime gesto d’Elas.

É obvio pelo acima que 666 tem uma preferência pelo Elemento do Fogo. Isto e devido a Natureza da Estrela, e esta é uma das razões porque Ele foi escolhido para Magus de um Aeon onde Leo é um dos signos chaves. Sua tremenda capacidade de organização mental é outra, visto que ele harmoniza-lhe com Aquarius, o outro signo chave.

Outro Adepto pode ter identificado outro Capítulo mais especialmente com o Inconsciente, e produzido um tipo diferente de trabalho (LXV i 2-10). Todavia, desde que é o Aeon de Aquarius-Leo, sua preferência faz Suas palavras ainda mais úteis para nós. Em um senso, este Capítulo é um Esboço do Aeon na Consciência Humana do Iniciado.

1.   Ó coração de cristal! Eu a Serpente Te abraço; Eu enterro minha cabeça no Teu centro mais íntimo, ó Deus meu amor.

1-10: Esta seção é o Anjo falando. Ele explica Seu Conhecimento e Conversação de Seu próprio ponto de vista. A aspiração em direção a Ele é masculina. No momento de consecução, isto é substituído por passividade, tal como foi explicado em capítulos prévios. A aspiração paralela a vontade de o Anjo comungar. Mas superficialmente a vontade d’Ele é de caráter diverso. Sua natureza vai ser explicada agora.

1. Ele chama o Adepto de ‘Coração de Cristal’, sugerindo que este é uma concentração de luz, energia, amor, lucidez e pureza. É com estas qualidades do Adepto que ele se comunica. Este é o objetivo da preparação. O Adepto deve apresentar esta imagem perfeitamente antes que o Conhecimento e Conversação possa operar. Isto é, purificação e consagração devem preceder invocação. É extremamente difícil mesmo paro o Mestre do Templo, mesmo após anos de contemplação, firmar em seu consciente a percepção de que parte material dele não é mais “ele” que qualquer outra coleção de fenômenos. O Anjo Se descreve como Serpente. A serpente, é claro, o símbolo de sabedoria, imortalidade, realeza e outras semelhantes qualidades. O Anjo não só se enrola em volta do coração do Adepto como também mergulha sua cabeça ao centro deste coração. Ele chama o Adepto de ‘Deus meu amor’; naturalmente, uma entidade de tal ordem de existência já assinalou há muito tempo a verdade do Panteísmo.

O Anjo identifica a Si Mesmo com Kundalini, isto é, com a vital-fogosa-força-espiritual do linga-sharira, e ativa esta força ao nível ao Hadit se torna manifesta em Seu cargo: “Eu enterro minha cabeça no Teu centro mais íntimo”. É novamente aquele fenômeno de ressonância do qual nós temos falados antes. Os estudantes sérios se lembrarão, certamente, que Kundalini é uma força feminina para os Hindus. Nu e Hu são complementais e existem um no outro.

2.   Mesmo qual nos ressoantes altos varridos de vento e Mytilene alguma mulher como deusa põe de lado a lira e, seus cabelos flamejando qual auréola, mergulha no líquido coração da criação, assim Eu, Ó Senhor meu Deus!

A referência é a Safo, a qual amava o Sol, e se atirou ao mar para alcançá-lo. Ela é aqui o símbolo do Anjo representado pelo Caminho de Gimel, onde está a ‘Grã Sacerdotisa’. Este caminho liga Macroprosopo (Kether) e Microprosopo (Tiphereth), a divindade suprema e sua manifestação humana. O Sol é atribuído a Tiphereth, e assim simboliza o Adepto. O Anjo pensa-Se ‘mergulhado no líquido coração da criação’, isto é, a reflexão na matéria do Verdadeiro Ser do Adepto que Ele ama.

3.   Há uma beleza indizível neste coração de corrupção, onde as flores flamejam.

O Anjo acha beleza neste ‘coração de corrupção’. Por esta imagem Ele quer significar a vida de mutabilidade. ‘As flores flamejam’: Fenômenos florescem e incendeiam, isto é, tocam.

4.   Ah me! mas a sede de Tua alegria resseca esta garganta, de modo que Eu não posso cantar.

A intensidade da paixão do Anjo é tão grande que Ele não a pode exprimir, nem mesmo em música. O bote é aqui o símbolo da consciência, tal como no Capítulo II, vv. 7-16. A língua é o Logos do Anjo, e os rios desconhecidos novas esferas de pensamento. O eterno sal é o sofrimento que tinge o Grande Mar de Binah, e ele espera pelo método acima transcender o Trance de Sofrimento no que se refere a todas estas possibilidades.

5.   Eu me farei um botezinho de minha língua, e explorarei os rios desconhecidos. Pode ser que o eterno sal vire doçura, e minha vida não seja mais sedente.

Naturalmente o Anjo, como tal, já transcendeu um Trance simples como o do Sofrimento. Mas como aqui Ele identifica a Si Mesmo com o Adepto em amor, Ele partilha da situação do Amado, como todos os verdadeiros amantes fazem. Por este motivo, se não outro, o amor deve ser sob vontade, de outra forma nós saímos de nosso caminho, ou tiramos alguma outra pessoa de seu caminho. A exceção a esta regra é uma baixa forma de ser, que pode somente ser beneficiado pelo nosso amor, seja este expressado sexualmente, ou em um relacionamento de mestre e animal de estimação, ou gastronomicamente. Esta, a propósito, é a tripla relação do Anjo-Adepto. Ela paralela muito bem, evidentemente em um plano mais alto, a relação homem-cão, ou a relação homem-fêmea animal (ou vice-versa), ou a relação obesa cidadão frango frito. Ou a relação Magista-espíritos elementais, e algumas outras relações Mágicas com o mais sutil, no entanto menos evoluídas, formas de seres.

Aqui, a completa identificação com os problemas do instrumento do Adepto.

6.   Ó vós que bebeis da salmoura do vosso desejo, estais perto da loucura! Vossa tortura cresce se bebeis, e continuais bebendo. Subi pelos regatos à água fresca; eu vos esperarei com os meus beijos.

Ele se recorda do método paralelo, mas contrário dos homens de procurar satisfação no objeto do desejo. A água é o símbolo do prazer, e desejo está impregnado de sofrimento. Agir desta forma enlouquece a iludida raça dos homens. Ele os convida a ‘subir pelos regatos’, isto é, as estreitas passagens do pensamento, as correntes concentradas de pensamento que levam ao prazer puro — a ‘água fresca’. Quando os homens conseguem viajar, através da vontade controlada, até o verdadeiro puro prazer, eles O encontram esperando para administrar o Sacramento.

Regatos significa um arroio de água muito pequeno, por isso não é o pensamento que se quer simbolizar aqui, mas claras ramificações do desejo, que vem das águas frescas, e tomou a contracorrente — ‘subi pelos regatos’ — leva até ele. Que aqueles que praticam, ou melhor tentam praticar, magia sexual ponderem muito profundamente sobre este verso.

A.C. — não V.V.V.V.V.! — tinha um preconceito contra desejo, devido ao seu estudo precoce do budismo e a influência de Allan Bennet. Por isso a imediata identificação com ‘as estreitas passagens do pensamento’ negando que o desejo mesmo pudesse levar á água pura, a água fresca. A ‘água fresca’ é, evidentemente, esta ‘fonte de água viva’ que os Crististas falaram tanto, e fizeram tão pouco, a respeito.

7.  Como a pedra-bezoar que é encontrada na barriga da vaca, assim é meu amante entre os amantes.

7-8: A pedra-bezoar é uma bola composta principalmente de cabelos que representam forças estreitamente entrelaçadas. O Anjo compara o Adepto com essa pedra, vendo-o como um complexo de diversas energias. Os membros do Adepto são os instrumentos da sua atividade. O Anjo o convida a repousar na chácara, em Sua companhia. A chácara é o local onde os processos naturais culminaram em frutificação. A relva fresca parece ser um símbolo da vida vegetativa, e o Anjo propõe usar esta sempre verdejante frescura da Natureza como o campo do regozijo e da nutrição. Ele chama os escravos, isto é, os instrumentos de ação, controlados e postos em uso, para que tragam vinho, isto é, fornecem os meios para o êxtase, pois Ele deseja que o Adepto se inflame de êxtase e manifeste o calor desse êxtase em sua face, isto é, sua consciência externa.

Isto está relacionado com ‘subi pelos regatos à água fresca’: ele descreve os resultados — ou alguns dos resultados — de ter subido. A imagem da ‘pedra-bezoar’ é extremamente importante a todos que desejam alcançar o Adeptado. Pois, evidentemente, o Adepto é esta: um complexo de fluxos de energias integrados e harmonizados em torno de um núcleo central. (A analogia com o assim chamado “átomo” é óbvia.).

8.   Ó menino de mel! Traz-me aqui Teus membros frescos! Sentemo-nos por um pouco na chácara, até o sol descer! Festejemos sobre a relva fresca. Trazei vinho, vós escravos, para que as bochechas do meu menino se enrubesçam.

‘Menino de mel’ é um símbolo equivalente àquele da ‘pedra bezoar’, ou melhor, eles complementam um ao outro estritamente. Estudantes sérios são referidos a Livro Quatro, Parte III, página 182, do terceiro parágrafo até o fim da seção.

9.   No jardim de imortais beijos, Ó tu brilhante, resplandece! Faz de Tua boca uma papoula, que um beijo é a chave do sono infinito e lúcido, o sono de Shi-loh-am.

Um jardim geralmente simboliza um lugar onde a beleza é cultivada; os poetas orientais usam a palavra para expressar uma coleção de poemas ou ditados. Os beijos imortais são os sinais da operação são os sinais da operação do ‘amor sob vontade’, a qual é perpétua. O Anjo chama o Adepto para que demonstre seu brilho como se Conhecimento e Conversação fosse um sacramento além daquilo implica do em todos os atos. A papoula é um símbolo de paz, exaltação e deleite, a doadora do sono, pelo qual é significado o silenciamento de todas as distrações possíveis. A boca do Adepto, o órgão através do qual ele é nutrido, expressa seus pensamentos e simboliza a sua paixão; pelo beijo desta boca é significado seu abandono ao Anjo, o ato de casamento, e esta é a chave do sono infinito e lúcido. Sono foi explicado acima. É infinito, sendo livre da limitação de condições, e lúcido, sendo caracterizado por pura visão.

Shi-loh-am: a palavra significa paz.

ש =Fogo,
ל = ♎,
מ = Água:
✡.

As pessoas estão tão acostumadas a ler sobre ocultismo, e encontrar a mais despropositadas asserções pendendo a nada em face do comportamento ou a ineficiência do escritor sobre “grandes mistérios” e “métodos transcendentais” e “avatares iluminados” que eles tendem a descontar tudo. Que seja declaro então que nada que a A∴A∴ escreve é ilusão: tudo pode ser testado por você mesmo, e você pode ser sua própria testemunha. Este escritor tem experimentado o Conhecimento e Conversação de seu Anjo; este escritor experimentou o Sono de Shi-loh-am; este escritor atravessou o Abismo e este escritor se tornou um Magister Templi seguindo a disciplina e as regras da A∴A∴. não há uma palavra em “Uma Estrela a Vista” (Livro Quatro, Parte III, pp. 229-244), o Manifesto da A∴A∴, que seja uma mentira ou exageração: Nosso método é aquele da Ciência e nossos experimentos podem ser verificados por aqueles bravos o suficiente, persistentes o suficiente, e sinceros o suficientes para querer testa-los e a Nós.

10. Em meu sono Eu contemplei o Universo como um cristal límpido sem mancha.

O Anjo explica que em seu sono (no repousante êxtase do amor, poder-se-ia mesmo dizer no orgasmo do amor; a referência é ao particular Samadhi da consecução do C. & C. do Sagrado Anjo Guardião) ele obteve a visão do Universo como fenômeno contínuo e imaculado. Isto é implicitamente contratado com o efeito do mesmo ato sobre o Adepto, para o qual significa simplesmente União com a Divindade. O Anjo encontrou perfeição em seu próprio Adepto: isto completa a Perfeição.

11. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e tagarelam de seus feitos de bebedores de vinho.

11-14: Agora fala o Adepto, ou antes, fala o Mestre do Templo.

11. A taverna é o templo de intoxicação espiritual. Do lado de fora estão os Irmãos Negros, vangloriando-se de suas próprias consecuções.

A expressão “irmão negro” é, infelizmente, desorientadora. Ela é usada por nós simplesmente porque não há nenhuma outra palavra existente para descrever o estado parapsicológico de uma pessoa que sofre esta síndrome particular tão mal descrita por esse nome. (Aí está, existe a Escola Negra de Magia, que não tem nada haver com estes “irmãos negros”.) Eles são também algumas vezes chamados “irmãos do caminho da esquerda”, que é ainda mais desorientador. Os “irmãos do caminho da esquerda” eram os Tântricos, que usavam mulheres em seus ritos, ativando o caminho da esquerda na coluna vertebral. Eles eram piamente descritos no Tibete e Índia pelos “irmãos do caminho da direita”, isto é, aqueles que seguiam o caminho da pederastia (fingindo, como os padres e monges e freiras Romanos, se absterem) em seus ritos. De gustibus non est disputandum, mas os pedantes disputarão qualquer forma. (Cf. AL i 57.)

Os leitores deveriam portanto evitar apegar a qualquer ideia de imputação racial (a Escola Negra de Magia está conectada com a origem racial da mesma cor, mas não o “irmão negro”, que pode ser de qualquer cor de pele, e a maioria das vezes são brancos) ou de métodos místicos para a ideia dos “irmãos negros”. É de ser esperado que durante este Aeon de Hórus, com o aumento da percepção, um nome clínico será encontrado para está condição parapsicopatológica que não evocará falsas associações para a mente. Na verdade, os mais negros são os mais brilhantes! Cf. LXV i 18-22 e os Comentários ali.

12. Existem ricaços vaidosos sem vintém que ficam à porta da taverna e insultam os hospedes.

Eles são vaidosos de sua riqueza, isto é, egoístas e mesquinhos, no entanto sem vintém, isto é, suas consecuções são sem valor. Também, eles insultam os que alcançaram o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião: o Irmão Negro, a despeito de toda a sua arrogância, sabe (como Kinglisor) qual é a sua verdadeira condição, e portanto ele blasfema a Loja Branca.

A.C. considerava a “Loja Negra” simplesmente uma corrupção da Escola Branca de Magia. Nós estamos inclinados a fazer a associação um pouco mais extensa que isso, mas cada Adepto deve decidir sobre esta questão por sua própria experiência.

13. Os hóspedes brincam sobre sofás de madrepérola no jardim; o barulho dos homens tolos está escondido deles.

Os sofás simbolizam o repouso. A madrepérola é a opalescência dos fenômenos quando são observados pelo Iniciado (compare-se o simbolismo do Arco-Íris) . Note-se que os hóspedes estão no jardim, não na taverna. Isto pode significar que eles passaram além do estágio em que o é único a um estágio tal como descrito nos vv. 8 e 9. Os homens tolos: veja-se Cap. III, v. 57. O barulho é um símbolo de distração e falta de harmonia. Está ‘escondido deles’ — uma frase mais enfática do que ‘não é ouvido por eles’.

14. Apenas o taverneiro teme que o favor do rei lhe seja retirado.

O taverneiro é o Guardião dos Mistérios, e o rei a autoridade pela qual as vidas dos homens são governadas. É o dever do taverneiro não só proteger os hóspedes da malícia dos Irmãos Negros, mas também impedir que essa malícia profane o sacramento. (Levi tem uma passagem sobre este ponto. Ele diz que quando o Arcano foi divulgado na época da Revolução Francesa, tornou-se impossível pô-lo em prática. Os Adeptos consequentemente brigaram entre si, e o resultado foi caos. Nós não devemos supor que isto seja apenas uma mera parte do assunto do voto de sigilo. Nem implica em dizer que a publicação dos métodos de consecução leva ao desastre. Foi simplesmente o quarto poder da Esfinge que, de algum modo, foi perdido.) Parece estranho que o Magister, em meio a seu êxtase, com as palavras de seu Anjo ainda lhe soando aos ouvidos, não encontrasse algo menos incôngruo a replicar. A dificuldade é explicada facilmente. Por um lado, seu êxtase é inefável. Por outro lado, é perfeito, de forma que não pode falar dele. Em terceiro lugar, ele percebe que parte do preço de sua consecução é a sua responsabilidade como Guardião dos Mistérios. Ele, portanto chama a atenção do Anjo para aquilo que poderíamos descrever como situação política.

Sobre a questão de Levi, e o voto de sigilo, e a revelação de arcano: o verdadeiro arcano não pode ser divulgado, porque a percepção deles dependem de vivencia-los, experimentando-os, seus problemas, suas tecnicidades, o sucesso e a falha na aplicação deles, que vem somente com uma longa prática. Veja LXV v 48-57. A velha O.T.O. fez um grande alarido sobre o simples fato da magia sexual, conhecida por todo o Distante Oriente por séculos, e escreveu com maiúsculas sobre ele no Ocidente ignorante. Quando Aleister Crowley descobriu o “segredo” pelo seu próprio gênio (e sua Memória Mágica) e o publicou abertamente (como verdadeiros cientistas fazem sobre suas descobertas) , o Cabeça Externa da O.T.O. veio correndo da Alemanha e tentou convence-lo a tomar o “voto de sigilo” da O.T.O.. Crowley, que quando jovem não podia resistir a um título, se deixou seduzir. Quando ele se arrependeu, anos mais tarde, ele já estava preso. Tornou-se necessário, portanto, reorganizar a O.T.O. de acordo com os princípios Thelêmicos. A fim de que isso pudesse ser feito, rituais e “segredos” têm sido abertamente publicados por instrumentos dos “irmãos negros”, que pensam, muito ingenuamente como de costume, que eles estão “destruindo” a Ordem. Todo mundo com o mínimo grau de inteligência e uma módica cultura é capaz agora de perceber qual era o “segredo do IXº”, e alguns são estúpidos o suficiente (um deles até gosta de passar a si mesmo por Cabeça Externa, tendo sido expulso do Santuário por indisciplina muitos anos atrás!) para acreditar que eles conhecem o “segredo do XIº”. Na realidade, estes indivíduos que tentam o “segredo” na prática não são, como regra, mesmo capazes de “bebendo danação a eles mesmos”. Não é suficiente saber que quando você puxar o gatilho de uma arma ele dispara; é ainda necessário estar certo de que a arma está em boas condições, propriamente carregada, e saber onde, quando, e como mirar.

