Quinto Capítulo

Este artigo é um capítulo de Liber LXV vel Cordis Cincti Serpente Comentado por Aleister Crowley e Marcelo Ramos Motta

O Quinto Capítulo de Liber LXV comentado por Crowley & Motta.

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Quinto Capítulo

Este Capítulo é atribuído ao elemento do Espírito; consequentemente trata da harmonização, em termos da Humanidade, das Quatro Forças Cegas de Energia. Em capítulos prévios, o homem 666, por ser uma ideia tão grosseira e tão complexa, não tinha nenhum direito natural a qualquer lugar nas relações entre o seu Anjo e o Adepto que ele selecionou e aperfeiçoou em si mesmo. 666, o ’escriba’, etc., como ele é chamado em diversas passagens, deve formular um ele entre si e os outros (Veja-se Capítulo I, v. 31, vv. 41-49, etc.).

Os quatro elementos são normalmente chamados “cegos” na tradição oculta, mas o termo é desencaminhador. O que eles são, na verdade, é automáticos: eles trabalham sobre a Leis de Balanço, ou Ajustamento, e não dão importância a qualidades tais como “bondade” ou “maldade” da parte das pessoas, como por exemplo no fato de que se você beber arsênico por engano ou se você beber com a intenção de cometer suicídio, você igualmente morrerá em ambos os casos, a menos que medidas puramente mecânicas sejam tomadas para neutralizar o efeito do arsênico.

As leis da natureza, até onde a assim-chamada “ciência profana” os estuda, são Operações Cegas dos Elementos. Consciência, humana ou de outra forma, está somente começando a ser levada em consideração agora, e os cientistas sábios ainda isolam a forma puramente mecânica da permutação elemental a fim de estabelecer “leis”. Deixados a si mesmos, os Elementos seguirão uma certa forma de comportamento. A enumeração destas formas é a proposta das leis científicas.

A introdução do Elemento do Espírito produz uma mudança em todas as formas. Esta é o assim-chamado elemento “supernatural” no fenômeno, que está agora começando a ser estudado em novos ramos científicos do conhecimento, tais como parapsicologia, genética, ecologia e matemáticas. Evidentemente não é “supernatural”. Somente parece ser assim por causa do fator que altera o comportamento normal das Quatro Forças “Cegas”.

Há, e tanto os cientistas quanto os estudantes de ocultismo deveriam manter isto em mente, um mecanismo, ou elemento “cego” de comportamento em Akasha mesmo. Sua faculdade consiste em harmonizar os quatro mais baixos em relação a si mesmo, mas esta harmonização pode ocorrer sem o esforço voluntário da parte dos indivíduos cuja constituição partilha do Fogo, sejam eles de qualquer linha de evolução. Também, há os Elementais do Espírito, certa ordens de “demônios” e “anjos” pertencem a classificação Elemental, e somente parecem ser Microcosmos por causa da integração particular ou propriedade harmonizante de Akasha. Deveria ser mantido em mente que desde que os Quatros se originam em Akasha, é natural que ele devesse ter influência sobre eles. É análoga a propriedade de valência em química. Reconhecimento de verdadeira “humanidade” em seres no Plano Astral depende da capacidade de penetrar além desta qualidade mecânica de Akasha. A menos que o Sexto Elemento esteja presente em um ser nos planos mais sutis, este ser não está qualificado para lidar com a humanidade normal em um nível de igualdade. Isto, a propósito, pode eventualmente ser útil para determinar o nível de evolução formas de vida extraterrestres.

A.C. não deveria continuar usando 666 para descrever o homem em que o Adepto e o Anjo estão operando o Casamento Químico. É desencaminhador. Sua identidade como 666 está completamente acima do nível da R.R. et A.C..

Mas como o Espírito, descendo ao centro de Fogo, Água, Ar e Terra, os constitui em uma Unidade, Microprosopo, assim este capítulo resume os quatro capítulos prévios, aplicando-os a 666. Explica como as Bodas Químicas de seu Ente Mágico com o seu Anjo afetam a totalidade do ser dele. A linguagem, consequentemente, é menos técnica; certas passagens, realmente, são inteligíveis tais como estão escritas, mesmo a mentes completamente sem iniciação.

Lá vai ele com 666 novamente. Evidentemente, “Eu que sou tu sou ele”, mas! Estudantes deveriam manter esta distinção em mente.

1. Ah! meu Senhor Adonai que brincas com o Magister na Tesouraria de Pérolas, que eu escute o eco de vossos beijos.

666 começou a compreender sua relação com o Casamento no Capítulo IV, vv. 54 etc. Pois a raiz de Yod (em Tetragrammaton) está no ’Inconsciente’ que liga a consciência humana a Consciência Mágica. Cf. Cap. I, v. 41, ’o eco dos beijos’; porque a realidade de tais relações está além de apreensão articulada: podemos nos tornar conscientes apenas do reflexo (em termos do Ruach) da intuição Neschâmica.

Este fato explica a impotente tagarelice dos antigos Místicos: eles eram compelidos a empregar expressões retóricas, como o uso de palavras tais como ’inefável’ é metáforas magnificamente misteriosas. Mas agora por fim S.H. Frater V.V.V.V.V., 8○=3□ colaborou com G.H. Frater O.M., 7○=4□ , para construir uma linguagem verdadeira, com símbolos acuradamente definidos, pela qual a gesta da A∴A∴ (acima do Abismo) pode ser traduzida na linguagem da R.R. et A.C. (abaixo do Abismo). Vede Liber DCCCXIII vel Ararita: diversas passagens, mas especialmente Cap. V, vv. 1-8. A maior parte dos meus escritos sobre a orgia do Santo Espírito do Homem, desde a Espada de Canto, Konx Om Pax, e 777, até o Bagh-i-Muattar e meus Relatórios Mágicos, e talvez principalmente valiosa para a humanidade por representar a primeira tentativa sistemática de interpretar a Intuição de Neschamah em termos do Intelecto de Ruach.

A ’Tesouraria de Pérolas’. Vede 777, Coluna 127, onde Pérolas são atribuídas ao Primeiro Palácio (as Três Supernas) e ao Sétimo (Yesod e Malkuth). Mas o simbolismo da Pérola — ou Orvalho — é peculiarmente apropriado para descrições da Boda Química. A Pérola é ZRO (vede o Bagh-i-Muattar; o Continente Perdido, etc.), uma enuviada Nebulosa contendo o Rashith-ha-Gilgalim do novo Universo criado da Quintessência da Substância da Unidade do Anjo e do Adepto, extrapolada desta por virtude de ’amor sob vontade’ no momento de Êxtase.

No Capítulo I, o Capítulo da Terra, o escriba ou profeta 666 é colérico, importuno, laborioso e envergonhado. Ele ainda não tivera sucesso em estabelecer as relações apropriadas. Agora ele foi bem sucedido; “que eu escute” não é uma exigência ou pedido. Implica o poder, como em um verdadeiro subjuntivo. Cf. ’que a luz se faça’. Ele não espera por resposta.

2. Não é o céu estrelado sacudido como uma folha ao trêmulo êxtase de vosso amor? Não sou eu a esvoaçada fagulha de luz arremessada longe pelo grande vento da vossa perfeição.

Ele continua com absoluta confiança a indicar a fonte dos seus poderes. Ele nota que o céu estrelado (Nuit) é ’sacudido’, isto é, sua continuidade é rompida pela Boda Química. No outro extremo, a condição estática dele é destruída. Ele se compreende não mais como um fixo ser terrestre, mas como a ’esvoaçante fagulha de luz’ — uma pura vibração dinâmica. Esta concepção, formulada pela primeira vez em Liber CCXX, e já explicada neste Comentário, é um fato a primeira condição daquilo que os Budistas chamam Samma Dithi — correta perspectiva. Enquanto o homem se concebe como um ente, em vez de como uma energia, ele atribui a si próprio não (como supõe o profano) a estabilidade, mas a estagnação, que é a morte.

Além disto, está fagulha é praticamente identificada com o êxtase da Boda Química.

3. Sim, gritou o Santíssimo, e da Tua fagulha Eu o Senhor acenderei uma grande luz; Eu queimarei por completo a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei da grande impureza.

Já foi explicado que o absoluto abandono do falso ser é a primeira condição da existência do Verdadeiro Ser. Enquanto 666 parecia a si mesmo uma existência separada, ele permanecia impotente. No momento em que ele se compreende ’arremessado pelo grande vento da vossa perfeição’ o Anjo lhe declara o seu sucesso precisamente naquele plano de ilusão por ele abandonado. O sofrimento e fracasso de 666 nasce de sua contemplação de seus semelhantes, da imperfeição e miséria, do tédio da existência sobre este planeta. Ele verificara que seus esforços pessoais, longe de remediarem o dano, tendiam pelo contrário a aumentá-lo. Agora porém que a personalidade foi destruída, ela se torna eficiente. É impossível mudar qualquer estado fixo atuando sobre este em seu próprio plano. Quando muito, pode-se rearranjar seu caráter pela fórmula de ALIM (Veja-se Livro 4, Parte III, Cap. iv), a fórmula da feitiçaria. Não importa como manipulemos os dígitos de um número divisível por 9. (Considerando-se atentamente a doutrina toda do número 9. As referências já foram indicadas neste Comentário.).

O mundo de Assiah é uma cristalização da ideia Atzilúthica através de Briah e Yetzirah. Pode ser efetivamente modificado pela importação de alguma outra quintessência Atzilúthica. É portanto inútil para 666, como um ente de Assiah, o procurar concertar Assiah. Ele pode fazer isso apenas exaltando-se a Atziluth pela Consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, e atuando sobre Assiah através de Briah partindo de Yetzirah.