O que aconteceu na época da Revolução Francesa foi que a teoria do arcano (qualquer que fosse o arcano na época) foi dada abertamente, mas a prática do arcano nos níveis mais baixos se tornou embaraçado pela interferência telepática da multidão de falsos Adeptos clamando por esta ou aquela bugiganga que eles confundiam com a joia do Santuário. O Quarto Poder da Esfinge não tinha sido perdido, ou mesmo diminuído, desde que os Adeptos responsáveis por aquela Revolução, que foi a mãe de toda nação existente no presente Hemisfério Ocidental, e de muitas existentes no Oriental, não somente exerceram o poder deles, mas também trabalharam terrível e habilidosamente através do pesadelo de sangue e loucura. Cagliostro e “San Germain”, entre outros, apesar de que “San Germain” está agora completamente morto, somente trabalhou na preparação, enquanto Cagliostro foi completamente responsável, com seu Mestre “Althotas”, pela conflagração mesma.

15. Assim falou o Magister V.V.V.V.V. a Adonai seu Deus, enquanto eles brincavam juntos à luz das estrelas de encontro à profunda poça negra que está no Lugar Santo da Casa Santa sob o Altar do Santíssimo.

15-21: A peculiaridade acima mencionada do diálogo prévio é o assunto de parte desta passagem. De modo geral, ela discute a questão das relações entre certos poderes da Natureza.

15: As circunstâncias do diálogo são cuidadosamente explicadas. Ele é o Mestre do Templo, V.V.V.V.V., não o mero Adepto que simplesmente conseguiu união. O Anjo é ainda mais especificamente identificado com o símbolo de Adonai. Eles estão brincando juntos, isto é, em comunhão consciente; a luz das estrelas, isto é, na presença de Nuit; e o lugar onde se encontram é a ‘profunda poça negra’ simbólica de Binah, a esfera do sofrimento da Maternidade, o lugar de concepção e a habitação da Compreensão. O lugar Santo é as três primeiras Sephiroth, isto é, acima do Abismo. A casa santa é a Árvore da Vida. E o Altar do Santíssimo é Kether.

16. Mas Adonai riu, e brincou mais lânguido.

Adonai replica à passagem vv. 11-14 simplesmente mudando o ritmo de sua música para uma medida mais lânguida. Desta forma ele indica que não dá razão para pressa ou ansiedade.

17. Então o escriba tomou nota, e alegrou-se. Mas Adonai não tinha medo do Mago e seu brinquedo. Pois foi Adonai quem ensinou ao Mago todos os seus truques.

O escriba é o ser humano consciente encarregado de anunciar estes assuntos; ele compreende que tudo está bem. O Mago é o Atu I, Mayan (ver Cap. II, v. 58 e as referencias em Liber 418). O Anjo não receia que as forças da ilusão possam jamais interferir com a Grande Obra. Ele é, em si mesmo, Macroprosopo. Esta frase necessita de explicação. Exatamente como um homem aspira ao Conhecimento e Conversação do seu S.A.G. e o consegue, assim também o Anjo aspira à “ultimal unidade demonstrada”; pois sua posição é o Caminho de Gimel. Em sua consecução, portanto, ele atingiu Kether, de que sai não somente o seu próprio Caminho de Gimel (levando a Tiphereth) mas também aquele de Beth (levando a Binah) . Para compreendermos bem a completa natureza de Binah, nós devemos manter este ponto em mente. O Sofrimento relacionado com a ideia desta e Sephirah deve-se ao fato de que ela é o recipiente da ilusão original. Não existe sofrimento na outra corrente, o Caminho de Daleth, através do qual o senhor dela comunica sua essência.

O “senhor” de Binah é Chokmah.

Nesta explicação cabalística ocorre uma confusão muito sutil entre o Anjo que está crescendo, o Bebê do Abismo, no interior do Adepto, e o Santo Anjo guardião mesmo. O S.A.G. não está em Gimel; Gimel apenas representa o Caminho que conecta Kether diretamente a Tiphereth. É natural que o Anjo deveria ali manifestar a vibração Dele, Dela, Its, acelerando as percepções do Adepto até que este seja capaz de incandescer sua própria luz, mas o Anjo está igualmente em todos os caminhos da Árvore, em toda Sephirah, e Ele-Ela-It é identificado, ou melhor, identifica ele mesmo-ela mesma-itself com a Trindade Heru-ra-ha — Nuit — Hadit logo no começo de LXV.

O Mestre do Templo, eventualmente, se tornará um S.A.G. Ele mesmo (veja O Mundo Desperto em KONX OM PAX), mas ele, como um ser humano, quem aspira a ‘unidade ultimal demonstrada’ (Heru-ra-ha) . O Anjo, sendo pelo menos um Ipsissimus, já é identificado a essa Essência em sua Própria Essência, apesar de diferente em manifestação. É inútil para nós tenta explicar mais claramente o que não pode ser expresso claramente através do intelecto. Nós referimos os leitores mais uma vez a AL i 45 e AL i 52.

Deve ser mantido em mente que a Qabalah é um engenhoso e em uma grande extensão altamente eficiente tentativa para criar um conjunto de símbolos capaz de transmitir informação Neschâmica (movimentos de Buddhi) através de Ruach (Manas). Suas letras e números não são coisas em si mesmas; nós tendemos a pensar neles como tal por causa de nossa longa familiaridade no uso deles, mas nós devemos evitar esta cilada, que é a cilada da teologia. Aí perece a esmagadora maioria de cabalistas judeus. É o mundéu chamado Porque em AL ii 27. A materialização dos símbolos tem sempre sido o nascimento da religião (e consequente fanatismo) e a morte da teurgia.

O sofrimento conectado com a ideia de Binah existe somente para aqueles que estão no aperto da ‘velha serpente’ do Cap. III 4-20. Eles lamentam a perda do desejo, mas este é um desejo animal. Binah é descrita de duas formas, como um deserto cheio de rochas e montanhas nuas, ou como um mar negro. Somente aqueles que se tornam verdadeiros humanos ousam viver ali. Cf. LXV v 60-63.

18. E o Magister entrou no jogo do Mago. Quando o Mago ria, ele ria; tudo como deve um homem fazer.

O Magister, cuja habitação é Binah, agora usa a ilusão mesma como um meio de prazer. Ele procede naturalmente, como  uma criança, sem receio de que possa haver alguma significação sinistra nas operações da Natureza.

Ele segue o Caminho do Tao, isto é, ele vive de acordo com AL i 44. Para entender isto é necessário estudar Liber II e praticar Liber NV.

Uma palavra sobre o Mago. O “irmão negro” gostaria de alcançar Chokmah sem ter que passar por Binah; eles gostariam de controlar o poder sem a rendição do ser. O Magus do Aeon , portanto se manifesta no caminho de Beth na consciência deles e, como está escrito, confunde o entendimento deles. Esta operação é puramente automática. O Magus está exercendo seu poder de fazer sua Vontade, isto é, vibrando sua Palavra. Se os “irmãos negros” nadassem com a maré, a Palavra seria um sinal luminoso para guiá-los a Aniquilação — Binah. Ao rebelarem, eles criam contracorrente em suas próprias consciências. Eles se tornam incapazes de compreensão espiritual, porque o caminho de Beth neles vibra desarmoniosamente, se virando contra a Palavra do Magus. Assim Ele então emite Ilusão e Falsidade para escravizar suas almas. É Sua Maldição. Ele preferiria explicar as coisas a eles gentilmente, e Ele explica; mas eles não escutarão, e como um resultado as palavras são transformadas na consciência deles na imagem de sua própria cobiça mais íntima — que é também o medo mais íntimo deles. O Ahamkara trabalha assim.

O mesmo mecanismo funciona com seres humanos comuns em toda parte, mas não tão intensamente. Para escapar da escravidão do Mago é suficiente fazer sua Verdadeira Vontade. É tão simples assim. E tão difícil!...Pois os escravos não farão suas vontades; eles não sabem como querer. Cf. VIII vii 36-39.

19. E Adonai disse: Tu estás enredado na teia do Mago. Isto ele disse sutilmente, para prová-lo.

Para prová-lo, o Anjo sugere que o prazer dele na ilusão é idêntico ao prazer do profano.

20. Mas o Magister deu o sinal do Magistério e riu-Lhe: Ó Senhor, Ó bem-amado, relaxaram-se estes dedos nos anéis dos Teus cabelos, ou desviaram-se estes olhos do Teu olho?

O Magister replica que, se bem que aparentemente usufruindo as coisas boas da vida (por assim dizer), ele nunca por um instante esqueceu que está usufruindo o amor de seu Anjo. Nem por ação dos dedos que seguram os anéis ou energias espirais do Anjo, nem por perda de concentração sobre o olho (símbolo de visão, de energia criadora, de unidade, etc. Veja-se também o ‘Olho de Hórus’) de seu amante, ele caiu do cume de seu Samadhi. O Magister é assim mostrado como perfeitamente iniciado; ele abraçou deliberadamente a ilusão que é a fonte de todo sofrimento, e a tornou parte integral da Grande Obra. Não havendo outra direção de onde o infortúnio o possa tocar, desde que ele é protegido pelos Guardiões do Abismo da interferência dos Caminhos de Zayin e Cheth, ele está de agora em diante imune. 

Isto não significa que o Magister não pode falhar; significa que ele não falhará com estas faltas. Similarmente, uma vez uma criança aprenda a andar, ela não poderá falhar em aprender a andar, ela está livre dos problemas de uma criança que não sabe como andar. Isto não significa que a criança não pode se tornar incapaz de andar por alguma razão. Mas está razão será alheia a sua recentemente adquirida faculdade de andar.

Impossibilidade de falha significa inevitabilidade de sucesso, implica tédio. “É pura chance que rege o Universo; por isso, somente por isso, a vida é interessante”.

21. E Adonai deleitou-se extremamente nele.

22. Sim, Ó meu mestre, tu és o amado do Bem-Amado; a Ave Bennu não está posta em Philae em vão.

A Ave Bennu refere-se às correntes e subcorrentes iniciadas pela A∴A∴ aproximadamente cada 600 anos, isto é, duas vezes no curso de cada Aeon.

ΨΧ-1900Aiwass, ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ
15 - 1600Dee e Kelly, Christian Rosencreutz, Lutero, Paracelso 1490-1541.
9-1000 
6-700Maomé.
3-400 
0Apolônio de Tiana
B.X. 300Gautama Buda.

NOTA: Escala de Tempo — imagens resolvidas dilatada apresentação. Pernas de cavalo de corrida. ‘n’ é uma série de ‘m’ acontecimentos, nenhum dos quais sugere ‘n’. Cf. grifos de A, soletração de palavras, etc. Portanto não é medida da realidade (LXV I, 32 e seg.). Philae é uma ilha do Nilo, agora submergida pelo industrialismo, famosa por seu Templo de Ahathoor.

Em Liber VII, 27, a Ave Bennu é definitivamente identificada com a Fênix — ou Set o Asno Selvagem — através do simbolismo da Baqueta de Segundo Adeptus Minor da R.R. et A.C.

O texto confirma a Missão de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ 666 9°=2▫ A∴A∴ como Logos do Aeon. Quem fala parece ser o escriba, isto é, o indivíduo Aleister Crowley através do qual estas energias 666 etc. se manifestam. Ele se regozija da Consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião.

O resto deste capítulo trata em grande parte da relação deste escriba com o Adepto e o Anjo que coroam a sua personalidade. Os versos seguintes descrevem o Equinócio dos Deuses e a Consecução do Sagrado Anjo Guardião. Eles indicam o efeito de tais acontecimentos sobre o indivíduo; pois este capítulo refere-se ao Elemento Fogo, o Deus de Tetragrammaton, isto é, à essência da personalidade do homem em questão qual homem. O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião representa a descida do Elemento Espírito no ser desse homem, de acordo com a fórmula regular da formação do Pentagrama IHShVH de IHVH. A dificuldade principal de interpretação está na complicação introduzida pelo Equinócio dos Deuses.

22-27 descreve este Evento.
28-29 descreve o estado do escriba.
30-32 descreve a preparação do escriba para a sua Consecução.
33-37 descreve o umbral da Iniciação dele.
38-41 descreve a Iniciação mesma.
42-44 descreve a Compreensão dada por essa Iniciação das relações necessárias entre o Espírito e a Matéria.
45-53 descreve os resultados da Iniciação.
54-56 liga a Consecução ao Equinócio dos Deuses.
57-60 responde à pergunta assim proposta.
61-65 uma profecia quanto ao futuro do escriba, as circunstâncias em que ele chegará à Perfeição de sua Consecução.

Os leitores podem perguntar por que prestar tanta atenção a realização pessoal de Aleister Crowley? A explicação está em LXV i 33-40 e nos Comentários. O que em certo plano é a Iniciação do Adepto, em outro plano é seu efeito sobre a humanidade. 666 sendo o Cristo do Aeon de Hórus, a importância de sua iniciação em geral se torna evidente.

23. Eu que fui a sacerdotisa de Ahathoor regozijo-me no vosso amor. Ergue-te, Ó Deus-Nilo, e devora o lugar Santo da Vaca do Céu! Que o leite das estrelas seja bebido por Sebek o habitante do Nilo!

O escriba recorda de sua encarnação como uma sacerdotisa de Ahathoor deusa do Amor e da Beleza. Ele chama as forças do Nilo e de Sebek, o crocodilo que ali vive. Elas devem terminar com o Regime da Mãe (Aeon de Isis).

Isto está incorreto. O verso, e o seguinte, indica a corrente Mágica trabalhando na passagem do último Aeon para o presente Aeon., começando com a recordação da presente situação de Philae (foi posta em perigo por Aswan Dam) . Os leitores deveriam ter uma consideração particular pela posição e função de Apep, que somente se manifesta durante transições.

24. Levanta-te, Ó serpente Apep, Tu és Adonai o bem-amado! Tu és meu querido e meu senhor, e Teu veneno é mais doce que os beijos de Isis a mãe dos Deuses!

Apófis substitui Isis.

Não é isso. O veneno ou “mal” da Força Destrutiva mostra mais poder do que todas as forças que eram supostas beneficentes e estáveis, em particular aquela que nós chamamos a Mãe. Da mesma forma Sebek se mostra mais poderoso que todos os deuses “bons”, em particular Osíris, de quem ele é inimigo. Em resumo, quando é tempo de transição, a mudança é catastrófica, em todas as aparições; os “poderes do mal” — cuja a mentalidade burguesa através das idades sempre equiparou com a mudança, é ainda mais forte na mentalidade rústica — de repente se provam mais poderosos que as “forças do bem”. Todas as palavras e sinais que “baniam” ou “restringiam” se tornaram inoperantes. Para a mentalidade teológica, como para o burguês e a mentalidade rústica, isto significa Caos.

25. Pois Tu és Ele! Sim, Tu engolirás  Asi e Asar e os filhos de Ptah. Tu vomitarás uma enxurrada de veneno para destruir os trabalhos do Mago. Somente o Destruidor Te devorará; Tu lhe enegrecerás a garganta, onde seu espírito habita. Ah, serpente Apep, mas Eu Te amo!

AIWASS (identificado com o Sagrado Anjo Guardião de Aleister Crowley) destruirá as fórmulas de Isis e Osíris (Aeon do Deus Sacrificado). Não existe Aeon de Apófis; sua função é sempre destruir. Agora o Destruidor devorará a Destruição mesma. Há aqui uma referência à lenda de Shiva, que bebeu o veneno formado pelo batimento do “Leite das Estrelas” ou manifestação da Existência Fenomenal. Sua garganta fica negra (ou azul índigo) como resultado. Aiwass assim virou Apófis contra si próprio, para abrir caminho ao Aeon de Hórus, a Criança Coroada e Conquistadora. Apep é amado; isto é, desaparece em êxtase à carícia de Aiwass, a ‘pujante serpente’ do verso 26 (a garganta é o local do Elemento do Espírito — o Akasha habita no Cakkram Visuddhi). O significado é que a fórmula dada por Aiwass destrói a ideia da Destruição como tal. O que até agora era chamado ‘Morte’, o método de ressurreição da Fórmula de Osíris IAO, deve ser compreendido de agora em diante como ‘amor sob vontade’.

Isso é, como Mudança (veja Pequenos Ensaios sobre o Amor) . Há varias incorreções no parágrafo acima. O verso identifica Apep com Ele, o Deus Reconhecido, Ra, de quem todos os outros deuses são meramente vice-reis através dos Aeons. (Isto não significa que Apep é o Deus Desconhecido; significa que esta força aparentemente maligna — Apep era temido pelos Egípcios como o “diabo” foi temido pelos Crististas — é também uma força divina, também partilha da Essência de Ra. Esta é a explanação de seu repentino poder para derrotar todos os outros deuses). O escriba compreende isso, e ama Apep, identificando-lhe, corretamente, com seu próprio S.A.G. (Cf. LXV iii 30-31) De todos os deuses ‘atacados’ pelo veneno “Maligno” somente Shiva, o destruidor, sobreviverá ao ataque; mas sua garganta será ‘enegrecida’ pela influencia do veneno de Apep. Isto quer dizer, evidentemente, que Shiva é uma das influencias que dominará no Aeon de Hórus (Cf. o Nome Espiritual de Aleister Crowley na Tradição Hindu, como dado em Oito Lições Sobre Yoga); mas o poder deste membro da Trimurti — este Sanatanas — será influenciado pelo Nosso conceito do Elemento do Espírito, que como tolos Barhmins e Yoguis sabem, é o conceito original de sua Tradição, mas que por preguiça, ou medo, ou malícia, eles tem modificado nos últimos séculos. Cf. LXV i 12-19.