O Anjo espontaneamente promete a 666 que sua Vontade Real se tornará operativa. A diminuta fagulha da sua individualidade será incendiada em uma grande luz, e esta luz consumirá a impureza da ’cidade cinzenta na terra velha e desolada’. Este livro foi escrito em Londres, e a aparente referência no primeiro caso é àquela cidade. O texto pode significar de alguma forma 666 se tornará ’uma grande luz’, um fenômeno portentoso prenhe de destruição aos olhos de seus habitantes.

É uma pena que o Anjo não escolheu Tóquio, ou Los Angeles, onde os problemas de poluição é muito mais severo!... Evidentemente esta ’cidade cinzenta’ é a mesma referida no Cap. IV, v. 62, e Cap. III, v. 21. E o processo de se tornar “uma esvoaçante fagulha de luz” é geral para todo Adepti Minori, a quem este livro é dedicado. O parágrafo acima é um exemplo daquele ’esmorecimento’ no escriba mencionado no Cap. IV v. 59-60, onde novamente a Cidade é mencionada. Ele olha a seu redor e se percebe ignorado (exceto por seus inimigos, que lhe insulta, que tentam lhe armar ciladas, e dispersar seus esforços) por todos. Não admira que ele anseia por algum sintoma da sua importância!

Nesta interpretação não é claro o significado de ’sua grande impureza’, ou de que forma a manifestação de 666 a ’limpará’. O método apropriado de exegese que imediatamente ocorre é reunir as passagens nos Livros Santos que se referem àquela cidade e estudá-los à luz dos eventos históricos em que 666 tomou parte. Mesmo assim, a despeito de certos possíveis incidentes significativos, pareceria que um tal acontecimento ainda está no futuro.

Não há, naturalmente, qualquer sinal seguro de que esta interpretação é válida. Uma alternativa poderia ser procurada no valor numérico do equivalente grego de ’cidade cinzenta’, ou pode vir a transparecer que alguma cidade em particular tem direito a ser designada como cinzenta.

Mais, a alusão pode ser estritamente uma metáfora poética; ’cidade cinzenta’ pode significar não mais que um lugar onde homens se reúnem, um local sombrio enevoado (Veja-se Cap. IV, vv. 59-60).

Este fato explica a impotente tagarelice dos antigos Místicos: eles eram compelidos a empregar expressões retóricas, como o uso de palavras tais como ’inefável’ é metáforas magnificamente misteriosas. Mas agora por fim S.H. Frater V.V.V.V.V., 8○=3□ colaborou com G.H. Frater O.M., 7○=4□ , para construir uma linguagem verdadeira, com símbolos acuradamente definidos, pela qual a gesta da A∴A∴ (acima do Abismo) pode ser traduzida na linguagem da R.R. et A.C. (abaixo do Abismo). Vede Liber DCCCXIII vel Ararita: diversas passagens, mas especialmente Cap. V, vv. 1-8. A maior parte dos meus escritos sobre a orgia do Santo Espírito do Homem, desde a Espada de Canto, Konx Om Pax, e 777, até o Bagh-i-Muattar e meus Relatórios Mágicos, e talvez principalmente valiosa para a humanidade por representar a primeira tentativa sistemática de interpretar a Intuição de Neschamah em termos do Intelecto de Ruach.

A ’Tesouraria de Pérolas’. Vede 777, Coluna 127, onde Pérolas são atribuídas ao Primeiro Palácio (as Três Supernas) e ao Sétimo (Yesod e Malkuth). Mas o simbolismo da Pérola — ou Orvalho — é peculiarmente apropriado para descrições da Boda Química. A Pérola é ZRO (vede o Bagh-i-Muattar; o Continente Perdido, etc.), uma enuviada Nebulosa contendo o Rashith-ha-Gilgalim do novo Universo criado da Quintessência da Substância da Unidade do Anjo e do Adepto, extrapolada desta por virtude de ’amor sob vontade’ no momento de Êxtase.

No Capítulo I, o Capítulo da Terra, o escriba ou profeta 666 é colérico, importuno, laborioso e envergonhado. Ele ainda não tivera sucesso em estabelecer as relações apropriadas. Agora ele foi bem sucedido; “que eu escute” não é uma exigência ou pedido. Implica o poder, como em um verdadeiro subjuntivo. Cf. ’que a luz se faça’. Ele não espera por resposta.

2. Não é o céu estrelado sacudido como uma folha ao trêmulo êxtase de vosso amor? Não sou eu a esvoaçada fagulha de luz arremessada longe pelo grande vento da vossa perfeição.

Ele continua com absoluta confiança a indicar a fonte dos seus poderes. Ele nota que o céu estrelado (Nuit) é ’sacudido’, isto é, sua continuidade é rompida pela Boda Química. No outro extremo, a condição estática dele é destruída. Ele se compreende não mais como um fixo ser terrestre, mas como a ’esvoaçante fagulha de luz’ — uma pura vibração dinâmica. Esta concepção, formulada pela primeira vez em Liber CCXX, e já explicada neste Comentário, é um fato a primeira condição daquilo que os Budistas chamam Samma Dithi — correta perspectiva. Enquanto o homem se concebe como um ente, em vez de como uma energia, ele atribui a si próprio não (como supõe o profano) a estabilidade, mas a estagnação, que é a morte.

Além disto, está fagulha é praticamente identificada com o êxtase da Boda Química.

3. Sim, gritou o Santíssimo, e da Tua fagulha Eu o Senhor acenderei uma grande luz; Eu queimarei por completo a cidade cinzenta na velha terra desolada; Eu a limparei da grande impureza.

Já foi explicado que o absoluto abandono do falso ser é a primeira condição da existência do Verdadeiro Ser. Enquanto 666 parecia a si mesmo uma existência separada, ele permanecia impotente. No momento em que ele se compreende ’arremessado pelo grande vento da vossa perfeição’ o Anjo lhe declara o seu sucesso precisamente naquele plano de ilusão por ele abandonado. O sofrimento e fracasso de 666 nasce de sua contemplação de seus semelhantes, da imperfeição e miséria, do tédio da existência sobre este planeta. Ele verificara que seus esforços pessoais, longe de remediarem o dano, tendiam pelo contrário a aumentá-lo. Agora porém que a personalidade foi destruída, ela se torna eficiente. É impossível mudar qualquer estado fixo atuando sobre este em seu próprio plano. Quando muito, pode-se rearranjar seu caráter pela fórmula de ALIM (Veja-se Livro 4, Parte III, Cap. iv), a fórmula da feitiçaria. Não importa como manipulemos os dígitos de um número divisível por 9. (Considerando-se atentamente a doutrina toda do número 9. As referências já foram indicadas neste Comentário.).

O mundo de Assiah é uma cristalização da ideia Atzilúthica através de Briah e Yetzirah. Pode ser efetivamente modificado pela importação de alguma outra quintessência Atzilúthica. É portanto inútil para 666, como um ente de Assiah, o procurar concertar Assiah. Ele pode fazer isso apenas exaltando-se a Atziluth pela Consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, e atuando sobre Assiah através de Briah partindo de Yetzirah.

O Anjo espontaneamente promete a 666 que sua Vontade Real se tornará operativa. A diminuta fagulha da sua individualidade será incendiada em uma grande luz, e esta luz consumirá a impureza da ’cidade cinzenta na terra velha e desolada’. Este livro foi escrito em Londres, e a aparente referência no primeiro caso é àquela cidade. O texto pode significar de alguma forma 666 se tornará ’uma grande luz’, um fenômeno portentoso prenhe de destruição aos olhos de seus habitantes.

É uma pena que o Anjo não escolheu Tóquio, ou Los Angeles, onde os problemas de poluição é muito mais severo!... Evidentemente esta ’cidade cinzenta’ é a mesma referida no Cap. IV, v. 62, e Cap. III, v. 21. E o processo de se tornar “uma esvoaçante fagulha de luz” é geral para todo Adepti Minori, a quem este livro é dedicado. O parágrafo acima é um exemplo daquele ’esmorecimento’ no escriba mencionado no Cap. IV v. 59-60, onde novamente a Cidade é mencionada. Ele olha a seu redor e se percebe ignorado (exceto por seus inimigos, que lhe insulta, que tentam lhe armar ciladas, e dispersar seus esforços) por todos. Não admira que ele anseia por algum sintoma da sua importância!

Nesta interpretação não é claro o significado de ’sua grande impureza’, ou de que forma a manifestação de 666 a ’limpará’. O método apropriado de exegese que imediatamente ocorre é reunir as passagens nos Livros Santos que se referem àquela cidade e estudá-los à luz dos eventos históricos em que 666 tomou parte. Mesmo assim, a despeito de certos possíveis incidentes significativos, pareceria que um tal acontecimento ainda está no futuro.

Não há, naturalmente, qualquer sinal seguro de que esta interpretação é válida. Uma alternativa poderia ser procurada no valor numérico do equivalente grego de ’cidade cinzenta’, ou pode vir a transparecer que alguma cidade em particular tem direito a ser designada como cinzenta.

Mais, a alusão pode ser estritamente uma metáfora poética; ’cidade cinzenta’ pode significar não mais que um lugar onde homens se reúnem, um local sombrio enevoado (Veja-se Cap. IV, vv. 59-60).

Os leitores são seriamente avisados para absterem-se de tentar encontrar lugares materiais efetivos ou ocorrem em relacionarem a eles mesmos como pessoas em qualquer dos Livros Santos. Vários aspirantes, obcecados desta maneira, encontram sua ruína, e pelo menos um iniciado muito elevado compromete seriamente seu trabalho caindo nessa armadilha. A única cidade material mencionada nos Livros Santos é o Cairo, em AL iii 11. De outra forma a palavra é usada em um senso estritamente simbólico. Embora ’cinza’ seja a cor de Chokmah, ela também tem um senso normal de pessoas sem entusiasmo ou grande inteligência ou sentimentos refinados — pessoas tais como os ’homens cinzas’ da divertida alegoria de J.B. Priestley. Há relação entre esses ’homens cinzas’ e o poema de Kipling sobre ’Os Deuses do Caderno de Cabeçalhos’, mas nós estamos pessoalmente inclinados para a ideia de que o conceito de Kipling é mais nobre.

A insistência do escriba Aleister Crowley nestes últimos comentários em identificar a si mesmo com 666, de quem ele é somente um pálido reflexo na ’velha esfera cinzenta’, mostra o quanto ele estava deprimido na época em que ele escreveu isto, pelas circunstâncias materiais em que vivia. Como um fato material, a influência de 666 no mundo somente está começando. Os séculos futuros poderão ver o tipo de ’sucesso’ que Crowley mesmo teria considerado demais. Cf. O CONVERTIDO:

(DAQUI A CEM ANOS)

Ali ao entardecer se encontram em um atalho da mata
Um Homem horrível e uma bela donzela

“Onde você está indo, tão dócil e santa?”
“Eu estou indo ao templo para adorar Crowley.”
“Crowley é Deus, então? Como você sabe?”
“Ora, foi o Capitão Fuller quem nos disse.”
“E como você sabe que Fuller estava certo?”
“Eu temo que você seja um homem mau; Boa-noite.”

Enquanto este tipo de coisa for intitulado sucesso
Eu não levarei a amargura da falha em conta.

O “Homem” no poema, com maiúscula, é claro a Besta Mesma. Se lembrado do poema sem preço de Ambrose Bierce sobre Cristo e Cristões no Dicionário do Diabo — talvez o livro mais realista já escrito no Estados Unidos.

4. E tu, Ó profeta, verás estas coisas, e tu não ligarás a elas.

Cf. verso 21, Liber CCXX, iii, 16; também Cap. I, v. 44. (Nota de M.: Crowley não torna claro se ele se refere a Liber AL ou LXV nesta última instância. Reproduzimos como foi escrito.) Parece ser sempre implicado que o trabalho de 666 será secreto em um senso peculiar da palavra. Vede Liber CCXX, Cap. I, v. 10. Eu devo operar mudanças importantes na sociedade humana, à parte a mudança cardial afetando o começo do Aeon de Hórus e a proclamação da Lei de Θελημα. Mais, eu verei, ao menos até certo ponto, os resultados do meu trabalho, e é importante que eu não me permita sentimentos de desencorajamento ou de satisfação na contemplação deles.

5. Agora está o Pilar estabelecido no Vazio; agora está Asi satisfeita por Asar; agora é Hoor baixado à Alma Animal das Coisas como uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra.

Este verso confirma a interpretação do verso 3. Existe uma referência bem diferente ao Equinócio dos Deuses. ABRAHADABRA, a Fórmula Mágica do Aeon (que não deve ser confundida com a Palavra da Lei do Aeon) representa o estabelecimento da coluna, pilar ou falo do Macrocosmo de 6 ideias positivas no vazio do Microcosmo de 5 Alephs. Aleph é um vazio ou kteis, sendo o Atu marcado 0.

O símbolo geral é repetido em termos particulares. Isis e Osíris governam respectivamente os dois Aeons (da Mãe e do Deus Sacrificado) pelos quais nós acabamos de passar. A satisfação de Asi por Asar indica que a operação deles está completada, sua conjunção tendo resultado na aparição de Hórus (Heru-ra-ha em seus aspectos gêmeos a) Força e Fogo e b) Silêncio).

O verso nos diz que se cumpriu aquilo que era a Grande Obra de 666 (em sua relação oficial com a A∴A∴, contrastada com sua carreira pessoal como magista) proclamar.

A ’alma animal das coisas’, isto é, o Nephesch do Mundo. O Senhor do Aeon representa mais que um novo estágio na infiltração progressiva da escuridão da matéria pela luz. Ele age diretamente sobre o Mundo de Assiah.

Note-se em particular a forma assumida por ele — aquela de ’uma estrela flamejante que cai sobre a escuridão da terra. ’ É como um meteoro ou um raio que ele invade o planeta (Note-se que ele é ’baixado’; do ponto de vista da terra ele aparece de modo terrível, mas do ponto de vista dos Deuses ele é imbuído de toda possível gentileza.).

Quanto maior a percepção de inteligência em seres vivos; mais profunda a compreensão das verdadeiras implicações e consequências das descobertas de Darwin; o desenvolvimento de ciências como a ecologia; tudo isto está relacionado com o baixar do Senhor do Aeon à Alma Animal das Coisas. Os leitores deveriam se lembrar de que não há muito tempo atrás era negado que os animais podiam pensar — muito mais falar! — e a ideia de que plantas podiam sentir ou que metais se tornam fatigados teria sido recebida com derrisão. Há trezentos anos, teorias teriam sido recompensadas, pelo menos no Ocidente, com perseguição religiosa e possivelmente seus expositores seriam torturados e queimados vivos. Darwin mesmo experimentou todos os tipos de ataques das religiões existentes. Incluindo Marxismo.

6. Através da meia-noite tu és deixado cair, Ó minha criança, meu conquistador, meu capitão cingido com a espada, Ó Hoor! e eles te acharam como uma nodosa brilhante pedra negra, e eles te adorarão.

O simbolismo da meia-noite e da ’nodosa brilhante pedra negra’ sugere uma referência ao Atu XVIII, onde Khephra o Escaravelho, o Sol da Meia-Noite, aparece viajando em seu barco sob o Céu. (A pedra é em toda parte convencionalmente aceita como símbolo do Sol.) A despeito da promessa do símbolo — ’existe uma aurora em botão na meia-noite’ — esta primeira aparição de Hórus é escura e amedrontadora. No entanto ele é achado sob esta forma e adorado.

A natureza do símbolo se torna inconfundível pelos epítetos adicionais: uma ’criança’ indica a irresponsabilidade e inocente arteirice. ’Meu conquistador’ define-O como vencendo a oposição da inércia, ou naturais preconceitos, da ’velha guarda’ dos profanos. (Cf. Liber CCXX, iii em geral, e particularmente vv. 3-9, 11, 17, 28, 32, 46, 49-55, 59, 70-72.).

’Meu capitão cingido com a espada’. Isto acentua o aspecto guerreiro em que Hórus primeiramente aparecerá.

Este Comentário foi escrito mais de quinze anos antes da Segunda Guerra Mundial; a Primeira Guerra Mundial seguiu em nove meses a segunda publicação do Livro da Lei; a Guerra do Bálkã seguiu em nove meses a primeira publicação.

Tomando-se estes versos como se referindo diretamente à primeira publicação do Livro da Lei, em Londres, observe-se que nove meses após a publicação do Equinócio I, vol. 10, a guerra estalou de forma que Hórus foi adorado precisamente sobre este aspecto e da maneira bem irracional que foi predita.

7. Meu profeta profetizará a teu respeito; em tua volta dançaram as donzelas, e brilhantes bebes lhes nascerão. Tu inspirarás os orgulhosos com infinito orgulho, e os humildes com um êxtase de abjeção; tudo isto transcenderá o Conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome. Pois é como o abismo do Arcano que é aberto no secreto Lugar de Silêncio.

’Meu profeta’, como em v.4, refere-se a 666. Cf. Liber CCXX, Cap. I, v. 26, etc. Este título é-lhe dado com mais frequência que qualquer outro. O termo ’profeta’ ou ’sacerdote’ é contrastado com ’A Besta’, cuja conexão é com a minha função em Tiphereth, implicando minha hombridade, minha realeza, minha mestria do êxtase, e como cumprindo a função a que se refere o Apocalipse, tanto quanto a confusão causada pela deliberada corrupção do texto daquele livro nos permite calcular.

O título ’profeta’ refere-se à função de serviço aos Deuses proclamados em Liber CCXX, e de administrar os sacramentos (a nova Magia, a fórmula AB........A, etc.). O título ’príncipe’ pode ter conexão com a atribuição a Tiphereth, desde que Microprosopo é o Vau de Tetragrammaton, Vau tendo o valor de 6, e correspondendo aos quatro príncipes (as vezes chamados Imperadores) do Tarô.

A ’profecia’ aqui mencionada é antes de mais nada CCXX, Cap. Iii, este livro mesmo, e vários outros poemas, ensaios e rituais. Liber 418, Aethyr I.

O segundo parágrafo indica Hórus em seus aspectos ativo e adulto. O estudante é referido à completa exposição do significado da letra Aleph, em particular àquela em que se explica que o ’bebe no ovo de azul’, Harpócrates, no qual todo poder é latente (ele sendo Harpócrates, Bacchus Diphues, Zeus, Baphomet, Parzifal como o ’Puro Louco’, o Grande Louco das Lendas Célticas, a traquinas criança Hermes, etc.) no primeiro estágio de inocência pantomorfa, desenvolve-se ao chegar à puberdade em Parzifal o cavaleiro-andante, que obtém a Coroa ao ganhar a Filha do Rei (um mistério sobre o qual foram fundados os costumes temporais de muitas raças primitivas. Veja-se Sir James Frazer, ’O Ramo de Ouro’.). O Hermes fálico, o Baphomet do Atu XV, Zeus que assume a forma de uma besta para impregnar várias mulheres (a Mulher Escarlate no Atu XI. Veja-se também as lendas da Bela e a Fera, do Diabo do Sabbath, do Minotauro, Hércules — a princípio disfarçado como desarmado e bissexual), muitas lendas asiáticas.

O Senhor do presente Aeon, dois em um (ו, ה, Atu VI, nascido da união de י e ה), tem sido assunto de profecia através da história. Sua natureza, funções e relação com os outros Deuses é assim matéria de conhecimento geral entre iniciados e mesmo simples letrados. Ao mesmo tempo, sua presente aparição é, num certo sentido, um fenômeno original. Pois Ele é representado em CCXX como terceiro em relação a Nuit e Hadit, não como primeiro; Nuit e Hadit estando completamente além da compreensão de quem quer que seja, com exceção da ’Besta & sua Noiva e os vencedores da Ordália x’. (CCXX, iii, 22)Ele é portanto mostrado como nascendo espontaneamente. Não existe referência a Isis ou Osíris, os tradicionais pai e mãe de Hórus na teogonia dos egípcios.