26. Meu Deus! Que Tua presa secreta penetre até o tutano do ossinho secreto que eu guardei para o Dia de Vingança de Hoor-Ra. Que Kheph-Ra zumba com seus élitros! que os chacais de Dia e Noite uivem na imensidão do Tempo! que as Torres do Universo tremam, e os guardiões fujam correndo! Pois meu Senhor revelou-se como uma serpente pujante, e meu coração é o sangue do Seu Corpo.

Este Dia de Vingança é o Aeon de Hórus — começando com o Equinócio de Primavera (L.N.) de 1904 e.v. (Note-se CCXX, iii, 3 e ΑΛΑCΤΩΡ o Vingador.). O ‘ossinho secreto’ é encontrado no Falo do Urso (Hebreu דב = 6) . Isto é um fato de anatomia. A natureza deste animal — que é de grande importância na Alquimia — pode ser estudada no Asch Metzareph. O Urso é simbólico de parte de ΤΟ ΜΕΓΑ ΘΗΡΙΟΝ 666 de acordo com a descrição d’Ele dada no Apocalipse:

Eu vi uma besta levantar-se do mar, tendo sete cabeças e dez chifres, e sobre seus chifres dez coroas, e sobre as suas cabeças o nome de blasfêmia.

E a besta que eu vi era como um leopardo, e seus pés eram como os pés de urso, e sua boca como a boca de um leão: e o dragão deu-lhe o seu poder e seu trono com grande autoridade.

E eu vi uma de suas cabeças com uma ferida de morte; e esta ferida mortal foi curada: e a terra inteira maravilhou-se com a besta.

E eles adoraram o dragão que deu poder à besta; e eles adoraram a besta, dizendo: Quem é como a besta? Quem pode fazer-lhe guerra?

E foi-lhe dada uma boca dizendo grandes coisas e blasfêmias; e foi-lhe dado poder para continuar durante 42 meses.

E ele abriu sua boca em blasfêmia contra Deus, para blasfemar seu nome, e seu tabernáculo, e aqueles que estão no céu.

E foi-lhe dado poder para fazer guerra aos santos, e conquistá-los; e foi-lhe dado poder sobre todas as raças e linguagens e nações. E todos que vivem sobre a terra o adorarão, cujos nomes não estão no livro de vida do cordeiro morto desde a fundação do mundo.

Se alguém tiver ouvidos que ouça. Aquele que leva ao cativeiro cairá em cativeiro; aquele que mata com espada deverá ser morto com espada. Eis aqui a paciência e a fé dos santos.

E eu vi outra besta surgindo da terra: e ele tinha dois chifres como um carneiro, e falava como um dragão.

E ele exerce todo o poder da primeira besta antes dele, e faz com que a terra e todos que ali habitam adorem a primeira besta, cuja ferida mortal foi curada.

E ele faz grandes maravilhas, e faz com que fogo caia do céu à terra à vista dos homens.

E ele engana aqueles que vivem sobre a terra com estes milagres que ele tem poder de fazer sobre a vista da besta; dizendo àqueles que vivem na terra que eles devem fazer uma imagem da besta, que foi ferida pela espada, e no entanto viveu.

E ele tinha poder para dar vida à imagem da besta, para que a imagem da besta pudesse falar e pudesse matar todos que não adoram a imagem da besta.

E ele faz com que todos, tanto os poderosos quanto os humildes, tanto os ricos quanto os pobres, tanto os livres quanto os escravos, recebam uma marca na mão direita ou na testa.

(Apocalipse, Cap. XIII).

Nós copiamos este exemplo de tolice porque ele é parte do comentário original de A.C.. No entanto, nós referimos os estudantes a Liber 418 para informações sobre a natureza das “Revelações” e a importância de seu conteúdo, que é mínima. A.C. foi tão obcecado por esse pedaço de lixo que ele preparou certas regras e procedimentos para a O.T.O. para cumprir partes das profecias dos preguiçosos, cruéis, astuciosos e loucos Pais da Igreja responsáveis por essa idiotice.

Nós continuamos com seu Comentário:

Este osso é consequentemente a Quintessência e Individualidade do Inconsciente de Aleister Crowley; ele tendo conservado a sua personalidade humana para servir como Instrumento do Logos deste Aeon. Ele agora requer que a ‘presa’ (dente = ש = Espírito) de seu Anjo penetre no mais intimo do seu ser.

“Ele tendo conservado a sua personalidade humana para servir como Instrumento do Logos deste Aeon”: Este tipo de apologia para a existência do ser deve parar de uma vez por todas. O Adepto a quem nós chamamos de PERDURABO nasceu como um homem, Aleister Crowley, neste planeta. O objetivo de sua encarnação foi alcançar o Grau de Magus. Ele primeiro alcançou o Grau de Magister Templi, que ele tinha alcançado antes em existências prévias, mas nunca em todos os planos. Então ele alcançou o Grau de Magus com tão suficiente perfeição que a consequência de sua Iniciação foi a Passagem dos Aeons.

O Logos deste Aeon e este ser Mágico que estava encarnado como Aleister Crowley. As personalidades humanas são mantidas de acordo com a regularidade com que nós encarnamos neste planeta, o Grau de Ipsissimus sendo o mais alto que nós podemos alcançar estando encarnados. Não é que nós não podemos é além de Impíssimo enquanto habitamos um corpo de carne. É que nosso cérebro não reterá nenhumas memória de qualquer experiência que possamos ter acima deste plano enquanto estamos encarnados. De um ponto de vista prático, do ponto de vista da vida material, isto é o mesmo que não ser capaz de ter a experiência espiritual correspondente. Também, não significa que o Grau de Ipsissimus será o último dos quais poderemos ter consciência enquanto estamos encarnados, daqui a cem ou mesmo dez mil anos. A evolução consiste em ser cônscio cada vez mais de todos os planos todo o tempo, e de ser capaz de correlacionar mais planos e mais consciências todo o tempo.

Nós devemos para de uma vez por todas com essa nauseante obscenidade de Teosofistas e Iluminattis do Mestre Joe Doe ou o Mestre Kilroy se encarnando em pobres e insignificantes como eu ou você devido a sua infinita misericórdia pela humanidade, que tão pouco merece sua compaixão. Nós somos a nata da colheita deste planeta, e qualquer que seja a encarnação, somos Nós — e não qualquer outra pessoa. Não existe Deus onde qualquer ser humano está (é).

A.C. conhecendo a característica estúpida das religiões existentes, consciente da falsa humildade e completa hipocrisia instilada por eles, sentiu suficientemente apologético a cerca de alcançar a Divindade para evitar está consequência. Nós, herdeiros de sua experiência, não estamos sobre a mesma compulsão. Nós referimos o leitor a LXV v 23-26. Aleister Crowley não era o fantoche de 666. Ele era 666 Ele Mesmo.

E ele continua sendo 666 Ele Mesmo. Só que agora não existe mais Aleister Crowley, exceto aquilo que foi assumido no Mais Alto. E está é a Ascensão da qual os Crististas cacarejam tanto, e da qual eles fizeram tão pouco na época de seu doentio poder.

Nós continuamos com os Comentários de A.C.:

Khephra, o Escaravelho Sagrado, é o Sol da meia-noite. Ele aparece no Atu XVIII (A Lua Minguante, referido a Peixes no Zodíaco) ao pé do hieróglifo, em uma poça (o firmamento de Nadir). Acima disto está um caminho levando por entre duas montanhas coroadas por torres. Isto tudo sob a Lua Minguante, simbólica de ilusão e glamour, ao contrário da Lua no Caminho de Gimel, simbólica de pureza, aspiração, etc., aonde vai o Sagrado Anjo Guardião. O Atu XVIII é guardado por dois cães ou chacais simbólicos de Anúbis, o Guardião do Umbral (veja-se v. 34). O significado deste verso é, portanto que AIWAZ (revelado como uma ‘serpente pujante’) destruiu o princípio de ilusão. Em particular, a crença do homem de que ele é mortal (Osíris) deve dar lugar à consciência de que ele é a Criança Coroada e Conquistadora (Hórus). Meu ‘coração’ — isto é, a vontade das consciências humanas de Aleister Crowley — é identificado com a essência da vida de AIWAZ (o sangue do Seu corpo que é usado por Ele como a base física de Sua manifestação em CCXX) .

27. Eu sou como uma cortesã de Corinto doente de amor. Eu brinquei com reis e capitães, e fiz deles meus escravos. Hoje eu sou a escrava da viborazinha da morte; e quem desatará nosso amor?

Aleister Crowley abandonou todas as suas ambições pessoais para ‘morrer’ à carícia de AIWAZ em Sua função como seu Sagrado Anjo Guardião. (A ‘víborazinha’ Microcósmica, em contraste com a ‘pujante serpente’ que é responsável pelo Evento Macrocósmico do Equinócio dos Deuses.). As imagens da cortesã amorosa e de Cleópatra indicam que o Nephesch ou ‘alma animal’ de Aleister Crowley está implicada neste assunto.

No entanto o verso inteiro pode estar conectado com a memória de uma encarnação passada: foi moda por algum tempo entre mulheres, mesmo antes de Cleópatra, cometer suicídio desta maneira. Poderia muito bem ser então outro exemplo de um ‘corrupio de Seu Cabelo’.

28. Cansado, cansado! diz o escriba, que me levará à visão do Êxtase de meu mestre?

O escriba confessa a completa prostração da sua consciência humana enquanto divorciada de comunhão com a êxtase do Adepto (‘meu mestre’) que o controlará.

Esta explanação é novamente inadequada e os termos são incorretos. O escriba gostaria de se tornar cônscio do Êxtase daquela parte de sua consciência que funciona em Binah (não a consciência do ‘Adepto’ em Tiphereth) , mas não encontra meio de conseguir isso. Este é o próximo verso complementam em si uma descrição do estado físico e mental envolvido. A fraqueza não é exatamente física: quando você sai do Trance, você percebe que você não está muscularmente cansado, nem precisa de sono físico. Mas quando você está buscando se atunar, você está cônscio deste extraordinário sentimento de lassitude. Seria fácil especular qual a causa; talvez o prana e as energias do linga sharira estejam sendo assumidas na culminação da sutil-nervo-cérebro-célula energia de ligação que faz o contato entre Neschamah e o Mais Alto Ruach ser possível (Na nomenclatura Hindu, Buddhi e Bhudde-Manas). A descrição é consideravelmente apta em todo detalhe, e se espera que futuros experimentos serão capazes de estabelecer qual é realmente o problema. Talvez seja semelhante a uma sobrecarga em um circuito elétrico. Ele eventualmente desaparece, ou pelo menos foi assim no caso deste escritor, que o experimentou durante sua iniciação de Neófito. Talvez o circuito se torne fortalecido pelo uso?

29. O corpo está cansado e a alma cansadíssima, e sono lhes pesa nas pálpebras; no entanto está sempre presente a certeira consciência do êxtase, desconhecido, entretanto conhecido em que sua existência é certa. Ó Senhor, sê minha ajuda, e traze-me à dita do Bem-Amado!

A ‘alma’ aqui significa o Nephesch. O escriba é sustentado, mesmo em sua fatiga consciente, pela certeza de seu ‘Inconsciente’ de que ele chegou à Consecução, a despeito do esquecimento deste fato por parte do consciente humano. Ele apela ao Anjo para que inunde a consciência humana com a ‘dita do Bem-Amado’, como já foi explicado neste Livro.

30. Eu cheguei à casa do Bem-Amado, e o vinho era como fogo que voa de asas verdes pelo mundo das águas.

Isto lhe é concedido; a consciência entra na Casa de Delícias do Adeptado. O vinho de êxtase espiritual, que o intoxica, é comparado ao ‘fogo que voa’ (ש) com ‘asas verdes’ (ד, amor) ‘através do mundo das águas’ (ם). Passagens prévias devem permitir que o Aspirante compreenda bem este simbolismo. (שם na Qabalah é ‘O Nome’ e ‘O Céu’. שד significa ‘Poder Onipotente’; e דם significa ‘Sangue’. Estes símbolos assim explicam o texto em detalhe.).

Nós chamamos a atenção de Alquimistas e Irmãos da O.T.O. para o fato que o vinho, que é outro nome para o Elixir, era como fogo que ‘voa com asas verdes’ (move-se através do Ar, ou tem o poder do Ar, e por isso voa) pelo ‘mundo das águas’. Assim o “vinho” é uma harmonia, ou Quintessência, dos Quatro Elementos a um Quinto Estado (Akasha), obtido pelo Amor (verde, cor de Daleth). A explanação de A.C. se torna mais clara e complementa esta de uma forma conveniente.

A menos que você venha para a casa do Amado, seus melhores esforços para produzir o Elixir, ou o Vinho do Sabbath, serão em vão. Que isto seja um aviso para o profano, mas que eles também se lembrem de que neste Aeon de Hórus os desastres catastróficos que seguiam os experimentos nesta linha por não iniciados chegou ao fim. As Forças do Aeon estão em harmonia com qualquer tentativa séria, ou sincera, ou ingênua, ou espontânea para produzir o Elixir.

Somente aquele que a profanarem usando-a contra a Verdadeira Vontade devem acautelar-se.

31. Eu senti os lábios rubros da natureza e os lábios negros da perfeição. Como irmãs elas me afagaram seu irmãozinho; elas me adornaram como noiva; elas me trouxeram ao seu quarto de núpcias.

Natureza e Perfeição são Isis e Nephthys, as quais preparam Osíris (veja-se o Papiro de Ani e o Livro dos Mortos, em geral) para a Iniciação. O candidato é aqui representado como irmão delas (Aleister Crowley é o Vau de IHVH, ‘o Filho’, a consciência humana em Tiphereth — masculina) , mas adornado como noiva, pois simbolicamente ele é feminino para com o seu S.A.G.; ele é o Coração a ponto de receber o abraço da Serpente. (Veja-se Cap. III, vv. 49-50.)

Nós devemos fazer uma observação para o benefício de Probacionistas e falsos Probacionistas. A expressão ‘a consciência humana em Tiphereth’ é desencaminhadora. Tiphereth é ponto focal do Buddhi-Manas Hindu; ela está totalmente acima da consciência humana como esta é experimentada pelo cérebro comum.

A diferença entre o cérebro do Iniciado e o cérebro do profano é o cérebro do Iniciado é capaz de se lembrar do Trance, ou mesmo estar cônscio dele no momento em que ele estiver acontecendo. Nós não sabemos se um cuidadoso exame do cérebro de um Adepto mostraria qualquer diferença anatômica ou fisiológica com relação ao cérebro do profano. Nós suspeitamos que os presentes experimentos com a assim-chamada ‘fotografia da aura’ iniciada pelos Russos eventualmente fornecerá os primeiros meios científicos para identificar estados parapsicológicos e suas reações no cérebro.

O que é importante é que Probacionistas não confundam a consciência de Tiphereth com a memória no cérebro dos estados de Tiphereth. A experiência central do Grau de Neófito (e a obtenção desta experiência é o sinal de que o Probacionista alcançou Iniciação na Ordem) é a Visão do Sagrado Anjo Guardião. Esta visão não deve ser confundida com a Operação descrita em LIBER VIII: não é o Conhecimento e Conversação, mas um contato muito mais elementar. Cada Iniciação particular, ou passagem pelos Graus, provê uma renovação do contato com o Anjo, cada vez mais intenso e mais expandido.

Se o Neófito (ex-Probacionista) se torna convencido que ele (ela) obteve o C. & C., ele para de trabalhar para alcançar o Grau de Zelador e se torna convencido de que ele é um Adeptus Minor (para dizer o mínimo!...). Ele pode então se tornar não somente muito perigoso para aqueles abaixo dele, mas algumas vezes, mas algumas vezes de um retardamento para seus colegas, ao mesmo tempo em que pateticamente ridículo para aqueles de graus mais alto do que o dele, sejam eles da AA ou não.

A chave para a Iniciação consiste em nunca se tornar satisfeito com o que quer que você tenha alcançado até agora, não importa quão sublime isto possa parecer a você. Evidentemente, você é ocasionalmente exaurido por uma Iniciação, e pode gastar anos recarregando enquanto você consolida o que já conquistou. Mas você não deve perder de vista a Aspiração por causa disto. Como O Mundo Desperto deixa abundantemente claro. Você deve beijar abundantemente o seu Anjo. Cf. AL ii 69-72. Deve também ser observado que a atribuição de A.C. do Atman a Kether está incorreta; Atman é atribuída a Chokmah. O Plano de Consciência correspondente a Kether é Nirvana, ou Nibbana. O Baixo Manas correspondente a Netzach, Hod, e tem sua coroa em Tiphereth (Adeptus Minor Externo). O Mais Alto Manas (Buddhi Manas) corresponde a Geburah e Gedulah e tem suas bases em Tiphereth (Adeptus Minor Interno) . Buddhi corresponde a Binah, e o Ahamkara a Daäth.

A importância excessiva atribuída a Atman pelos Brahmins é um exemplo daquela preguiça que nós mencionamos a pouco quando falávamos dos Neófitos que pensam que eles são Adeptos, somente que em um plano mais alto. Na verdade, Atman, como compreendida pela maioria dos Brahmins, não é nada mais que uma fantasia do Ahamkara. Cf. VII iv 50-53.

32. Elas fugiram à Tua vinda; eu fiquei só perante Ti.

O Ego é desprivado de seus atributos antes que possa receber o impacto do S.A.G. Deve ser o puro Ser Humano como indivíduo, independente dos fenômenos de sua relação com seu ambiente.

Este verso pode evidentemente ser interpretado em outros planos. Um estudo das atribuições de Isis e Nephthys é de grande auxílio. Estas afirmações, é claro, de maneira nenhuma invalida a explanação acima.

33. Eu tremi à Tua vinda, Ó meu Deus, pois Teu mensageiro era mais terrível que a estrela-da-Morte.

O Ego percebe que o Sagrado Anjo Guardião  o aniquilará. Treme, e esse tremor de sua identidade é o sinal de sua entrega (compare-se o êxtase de medo de Amfortas no princípio de sua Cura; e veja-se o Capítulo II, vv. 60 e 62 e diversas outras passagens similares. A doutrina está em toda parte implícita; mas compare-se também com Liber 418, o Décimo Quarto Aethyr, etc.). Também, a primeira aparição do Anjo é necessariamente incompreendida; pois enquanto o Ego humano existe, ele está circundado pelas condições do seu ser; e isto implica numa certa falsidade de apreensão, cuja raiz está na Ilusão de Separação mesma que torna possível a Ideia de um Ego.

Mas há Egos e Egos, e Anjos e Anjos. Nós não podemos generalizar além dos limites dos dados conhecidos, que são escassos. Antes que a AA fosse reformulada por P. e D.D.S. no começo deste século, o método cientifico não era usado para investigar e descrever a experiência religiosa. Quaisquer descrições do Conhecimento e Conversação que nós temos, portanto, ou são fictícia ou ininteligível ou foram simplesmente perdidas, ou destruídas pelos Adeptos envolvidos.

No que toca o presente escritor, ele tem sempre sido tratado com o máximo de paciência e gentileza pelo seu Anjo. Simultaneamente, as Ordálias têm sido tão duras quanto ele poderia possivelmente suportar. Estas afirmações podem parecer mutuamente exclusivas ao profano; é lamentável que isto pareça assim. Talvez aqueles cuja intuição esteja desperta nos compreenderão.

Nós nos lembramos de pelo menos dois exemplos de Ordálias que foram completamente similares em condições descritas aqui. Nós devemos salientar que o verso completa e claramente atesta ‘Teu mensageiro’. Nós referimos o estudante sério a LXV ii 33-36 e os Comentários ali. Um Mensageiro pode sintetizar todas as condições ali descritas, e outras condições mais sutis que podem ser ainda mais terríveis e duras de para resistir, algumas das quais são descritas nos versos seguintes e Comentários de A.C. a eles.

34. No umbral quedou a fulminante figura do Mal, o Horror do vazio, com seus olhos fosforescentes como poços venenosos. Ele quedou, e o quarto corrompeu-se; o ar fedia. Ele era um velho peixe enrugado, mais horrendo que os cascões de Abaddon.

O umbral está diante da ‘porta’ ou ‘pilone’ de Daleth (Daleth significa porta; sua atribuição é Vênus, puro Amor, e seu Caminho é de Chokmah à Binah, a base do triângulo das Supernas. Esta ‘porta’ é assim em tudo um símbolo apropriado da entrada à Iniciação.) . Portanto o ‘umbral’ está abaixo do Caminho de Daleth na Árvore da Vida; isto é, é o Abismo.

O simbolismo acima se refere estritamente à Consecução do Mestre do Templo; mas sua Verdade é refletida no tecnicamente correto relato da Iniciação do Dominus Liminis a Adeptus Minor. Aí a ‘porta’ é o terceiro Recíproco ou Transverso Caminho (Daleth é o primeiro), Pé, que significa boca — a porta dos órgãos da vida. Pé é a letra do Atu XVI, a ‘Casa de Deus’ ou ‘Torre Fulminada’. O Hieróglifo representa uma Torre — simbólica do Ego em seu aspecto fálico, porém encerrado, isto é, separado. Esta torre é ferida pelo Relâmpago ou Raio da Iluminação, o impacto do S.A.G. e a Espada Flamejante de Energia que procede de Kether para Malkuth. Da torre são arremessadas duas figuras formando, pela sua atitude, a letra Ayn (ע); estes são os gêmeos וה (Hórus e Harpócrates) nascidos da abertura do Útero da Mãe (o segundo aspecto da Torre como uma ‘fonte encerrada’, uma ‘fonte selada’ ou ‘murada’). Eles representam, com referência ao aspecto másculo da Torre, os espermatozoides (ע é ♑, o signo em que está o Sol no Solstício de Inverno L.N., quando o Ano Novo começa) emitidos pelo Falo quando este é fulminado pelo impacto do Orgasmo (Relâmpago ou Raio) e é ‘arruinado’ pela perda de ereção.

No ‘umbral’, o Dominus Liminis é ameaçado pelos Caminhos de Nun, Samekh e Ayin, os Atus XIV, XV e XVI (Temperança ou Restrição, A Morte e o Diabo), os quais surgem de Tiphereth, a morada de seu Anjo, para impedir a passagem dos profanos da Ordem Externa da A∴D∴.

A diferença principal (em essência) entre as fórmulas das duas Iniciações, na R.R. et A.C. e na S.S., respectivamente, consiste em que o Adeptus Exemptus está completamente abaixo de Daleth, se bem que ele cruzou o Segundo Caminho Recíproco Teth em seu progresso para se tornar Adeptus Exemptus, e não tem Caminho pelo qual possa viajar (a não ser Gimel, que leva de Tiphereth a Kether, não de Chesed a Binah, que é onde ele vai; isto é para conservar os profanos fora da Ordem Interna da R.R. et A.C.) ; enquanto que o Dominus Liminis já atravessou o Caminho de Pé para atingir o Grau de Philosophus, e o umbral está dentro, em vez de fora, do Pilone.

O significado disto é o seguinte:

Ao cruzar o Abismo, o fito é aniquilar o Ego e suas faculdades por completo. Em simbologia cabalística: o fito é atingir a Zero. O perigo consiste, portanto na identificação da consciência, ou ‘ponto de vista’, com qualquer dos produtos da desintegração. Choronzon, portanto (nome pelo qual nós designamos a ideia de Dispersão), não tem lugar na Tríada Superna. O umbral de iniciação, o Abismo, jaz completamente abaixo da porta de Daleth. A compleição da desintegração, a impotência (ακρατωρ) e preguiça (αεργια) são garantidas pela ausência do amor (Daleth), o qual de outra forma poderia enfeixar os eventos dissipados para formar uma unidade (Em Liber 418, Sétimo Aethyr, nós aprendemos que se os Irmãos Negros pudessem apenas contemplar a Deusa do Amor — Daleth — acima deles, eles poderia ainda chegar à Compreensão (Binah).

Na Iniciação a Adeptus Minor, as condições são completamente diversas. O fito é a consecução da unidade, não da negatividade, e não existe tal perfeição nas Sephiroth do Ruach: Chesed, Geburah, Tiphereth, as quais compõem  os Graus da Ordem Interna (R.R. et A.C.) como necessariamente excluindo Choronzon dos três Graus da A∴A∴. O estudante é aqui referido às Torres Elementais de Vigilância de Sir Edward Kelly (Veja-se o Equinócio I, volumes vii e viii). As quatro Tábuas Elementais (12x13) são ligadas pela pequena Tabuleta do Espírito (4x5) , ou (quando as tábuas são arranjadas de forma a mostra-las cada qual uma subseção da unidade de Tetragrammaton) por uma cruz negra contendo as letras desta pequena Tabuleta do Espírito. Os nomes de demônios malignos são notavelmente formados ao tomarmos algum símbolo imperfeito e desequilibrado das Torres de Vigilância, tal como um nome bilateral debaixo da barra da Cruz de Calvário em qualquer dos Ângulos Menores — e prefixando a letra apropriada da Cruz Negra.

A doutrina assim implicada é que a natureza do Espírito não é somente representada por Shin, o Espírito Santo, cuja descida ao meio de Tetragrammaton santifica e ilumina as forças cegas dos Elementos, mas também pela matéria desalmada, escura, informe e vazia, o mero fundo para a manifestação, indiferentemente, de todos os fenômenos; e esta verdade é também simbolizada pela escuridão e pela potencialidade não-desenvolvida pelo Akasha, qual explicada pela lenda de Shiva mencionada em um parágrafo prévio.

O Elemento do Espírito pode, portanto manifestar-se tanto como o S.A.G. quanto como a Persona Maléfica, o Morador do Umbral, descrito sensacionalisticamente para o público por Lord Bulwer-Lytton em seu romance Zanoni. Esta doutrina é também frequentemente encontrada em lendas folclóricas, onde o homem é representado como atendido por um gênio bom e por um gênio mau. O horror do gênio maligno é intensificado pela sua função como alternativa do S.A.G. Nenhuma outra inteligência maligna pode se comparar com esta, seja por sua terrível asquerosidade subjetiva, seja pela sua hostilidade objetiva. Pois o gênio mau não é menos uma possibilidade de Consecução que o S.A.G.

Agora, no caso do Adeptus Exemptus, se ele for repelido da Cidade das Pirâmides por falta de obediência perfeita à fórmula de ‘amor sob vontade’, ele permanece perdido no Abismo sem nenhuma possibilidade futura a não ser a de identificar-se sucessivamente com cada fenômeno incoerente e ininteligível que aparece no sensório do homem material, o qual foi desintegrado como primeiro efeito de sua operação, cuja essência sanção a toda e qualquer imperfeição que protesta o ser. Inteiramente diverso é o caso do Dominus Liminis, cuja operação, se malsucedida, pode ser uma simples derrota, talvez devida a erro não muito sério dele mesmo. À parte um simples desencorajamento, ele deveria ser capaz de tentar novamente sem desvantagem; de fato, ele deveria usar sua derrota prévia como uma lição. Mas ele pode também falhar por não ter assimilado completamente a injunção do Hiereus na cerimônia da sua iniciação ao Grau de Neófito: ‘O medo é fracasso, e o começo do fracasso. Sê tu, portanto sem medo, pois no coração do covarde a virtude não habita!’ Similarmente, ele pode ter sido incapaz de satisfazer a fórmula do Hierofante naquela cerimônia:  ‘Lembra-te de que Força Desequilibrada é maligna. Excesso de Misericórdia é fraqueza; excesso de Severidade é opressão.’ Além disto, a fascinação do mal é as vezes tão perigosa quanto o medo. Em qualquer caso ele pode esperar ser confrontado antes de tudo pelo seu Gênio Maligno (Veja-se, adiante, a cerimônia do Zelador da A∴D∴; a aparição dos Anos Samael, Metatron e Sandalphon) . Ele pode não resistir ao ataque. Ele pode ser repelido do umbral, e sua derrota pode ser mais ou menos prejudicial, de acordo com as circunstancias. Mas seu medo pode ser tão grande que o induza a transforma-lo em fascinação, ou sua exaustão tão completa que ele esteja disposto a comprar a paz a qualquer preço. Em tal caso, o resultado pode ser que ele aceite sua Persona Maligna como seu Sagrado Anjo Guardião. Eu não gostaria de afirmar que mesmo uma tão pavorosa forma de fracasso é necessariamente fatal e definitiva, se bem que evidentemente deve sempre acarretar um Karma desastroso, envolvendo como envolve a asserção mágica, fortificada pelos juramentos mais solenes e selada pelo mais intenso êxtase da existência do mal absoluto (em certo senso da palavra; na realidade, para isto definida por ele mesmo); isto é, ele aquiesce em dualidade, estabeleceu um conflito interno em si próprio, e cerimonialmente blasfemou e negou a unidade de sua própria Verdadeira Vontade. Por arrasadora que seja tal catástrofe, no entanto não é nem pode ser final, pois que os princípios envolvidos não se estendem acima de Tiphereth. Ele se tornou um Mago Negro, sem dúvida; mas está longe ainda de ser um Irmão Negro. Não pode ser afirmado que tal Mago Negro manifestará qualquer tendência a se tornar um Irmão Negro quando a ocasião chegar; pois sua união, mesmo com a personificação do Mal, é também um ato de amor sob vontade, se bem que essa vontade seja falsa e viciada por todos os erros e defeitos concebíveis. Seu principal perigo é presumivelmente que a intensidade do sofrimento que resulta de sua Αηαρτια pode, como no caso de Glyndon em Zanoni, levá-lo a querer escapar por completo da magia, a abster-se de quaisquer atos de amor por medo de se afastar ainda mais de seu verdadeiro caminho. Que ele se lembre das palavras de meu irmão: ‘Se o tolo persistisse em uma tolice, ele se tornaria sábio. ’ Que ele, portanto persista absolutamente em iniquidade, invocando a vingança dos Deuses, para que ao fim o excesso do seu amor e a transcendência da sua angústia possam trazê-lo de volta ao caminho da verdade.

Do acima deve se tornar claro como é que o Gênio Maligno está dentro do Santuário do Templo da Rosa Cruz, cuja fórmula é ‘amor sob vontade’, enquanto Choronzon é excluído igualmente desse templo e da Cidade das Pirâmides, cuja lei, se bem que ainda ‘amor sob vontade’, compreende ambos estas termos como sem limite.

Mas o Gênio do Maligno é uma forma de Choronzon, implicando como ele faz, em Dualidade. Ele meramente parece mais consistente e coerente porque o Dominus Liminis ainda não alcançou aquele estado psicológico onde dissociação de impressões resulta do mais leve estímulo. Ele está trabalhando através de Coagula, não através de Solve. Evidentemente, não significa que ele terá qualquer tendência a se tornar um Irmão Negro quando confrontado com o Abismo. Ele construiu Mal a Imagem de seu Ideal, mas contanto que ele alcance coerência, a Faculdade antes de tudo associada com Tiphereth, ele se tornará um Adepto Menor. Desde que sua Fórmula é Amor, e desde que o Gênio do Mau, apesar de ser uma visão parcial do Universo, é, todavia uma projeção do Exterior, ele pode aspirar a Cidade das Pirâmides tanto quanto um “Bom” Adepto Menor. Esse difícil assunto é abrangido em LXV i 54 e em Liber Tzaddi 33-42.

A essa altura o “Maligno” Dominus Liminis se torna um Adepto Menor, sua concepção de Mal será expandida para incluir muito do que é chamado “Bom” — o quanto mais assim, o melhor será a mente do homem. Tal foi o caso com Crowley mesmo, que começou por revoltar-se contra o “Bom” que ele viu produzir tanta miséria no mundo em volta dele. Mas a mente de Aleister Crowley já era tão ampla e profunda em alcance que sua visão de Mau Persona nunca foi tão parcial a ponto de que fosse possível a ele se tornar o que nós podemos chamar um feiticeiro. Ele invocou Satã, verdade; mas ele não obteve a imagem de seu ego e seus apetites, mas aquela Estrela Escura que por todas as idades tem esperado pelos homens para perguntar-lhes: “Mas não há alguma coisa mais no Universo?”.

O Gênio Maligno é descrito agora. A linguagem, naturalmente, é simbólica. Ao mesmo tempo, a aparência dada aqui poderia perfeitamente corresponder de perto às expressões sensórias da experiência.

Isto, no entanto, somente no caso de um Dominus Liminis que não se desviou do Caminho do Meio: “Bom e Mau são um para Ele.”

O homem que aceitou seu Gênio do Mau como seu Anjo pode ver uma Imagem formidável, austera, ou poderosa, pronta para ajudá-lo a satisfazer seus desejos e adquirir poder material sobre sua vizinhança e semelhantes. Nós referimos o estudante sério a Magia Sagrada de Abramelim o Mago, onde o astuto autor menciona, quase de passagem, que no começo da Operação o operador pode ver um homem de aspecto bom e benevolente que pretenderia ser seu Anjo e prometer-lhe riquezas, etc. etc. em troca de ser adorado. O autor prossegue para mencionar a danação da alma como o resultado de se deixar seduzir por esta promessa, se não estamos enganados. O livro de Abramelim, evidentemente, é espúrio e em sua maior parte ficção; calculada, ademais, para despertar simpatia para com os Judeus em uma época em que eles eram, como uma religião, perseguidos em toda parte. O ponto de vista ético é consideravelmente moderno, a tolerância religiosa fala mais ao intelecto do que ao coração do leitor. A Operação em si, no entanto, é possível, e os Quadrados Mágicos realmente tem poder, e são perigosos a qualquer um que não tenha ainda alcançado o balanço de Tiphereth. Cf. Patanjali sobre o Siddha e sua inutilidade para o verdadeiro Yogue. É sábio ao Aspirante ir direto ao Mais Alto; então os poderes serão vistos em sua própria perspectiva, e ele não cometerá erros em sua aplicação, mas seguirá a injunção Thelêmica: “Assim com teu tudo: tu não tens direito a não ser fazer a tua vontade.”.

Além disso, nós devemos comentar sobre o conceito de ‘vingança dos Deuses’.

Primeiro nós referimos o estudante sério a AL ii 22, particularmente as palavras: “Sê forte, ó homem! Arde, usufrui todas as coisas de senso e êxtase: não temas que qualquer Deus te negará por isto.” Então nós o referimos a AL iii 17, e finalmente a AL i 52. Talvez ele compreenderá agora em quais circunstâncias ele pode esperar retaliação. E por ultimo e não menos importante, ele é referido a AL iii 16. Faze o que tu queres há de ser tudo da Lei.

Duas vezes nos é dito que ele “quedou”, o que deve ser contrastado com a atividade de “ir” do Sagrado Anjo Guardião. (Veja-se vv. 37-41.) É a característica peculiar de todo Deus que ele “vai”. Por isto ele leva o Ankh, ou ataduras de sandália, nos monumentos egípcios. Esta antítese se contrasta com a concepção dos Irmãos Negros, fechados em si mesmos, ressentindo mudança. A concepção thelêmica do Universo é dinâmica, de forma que stasis é inevitavelmente o símbolo de conflito com a Natureza. É o equivalente de Morte; pois a Morte sendo uma mudança, é um evento, isto é, um fenômeno de atividade da vida. Esta doutrina deve ser cuidadosamente estudada em CCXX.