’Á tua volta dançaram as donzelas, e brilhantes bebes lhes nascerão.’ Isto lembra o costume quase universal de circundação ou dança em redor do lingam, ’maypole’ (Nota de M.: O equivalente na tradição luso-brasileiro é o ’poste’ de S. João), ou qualquer outro símbolo apropriado da faculdade criadora. A voz do escândalo sugere que mulheres que adotam este rito tornam-no efetivo através de precauções fisiológicas. Mas mesmo assim, a congruidade dos dois métodos é evidente, e a filoprogenitividade é tão justificada de seus filhos quanto a Sabedoria. Os puritanos afirmavam com razão que Maypole era um lingam, e que a festa daquele dia (Nota de M.: “Festa de S. João”, e a “Festa Junina” em geral, principalmente em cidades do interior do Brasil e Portugal, onde a tradição está menos deturpada.) era um festival de Príapo.

A seção restante do verso é extremamente obscura. A humildade parece ser desencorajada pelo Livro da Lei como incompatível com a correta compreensão de nós como uma estrela, um rei, um ente divino ou soberano tanto quanto o maior dos Deuses. Mais; tende a levar ao Pecado, isto é, Restrição, uma vez que os humildes são capazes de não afirmar sua independência e seus direitos. Daí pareceria que em algum senso a humildade deve ser uma virtude positiva cuja clímax em um ’êxtase de abjeção’ não é menos merecedor de respeito que qualquer outra forma de trance. Veja-se o Yi, capítulo XV, o Hexagrama de Khien. Este Hexagrama é composto do trigrama do princípio fêmea ☷ modificando o símbolo da Terra ☶. Veja-se o última Trigrama em Liber Trigrammaton. ’Portanto foi o fim daquilo sofrimento; mas naquele sofrimento uma gloriosa estrela de seis pontas por cuja a luz eles pudessem enxergar para retornar à Habitação sem mancha; sim, à Habitação Sem Mancha. (Liber XXVII) Abasement (Nota de M.: A palavra usada no original em inglês e traduzida como objeção.) significa movimento em direção a base, isto é, em direção ao Fundamento, Yesod, que representa a resolução da antinomia Estabilidade-Mudança. Observe-se a harmonia simpática de todos estes símbolos e os compare, além disto, com a doutrina do Tao Teh King com respeito à suprema força da água, que permanece em seu próprio nível, e que é a apoteose da fraqueza, no senso que o Tao Teh King, do princípio ao fim, atribui a esta palavra. Eu tomo esta oportunidade, além do mais, para citar o Livro de Mentiras.

PÊSSEGOS

Macio e oco, como tu vences o duro e cheio!
Ele morre, entrega-se; a Ti o fruto!
Se tu a Noiva; tu serás a Mãe no futuro.
A todas as impressões assim. Não deixes que elas te conquistem; no entanto deixa que elas engendrem dentro de ti. A mais insignificante das impressões, chegada a sua perfeição, é Pã.
Recebe mil amantes; tu parirás apenas Uma Criança.
Esta Criança será o herdeiro do Destino, o Pai.

Cap. IV

TAT

Ex nihilo N.I.H.I.L. fit.

N. o Fogo que se contorce e queima como um escorpião.
I.  a inconspurcada, sempre fluente água.
H. o Espírito interpenetrante, fora e dentro. Não é seu nome ABRAHADABRA?
I.  o inconspurcado, sempre fluente ar.
L. a verde terra fértil.

Ardentes são os Fogos do Universo, e em suas adagas eles suspendem o sangrento coração da terra.

Sobre a terra jaz a água, sensual e sonolenta.

Acima da terra paira o ar; acima do ar, mas também abaixo, fogo — e em todos — o material de toda existência entretecido em Seu invisível desenho, está

ΑΙΘΗΡ.

Cap. LXXXVI

Daí é evidente que a humildade e abjeção mencionadas não tem relação com a 10ª ’virtude’ à qual é dada o nome de humildade: a humildade de Uriah Heap e Pecksniff, de Tartuffe, do ’Jesus crucificado’ da A.C.M., C.I.C.C.U. e semelhantes associações do rebanho, que é sempre acompanhada por hipocrisia, inveja, baixa astúcia e a síndrome de temores característica daqueles que se sabem inferiores. É curioso refletir que na Inglaterra nós associamos essa atitude mental com o Cristianismo, principalmente o Cristianismo Romano, enquanto no Continente precisamente as mesmas características são atribuídas ao Judaísmo.

No entanto, este tipo de humildade não está relacionada com aquele falso e egóica humildade sobre a qual ele tem estado falando; é meramente postura social, adotada por todas as minorias em toda parte como uma defesa. Em países em que o Catolicismo Romano predomina somente a falsa humildade descrita antes é mostrada, seria melhor dizermos ostentada, e isto somente voltados para “Deus”, a “Virgem”, ou “Jesus”, como possa ser o caso; os habitantes, e particularmente e seus padres, mostram uma atitude benevolente (ou hostil, no entanto a hostilidade seja abertamente expressada no círculo interno deles) para com outras religiões. Quanto ao Judeu, recentemente ele tem estado cantando novos tons, mas está ainda, via de regra, humilde (ou tentando ser) voltado para seu conceito de Deus.

Nesta matéria de humildade como um mimetismo defensivo o estudante sério é referido a AL iii 9 e para O Livro das Mentiras, Cap. 19, “O Leopardo e o Corço”, e os Comentários de ali por A.C.

Note-se que esta é a adaptação realística as circunstancias, não a falsa humildade que espera enganar Deus, ou quem mais, para “recompensar” o devoto. Veja-se também AL ii 58-60.

Os ’humildes’ nesta passagem estão evidentemente empregando uma definida fórmula mágica, com absoluta energia e confiança.

O estudante sério é referido a AL i 49 e os Comentários ali. Pode ser mencionado que A.C. está um pouco confuso por esta apologia de humildade, que não é o que se pode chamar uma virtude Thelêmica! Mas há duas abordagens para os Chefes Secretos: uma, você reconhece que você é potencialmente um deles, e você tenta mostrar-se digno da companhia e ajuda deles. Outro, você está cônscio de seu completo não-merecimento, mas você acredita na generosidade de Alguém maior do que você. A chave do sucesso em ambas as atitudes é ultimal sinceridade. O segredo da segunda fórmula é que você não estaria cônscio de seu não-merecimento se você estivesse olhando para ele do plano da matéria. Cf. VII, i, 41-43. “Se o tolo persistisse em sua tolice, ele se tornaria sábio”. E aqueles inclinados a criticar o Senhor do Aeon para sua escolha de companhia fariam bem em ler O Falcão e o Bebe (O Escaravelho Alado) e ponderar, particularmente, a última estrofe.

Os resultados da manifestação de Hórus são agora descritos como transcendendo ’o Conhecido e o Desconhecido com algo que não tem nome’. Está bem claro que isto é assim, mas é longe do óbvio por que razão o fato deva ser tão enfaticamente afirmado e explicado, especialmente em uma terminologia tão pouco usual e tão obscura. A palavra ’isto’ na sentença final pode referir-se ao ’algo’ sem nome ou a ’tudo isto’.

O ’secreto Lugar de Silêncio’ é o útero de Nuit ou ’ovo azul’ que esconde o bebe Harpócrates.

A expressão ’Arcano que é aberto’ pode talvez ser parafraseada ’a verdade secreta que é manifestada’. O Abismo pode sempre ser tomado como significando ’ausência de apoio’. É a forma ou meio de manifestação de tudo que não está assim manifestado. Alternativamente, pode ser considerado que o abismo é aberto, quer dizer, tornado passível de investigação.

’Tudo isto’ não tem nome porque é a ’ultimal unidade demonstrada’(vede CCXX, iii, 37) de Hórus. Sua identidade absorve estes diversos fenômenos absolutamente por igual. Na perfeita pureza da criança, ou puro louco (Parzifal, ao lhe perguntarem seu nome, responde ’Eu não sei’), todas as diferenças desaparecem para sempre; ver CCXX, i, v. 4, e vv. 22-23. Este verso 7 pode portanto ser sumarizado mais ou menos como segue:

A proclamação de Hórus por 666 habilitará toda pessoa a executar sua função legítima ou Real Vontade, e assim fazendo, a alcançar a perfeição de sua própria natureza, enquanto que a ilusão de divisão é inteiramente destruída. Tal como está escrito, Liber CCXX, i, 44-45:

’Pois vontade pura, desembaraçada de propósito, livre da ânsia de resultado, é toda via perfeita. ’

’O Perfeito e o Perfeito são um Perfeito e não dois; não, são nenhum!’

8. Tu chegaste aqui, Ó meu profeta, por graves caminhos. Tu comeste do excremento dos Abomináveis; tu te prostraste diante do Bode e do Crocodilo; os homens maus fizeram de ti um joguete; tu vagaste pelas ruas como uma rameira pintada, sedutora com doces perfumes e pintura chinesa; tu escureceste os cantos dos teus olhos com Kohl; tu tingiste teus lábios de vermelho; tu emplastraste tuas bochechas com esmalte de marfim. Tu bancaste a desavergonhada em todo portão e cada beco da grande cidade. Os homens da cidade te seguiram desejosos de te abusar e te bater. Eles mastigaram as douradas lantejoulas com fino pó com as quais adornaste os teus cabelos; eles fustigaram tua carne pintada com teus açoites; tu sofreste coisas indizíveis.

A essência desta rapsódia é clara; entretanto, o plano em que melhor pode ser interpretada diferirá de acordo com o grau de iniciação alcançado pelo leitor.