Que o estudante preste atenção, além disto, ao contraste entre os símbolos do S.A.G. e os do Gênio Mau. Os do Anjo (vede vv.38-41) são positivos, ativos, sólidos, dinâmicos; de carruagens, cavaleiros, lanceiros; as armas de Júpiter e Pan são tremendamente vitais em suas mãos. Em contraste, o Gênio Maligno é vago, irreal e inativo. Suas características são o horror e o vazio. Seus olhos são fosforescentes (Nota de M.: ghastly no original em inglês; O.M. comenta que toma a palavra em seu estrito senso original, relacionado com o alemão Geist — fantasma, cascão, ou sombra espectral. A fosforescência de matéria em decomposição, que causa o fogo fátuo, é uma aproximação.), e isto é particularmente repugnante, já que o sentido da visão é atribuído ao Fogo, e deveria ser agudo e luminoso. As atividades que ele controla são vagarosas, gosmentas e vermiculares. Seus olhos se assemelham a poços de água venenosa, isto é, eles espreitam e recebem tão pouca luz quanto possível, quando o olho ideal deveria chamejar luz. Ele faz com que o ar mesmo ao redor dele se torne estagnado e fedorento. Anatomicamente, ele se assemelha a um peixe, um habitante sangue-frio do elemento passivo (Note-se o peixe como o símbolo aceitado de Jesus). Mesmo assim, ele é velho, vagaroso, enquanto que a virtude principal de um peixe é que desliza rapidamente. E ele é enrugado, oferecendo desnecessária resistência aos seus próprios movimentos, e aumentando sua fricção. Hediondo!

Na verdade, os olhos desses “habitantes” são bem capazes de incandescer. A incandescência deles, no entanto, é como a incandescência de gases putrefatos acidentalmente inflamados, não é uma chama pura. E sua qualidade mais notável é um ódio de intensidade venenosa. Peixe — o habitante é uma composição de cascões e influências demoníacas relacionadas ao Aeon de Virgem-Peixes, o Aeon de Osíris que acabou de passar.

Cascões ou Qliphoth são excrementos sem vida; e Abaddon é o destruidor ou dispersor — o destruidor por dispersão.

Uma vez mais, um aspecto muito mais baixo de Choronzon.

35. Ele me envolveu com seus tentáculos demoníacos; sim, os oito medos se apossaram de mim.

Seu método de combate (distinto daqueles do Anjo, que ou transfixa com uma lança ou esmaga com um raio) é envolver com seus tentáculos demoníacos, e, portanto ilusórios. Este método é restringir o Aspirante, sabendo muito bem que ‘a palavra do Pecado é Restrição. ’ Ele consegue comunicar os ‘oito medos’, os quais estão relacionados com as oito cabeças do Dragão que desce. (Veja-se, para este simbolismo, O Templo do Rei Salomão, Equinócio I, volumes i, ii e iii.) Elas são as restrições das Tríada Superna tentadas pelas sete Sephiroth abaixo do Abismo e por Daath. Por isto, o Dragão que Desce é mostrado na Árvore da Vida abaixo do Abismo após a Queda, e no chão do Sepulcro de Christian Rosencreutz. No simbolismo mais antigo, as oito cabeças são os oito Reis de Edom.

36. Mas eu estava ungido com o mui-doce óleo do Magister; escorreguei do abraço como uma pedra da funda de um menino dos bosques.

O Aspirante está ‘ungido com o mui-doce óleo do Magister’. O Magister pertence a Binah, este óleo pode ser tomado como simbolizando seu Neschamah ou aspiração. Veja-se o relato do Óleo Santo dado no Livro 4, Parte II. O Óleo Santo é a Aspiração do Magista; é aquilo que o consagra à busca da Grande Obra; e tal é a sua eficácia que consagra todo o mobiliário do Templo e os seus instrumentos. É também a graça da crisma, pois esta aspiração não é ambição; é uma qualidade outorgada pelo alto... É a pura luz traduzida em termos de desejo. Não é a Vontade do Magista o desejo do mais baixo de atingir o mais alto; é a centelha do mais alto no Magista, que deseja unir o mais baixo a si Também, a propriedade essencial de substâncias oleosas é diminuir a fricção e aumentar a facilidade de movimento. É, portanto precisamente a réplica correta contra este tipo de ataque.

Ainda mais, o Aspirante se compara a uma pedra, o que se refere à pedra cúbica simbólica do Adepto perfeito, sendo a perfeição quadrada e equilibrada  da Maçonaria espiritual; é circundada por seis quadrados que significam proteção de Macroprosopo. Vede também o simbolismo da Pedra no Zohar, um assunto demasiado extensivo para que possamos fazer mais que está referência aqui. Há, ainda mais, uma identificação da Pedra com o Falo Sagrado e com o Sol, tal como adorado no Templo de Diana em Éfeso e na palavra ABRASAX. Em nossos próprios Livros Santos, vede o Cap. V, vv. 6 e 58 deste Livro, e Liber VII, Cap. Vi, v. 2 (‘Nós nos construímos um templo de pedras na forma do Universo, mesmo tal como tu usaste abertamente e eu escondido’.) Nesta última conexão, note-se a justaposição apropriada de pedras como simbólica da Grande Obra. Isto é encontrado também na Voz do Silêncio, onde esses que alcançaram a libertação se constroem a si mesmo num muro para proteger a humanidade. Vede também Liber VII, Cap. Vii, v. 6 (‘Nós sabemos por que tudo está escondido na pedra, dentro do caixão, dentro do grande sepulcro, e nós também respondemos Olalam! Imal! Tutulu! como está escrito no antigo livro’.).

Esta pedra é um projétil na ‘funda do menino dos bosques’, o qual pode ser tomado como representando a forma mais jovem e ativa de Pan; isto é, o aspirante se considera como que arremessado do infinito, e desligado de suas ataduras (compare-se Liber VII, Cap. Vii, vv. 3-5) , para que se possa executar a Grande Obra.

37. Eu era liso e duro como o marfim; o horror não conseguiu apoio. Então, ao ruído do vento da Tua vinda, ele foi dissolvido, e o abismo do grande vazio foi desdobrado diante de mim.

O aspirante é liso; suas qualidades foram perfeitamente harmonizadas. Ele é duro, tendo tornado perfeita a sua resistência à extrema pressão. A analogia é com o marfim. Marfim é a substância do dente, a letra Shin do Espírito Santo e também da substância do esqueleto sobre o qual seu ser está sendo construído. O som Sh, além disto, representa o poder do silêncio, como também a atividade e alerta que acompanham a vontade de nos manifestarmos através da nossa Verdadeira Vontade. Eu cito aqui uma passagem das minhas notas originais sobre o significado intrínseco desta letra: “S é o sibilo da serpente, o sopro arremessado do alento através dos dentes postos à mostra, porém fechados, o que é sinal natural de alarme, ódio, desafio, natural a um homem que depara com um seu semelhante — outra aberração da macacada legítima. (Nota de M.: Ele está se referindo ao homem primitivo; mas essa hostilidade atávica subsiste na psique humana até hoje, e é a base da intolerância, perseguição, etc. É claro que ele sabe disso; é bom que o estudante também pondere sobre o assunto) . Através deste gesto ele reconhece o seu irmão, e no princípio, quando necessário, assim o nomeava. (Mais tarde, quando não havia mais alarme, ainda temos ‘Shh!’, ‘Psst!’, não um apelo por Silêncio, que o gesto quebra, mas um apelo à atenção de outros homens.) Em S está esta ideia de medo e cólera, também de ar, por causa do sopro mais apressado do alento. ‘Tormenta’ combina estas ideias; assim, os primeiros S-deuses foram deuses de tempestade.

“Mais tarde este alento, ar movendo-se no homem, podia ser considerado uma prova de que o homem estava vivo; então esta letra-alento, S, pode vir a significar ‘vida’. Por exemplo, Deus sopra sobre Adão para insuflar-lhe a ‘alma vivente’; e Elias ressuscita um menino respirando sobre ele. O Ruach Elohim, novamente, é um Alento que paira sobre o Caos. Finalmente, encontramos um Espírito Santo fertilidade através de um alento. E não era Maut, o Abutre-Mãe, fertilizado pelo vento? Talvez também o chiado da chuva que fertiliza a terra, qual até mesmo um selvagem deverá chegar a observar nas regiões tropicais, onde o efeito segue a causa tão rapidamente, tê-lo-á impelido à convenção de que S deve significar Vida. Essa chuva vem do ar que ele respira, se bem que de além de sua pessoa; parece portanto natural para ele o fazer Zeus ou Shu deuses da chuva e deuses da vida, como também deuses da vida, como também deuses do ar, deuses da tempestade, nomes para a intensa, medrosa cólera que no princípio significava apenas ‘um inimigo’ — um seu semelhante!” (Diário, Junho de 1920.)

O Gênio Maligno é portanto incapaz de dominar o aspirante. Este havendo provado sua virtude, está agora pronto para receber o S.A.G. Primeiro vem o ruído da Sua vinda. ‘Pois o Senhor descerá do Céu, com um grito, com a voz do Arcanjo, e com a Trompa de Deus. ’ O ‘Senhor’ é Adonai — o hebreu para ‘Meu Senhor’; e Ele desce do Céu, o Paraíso superno, o Sahashara Chakra no homem, com um ‘grito’, uma ‘voz’ e uma ‘trompa’, novamente símbolos aéreos, pois o ar é o condutor do som. Estes sons referem-se àqueles escutados pelo Adepto no momento do êxtase. (Livro 4, Parte II.) Isto por si só é suficiente para destruir a ilusão do Gênio Mau. O ‘Abismo do grande vazio’ desdobra-se diante do aspirante, isto é, todos os fenômenos positivos desaparecem. O que resta é o ‘espaço infinito’ de Nuit. O corpo é contínuo de possibilidades infinitas.

Deve ser feita uma correção aqui. Não é o Sahashara que está ativo na Iniciação do Adepto Menor, mas o Visuddhi, a ‘casa do Akasha’. O fenômeno do som é referido ao Akasha, do qual o símbolo é uma orelha. O Abismo evidentemente se abre diante do Adepto — é relacionado com a Iniciação, que imediatamente abre a perspectiva do Próximo Passo. Cf. LXV iii 47-48. Igualmente, embora a Força Espiritual velha de Visuddhi, ela ativa o Anahata. Ela vem destro-rotatória, isto é, de uma “Kundalini despertada”. (Embora nestas matérias a qualidade da vibração e o plano de vibração são mais importantes do que a direção do movimento.)

38. Através do mar sem ondas da eternidade Tu cavalgaste com Teus capitães e Tuas hostes; com Teus carros e cavaleiros e lanceiros Tu viajaste pelo azul.

‘O mar sem ondas da Eternidade’ repete esta ideia. É o menstruo acrônico da ação, não-modificado por qualquer vibração, no entanto pronto para receber e transmitir aquilo que lhe é imposto pela vontade. O Sagrado Anjo Guardião aproxima-se rapidamente (cavalga) acompanhado pelas suas hostes (Note-se que צבא, uma hoste = 93.).

39. Antes que eu Te visse, Tu estavas já comigo; eu fui trespassado por Tua maravilhosa lança.

A chegada do Anjo é demasiado rápida para o Adepto. Cf. Cap. II, v. 60, etc. O simbolismo da lança deve ser estudado nas lendas da Crucifixão, de Parzifal, e outras. O assunto é ainda mais esclarecido no B-I-M (Nota de M.: Bagh-i-Muattar, de Crowley; sob o disfarce de um poema homossexual persa, trata das relações entre o S.A.G. e seu cliente.).

40. Eu fui aturdido qual uma ave pelo relâmpago do Trovejador; eu fui varado como o ladrão pelo Senhor do Jardim.

O Trovejador é Júpiter, aqui considerado como o paternal criador, e guerreiro Senhor do Ar. O relâmpago é a Suástica, ou Disco de Zeus. Seu simbolismo é ultimalmente idêntico com aquele da esfera. A ave é o símbolo natural da alma que aspira. Cf. Cap. II, vv. 39-41. A Suástica tem a forma da letra Aleph, cujo Temurah é PLA (Veja-se o Sepher Sephiroth) , pelo que significamos a instantânea destruição do Ego em Samadhi. A segunda frase ecoa as duas prévias. O Senhor do Jardim é Pan ou Príapo, o qual meu irmão Catullus constantemente representa punindo ladrões em sua peculiar maneira. (Nota de M.: Nos jardins gregos e romanos era comum uma estátua desnuda de Príapo ou Pan com o falo em ereção.) Existe aqui um simbolismo especial do ladrão no qual talvez nós encontrássemos traços na lenda da Crucifixão e do ritual do sacerdote de Nemi (Nota de M.: Quem aspirava ao cargo do sacerdote de Nemi tinha que roubar um talismã sob sua guarda; e ou matava o sacerdote ou era morto por este. Veja-se o Ramo de Ouro, de Sir James Frazer.); mas sua significação detalhada foi em sua mor parte abandonada ou perdida.

41. Ó meu Senhor, naveguemos sobre o mar de sangue!

Cf. Cap. II, v. 15, passagens similares. I, 33-41, especialmente versos 33 e 39.

No momento em que o Adepto conseguiu o Conhecimento e Conversação do seu Sagrado Anjo Guardião ele não perde tempo, mas vai ao caminho da sua Verdadeira Vontade, carregado sobre o dilúvio da vida física que ele derramou para usufruir a vida impessoal e sem esforço em comunhão com seu Anjo.

Que seja compreendido, no entanto, que a vida impessoal e sem esforço é o estado de Trance, e quando o Adepto retorna deste para fazer sua Verdadeira Vontade ele está sujeito aos problemas normais da vida material. Os planos não devem ser confundidos. Nós lembramos um o caso de um Adepto que, andando por uma rua da cidade ainda no ressaibo do êxtase viu um homem no hábito de um padre Católico Romano vindo em sua direção. Como todo mundo sabe os Aspirantes da AA tem a obrigação de exorcizar pessoas com vestimentas de qualquer das religiões amaldiçoadas em AL iii 51-53. O Adepto, no entanto, se refreou de fazê-lo, aceitando, como ele pensou, esta pessoa em seu hábito como parte da Beleza Universal que ele tinha acabado de contemplar em seu Anjo. Como resultado, sua aura foi infectada por um poder tão maligno que cinco anos depois a ferida astral que então foi produzida, ainda lhe causava problemas em Operações Mágicas. Ele tinha simplesmente misturado o Plano de Tiphereth, onde ele tinha estado, com o plano da matéria, onde ele agora estava. Levou dez anos para ele compreender isto.

Que isto sirva de aviso para outros. Que eles também se lembrem de que é aconselhável a permanecer em retiramento por vários dias depois de qualquer Trance de União, fazendo o trabalho simples e rotineiro de um tipo temporal, para dar a mente tempo de ajustar seus recém-adquiridos parâmetros, e dar a aura tempo de se tornar suficientemente acalmada, para não chocar as pessoas que você possa vir a ter contanto. Exceções a esta regra são somente para Iniciados de Grande experiência ou que praticaram Liber III com perfeição.

42. Existe uma profunda mancha sob o deleite inefável; é a mancha da geração.

Os versos 42-44 apresentam uma imagem lírica do Mistério do Mal.

Pode ser lírica; mas descreve uma percepção que vem a todos nós cedo ou tarde durante o Caminho.

42. O deleite de união com seu Anjo parece ao Adepto conter uma falha: em que, sendo uma operação de mudança (‘mancha da geração’) comparte da impermanência de todos os fenômenos complexos, e é, portanto tendente à dor. Veja-se v. 21.

Na verdade, a percepção envolvida é mais profunda que o mero senso de impermanência, e sofrimento deste: é o senso de alguma coisa que partilha daquela corrupção do verme cego do lodo do qual a humanidade evoluiu. Você poderia dizer que é a parte do “anjo” de nossa consciência lamentando sua conexão com a besta.

43. Sim, se bem que a flor dança brilhante à luz do sol, a raiz se afunda na escuridão da terra.

Admite que as mais admiráveis manifestações nascem de mistérios do ‘subterrâneo’, por assim dizer. A corrupção está no coração de todas as coisas.

44. Louvor a ti, Ó linda terra escura, tu és a mãe de um milhão de miríades de flores.

Nenhuma tentativa é feita para contradizer o acima ou oferecer explicações conciliatórias. A solução está em contemplá-lo do ponto de vista oposto. A corrupção mesma, e todos os mistérios devem ser considerados como motivo de regozijo, desde que são as forças cujo trabalho resulta em verdade e beleza. Cf. CCXX. Cap. I, vv. 29-30.

Você não pode oferecer explicações conciliatórias de um fato da vida: você somente pode aumentar sua perspectiva para inclui-lo. A tendência para evitar “coisas baixas” é muito perigosa. De um lado, ela para o desenvolvimento; de outro, ela pode produzir um hábito de viver que pode levar a “irmandade negra” algum dia. O Adepto ao qual nós nos referimos acima recusou a aceitar a ‘mancha da geração’ quando ele viu o padre Romano se aproximando. Como resultado sua aura foi infectada pela força demoníaca que aquele padre representava. De qualquer forma ele estava duplamente errado em não exorcizar o padre, desde que é um comando que vem do Senhor do Aeon mesmo.

Este mesmo Adepto, quando ainda era um Probacionista, em certa ocasião teve um presente dos Deuses: um perfeitamente formado, e ainda quente falcão, encontrado em uma caminhada solitária. O Probacionista tinha pretendido mobiliar um Templo Mágico, e ele precisava de um leque. Imediatamente ele começou a arrancar as penas das asas do pássaro morto. A última, no entanto, saiu com dificuldade, e com um pedaço de carne agarrada. Repugnado, ao invés de limpar a pena, o Probacionista a esmagou e jogou fora. Então ele teve “uma intimação” e contou as penas restantes: ele tinha somente dez. a décima primeira, que teria completado perfeitamente o leque, ele tinha jogado fora. Neste momento a percepção do significado destes versos lhe veio, apesar de que ele ainda não os tinha lido ou decorado: a percepção que a corrupção é parte da vida, e que algumas vezes você deve descer até a corrupção para conseguir a pérola de grande preço. Apesar de que ele guardou as penas que ele então tinha, ele nunca fez seu leque. Nem ele completou seu templo. Ele desobedeceu as regras da AA e aprendeu Liber AL de cor ao invés de Liber LXV, raciocinando que se ele deveria aprender algo de cor, ele deveria “começar com o mais alto”. Ele permaneceu um Probacionista por nove anos, e foi somente várias ordálias que ele se tornou suficientemente humilde para fazer seu trabalho corretamente. Em três meses ele se tornou um Neófito. Quando ele estava aprendendo LXV de cor (ele aprendeu o Livro inteiro) ele chegou a presente passagem. O incidente do falcão morto veio imediatamente a sua consciência. Mas como nós podemos ver do incidente de seu Adeptado já mencionado, ele não aprendeu inteiramente a lição. Esperamos que ele conheça melhor agora.

45. Também, eu contemplei meu Deus, e Sua face era mil vezes mais brilhante do que o raio. Mas em seu coração eu vi o Lento e Escuro, o ancião, o devorador de Seus filhos.

45-53: Esta passagem é a mais difícil do capítulo. É difícil considerar seus versos separadamente. No entanto, parece não haver própria coerência entre eles, nenhuma ideia ordeira concatenando a sua diversidade. A solução parece estar em uma realização de que a passagem representa uma descoberta progressiva. Lembra o relato de uma viagem mental. Uma das chaves é a súbita mudança de ponto de vista, já comentada nos vv. 43-44. A contemplação da Beleza leva à reflexão sobre os elementos da Beleza que nós não reconhecemos como belos porque nosso sensório não está ajustado àquele estágio de existência. Cf. meu poema ‘Ovariotomia’, onde a beleza plástica da mulher parece ser destruída quando a cortam em pedaços. No entanto, a beleza reaparece sob uma forma diversa quando as células de que ela composta são examinadas sob o microscópio. Usemos esta chave na passagem agora sob consideração.

45. Na primeira sentença chama-se a atenção para o brilho da aparência do Anjo. A segunda sentença reconhece que sob aquela aparência está um símbolo de terror, a saber, Saturno, o qual é aqui compreendido pelos seus atributos lendários e astrológicos. Nós devemos acentuar que Saturno é o deus da geração. Isto estabelece uma referência ao v. 42. Saturno é chamado o devorador de seus filhos porque ele é o Tempo que esconde no olvido os fenômenos que ele fez surgir do inano. Mas existe outro significado, o qual é que ele não é obrigado pelos resultados da sua ação. O que quer que ele faça resulta apenas em um fenômeno transitório que desaparece automaticamente à medida que o tempo passa. Gente de mente estreita geralmente tem o hábito de lamentar a impermanência das coisas. Eles não refletem que se tudo que acontece permanecesse em existência, a carga dos fatos logo se tornaria insuportável. A Natureza requer um sistema excretório, ou cedo ela ficaria entupida com a multiplicidade de suas próprias ilusões. O progresso da mente humana depende do seu poder de assimilar os detalhes de qualquer trabalho. Eles constituem o produto acabado, e aparecem neste apenas em uma forma mudada. O esboço, o esquema preliminar, deve ser construído. O processo é contínuo. A arte de progredir consiste em compor constantemente sínteses mais complexas e mais compreensivas; assim como as palavras de um poema tem que abandonar o seu significado intrínseco para compor a unidade da impressão exercida pelo poema em seu conjunto, da mesma forma os poemas mesmos devem ser absorvidos no conceito mais simples na mensagem do poeta. Esta fórmula é universalmente aplicável. É em particular o assunto da biologia.

46. No píncaro e no abismo, Ó meu lindo, não existe nada, em verdade não existe coisa alguma que não seja completamente e perfeitamente feita para Teu deleite.

Este verso está para o verso 45 assim como o verso 44 está para o 43. O trabalho de Saturno já não parece misterioso e terrível, porque sua natureza muda e perde-se no admirável resultado de sua operação.

47. A Luz se agarra à Luz, e a escória; com orgulho um acusa a outra. Mas não Tu que és tudo, e além disso; que estás absolvido da Divisão das Sombras.

Cf. CCXX, Cap. I, vv. 22-23 e passagens similares. É natural para nós distinguir entre duas coisas, preferir uma á outra. Mas o Anjo está acima de tal dualidade. Todas as coisas contribuem igualmente à sua perfeição. É dito que Ele está ‘absolvido da Divisão das Sombras’, isto é, da ilusão de dividualidade. É apenas uma Ilusão, que haja diferença aparente entre os fenômenos diversos. O erro mais fatal que o Adepto pode cometer é dar demasiada ênfase ao agradável em um grupo de coisas e ao desagradável em outro. Se ele persistir em fazê-lo, seu sectarismo desvirtuará seu ideal de forma que seu Anjo, em vez de ser completo, compreensivo, e perfeito, representará seus preconceitos pessoais. Em tal caso o Adepto sofrerá quando quer que sua atenção seja chamada para alguma ideia da Natureza que não foi com êxito transmutada e incluída no âmbito da sua aspiração.

Nós devemos, no entanto, lembrar que o Adepto, como qualquer outra pessoa, tem seu trabalho a fazer. Nós tentamos mudar o nosso meio ambiente, e nós ou conseguimos ou falhamos. A percepção filosófica, por exemplo, da existência da existência de uma Igreja Católica Romana, deve ser balanceada pela resolução — se você tem está resolução — para erradicar a possibilidade de tal sintoma de doença da face do globo. Em resumo, nós trabalhamos sobre o material cru do fenômeno com a intenção de produzir Mudança. Isto é Magia. E nós podemos sentir razoavelmente desgostados pela presença de evidência da continuada existência de alguma coisa que nós estamos tentando destruir. ‘Não fazer diferença entre as coisas’ não deve ser interpretado como Laissez-faire. Nós referimos o leitor ao caso do Adepto que nós mencionamos agora a pouco. Os planos não — repetimos não— devem ser misturados.

48. Ó dia da Eternidade, que Tua onda se quebre em glória quieta de safira sobre o laborioso coral que fabricamos!

Esta doutrina é repetida. O coral é o Karma produzido pela acumulação dos nossos atos. Esta construção foi executada no tempo, e sua necessidade é ser coberta pelo ritmo do Eterno Deleite. O Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião age como um ponto de contato entre dois contínuos. Nenhum dos dois é compreensível sem o outro.

49. Nós fizemo-nos um anel de branca areia reluzente, espargida sabiamente no meio do Oceano Deleitoso.

O simbolismo do verso prévio é continuado. O anel indica a perfeição de nosso próprio ser na síntese das nossas ações. Nós nos constituímos um fenômeno positivo situado em um ambiente de possibilidades infinitas, com as quais podemos estabelecer contato, como preferirmos. Para compreender está passagem corretamente devemos manter em mente o ensinamento de CCXX sobre a natureza da existência. A aparição do Khu, a série de casamentos de Hadit e Nuit, leva à congregação do que poderia ser chamado uma individualidade positiva da Segunda Ordem, a qual está pronta a agir como unidade, e a invocar Nuit.

Há outro significado para este verso, possivelmente mais convincente. Ele refere-se ao uso da Quintessência para produzir certos resultados. O verso 51 dá seu uso para produzir outro e um resultado diferente. Não há lei além de Faze o que tu queres.

50. Que as palmeiras de brilho floresçam sobre a nossa ilha; nós comeremos do seu fruto, e nos alegraremos.

50-51: Mostram as duas formas em que este plano pode ser executado.

50: Atos de amor sob vontade devem ser dirigidos à criação de obras de arte. Estas são a palmeiras cuja flor deleita, cujo fruto nutre a nossa personalidade. Tais atos podem também ser dirigidos ao interior — o processo místico qual oposto ao mágico, a dissolução da personalidade considerada como imperfeição. O texto indica uma preferência pelo segundo processo. Isto é natural, o trabalho em questão sendo o C.&C. do S.A.G.; isto é primariamente um trabalho de dissolução, em vez de mais construção.

O texto indica uma preferência para o último processo da parte de Aleister Crowley. Não há necessariamente nenhuma relação entre o processo e o Trabalho de Tiphereth, que não é de dissolução, mas de harmonização, não é Solve, mas Coagula.

51. Mas para mim a água lustral, a grande ablução, a dissolução da alma naquele ressoante abismo.

O que isto verdadeiramente significa é que o Trabalho do IXº O.T.O. pode levar a Travessia do Abismo. Os Adeptos são de muitos tipos e de muitos campos de atividade. Se eles são como 666, eles não param nas Iniciações para colher suas glórias, mas vai sempre em frente. Isto não é para ser presumido como um modelo de comportamento. Suum cuique.

52. Eu tenho um filhinho como um bode malandro; minha filha é como uma aguiazinha sem plumas; eles conseguiram nadadeiras, para que possam nadar.

O simbolismo aqui é particularmente obscuro. O filho é presumivelmente o Ruach, e a filha o Nephesch. O primeiro parece ser descrito quanto à sua natureza cheia de caprichos, e a segunda quanto a seu pobre desenvolvimento em matéria de aspiração. Eles devem ser fornecidos com os meios de movimento rítmico. O defeito do bode é ser malandro, o caráter errático e indisciplinado dos seus pulos; o do Nephesch é sua preguiça, sua falta de asas. Eles devem ser tornados capazes de movimento ordeiro dentro do elemento da natureza do Anjo.

Isto está inteiramente incorreto. O Anjo atesta que ele tem um filhinho com um bode malandro: isto é, Ele produziu no Adepto, pela sua Energia Criativa, o nascimento de uma nova semente do Ruach possuindo as potencialidades de Pã. E Ele tem igualmente produzido o nascimento de uma nova Nephesch possuindo as potencialidades da Águia, que deve ser estudada na Alquimia. Esta filha tem asas; só que por enquanto elas estão meramente implumes. Eles adquirirão suas nadadeiras para que possam nadar no “morno mel” do ser do Adepto. Cf. v. 8.

Evidentemente que o ponto de vista oposto pode também ser considerado. O Adepto pode estar falando, em cujo caso seus filhos com o Anjo devem ser tornar capazes de viajar no Ser de seu Ente Progenitor, e ali crescerem pelo processo de ressonância que nos já falamos a respeito. Não faz diferença. Ambos os pontos de vista estão simultaneamente corretos.

Deve ser sempre compreendido que os Baixos Invólucros do Ser são formados pelo Ser em sua busca para a Auto-Realização. O Manas e ambos os Shariras são produzidos pelo Ahamkara, que é em si nada mais que a expressão da Vontade da Tríade Superior para encarar. O processo de Iniciação consiste na destruição desses baixos princípios e a sua reconstrução em uma volta mais elevada da espiral. Nisto, aqueles de Nossa Ordem tem a assistência do Sagrado Anjo Guardião. Mas não há nunca qualquer questão de obsessão ou implantação de material “alienígena”. Estas interpretações pertencem ao não-regenerado Ahamkara. O Magister Templi é sempre a semente do homem em que Ele se manifesta. Cf. AL i 21, 29, 30, 45, 48, 52; Liber VII i 41-55, iii 1-15, 53-60, iv 55-59, vi 17-41, vii 11-14, 29-52.

53. Para que eles possam nadar, Ó meu amado, nadar longe do morno mel do Teu ser, Ó abençoado, Ó menino de beatitude!

54. Este meu coração está cingido com a serpente que devora seus próprios anéis.

Os símbolos do coração e da serpente são mantidos como representando o Adepto e o Anjo; mas o Anjo é agora mostrado como idêntico com a grande Serpente, Ananta, que circunda o Universo e que, constantemente devorando seus próprios anéis, gradualmente restringe o Cosmo manifestado.

Esta é, evidentemente a continuação da percepção que começou em 42-46. No homem, esta Cobra Ananta se manifesta como Morte. Cf. AL ii 6.

55. Quando haverá um fim, Ó meu querido, Ó quando serão o Universo e seu Senhor completamente engolidos?

O Adepto indaga com respeito ao processo (A resposta, aparentemente, é dada no verso 65.). A despeito da perfeição da seu êxtase, o Adepto parece reconhecer que isto é apenas, por assim dizer, um oásis no deserto. Ele estende a sua aspiração do problema pessoal do seu próprio erro à contemplação do Sofrimento Universal.

Isto, é claro, mais presunção da parte do Adepto, desde que ele simplesmente iguala o Universo dos Homens, do qual ele acabou de se tornar consciente (ao atravessar o Véu de Paroketh) , com o Universo Cósmico. Em Liber VII o Magister Templi não comete tais erros, desde que a palavra “universo” tanto aparece em minúscula como em maiúscula, dependendo de qual universo se está falando. Mas o ponto de vista do Magister é, evidentemente, muito mais amplo.

“O Senhor do Universo”, que aparece frequentemente neste Livro e em LIBER VII, deve ser interpretado em quatro acepções principais. Primeiro de tudo, ele é Chesed, “a quem todos os homens chama o Primeiro”, e qualquer Imagem do Pai que você possa conotar com ele: Deus-o-Pai no caso dos Crististas, Jeová no caso dos Judeus, qualquer imagem de Buda ou Krishna obtida através de Dhyana, etc. Segundo, ele é Daäth, que manifesta através de Chesed, e que é projetada no Universo Externo. Esta é uma percepção levemente mais sutil, e pertence precisamente àqueles baixos iniciados que se deixam iludir por Dhyana. Os Irmãos Negros vão um pouco mais adiante e identificam-se com ele. Certos Brahmins, sem dúvida, o confundem com o Atman. Terceiro, numa acepção muito especial, ele é Ra-Hoor-Khuit, um aspecto do Senhor do Aeon. Quando a frase é usada neste senso, ela pode ser via de regra, identificada. Finalmente, ele é equiparado com algum Criador imaginário acima e além de todos os conceitos conhecidos, incluindo Kether. Isto, a propósito, é risível, desde de que um tal conceito somente poderia surgir assim em um Ruach, e um Ruach não esclarecido. Se houvesse tal animal, ele seria Hadit.

56. Não! quem devorará o Infinito? quem desfará o Erro do Princípio?

O Adepto parece esmagado por esta consideração. Parece-lhe teoricamente impossível ‘desfazer o Erro do Princípio’. Isto significa que ele agora compreendeu a doutrina de que o princípio (Berashith) é necessariamente da natureza de um erro. Qualquer separação, qualquer senso de finitude representa imperfeição. É simples lógica que isto devesse ser assim. Ele foi, naturalmente, bem sucedido em fazer sua imperfeição pessoal o meio de atingir autoconsciência, e daí um estado espiritual além de tudo de que ele parecia capaz. Mas sua consecução o tendo feito realizar o Universo inteiro, e identificá-lo com seu próprio sublime ser, ele experimenta o Trance de Dor.

O que mostra, sem dúvida, que asno ele é, e quanto ele ainda tem que ir. Na verdade “simples lógica”! O Adepto representa o fato de que há uma “profunda mancha” por trás de todo deleite. Ele quer Perfeição. Ele recente Mudança. Ele recente a existência de qualquer coisa que disturba a calma e a paz de sua posição como o centro do reino de sua alma, e ele não percebe que ele é o Anjo Mesmo, e a existência do Anjo Mesmo, que o perturba assim. Ele não percebe que ele está reagindo como aquele mesmíssimo selvagem de cem mil anos atrás, para quem qualquer estrangeiro era um inimigo. Ele não percebe a Fórmula de Nuit, para qual veja AL i 28-30. Ele não percebe que o Sofrimento é uma ilusão, e a pior das ilusões, porque ela parece — somente parece — mortificar o Ahamkara. Na verdade, ela é a mais insidiosa fortaleza final do Ego. O que quer que seja o Sofrimento para você, é Alegria para alguma outra parte do Universo — o verdadeiro Universo. Portanto a humanidade tem que compreender AL ii 9, e praticar AL ii 60. “Mas sempre para me.” Nós continuamos com o Comentário de A.C.:

Deve-se ter em mente que cabalisticamente o Adepto não tem conhecimento especial  de qualquer Sephirah acima de Tiphereth até que ele a tenha atingido. Este postulado é promulgado simplesmente para conveniência de cálculo. Na prática, é natural para o aspirante o estar imbuído de motivos mais sábios que aqueles determinados pelo seu reconhecimento de suas imperfeições pessoais.

O ponto da passagem é mostrar como a consecução, em vez de ser, como o aspirante talvez imaginou, a compleição da Grande Obra, pode estender a concepção  que ele tinha daquele trabalho de uma esfera pessoal a uma esfera impessoal. De fato, a primeira lição que ele aprende é que ele deve se aplicar imediatamente a se tornar apto para entrada  na Terceira Ordem, agora que finalmente foi admitido à Segunda. Eu cito Liber 418, o 14º Aethyr. A doutrina está ali exposta com singular penetração e eloquência.

57. Tu gritas como um gato branco no telhado do Universo; nenhum existe para Te responder.

Este verso lança luz sobre os três versos prévios. O Anjo é agora claramente compreendido como ocupado com o Adepto, como tal, somente em uma fração de sua completa função. Ele não é mais o fito e a coroa do Adepto. Aquele trabalho tendo sido terminado, é visto em sua apropriada perspectiva. O Adepto começa a apreender a natureza do Anjo tal qual esse é em si mesmo, isto é, tal qual ele é em relação ao Macrocosmo. Agora, no caso particular de 666, O Anjo sendo Aiwass, a pertinência dos vv. 54-56, os quais a princípio eram obscuros, é agora vista como absoluta. Aiwass é o Logos do Aeon, seu número sendo 93, tal como o de Θελημα, a Palavra da Lei. 666 é porta-voz que ele e os chefes secretos da A∴A∴ prepararam e empregaram como um instrumento através do qual a Lei pudesse ser proclamada. 666 é o quarto número do Sol cuja casa é Léo, o qual novamente é o signo ascendente do homem 666. Este homem, portanto, apreendendo seu Anjo como a perfeição do seu próprio símbolo, identificou-o com um gato (leão) branco (Kether) e, desde que ele é o Logos, diz-lhe ‘Tu gritas’. Este é o elo com vv. 54-56, pois 666 espera que Aiwass o Erro do Princípio pronunciando uma Palavra. Parece, no entanto, a 666 que esta palavra é gritada sobre o teto do Universo, isto é, a natureza da Palavra é completamente sublime. O teto do Universo é um símbolo de Kether, ou de Kether com os Caminhos de א e ב que dali nascem, formando simbolicamente um teto para a Árvore da Vida. ‘Nenhum existe para Te responder’. Acima de Kether está nenhum ou o Negativo, os três tipos de Ain ou Nada. A queixa de 666 é, portanto que está Palavra não achará eco senão no coração de Nuit.