De um modo geral, porém, pode ser parafraseada: ’Tua alma foi submetida à contaminação da ilusão material e fenomenal’. Cf. Cap. II, vv. 4-6, 7-16; III, vv. 4-12, 40-48; IV, vv. 2-3, 5, 33-37, 42-44. Veja-se também Liber VII, diversas passagens, as quais podem ser descobertas pelo reto engenho do Adepto Isento.

9. Mas Eu queimei dentro de ti como uma pura chama sem óleo. À meia-noite Eu brilhei mais do que a lua; durante o dia Eu excedi completamente o sol; nos atalhos pouco trilhados do teu ser Eu flamejei, e desfiz a ilusão.

A despeito do acima, o Sagrado Anjo Guardião tem sempre habitado o ente do Adepto, não necessitando nem mesmo da nutrição representada pelo ’óleo’. (Para este símbolo veja-se o Livro 4, Parte II, Capítulo 5.)

Veja-se também Cap. IV, v. 36, e o Comentário.

O Anjo excede igualmente Sol, Lua e Agni, os três princípios que (no simbolismo hindu) entram em curso sucessivamente durante cada vinte e quatro horas, assim determinando o caráter do Dhyana alcançado em qualquer período do dia.

10. Portanto tu és completamente puro diante de Mim; portanto tu és Minha virgem eternamente.

A relação do homem com seu Anjo independe de seus atos qua homem. Seu Nephesch, considerado como em relação com o não-Ego, é incapaz de interferir com seu verdadeiro Nephesch.

Isto é absoluta idiotice. A relação do homem com seu Anjo totalmente depende de seu ligar das ’palavras e os atos, de forma que em tudo há um só pensamento’ — confira v. 58. O que o Anjo está dizendo é que ele não julga seus clientes pelo valor de sua vida material. Cf. AL ii 52-56.Também, LXV i 21-22, VII ii 23-33, iv 48, v. 22-26, vii 4-5. E uma vez mais, VII i 41-49. A.C. deveria, estar muito sonolento, ou muito deprimido, quando ele escreveu o comentário acima. A proposta primária do Adepto é se tornar inteiramente coerente; ao invés de ter várias projeções desorganizadas e conectadas vagamente dele mesmo em vários planos, para se tornar uma ’pedra bezoar’. Isto se torna claro no verso seguinte.

11. Portanto Eu te amo com excedente amor; portanto aqueles que te desprezam te adorarão.

Isto sendo compreendido pelos profanos, eles percebem o homem em sua própria perspectiva. Eles percebem que os ’vícios’ de Shakespeare e Shelley não detraem do seu gênio.

12. Tu serás amorável e piedoso para com eles; tu os curarás do mal inominável.

Os profanos sendo assim purificados, são capazes de receber o benefício da Iniciação do Adepto.

13. Eles mudarão ao serem destruídos, assim como duas estrelas escuras que se chocam no abismo e esbraseiam num incêndio infinito.

A referência parece ser a uma teoria (fora da moda no presente) quanto à formação das nebulosas. O ponto aqui é simplesmente que o íntimo contato de duas ideias aparentemente ’escuras’ ou ’malignas’ resulta em sua transmutação em luz. É ’amor sob vontade’.

14. Durante tudo isso Adonai trespassou meu ser com sua espada que tem quatro lâminas; a lâmina do raio, a lâmina do Pilão, a lâmina da serpente, a lâmina do Falo.

Adonai: אדני. Aleph é a suástica ou Raio por sua forma; Daleth significa porta ou Pilão; Num refere-se a Serpente; Yod é o Falo (Yod de IHVH) considera do como a ideia mais íntima e mais simples.

15. Também ele me ensinou a santa indizível palavra Ararita, de forma que eu derreti o ouro sêxtuplo em um único ponto invisível, do qual nada se pode dizer.

Veja-se Liber Ararita (DCCCXIII sub figurâ DLXX) para isto. A maneira simbólica de escrever a Palavra é:

[Hexagrama com as letras ARARITA distribuídas ao seu redor e centro.]

Um volume à parte poderia ser escrito — e deveria ser, e será escrito! — sobre os Arcanos deste Hieróglifo.

16. Pois o Magistério desta Opus é um magistério secreto, e o sinal do mestre nisso é certo anel de lápis-lazúli com o nome do meu mestre, que sou eu, e o Olho no Meio.

A referência é a um anel material: veja-se ’O Espírito da Solidão’ para algum relato a respeito. As letras em volta do Olho são V.V.V.V.V. Veja-se Liber LXI, vv. 29 e seguintes. Estas são as iniciais do Moto de 666 como Mestre do Templo, 8○=3□ ’Vi Veri Vniversum Vivus Vici’. Também, V é a letra latina significando 5, e seu valor (ו ou ϝ) é 6. A alusão é, portanto a 5○=6□, a Grande Obra. Novamente, o arranjo das letras no lápis-lazúli indicava o Pentagrama.

17. Também Ele falou e disse: Isto é um sinal secreto, e tu não o revelará ao profano, nem ao neófito, nem ao zelador, nem ao prático, nem ao filósofo, nem ao adepto menor, nem ao adepto maior.

18. Mas ao adepto isento tu te revelarás se tiveres necessidade dele para as operações menores da tua arte.

17-18: A instrução é pessoal e prática. Cf. CCXX, Cap. I, vv. 10 e 50. O M.T. se comunica, como tal, apenas com o Adeptus Exemptus: isto é, diretamente.

Significando evidentemente em Samadhi. O Magister Templi é um Ser Espiritual; nós podemos dizer mesmo que ele é um Deus. Ele não pode comunicar diretamente com qualquer iniciado abaixo do nível da Travessia do Abismo. Ele pode comunicar indiretamente, através do homem em que ele está encarnado, mas isto é como enviar um telegrama para sua garota favorita (ou garoto favorito). Dificilmente o mesmo que um beijo. No entanto, verdadeiros amantes se contentam com muito pouco, principalmente se é um sinal do que está por vir. Ou como diz a Canção das Canções, e os Upanishades, e o Bhagavad Gita, e alguns milhares de outros textos, incluindo poemas. (talvez eu devesse dizer milhões, se eu incluir poemas.).

19. Aceita a adoração da gente tola a quem odeias. O Fogo não é conspurcado pelos altares dos Ghebers, nem é a Lua contaminada pelo incenso daqueles que adoram a Rainha da Noite.

Novamente pessoal e prático para 666. Eu tenho causado muita complicação por insistir em tornar tudo claro para gente que não estava preparada para tal.

Ghebers: Adoradores do Fogo na Pérsia. (Veja-se o Comte de Gabineau: Trois Ans en Asie).

Geralmente, o abuso de uma fórmula não injuria a parte passiva, que não está envolvida e não incorre em responsabilidade.

Há um significado mais geral, e nós sentimos achamos que A.C. está se acusando injustamente. Quando você atinge certo plano, você se torna cônscio do fato que você é a fonte da energia espiritual da qual um número de religiões clamam seu contato — se algum — com os planos mais altos. Você então se torna mais irritado com a idiotice daqueles adoradores, particularmente pelo fato de que você é parte adorada. Como um exemplo: o Nome Mágico de Crowley como Adepto Menor Interno era SATAN-JEHESHUA. Você pode imaginar como ele se sentiu ao contemplar, de um lado, as lágrimas hipócritas dos Crististas, e do outro a desvairada extravagância dos Satanistas! A parte ’escriba’ de um Adepto pode, sob estas circunstâncias, em algum momento sentir que ele é responsável pelas tolices de Papas e de Sr(as) Huysmans, de Guaita, et al. É por esta razão e muitas outras que Liber III deveria assiduamente ser praticado pelo iniciante. Ele não sabe que vai precisar dele, mas ele vai. O complexo de culpa pode se desenvolver em desastre mental. Os estudantes Sérios são referidos a nota de O.M. no Diário de Frater V.I.O., Equinócio III Nº 1 p. 169, começando “(1) Você é emocional” O “certo Portão” sobre o qual ele está falando é este. O problema surge em conexão com outras circunstancias, Uma vez que sua consciência construa pontes para Trances mais altos, controle mental se torna essencial, de outra forma você pode enlouquecer. Incidentalmente, isto não se refere a Travessia do Abismo, onde você se torna louco de qualquer forma. Se refere a Iniciações abaixo do Abismo, e particularmente aquelas que você incorre quando se torna um Dominus Liminis. O Dominus Liminis, se não for cuidadoso, pode mesmo pensar que ele é um Magister Templi(novamente!). Liber III, bem conquistado no começo, evitará todos estes problemas na mente do escriba. Aspirantes o negligenciam por seu próprio risco. Aceite isto da boca do cavalo. Eu levei três anos para recobrar comum-senso depois de alcançar o Grau de Neófito, e sete anos para recobrar o comum-senso depois de alcançar o de Zelador. Levei menos tempo depois de Adepto Menor, mas somente porque eu não tinha percebido que tinha alcançado aquela Iniciação até sete anos depois. Esta espera, que adiou a Obra que era minha obrigação fazer pela Ordem, poderia ter sido evitada se eu simplesmente tivesse me dado o trabalho de conquistar Liber III completamente quando isto era parte de minha Tarefa.

20. Tu viverás entre o povo como um diamante precioso entre diamantes nublados, e cristais, e pedaços de vidro. Somente o olho do mercador justo te contemplará, e mergulhando sua mão te escolherá e te glorificará diante dos homens.

Ainda pessoal e prático. 666 deve continuar a viver sua vida normal com homem do mundo, não reconhecido como o que é salvo pelo ’mercador justo’, o homem que pode julgar valores corretamente. É o dever e o privilégio de algum tal homem o trazer a 666 sua devida medida de fama.

Evidentemente, há um senso mais geral. Esta admoestação é dirigida a qualquer Adepto. Cf. AL ii 24 e os Comentários ali. Não que um Adepto seja um Eremita, é claro! Todavia, é melhor ele começar a praticar para se tornar um.