Algumas observações são necessárias aqui. Primeiro, Aiwass não é a Palavra do Aeon, sendo como ele mesmo atesta muito claramente, o ministro de Hoor-paar-kraat. A Palavra do Aeon, o Logos desse, é 666. Os “chefes secretos” são todos aqueles Iniciados que atravessaram o Abismo. Alguns são tão imensuravelmente avançados que eles podem funcionar como vice-reis do Deus Desconhecido, e sentar no trono de Ra. Todos eles funcionam como Sagrados Anjos Guardiões como eles quiserem. Especulação sobre a natureza deles somente leva a desastre. Eles são, evidentemente, desconhecidos, desde que eles não têm nenhuma função para declarar a humanidade em geral, exceto quando eles assumem um Ofício tal como Senhor do Aeon, o Hierofante do Magi, ou Hierofante do Magister Templi. Aiwass foi, evidentemente, o Logos do último Aeon; o Logos de um Aeon é sempre o Iniciador do Logos do Aeon seguinte. Aiwass, evidentemente, não é Heru-ra-ha. Ele é Aiwass. Mas acima do Abismo, e no nível de iniciação deles, estas distinções são tão acadêmicas quanto elas parecem importantes para nosso nível.

58. Tu és como um pilar solitário no meio do mar; nenhum existe para Te ver, Ó Tu que vês tudo!

Repete a ideia do verso 57. O ‘pilar solitário’ representa Chokmah, a Palavra Criadora, o Mercúrio Fálico, a Sabedoria pela qual os mundos foram criados. O mar é Binah, a habitação natural de Chokmah. A natureza de Binah, se bem que realmente é compreender, é ser a grande escuridão. Este é o simbolismo convencional. Muitos exemplos são dados neste e em outros livros sagrados. Mas vede em particular Liber 418:

Este é o Mistério de Babylon, a Mãe das Abominações, e este é o mistério de seus adultérios, pois ela se entregou a tudo quanto vive, e se tornou comungante em seu mistério. E desde que ela se fez a servidora de cada, portanto ela se tornou a senhora de tudo. Tu ainda não podes compreender a glória dela.

Linda és tu, Ó Babylon, e desejável, pois tu te deste a tudo quanto vive, e tua fraqueza subjugou tua força. Pois naquela união tu compreendeste. Portanto és tu chamada Compreensão, Ó Babylon, Senhora da Noite!

Isto é aquilo que está escrito, ‘Ó meu Deus, em uma derradeira êxtase deixa-me atingir à União com os muitos!’ pois ela é Amor, e seu amor é um, e ela tem dividido o amor único em amores infinitos, e cada amor é um, e igual a Um, e portanto está ela passada da Assembléia e da Lei e da Iluminação à anarquia da solidão e das trevas. Pois sempre assim deve ela velar o brilho de seu Ser.

Ó Babylon, Babylon, tu Mãe pujante, que cavalgas sobre a besta coroada, deixa-me embriagar-me com o vinho das tuas fornicações; que teus beijos me façam delirar até à morte, para quem mesmo eu, o portador da tua taça, possa compreender.

Agora, através da rubicunda incandescência da taça, eu percebo, longe no alto, e infinitamente grande, a visão de Babylon. E a Besta sobre a qual ela cavalga é o Senhor da Cidade das Pirâmides, que eu vi no 14º Aethyr.

(12º Aethyr)

Ó tu que és mestre dos cinquenta portões da Compreensão, não é minha mãe uma mulher negra? Ó tu que és mestre do Pentagrama, não é o ovo do espírito um ovo negro? Aqui mora o terror, e a dor cega da alma, e vê! mesmo eu, que sou a única luz, uma chispa encerrada, estou de pé no sinal de Apófis e Tifão.

(14º Aethyr)

Eu sou aquele além de todos esses; e Eu levo os símbolos da escuridão pujante.

Haverá um selo como de um vasto, ameaçador e negro oceano de morte, e o central braseiro de treva, radiando sua noite sobre tudo.

Engolirá aquela escuridão menor.

Mas naquele profundo quem responderá Que é?

Não Eu.

Não Tu, Ó Deus!

(Liber VII, vii, 28-31)

Um símbolo principal de Chokmah como Mercúrio Fálico é o olho. Eu cito da visão d’Ele qual obtida no Trabalho de Paris: “Ele (Mercúrio) é essencialmente Fálico, mas ele tem um livro na mão, Livro de cento e seis páginas. Na ultima página, como colofão, está uma estrela de quatro pontas, muito luminosos e isto deve ser identificado com o Olho de Shiva; e o livro pertence ao Grau 7°=4▫. O subtítulo do Livro é BIA, o que é dito significar ‘força’.”.

Neste aspecto, se bem que Chokmah é a Palavra, ele vê e não fala, a Palavra é um fato de Ação mesma, mais que qualquer pronunciamento inteligível. A queixa de 666 parece então ser que nem por palavra nem por ato pode Aiwass desfazer o Erro do Princípio. Θελημα (que é em si mesma um símbolo absoluto de Chokmah) está além da compreensão do Universo cuja imperfeição é a sua função remediar.

59. Tu esmoreces, tu fracassas, tu escriba; gritou a Voz desolada; mas Eu te enchi de um vinho cujo sabor tu não conheces.

O epíteto ‘desolado’ atrai a atenção imediatamente. A palavra é derivada de de-solare, de tendo um efeito enfático, de forma que a palavra ‘desolado’ significa ‘completamente só’. Os Hierofantes, porém tem habitualmente comunicado arcanos na presença do profano tomando vantagem de semelhança de som entre ‘Sol’ e ‘solus’, especialmente em partes da declinação tais como ‘soli’ que é genitivo singular de ‘solus’ e dativo singular de ‘Sol’; e ‘Solis’, genitivo singular de  ‘sol’ e ablativo plural de ‘solus’. A palavra ‘desolado’ pode portanto ter sido usada para indicar a atribuição do Anjo tanto a Kether (Solus) como Tiphereth (Sol) . O de pode implicar uma referência à sua relação com o Adepto através do Caminho de ד, Amor, especialmente em vista do fato que Sua Palavra Θελημα, 93, contém a ideia de Ágape, 93.

Devemos observar uma vez mais que não há nenhuma comunicação entre um Adepto e ד exceto através do Guardião do Abismo; Daleth pertence as Supernas. O Anjo está sugerindo a relação entre Chokmah e Binah, não entre Ele Mesmo e o Adepto. Seu contato “normal” com o Adepto é através da Alta Sacerdotisa, ג.

O verso é uma réplica direta de Aiwass a 666, o qual estava realmente desencorajado por ter percebido que a Grande Obra que ele havia executado, apesar de todo o êxtase da dor pessoal dele, era apenas o portal do Caminho da Estupenda tarefa de redescobrir o Universo como ele fizera para si próprio. Aiwass explica que ele fez o necessário laço mágico entre Si Mesmo e o Mundo através do homem 666. Meu desânimo sob o senso da minha responsabilidade, meu sentimento de que meu trabalho pelo mundo estava antecipadamente condenado ao fracasso, eram devidos à minha ignorância do que Aiwass fizera. Ele afirma que Ele me encheu com um ‘vinho cujo sabor tu não conheces’. Vinho é o símbolo universal para o êxtase espiritual e o meio de produzi-lo. 666 não sabe precisamente como este êxtase que pulsa em sua vida afetará outros.

Mais observações são necessárias. O homem não é 666, mas Aleister Crowley, o “escriba”; o verso é perfeitamente claro quanto a isso. Também, é este homem, este vaso comum de carne, que tem sido enchido com um vinho cujo sabor ele não conhece. O leitor é referido a AL ii 10-13, e os Comentários ali. 666 sabe perfeitamente bem de qual vinho está sendo falado. O processo é normal em Nossa Ordem; veja Liber VII, vii, 46-52. “Tu esmoreces, tu fracassas.” Este escritor tem, através dos anos, lido muitas criticas do caráter de Aleister Crowley, muitos queixam-se de discrepância (assumida pelos queixosos, de qualquer maneira) entre suas palavras e suas ações. Deixando de lado a falta de inteligência dos queixosos, e sua falta de estatura espiritual para criticar o instrumento do Logos, tente visualizar o que deve ter significado, para uma criatura de carne e osso, começar uma nova corrente de energia em um oceano de correntes indo a lugar nenhum enredadas em sua própria inércia. Tente visualizar o antagonismo despertado em um tal homem, tente imaginar as correntes de forças hostis, o ódio da mais alta intensidade, dirigida contra ele. Você nunca conseguirá a menos que você experimente por algum tempo, como Hércules fez, as dificuldades da tarefa de Atlas — que, incidentalmente, nunca deu de ombros, e nunca dará.

Então se você conseguir por um momento conceber qual é a “recompensa de Ra Hoor Khuit”, pese novamente suas palavras, ou as palavras de certos homenzinhos que tem proclamado a si mesmo como mestres e instrutores de seus semelhantes sem nunca terem dado um passo no Verdadeiro Caminho do Serviço, sem nenhuma vez terem contemplado seu horror.

É a marca dos verdadeiros Iniciados nestes dias e era, é que eles honrem as virtudes de Crowley e ignorem suas faltas; pois eles sabem que onde estas faltas eram mais que humanas — se alguma vez foram — assim também foi o peso que ele teve que carregar. E não importa o quão grande pode ser um homem, ele tem exatamente a mesma quantidade de energia a sua disposição neste mundo de matéria. Portanto você deve se concentrar na tarefa realmente vital, e deixar o resto com a chance. Conte seus anos pelas suas feridas — ou pelas feridas que você inflige aos outros. Cf. AL iii 49-60.

60. Ele servirá para embriagar o povo da velha esfera cinzenta que rola no infinitamente Longe; eles lamberão o vinho como cães que lambem o sangue de uma linda cortesã trespassada pela Lança de um veloz cavaleiro que atravessa a cidade.

‘A velha esfera cinzenta que rola no infinito Longe’ é a terra; pois o lugar que o Adepto é arrebatado para comungar com o seu Anjo é remoto do Universo material. No entanto este vinho, que pode simbolizar CCXX mesmo ou até a poesia ou a biografia do homem 666, é garantido como possuindo a virtude de intoxicar os habitantes deste planeta.

O símbolo final é estranhamente e até formidavelmente vívido. A referência aos cães, ao sangue, e ao veloz cavaleiro pela cidade, sugere a história de Jehu e Jezebel, mas a alusão não é acurada ou completamente inteligível. O simbolismo geral, porém, é suficientemente claro. Cf., primeiramente, Cap. III, v. 40; Cap. V, v. 8; Liber VII, Cap. Vii, vv. 15-16. Cf. também a uniforme representação do Adepto como uma donzela ou prostituta. Para o cavaleiro veloz, Cf. Cap. IV, vv. 38-39 e o simbolismo geral do Anjo como portador da sagrada lança ou phallus; e montado em um cavalo para indicar sua rapidez e seu poder sobre a natureza animal.

O sangue é usado constantemente como um símbolo da vida fluída, o veículo da energia animal.

O significado do verso é então que este derrame da orgia do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião torna-se a nutrição e o método de intoxicação dos cães, isto é, de animais de um estágio inferior de evolução. É, no entanto insinuado que eles contêm em si mesmos a divindade escondida. Vede CCXX, Cap. II, v. 19. Eles tem apenas que virar ao contrário a sua fórmula mágica para atingir a divindade. Note-se também o uso da palavra ‘lamber’ (Nota de M.: “lap” no original em inglês; é um anagrama de לאף , א , a soma de cujas letras quando escrita por extenso dá 111), que sugere sede deles, sua avidez e prazer, mas também está ligada ao simbolismo do número 111. Este implica em ‘pesada escuridão’ e a ‘morte súbita’ envolvidas no processo de Iniciação. Há também a doutrina toda do ‘Tolo’ ou ‘Louco’. Além de tudo isto, a palavra ‘lap’ está na linguagem Angélica (Veja-se o Equinócio I, viii, ‘Os 48 Chamados ou Chaves’.) . ‘Porque’ assim indica que a limitação e sofrimento desses cães é devida à subserviência deles à faculdade da razão. ‘Existe grande perigo em me; pois quem não compreende estas runas fará uma grande falha. Ele cairá no mundéu chamado Porque. e lá ele perecerá com os cães da Razão. Agora uma maldição sobre Porque e seus parentes! Seja Porque maldito para sempre! Se a Vontade para e grita Por que, invocando Porque, então a Vontade para e nada faz. Se o Poder pergunta por que, então o Poder é fraqueza. Também, a razão é uma mentira; pois existe um fator infinito e desconhecido; e todas as palavras deles são meandros. Bastante de Porque! Seja ele danado para um cão!’ (Liber CCXX, Cap. II, vv. 27-33.)

O estudante faria bem em meditar sobre estas considerações até que as tenha assimilado completamente, em separado e em combinação. Ele deveria então construir uma projeção visual da cena descrita neste verso. Desta forma eventualmente chegaria a uma apreensão intuitiva direta da maneira em que o trabalho da vida inteira de 666 pode auxilia-lo a participar do sacramento de iniciação. Cf. também Liber VII, vii, v. 16, vv. 20-25 (24) , vv. 49-50, vv. 56-60,  mesmo Livro, Cap. Iv, vv. 17-24; Cap. Vii, vv. 47-49.

Eu pus tanta ênfase na importância desta passagem devido às seguintes considerações:

Minha carreira mágica pessoal começou quando eu tomei um juramento de alcançar o Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião por motivos inteiramente egoístas e pessoais. Eu havia, é verdade, experimentado o Trance de Dor, mas a motivação dada por este para fazer o juramento estava estritamente circunscrita à minha insatisfação pessoal com a situação em que eu me encontrava — a meu saber, sem nenhuma intenção minha. No curso das preparações para executar a Operação da Magia Sagrada de Abramelim o Mago, eu descobri que meus interesses eram inseparáveis dos do resto da humanidade. No entanto, eu formulei a minha Vontade Real desta forma: Minha missão na terra era ensinar aos homens ‘o próximo passo’, isto é, induzi-los a se devotarem a alcançar o C.&C. do S.A.G., em vez de tarefas filosoficamente mais universais como preconizadas pelos sábios hindus e budistas. Foi a minha própria consecução que me compeliu a ampliar o alcance de minha Obra para incluir a função do Logos do Aeon, muito como já foi explicado nas passagens deste Capítulo ainda a pouco discutidas. As duas obras mais importantes de origem estritamente inspirada que eu já produzi são LXV e VII, e agora se torna claro que é natural e necessário que assim fosse. Pois Liber LXV cobre toda questão possível que possa aparecer em conexão com o Grau de Adeptus Minor, e Liber VII faz o mesmo com o Grau de Magister Templi.

Para Liber VII isto não está completamente correto. O livro contém várias chaves que levam ao estudo de LIBER AL como o verdadeiro Livro para o Magister Templi, para o qual Liber VII é somente uma introdução. Isto, a propósito, é verdadeiro para todos os escritos de Aleister Crowley depois que ele finalmente aceitou o Livro da Lei: todos seus trabalhos se tornaram Comentários sobre Ele.

61. Também Eu sou a Alma do deserto; tu me buscarás ainda uma vez na solidão da areia.

61-63: Começando com o verso 54 o assunto deste Capítulo, e de fato do Livro inteiro, passou por um processo de modificação. Previamente tratava quase exclusivamente das relações entre o Anjo e o homem, a única variação sendo devida à divisão do homem, por razões de conveniência, em Nephesch, Ruach, etc. De fato, se nós identificarmos o Anjo com Jechidah, seria direito dizer que Liber LXV não é mais que um extenso comentário sobre a coluna LVXVII de Liber 777. Mas agora nós primeiro tocamos na consciência do Universo em sua totalidade, e depois na relação peculiar de 666 com seus semelhantes. Nós já vimos que a função dele na vida do Planeta foi definida, e consequentemente não é estranho que o Anjo indique as atuais condições de Suas futuras relações com 666. (Nota de M.: Porém, veja-se o Cap. I, vv. 51-52.)

Esta interpretação de A.C. está totalmente errada, e tivesse ele sido um Iniciado menos avançado isto poderia tê-lo levado a desastre pessoal. Como ele estava, a pressão de seu verdadeiro assunto — sendo um foco e fonte de radiação da Lei de Θελημα — logo conduziu sua mente para longe das interpretações pessoais de condições físicas de encontros futuros com seu Anjo.

O leitor deveria descontar, no Comentário que segue, qualquer referência aos interesses pessoais do escriba Aleister Crowley.

O Anjo se declara a Alma do Deserto. Esta afirmativa pode ser tomada como uma referência de modo geral à Sua atribuição ao Caminho de Gimel, que liga Kether e Tiphereth cruzando o Abismo, ou o Deserto, cuja característica essencial é ausência de alma. Veja-se Liber 418, 10º Aethyr. Choronzon é definido como falta de alma. Por proteicas que sejam as formas de aparição dele, todas tem isto em comum: não existe essência atrás delas. Elas são os Qliphoth (cascões) , desprovidas de significado ou substância porque são meras categorias, desabitadas por qualquer individualidade. Gimel, aliás, significa um camelo, ‘o navio do deserto’. Cf. Liber VII, vii, vv. 22-23, e Liber 333, Cap. 73:

O DIABO, A AVESTRUZ E A CRIANÇA ÓRFÃ

A Morte cavalga o Camelo da Iniciação.

Tu corcunda de pescoço duro que gemes em Teu Asana, a morte te aliviará!