21. Mas tu não ligarás a nada disto. Tu serás sempre o coração, e Eu a serpente Me apertarei em volta tua. Meus anéis nunca se relaxarão através dos aeons. Nem mudança nem sofrimento nem insubstanciabilidade te terão; pois tu passaste além de todos estes.

666 (naturalmente) ligará tão pouco à fama quanto ele tem ligado à incompreensão, ao abuso e a calúnia. Ele estará inteiramente absorvido em Sua consecução do Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião. Isto é sempiterno. Mudança, sofrimento, insubstanciabilidade: Anicca, Dukkha, Anatta: as Três Características. Veja-se meu ’Ciência e Budismo’ e outras referências.

Novamente o verso se aplica a qualquer Adepto.

22. Mesmo como o diamante brilhará rubro para a rosa e verde para a folha da roseira; assim tu permanecerás à parte das Impressões.

Impressões: Vrittis. O Verdadeiro Ser independe de todos os fenômenos. Vejam-se numerosas explicações destes assuntos em muitos dos meus escritos. Veja-se, em particular, meu Tao Teh King (Nota de M.: A tradução dele para o inglês, a melhor que existe); o M.T. reage com perfeita elasticidade a todos os impactos, parecendo completamente passivo para com todos por igual; mas na realidade não é influenciado no mínimo que seja por qualquer deles.

23. Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.

Compare-se este refrão com vv. 5, 24, 25. No verso 5 a Grande Obra é anunciado impessoalmente. Aqui é identificada com a Consecução.

Nós referimos os leitores a LXV i, 32-46, e os Comentários ali. A Obra que então era imperfeita é agora realizado. A referência a Passagem dos Aeons claro surge do fato que eles estão fazendo seu ’bote de madrepérola’ por Aiwass e 666 produziu este efeito na vida da humanidade.

24. Também tu estás além das estabilidades do Ente e da Consciência e da Bem-aventurança; pois Eu sou tu, e o Pilar está estabelecido no vazio.

Ente, Consciência, Bem-aventurança: Sat, Chit, Ananda. Veja-se meus escritos sobre a Filosofia hindu. Contraste-se com o verso 21. A Consecução emancipa o Adepto de todas e quaisquer condições.

25. Também tu discursarás sobre estas coisas ao homem que as escreve, e ele partilhará delas como um sacramento; pois Eu que sou tu sou ele, e o Pilar está estabelecido no vazio.

A consciência humana de Aleister Crowley deverá ser iluminada sobre este ponto. Ele deverá ser assim santificado, e ’consumado’ ou ’consumido’. Esta Boda Química o uno ao seu Anjo e ao Adepto, Três em Um e Um em Três; esta é a perfeição final da união. Daí a repetição pela quarta vez do símbolo do Pilar Vazio. Cf. as Quatro Consagrações no Ritual do Neófito da A∴D∴.

Não é Aleister Crowley — ou qualquer outro ’escriba’ que será consumido; é a experiência espiritual que o Anjo está conferindo que será assimilada por ele. Evidentemente é na natureza de um sacramento, como sabem aqueles que aprendem este Livro de cor e com sinceridade. A consumação do escriba somente ocorre na Travessia do Abismo, que não é a operação aqui. Toda parte do Ser do Adepto deve ser consagrada, integrada, harmonizada: o ’escriba’ é parte do Ser do Adepto, e pela Graça do Anjo se torna parte do Ser do Anjo (o processo de ressonância do qual nós já falamos). Eventualmente ele experimentará a Cólera. Cf. Liber 156, vv. 17-18. Será notado que o Magister Templi não é mencionado; em um senso, Ele ainda não existe; em outro senso, o Anjo se identificou com Ele. Cf. Al i 45 novamente. Na verdade, na prática, como de costume, a obtenção de qualquer Iniciação simplesmente significa que a consciência tem sido erguida a um plano imediatamente acima dela; como A.C. diria, você não pode modificar a substância agindo sobre ela em seu próprio plano. No momento da União em Tiphereth, Binah se agita, como na verdade Ela faz em toda iniciação, desde que sem aspiração iniciação é impossível, e Aspiração é simbolizada pelo Santo Óleo, que pertence a Ela.

O Practicus não deve ficar surpreendido — nem mesmo ele! — em ver os assuntos privados de 666 discutidos em uma Publicação Classe A da A∴A∴ que se propões a lidar com a Grande Obra de 5○=6□. Este livro trata primariamente da Consecução daquele Grau por 666; e é somente porque toda Consecução verdadeira é quase que por completo impessoal, que o seu conteúdo é válido para o Aspirante em geral.

Isto não é completamente correto. Em primeira lugar, 666 não está implicado no Comentário de Crowley; 666 como tal somente fala em Publicações em Classe A e D da A∴A∴ , e faz isto, claro, através da mediação de V.V.V.V.V. que usa seu instrumento O.M. ou P. que escreve pela mão de Aleister Crowley. Os “afazeres privados” de 666 não podem ser discutidos porque 666 não tem “afazeres privados” — isto é parte da Maldição de Seu Grau. Ademais, sendo o Magus do Aeon, Suas realizações são é claro de importância geral. Isto também é parte da Maldição... É incorreto dizer que a verdadeira Realização é quase completamente impessoal. Pelo contrário, ele é exatamente tão intensamente pessoal quanto impessoal. Eu suponho que eu estou confundindo meus leitores, e eu os refiro a AL i 28-30, 45, 48 e 52, como eu suspeito que eu já fiz antes. Desta vez, por favor, inclua AL ii 3, 6, 7, 8, 22-23, 45-49.

Para dar um exemplo prático: Eu descobri que minhas Iniciações tem seguido inteiramente o processo descrito por Aleister Crowley em seus escritos, e em particular elas têm ecoado a todo passo os insights nos Livros Santos. No entanto, apesar de que eu tenho sido capaz de reconhecer experiências de suas descrições (ou Suas descrições, ou as descrições de Aiwass, conforme possa ser o caso), e muito frequentemente tem sido capaz de melhorar minhas chances pela graça dos conselhos que eles podem me prover-me, minhas experiências PESSOAIS no Caminho continua intensamente pessoal. Eu não estou repetindo os passos de Aleister Crowley; eu estou andando paralelo a eles. O fator pessoal sempre existe, exceto em Trance. Eu não sou Aleister Crowley; eu sou Marcelo Motta, inteiramente outra pessoa. Eu também não sou V.V.V.V.V.; eu sou inteiramente outro Magister. Finalmente, apesar de que eu sou autorizado a usar o Sigilo e Número da Besta como o Cabeça de Θελημα, eu não sou tolo o bastante para pensar, por nenhum momento, que eu sou a Besta. Ou pelo menos, essa Besta! Eu sou outra Estrela inteiramente. Isto, claro, não muda o fato que...mas eu refiro você uma vez mais a AL i 45, como se você não soubesse!

Em resumo, os Aspirantes podem calmamente e pacificamente assumir que os Livros Santos de Θελημα se referem precisamente as realizações que lhes são ditas referir no Curriculum, sem considerar todas as menções de Aleister Crowley, me perdoem, o ’escriba’, e seus problemas e experiências pessoais. Mais: os aspectos pessoais fazem Liber VII menos ’identificável com’ que LXV, que se refere a Coagula. A operação de produzir um Magister Templi é menos ’generalizável’. Que isto seja uma “consolação” para aqueles que pensam que se tornar um Magister Templi é perder a identidade. Pelo contrário, é adquirir uma identidade pela primeira vez.

(Evidentemente, não pode ser a identidade que você teria escolhido para si mesmo, mas não se pode ter tudo. Somente Nenhum pode ter! Acho melhor parar por aqui, não deixar minha mortal inteligência me levar. Além disso, eu estava gracejando para o benefício dos “irmãos negros”. Eles seriam bebes nos úteros, como eu.)

26. Da Coroa ao Abismo, assim vai ele único e ereto. Também a esfera ilimitada resplandecerá com o seu brilho.

A Coroa, Kether; o Abismo, quer Daath ou aquilo que está além de Malkuth. A Esfera Ilimitada, o Ain Soph. O significado geral é que a Consecução enche o Universo inteiro.

27. Tu te regozijarás nas poças de água adorável; tu enfeitarás tuas donzelas com pérolas de fecundidade; tu acenderás flama como línguas lambentes de licor dos Deuses entre as poças.

As poças; e a flama entre elas, refere-se às Sephiroth e aos Caminhos. O significado geral é que a Consecução tornou o Adepto capaz de executar trabalho criador em todas as esferas.

Isto depende da interpretação, e somente seria verdadeiro de um Adepto completo, isto é, que tenha alcançado o C. e C. em Tiphereth de Tiphereth de Atziluth. Em qualquer outro caso, ele teria que aperfeiçoar seu trabalho por alcançar o C. e C. repetidas vezes, “ordenando” sua Casa, por assim dizer, e isto o verso descreve. O “licor dos Deuses”, é claro, o Elixir, e aqui está outra indicação para os tântricos. As “donzelas” são os Nepheschs dos Aspirantes a quem o Adepto — neste nível de completa iniciação se torna, em seu turno, um “Anjo” — poderia tomar sob seu cargo. Veja-se O Mundo Desperto.

28. Também, tu converterás o ar que abrange-tudo nos ventos de água pálida, tu transmutarás a terra em um abismo azul de vinho.

Torna-o, além disso, capaz de executar transmutações; não é bem claro por que motivo estes exemplos especiais foram escolhidos, a não ser que seja por razões puramente poéticas (Eles são, em essência, Ar em Água, e Terra em Fogo.).

Não exclusivamente, desde que o vinho também partilha da Água, e o próximo verso completa a sequência com fogo ao mencionar os “rústicos coriscos”. É claro que o comento de Akasha (que é dado somente pelo perfeito Adeptado) o capacita a controlar completamente os Quatro mais baixos, e transmuta-los uns nos outros. De qualquer forma eles são somente modificações de Akasha.

29. Rútilos são os coriscos de rubi e ouro que ali chispam; uma gota intoxicará o Senhor dos Deuses meu servo.

Para as cores neste e no último verso, cf. CCXX: ’Azul sou Eu e ouro na luz de minha noiva: mas o brilho rubro está em meus olhos; & minhas escamas são púrpura & verde.

’Púrpura além do púrpura: é a luz mais alta que a visão.

’Existe um véu; aquele véu é negro. É o véu da mulher modesta; é o véu de sofrimento, & o manto de morte: isto é nada de me. Rompei aquele mentiroso espectro dos séculos: não veleis vossos vícios em palavras virtuosas: estes vícios são meus serviço; vós fazeis bem, & Eu vos recompensarei aqui e no além. (Cap. II, vv. 50-52.).

O Senhor dos Desuses presumivelmente é Júpiter; ele pode ter sido escolhido porque a transmutação inteira refere-se a Chesed, ou por causa da sua posição como a mais alta Sephirah de Microprosopo.

Na verdade, Chesed é tencionada aqui, e este processo de intoxicação é descrito em VII em vários e conforme as várias circunstâncias: Cf. VII ii 13(Pertinax, é claro, Perdurabo), 11-12, 40-41; iii, 49-50, 57-58; iv 21; vi 7-13, 36-41; vii 36, 46-49. É também mencionado em LXV mesmo, como o leitor já sabe; e particularmente neste Capítulo, vv. 61-63. Veja também Atu VII no Livro de Thoth; Liber 418, citação incluída em ARDOR, pp 136-139(n. do t.: da edição original).

Por que Chesed é tão diretamente influenciada? Porque é a Sephirah da qual o homem começa a Travessia do Abismo, e o Vinho vem da Taça de BABALON, a Guardiã desse. Cf. AL iii 18-20 e os Comentários ali.

“O Senhor dos Deuses meu servo”: é claro, no verdadeiro Iniciado. Os “irmãos negros” se rebelam contra a autoridade do Anjo, com os resultados já descritos em outra parte.

30. Também, Adonai falou a V.V.V.V.V., dizendo: Ó meu pequenino, meu terno, meu pequenino amoroso, minha gazela, meu lindo, meu menino, enchamos o pilar do Infinito com um infinito beijo!

30-33: A identificação dos diversos elementos nos quais a Iniciação analisou o indivíduo original está agora completa. A Grande Obra — Solve et Coagula — foi efetuada. Não existe distinção entre a Consecução pessoal de Aleister Crowley e a proclamação da Palavra da Lei de Θελημα através dele. Aqueles que percebem o significado disto assumem corretamente que a consecução marca o fim de um Aeon.

31. De modo que o estável foi sacudido e o instável se aquietou.

32. Aqueles que viram isto gritaram com um formidável medo: O fim das coisas chegou.

O “medo” vem do elemento de Chance envolvido em qualquer mudança nesta amplitude. Ninguém sabe como o Aeon se desenvolverá, nem mesmo o Magus. Não se sabe nem se o Senhor (ou Senhora) do Aeon sabe. Consequentemente, aquele que tem “colhido todas as suas recompensas”, e se sentem completamente confortáveis e certos das coisas, correm tanto perigo de se perceberem nas garras do “karma” quanto qualquer outro. É como se você construísse uma bela e confortável casa em algum lugar, com alarme contra incêndio e ladrão, e começasse a desfrutar seu seguro Social e suas economias, e de repente uma represa rompesse, ou um meteoro caísse, ou seu país declarasse guerra ou fosse invadido, ou houvesse um terremoto.

33. E assim foi.

34. Também, eu estive na visão espiritual e contemplei uma pomba parricida de ateístas conjugados de dois em dois no êxtase superno das estrelas. Eles riam e se regozijavam extremamente, estando vestidos em robes de púrpura e embriagados com vinho púrpura, e sua alma inteira era uma só purpúrea flama-flor de santidade.

34-40: Esta passagem é talvez a mais obscura do livro inteiro.

Na verdade deve ser assim. Ela descreve os Eremitas, para os quais veja AL ii 24-25.

’Parricida’ Eles mataram seus pais: isto é, eles alcançaram a maturidade varonil e a consciência da independência da sua Individualidade.

’Pomba’. Eles celebram sua consecução de Liberdade através de um Espetáculo de Triunfo. Eles manifestaram a Divindade que eles conquistaram. ’Ateístas’. ’Alá é o ateísta! Ele não adora Alá!’(Bagh-i-Muattar). Eles estão livres da obsessão de mortalidade e dependência.

’Conjugados’. Eles se unem com seus camaradas por ’amor sob vontade’, sendo iguais e idênticos a despeito de suas aparentes diferenças (Veja-se CCXX, i, vv. 2-4; 22, 50, etc.) em virtude do êxtase de sua comum relação com Nuit.

’Riam e se regozijavam’. Veja-se CCXX, i, 26, 58; ii, 19-26, 35-44, 62-64, 70; iii, 46.

’Púrpura’. Veja-se CCXX, i, 61; ii, 24 50-51. Púrpura é a cor da realeza e a cor do êxtase; em particular, das Bodas Químicas de Nuit e Hadit.

35. Eles não viam Deus; eles não viam a Imagem de Deus; portanto eles estavam erguidos ao Palácio do Esplendor Inefável. Uma espada afiada golpeava diante deles, e o verme Esperança retorceu-se nas vascas da morte sob os seus pés.

Este verso elabora a ideia de ’Ateístas’. Cf. também Cap. I, 7-9, etc. Seu lugar natural sendo Yesod (cuja cor é púrpura), eles, tendo destruído a Fundação, são elevados a Hod (cuja cor também é púrpura). Veja-se Liber 777, Col. XVII.

A ’espada’. Sua arma de destruição intelectual.

A ’Esperança’ é um verme rastejante, sendo o sinal da falta de compreensão de Nós Mesmos como supremo Deleite.

36. Mesmo quando a êxtase deles despedaçou a Esperança visível, assim também o Medo Invisível fugiu correndo e não mais foi.

Cf. “The City of Dreadful Night.”

(Nota de M.: Poema de James Thomson (B.V.). O título significa: A Cidade da Noite Horrenda.).

Em um certo estágio da Iniciação, enquanto você não adquire completa percepção de seu parâmetros, este Medo Invisível é sua companhia constante. Não há nenhuma resposta racional ou defesa emocional para ele. O único remédio é AL ii 45-49 e AL iii 17-20. É uma questão de Vontade. Ultimalmente, este Medo é o vestígio da Imagem do Pai em sua Alma. Ele somente pode ser excisado pela coragem. Nada mais conseguirá. Cf. LXV iv 35-37.

37. Ó vós que estais além de Ormuzdi e Ahrimanes! abençoado sois através das idades.

Na teologia persa, os princípios de Bem e Mal. Cf. Nietzsche e nossa própria doutrina, apresentada em muitas formas e muitos lugares.

’Através das idades’. ’Le-Olahm’, לעולם. Veja-se o Ritual do Pentagrama. O valor da palavra é 176; isto é 8x22, ou 16x11, e isto significa a Redenção da Serpente (22 letras) ou o Poder Mágico (11) aplicado à Torre Fulminante (Atu XVI), cujo significado pode ser visto neste Comentário, acima.

O estudante sério é referido a Chave dos Grandes Mistérios, Parte IV, Capítulo IV, O Grande Arcano, os primeiros dezesseis parágrafos. O resto é bobagem, ’poeira jogada nos olhos do profano.’

38. Eles fizeram uma foice da vida, e colheram as flores da para suas grinaldas.

TRABALHO DE TERRIER

Duvida.
Duvida de ti mesmo.
Duvida mesmo de se duvidas de ti mesmo.
Duvida de tudo.
Duvida mesmo de se duvidas de tudo.
Parece algumas vezes como se debaixo de toda dúvida consciente jazesse alguma certeza profunda. Ó mata isso! Mata a serpente!
O Chifre do Bode-Dúvida seja exaltado!
Mergulha mais profundamente, sempre mais profundamente, no Abismo da Mente, até descobrires a raposa.
AQUILO, Avante, cães! Pega! Pega!
Trazei AQUILO ao cerro!
Então, toca o Clarim proclamando o fim da caçada!

(Liber 333, Capítulo 51)

39. Eles fizeram uma lança de Êxtase, e atravessaram o velho dragão que estava sentado sobre a água estagnada.

’Lança’: arma de ☉ (e de ♂).

’Dragão’: o Dragão que Desce. (Nota de M.: Veja-se Cap. IV, v. 35 e o Comentário). Veja-se “The Temple of Solomon the King”, o diagrama da Queda, O Equinócio, Vol. I, 2, página 283.

Refere-se à edição original inglesa.

’Água estagnada’: a ’alma’ em seu estado não-iniciado, passiva, corrompida e estagnada, refletindo erroneamente as imagens do não-Ego. (A ideia budista da Mente é idêntica a esta concepção.) as palavras ’sentado’ e ’estagnado’ ligam isto à doutrina dos Irmãos Negros, e à teoria de CCXX do Universo como Movimento, ou Energia.

40. Então as fontes frescas foram libertadas, para que a gente sedenta pudesse estar à vontade.

A destruição desta ilusão libera a alma para Pureza e Movimento, para ’estar à vontade’, o que não significa indolência, mas liberdade de ação, pela qual os homens anseiam. A água pura é o Princípio da Elasticidade, o Transmissor de Energia. A Alma Pura é identificada com o Espírito Movente que a informa, refletindo-o verdadeiramente com perfeita compreensão. Veja-se todo o simbolismo da Taça. Veja-se em particular Cap. III e meu Comentário.