Não mordas, Zelador querido, mas persiste! Dez dias tu passaste sem água na barriga? Tu passarás vinte mais com um tição aceso no traseiro!

Sim! toda a tua aspiração é para a morte; a morte é a coroa de toda a tua aspiração. Tripla é a corda de luar de prata; ela te pendurará, Ó Santo, Ó Homem Enforcado, Ó Camelo-Terminação-da-terceira-pessoa-do-plural por tua multiplicidade, tu Fantasma de um Não-Ego!

Pudesse apenas a Tua mãe te ver, Ó tu Unt! (Unt is Hindustani for camel. i.e., Would that BABALON might loon on thee with favour.)

A Infinita Serpente Ananta que circunda o Universo é simplesmente o Verme do Ataúde!

V.V.V.V.V. é o Mote de 666 em seu Grau de Magister Templi.  Veja-se Liber LXI, vv. 29-30. A função do Magister Templi é fazer com que o deserto floresça, transmitindo o Logos do Aeon a esses que estão abaixo do Abismo.

À parte este significado geral, existe uma alusão pessoal a 666 que é Alastor, o Espírito da Solidão. Tolos rabis incluíram este símbolo em sua lista de demônios. Para o bem-nutrido fariseu, como para o moderno burguês, nada parece mais aterrador que a solidão em que a mente é compelida a encarar a realidade. Semelhante gente teme acima de tudo regiões solitária e selvagens. Até a lenda mesmo da sua tribo tem a ver com a ‘terra de leite e mel’, a Terra Prometida, o fantasma desejo do sensualista.

Observe-se que isto é apenas uma matéria de ponto de vista. Cap. V, vv. 59-62. O que, para o presunçoso judeu com seu complexo de Édipo é a extrema abominação, para nós é uma ‘terra além de mel e espécies e toda perfeição’, mesmo se a chamamos de ‘Nada’. Nós consideramos os ‘cansados’, e seu ideal de conforto e civilização, como ‘velha terra cinzenta’. De gustibus non est disputandum. Mas existe um critério neste caso, pelo qual podemos determinar se nós ou eles escolheram a melhor parte. Pois é evidente que nenhuma condição de existência pode ser verdadeiramente satisfatória se o prazer que ela causa pode ser perturbado. A questão é se a sua natureza é harmônica com a natureza do Universo. Pois a estabilidade depende disto. Nós consequentemente verificamos que o ideal burguês é o repouso, e que sua concepção do Cosmo é estática. Ora, experiência comprova que tal não é o caso. O Universo é uma transição constante. Desejar repouso é portanto ir contra a própria Natureza. Nós aceitamos este fato e definimos os Irmãos Negros diretamente como esses que tentam interromper o curso dos acontecimentos. Para nós o burguês é um desajeitado, ignorante Mago Negro amador. Nossa ideia de alegria é um livre movimento contínuo, e a estabilidade da nossa alegria é assegurada pela nossa concepção mesma de Yesod. Nós vemos que a fundação do Universo é contínua mudança. Quanto mais nós mudamos, mais fixos estamos em nossa alegria. Vejam-se os Aethyrs 11º e 3º, e várias passagens similares dos Livros Sagrados. Nós estamos garantidos pela natureza intrínseca das coisas, enquanto que o burguês está sendo constantemente perturbado pelos assuntos mais triviais, como a passagem do tempo e a flutuação do câmbio.

As dificuldades da vida no deserto, e em particular o seu horror psicológico, indicam enfaticamente esta correspondência.

À parte esta referência a Alastor, a palavra novamente lembra os históricos eventos de 3 de Dezembro de 1909 e.v., em Bou Saada, quando 666 passou cerimonialmente pela Iniciação ao Grau de Mestre do Templo. Isto explica a alusão. Daí é evidente que a importância destes versos é inteiramente prática. Eles não devem ser tomados em um senso místico, mas como definitivamente predizendo um Grande Retiro Mágico a ser realizado por 666 em algum período no futuro. Não parece existir qualquer indicação clara quanto à data dessa jornada, mas suas condições são estabelecidas com considerável precisão, e o local mesmo da ‘consumação’ é descrito em termos tais que não deve haver dúvida.

O estudante deveria aqui consultar o relato de tais acontecimentos como a busca e descoberta da Villa Caldarazzo, se ele deseja aprender a interpretar as instruções recebidas através de visões e oráculos.

Eu sempre tomei a passagem neste sentido. Eu tenho esperado perceber, mais cedo ou mais tarde, que as minhas circunstâncias são tais que o curso de ação apropriado é fazer uma jornada tal que, após, será verificado que ela é uma precisa e exata realização desta predição. No momento de escrever este Comentário tal jornada está precisamente sendo contemplada, e pode talvez ser parte dos preparativos dela que eu tinha sido movido a devotar minhas energias à análise deste Livro. É, portanto diretamente pertinente ao meu próprio trabalho, e deveria ser extremamente útil da maneira mais prática ao estudante, se eu traçar tão minuciosamente quanto possível as possíveis relações do simbolismo do texto.

Em vista, porém, da extrema importância desse Grande Retiro Mágico, seria definitivamente impróprio discuti-lo coram populo enquanto ainda incipiente. Mais, é uma característica bem conhecida de toda verdadeira profecia que, se bem que algumas das alusões devem ser inteligíveis no momento da pronunciação dela, de forma que o significado geral não seja passível de engano, no entanto devem haver outras passagens completamente impossíveis de interpretar até que a ocorrência predita venha a se processar.  Em Macbeth e Parte I de Henry VI, Ato I, Cena 4, e Ato IV, Cena I, linhas 30-35, e Ato V, Cena 2, linhas 67-69 ilustram esta condição. O estudante é também referido à interpretação e cumprimento da profecia em CCXX, III, 47. Nenhum número de investigações me teria habilitado a dizer em que sentido as palavras da predição se viriam a justificar.

62-63. No caso do Grande Retiro Mágico indicado nestes versos, os dados são singularmente precisos. Mesmo quanto ao efeito de Trabalho, V. 63, existe um  número de expressões pouco usuais — ‘enfeitado’, ‘ungido’, ‘Consumação’ — as quais no presente são e devem assim continuar, até o evento, perfeitamente obscuras. O verso, superficialmente, é vago ao máximo. Estas expressões poderiam ser aplicadas a quase qualquer forma de relação de Aiwass com a Besta. Quando o Retiro for um assunto para a história, tornar-se-á aparente que estas expressões descrevem com precisão quase matemática a natureza da orgia, e que em cada caso nenhuma outra palavra poderia substituir a palavra usada. Está circunstância deveria ser prova irrefutável para esses que compreendem algo das leis da Natureza, especialmente no que concerne à doutrina da probabilidade, de que Aiwass possui o poder de predizer ocorrências futuras e de fazê-las ocorrer conforme Seus planos. A natureza vaga das expressões no presente é evidentemente uma parte essencial  desta prova; pois se eu fosse capaz de interpretá-las agora da maneira surpreendente e convincente com que o tempo me permitirá fazê-lo, eu poderia, exercendo prudência, arranjar a realização da profecia, e desta forma destruiria o seu valor de evidência. Este parágrafo foi ditado por mim a Frater O.P.V. na noite de 17 de Julho de 1923 e.v. (Na realidade, de 10 às 10.20 da noite, Terça-feira, 17 de Julho de 1923, no Hotel Au Souffle du Zephir, Marsa Plage, Tunísia. An XIX, Sol em 24° de Câncer, Lua em 14° de Virgem.) A passagem será mostrada a Eddie para confirmação.

Isto é Frater O.P.V. Esta “predição” certamente nunca se tornou realidade. O verso se refere aos versos 52-53, do qual ele é a conclusão. O ‘grande senhor é um gracioso’ é o crescimento do meninote ‘como um bode malandro’; a ‘mulher vestida em gaze e ouro, tendo as estrelas em seu cabelo’ é a antiga ‘aguiazinha ainda sem penas’. Eles cresceram, isto é, desenvolveram, e o Adepto retorna para encontrar o Anjo ‘armado, como os Deuses’. A ‘terra de pestilência e mau’ refere-se ao Cap. I, vv. 45-46; o rio de uma ‘tola cidade esquecida’ é a fonte da mente material humana, talvez mesmo do cérebro.

Há algumas coisas sobre o Processo Iniciático que deve ser compreendido. Iniciações não necessariamente completas sobre todos os planos ao mesmo tempo, e necessitam serem passadas repetidamente até que todos os planos sejam cobertos. Isto não é uma regra; não há nenhuma regra em iniciação, é a coisa mais pessoal possível, e ela deve variar com o Movimento do Universo mesmo. O Universo pode ser interpretado como interior, universo subjetivo, ou Universo Humano, ou o Universo Externo, ou o Universo Solar, ou o Universo Cósmico, e assim por diante. Algumas Iniciações podem ser completas em todos os planos, mas o mesmo indivíduo pode ter que passar através de sua próxima Iniciação várias vezes, cada vez sobre um plano diferente.

A Iniciação do Neófito reflete a Iniciação do Adepto Menor; a Iniciação do Zelador reflete a Iniciação do Magister Templi; a Iniciação do Practicus reflete a Iniciação do Magus; a Iniciação do Philosophus reflete a Iniciação do Ipsissimus. O processo recomeça com Dominus Liminis, cujas circunstâncias e ordálias são análogas as do Probacionista. Novamente, a Iniciação do Adeptus Minor é análoga àquela do Neófito, no entanto em um plano mais elevado, e a Iniciação do Adeptus Major é análoga àquela do Practicus, e a Iniciação do Adeptus Exemptus é análoga aquela do Filósofo. (A Iniciação do Zelador é análoga, aqui, do ponto de vista do Adeptus Minor Interno.) A Travessia do Abismo é novamente análoga a Probação e a posição e progresso do Dominus Liminis.

Na prática isto significa que é impossível passar através de uma Iniciação sem produzir um despertar reflexivo nas mais altas da consciência da pessoa que não estão particularmente envolvidas com a Iniciação per se (pelo menos em aparência). Isto, é claro, não é realmente verdadeiro, desde que nós estamos vivendo processos de energia e toda parte de nossa está conectada com todas as outras partes, mas nós esperamos que o leitor compreenda o que nós queremos dizer. Uma Iniciação reverbera em todas as nossas partes, mas se concentra especialmente sobre uma faculdade sobre certo plano.

O resultado disto é que nós devemos ir através da mesma Iniciação repetidamente até que ela se torne tão perfeita que nós não nos tornamos mais cônscios de termos passado por ela. Assim fez Aleister Crowley, por exemplo, passou pelos graus da Externa com rapidez estonteante. Estes Graus ele tinha conquistado, repetidamente, em vidas passadas, até que eles tornaram parte de sua Memória Mágica, isto quer dizer, de seu Ser Mágico.

Um exemplo a disposição de todo mundo: a Travessia do Abismo deve ser feita em dois planos: aquele de Nephesch e aquele de Ruach. Isto não significa que uma pessoa que se submete a Travessia do ponto de vista de Nephesch não atravessa em Ruach; mas quando Ruach existe em função do Nephesch, como no caso com temperamentos intensamente místicos, por exemplo, o Ruach passa por virtude de Nephesch. Não obstante, para se tornar um Adepto balanceado, a pessoa em questão terá que se submeter a Travessia novamente do ponto de vista do Ruach; e terá que fazer isto em uma nova encarnação, onde o temperamento dele ou dela se torna mais balanceado em virtude do treino em ciências positivas, ou condições das circunstâncias, ou auxilio genético de um dos pais ou ambos, a menos que ele ou ela seja forte o suficiente para controlar Nephesch, treinar o Ruach, e atravessar duas vezes na mesma encarnação. Tais casos acontecem. A Instrução referindo a Travessia em Nephesch é Liber 156, e a Instrução referindo a Travessia em Ruach é Liber 474 (Os Abysmi vel Da’ath) .

Visto que nós definimos evolução como expansão da consciência, e medimos Seres Espirituais pela extensão da consciência deles, nós devemos admitir que um Magister Templi que atravessasse o Abismo em Nephesch (ou melhor, do ponto de vista de Nephesch) é inferior ao Magister Templi que atravessou o Abismo de ambos os pontos de vista, Nephesch e Ruach. (Isto, novamente, não é completamente correto, pois depende da profundidade e escopo da Estrela envolvida, como por exemplo, um Albert Einstein com somente um diploma Universitário e um Joe Schmoe com vários, mas novamente nós esperamos que o leitor compreenda as limitações sobre as quais nós devemos lutar para comunicar ideias como estas.).

Nós devemos seguramente dizer quem mesmo as maiores Estrelas tentaram, frequentemente, aumentar a sua consciência em todos os planos nos mais abrangentes modos possíveis. “Meus Adeptos estão retamente erguidos, suas cabeças acima dos céus, seus pés abaixo dos infernos.”

O Adepto em LXV tem justamente reclamado do Erro do Princípio, o que simplesmente significa que ele ainda não aperfeiçoou sua Iniciação (não houve nenhum erro no começo, e não houve nenhum começo! Cf. Cap. II, vv. 17-22); e perguntou ao Anjo em qual circunstância ele pode esperar completa satisfação do Conhecimento e Conversação. A resposta é dada muito explicitamente, e nós sugerimos que estudantes sérios meditem em pratiquem.

62. À tua mão direita, um grão-senhor, e formoso; à tua mão esquerda uma mulher vestida de gaze e ouro, tendo as estrelas em seu cabelo. Vós viajareis longe em uma terra de mal e pestilência; Vós acampareis no ri de uma tola cidade esquecida; lá vos encontrareis Comigo.

63. Lá Eu farei Minha habitação; como para bodas Eu virei enfeitado e ungido; lá a Consumação será feita.

64. Ó meu querido, Eu também espero pelo brilho da hora inefável, quando o universo será como uma cinta para o meio do raio do nosso amor, estendendo-se além do fim permitido do Infindo.

A linguagem deste verso é curiosamente extravagante, no entanto curiosamente exata. A impressão é que o Anjo está perpetrando violência sobre a linguagem, compelindo grifos ambíguos a assumirem forma definida.

Consulte o Cap. III, v. 12, e meu comentário. Versos 64-65 aparentemente fixam a conotação da palavra ‘consumação’ no verso 63.

É difícil apontar qualquer motivo definido para a minha impressão, no entanto é minha impressão que o amor então se estenderá não mais como até agora somente até  Tiphereth (Liber LXV) ou até Binah (Liber VII) , mas até Kether e o Ain Soph (Ilimitado) .

O Infinito parece ser Kether. Pelo menos, eu não posso conceber outra alternativa. Kether pode ser legitimamente descrito como infindo devido à sua unidade. Mas em tal caso, que significado podemos atribuir a ‘fim permitido’? A sugestão é que existem realmente dois fins, um permitido, isto é, arbitrariamente atribuído, o outro inerente a sua natureza. A referência poderia então ser ou a Malkuth ou ao Ain.

Alternativamente, o ‘fim’ pode representar não ‘finis’ mas ‘telos’. O fim permitido pode ser parafraseado como ‘o fito legítimo’.

Também, ‘infindo’ poderia ser tomado como equivalente de ‘sem objetivo’. O cânon de perfeição da vontade é dado em CCXX, I, 44: ‘Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é todavia perfeita.’

Kether como unidade pode ser descrito como infindo porque é em si mesmo um resultado, um produto de ‘amor sob vontade’, a resolução da Díade.

O Universo é comparado com uma ‘cinta para o meio do raio do nosso amor’, como se aquele raio fosse uma ilimitada linha de luz. A totalidade da existência manifestada seria então a fronteira da [simples/central SEÇÃO] deste amor.

Este estado de coisas se passará quando cada um dos dois amantes se tiver identificado com a ideia infinita da qual ele é naturalmente um caso (centralizado ou constringido) particular. Em outras palavras, o Anjo e o Adepto cada qual terá atingido auto-aniquilação ou dissolução no ser de Nuit e Hadit respectivamente; e assim o ponto de junção, a câmara nupcial, será no meio do Universo dos fenômenos finitos precipitado pela união dos infinitos complementos. O Universo será em fato determinado pelo raio que representa a vontade de amar destes dois. O fenômeno é, portanto paralelo ao ato fundamental de criação. Está formula é tão profunda e importante que deve ser aprendida e assimilada pelo estudo das teorias a ela concernentes antes que o estudante possa esperar atribuir qualquer significado verdadeiramente definido às ideias que eu acabo de tentar traduzir na linguagem de concepções intelectuais.

Além de tudo isso, existe indubitavelmente um significado Neshâmico ou Samádhico do verso 64 que não é de forma alguma suscetível de interpretação intelectual, a não ser por um Magister Templi que tenha feito um esforço especial para construir uma linguagem especial para cruzar o Abismo entre Nephesch e Ruach, entre a consciência Samádhica e as condições normais de vida consciente.

65. Então, Ó tu coração, Eu a serpente te devorarei por completo; sim, Eu te devorarei por completo.

A conclusão — e seja lembrado que este capítulo inteiro trata da expressão da Vontade Inconsciente — é que a ‘Consumação’ do C.&C. do S.A.G., cuja conotação fixada pelo verso 64, é a completa e irrevogável absorção da consciência humana do Adepto naquela do seu S.A.G. O símbolo do coração, isto é, da apaixonada vida passiva do Adepto, é consumido (consumação) na vida eterna e divina representada pela serpente. A serpente é uma vibração de energia cujas curvas complementares aparecem como morte e vida. É a mudança de direção nos pontos solsticiais das curvas que produz a ilusão de stasis e portanto provoca  nomenclatura por parte desses que não conseguem compreender a continuidade da linha, vendo como veem apenas um seu diminuto arco. A ideia é apreendida quando a ‘serpente’ é tomada  como no verso 54. Qualquer grifo que seja escolhido, o pensamento é o mesmo. A consumação implica a transformação da vida humana na contínua vibração espiral serpentina daquela pura energia que não é diminuída pelos seus resultados, que nem anseia pelos seus resultados nem é diminuída por eles.

Gostou deste artigo?
Contribua com a nossa biblioteca