Isto é, Cap. III deste Livro. Há uma conexão iniciática a mais das fontes frescas com aquela ’Fonte de Água Viva’ da qual os Evangelhos falam, e, se nós não estamos enganados, que o Talmude também fala, e também o Mestre de Justeza dos Essênios. Este descreve uma das mais importantes influências produzidas pela Alta Iniciação. Cf. Cap. IV, vv. 5-6; Cap. IV, vv. 59-60; este Cap. V, vv. 61-63; Liber VII, vi, vv. 36-41; iii, vv. 56-59(a “Dor do Bode” é evidente a recompensa de Ra-Hoor-Khuit); vii, 46-49. Isto é, evidentemente, a ’água transformada em vinho nas núpcias’; também, o ’vinho transformado em sangue’ da Missa. Tudo refere-se a Quintessência em uma de suas formas, ou o Mistério do Graal, para o qual estude o libreto de Parzifal de Wagner, LIBRI 156 e 418 e O Ramo de Ouro. Foi a corrupção deste mui antigo Arcano que resultou no desenvolvimento do Cristismo. Cf. também Atus VII e XII no Livro de Thoth.

41. E de novo eu fui arrebatado à presença de meu Senhor Adonai, e o Conhecimento e Conversação do Santo, o Anjo que me Guarda.

A passagem 34-40 foi na ’visão espiritual’. Segue a passagem de 30-33. 34-40 assim se torna inteligível: é a minha visão da humanidade do Novo Aeon do qual eu proclamei a Palavra. Agora eu retorno à contemplação da minha relação pessoal com meu Anjo.

Não foi uma ’visão da humanidade do Novo Aeon’, mas, como ’nos dissemos antes, um esboço do Grau de Eremita, e como ele influencia (nos planos sutis) a vida da humanidade (a gente sedenta) como um todo. Se fosse uma visão da humanidade, ’conjugada de dois em dois’ seria mais um conceito limitado. Contemple a multiplicidade da dança das estrelas: muitas vão só, muitas em duas, muitas em três, muitas em quatro, cinco...muitas em milhares, muitas em milhões. A única coisa que elas tem em comum é elas todas vão.

Deveria ser notado que a Conversação do Anjo é sugerida ser mais importante que o Conhecimento. A Conversação é aquele efeito da ressonância do qual nós já falamos. Há um velho ditado Português que diz, “Me diga com que tu andas, e eu te direi quem tu és.” Ele provavelmente tem seu equivalente em todas as línguas.

42. Ó Santo Exaltado, Ó Ser além do ser, Ó Imagem Auto-Luminosa do Nada Inimaginável, Ó meu querido, meu belo, vem Tu e segue-me.

Eu repito a Invocação. Ele é a Imagem de Nuit. A propriedade destas frases se torna clara se estudarmos as descrições já dadas da natureza d’Ele.

43. Adonai, divino Adonai, lá Adonai inicia refulgente deleite! Assim eu escondi o nome do nome d’Ela que inspira meu êxtase, o odor de cujo corpo confunde a alma, a luz de cuja alma rebaixa este corpo às bestas.

A primeira sentença é um acróstico de ’Ada Laird’. Esta foi uma das moças com as quais eu tinha intimidade na época da escrita deste livro. Nestes versos eu deliberadamente identifico minha satisfação sexual com o meu êxtase espiritual, assim negando com finalidade qualquer diferença entre quaisquer duas partes do meu ser consciente.

Isto é mais fácil dizer do que fazer. A numeração de ’Ada Laird’ contém um mistério a mais. Está se tornando mais fácil para as pessoas conceber o ato sexual como sendo uma forma de oração, graças a influência da Besta. É claro que ele é mais eficiente forma de oração, desde que a energia sexual é a única função na humanidade normal que está conectada com todos os planos em que um ser humano existe. É uma forma de Samadhi que mesmo o homem (ou a mulher) de rua pode cultivar, e pode levar as mais altas realizações se os tolos persistissem em sua tolice o tempo suficiente, eles frequentemente ficam com medo. Cf. v. 62.

44. Eu suguei o sangue com meus lábios; eu sequei Sua beleza de sustento; eu A rebaixei diante de mim, eu A mostrei, eu A possuí, e a vida d’Ela está em mim. No sangue d’Ela eu inscrevo os enigmas secretos da Esfinge dos Deuses, que nenhum compreenderá — salvo apenas os puros e voluptuosos, os castos e obscenos, os andróginos  e as ginandras que passaram além das barras da prisão que o velho Lodo de Khem estabeleceu nos Portões de Amennti.

Isto constitui um profundo Enigma de Santidade. Note-se ΄Η Σφίγξ - Γραίός = 781 = 71 x 11. Vejam-se autoridades para significados especiais destas palavras.

Somente compreende isto aqueles que em si próprios combinam os extremos da Ideia Moral, identificando-os por um transcendental domínio da antinomia. Eles devem ter ido ainda além, transcendendo a oposição fundamental dos sexos. O macho deve ter se completado e se tornado andrógino; a fêmea, se tornado ginandra.

Isto não se refere necessariamente a intercurso homossexual; se refere a polarização dos Invólucros. Uma pessoa poderia ser andrógina ou ginandra sem mostrar comportamento homossexual no plano físico. Por outro lado, não há nenhuma razão por que eles não deveriam, se assim inclinados, ir para a cama pessoas do seu próprio sexo. Não interessa a ninguém a não ser as pessoas envolvidas. A chave, no entanto, consiste em que eles não deveriam ir para a cama somente com pessoas de seu próprio sexo, se eles vão. De outra forma eles seriam homossexuais, não andróginos ou ginandras.

Esta imperfeição aprisiona a alma. Pensar ’Eu não sou uma mulher, mas um homem’, ou vice-versa, é limitar-se a si próprio, opor uma barreira aos movimentos do ser. É a raiz do ’fechamento’ que culmina em se tornar ’Maria inviolada’ ou um ’Irmão Negro’.

Deve ser lembrado, no entanto, que os planos não podem ser misturados. Você está limitado pelos parâmetros de sua encarnação física em um tipo de corpo ou outro, pelo menos no estágio presente do conhecimento científico. Aquelas pessoas que deliberadamente mudam suas características sexuais por meios cirúrgico podem simplesmente cedendo a pressão social de desaprovação de seu comportamento ’irregular’. Eles são os (assim chamados) negros “atravessando a barreira racial”. Isto não é solução, mas evasão covarde. A ideia de acabar com a barreira racial, e com o preconceito sexual de qualquer tipo. Não mude a si mesmo — mude a sociedade. Você não é uma função da maioria. Foda-se a maioria. A sociedade como um todo — “tudo” — é uma função sua. Você tem certos direitos inalienáveis, que estão definidos em Liber OZ, e qualquer sociedade que tenta lhe tirar qualquer desses direitos de você, deve ser reformada. Se ela não pode ser reformada ela deve ser destruída, e uma sociedade melhor construída em seu lugar.

Por ’velho Lobo de Khem’ é aqui significado o princípio de estagnação que era simbolizado no Egito (Khem) por Sebek, o habitante da lama do Nilo — veja-se acima, e em Liber 418 para um relato completo. Note-se que isto não é ’maligno’, mas simplesmente o entupimento da Energia Universal. As ’forças opostas do Bem e do Mal’ são complementares, e devem ser unidas por ’amor sob vontade’ — assim alcançando, em êxtase, uma nova concepção transcendendo os planos destes opostos.

Na verdade, nada está contra a sua Verdadeira Vontade. Cf. Cap. IV, v. 46. Deve ser assinalado pela Fórmula de Nuit: 2=0. Seu ’inimigo’ é somente um sinal luminoso em Estrada Real. Mas não misture os planos!

Assim, o meu obstáculo principal é a crença que qualquer Ideia ativa possa ser ’maligna’; e é portanto o dogma principal dos Deuses-Escravos, o ’Pecado Original’, a existência de um ’Diabo Pessoal’ oposto a uma Bondade Onipotente — Ahrimanes e Aormuzdi como acima — que ameaça a minha Vontade.

A expressão ’Deuses-Escravos’ significa os deuses adorados pelos escravos (no senso de Liber AL). Estes devem sempre ser “irmãos negros” — não senhores da terra, mas senhores de suas favelas.

Amennti — o Oeste — o Lugar da Morte — é o ponto atribuído a Osíris em seu aspecto de Deus Sacrificado, isto é, na gíria moderna, a ’Jesus’. Para nós, ’A Palavra de Pecado é Restrição’. A única possibilidade de ’mal’ é que a Vontade possa ser estorvada. Em contraste, para os escravos de ’Jesus’, não há quase nenhum ato que não seja por natureza um ’pecado’. Mesmo a nossa ’retidão é como farrapos imundos’. ’Não existe ninguém bom, não, nenhum’, etc. etc. etc. ad nauseam et praeter! Para nós, portanto, ’Jesus’ é precisamente a fonte e origem de todo ’mal’, pois esta ideia é sinônima da ideia de Restrição em todos os planos. A concepção cristã do pecado como a vontade do homem natural, o ’Velho Adão’, é a base de todo conflito interno — de insanidade moral.

É verdade que alguns escritores, chamando-se a si mesmos de cristãos, tem-se declarado pelo Antinomismo; mas a ortodoxia os tem sempre condenado; é evidente que as doutrinas deles implicam no panteísmo. Os sofismas de Paulo demonstram com suficiente clareza quão profundamente falsos para conosco mesmos de ser para tentar mesmo apenas desviar a mente do dilema implícito nas teses que a ’Salvação’ emancipa do ’Pecado’, mas ao mesmo tempo o ’Santo’ é moralmente obrigado pelas ’leis de Deus’. As passagens sobre isto seriam risíveis se a História não as tivesse estigmatizado como atrozes.

Isto é, as passagens seguindo essas, nas “Epístolas”, onde Paulo da o exemplo de Aquinas. Os muitos abusos das Igrejas dos Crististas contra a humanidade foram baseados nestes sofismas. Evidentemente, qualquer pessoa tem sempre o governo que merece, ou Deus que eles merecem. Parece incrível que as pessoas poderiam acreditar que Deus falaria do alto de uma montanha somente para dizer-lhes “no-nos”. Mas muitos acreditaram, e muitos ainda acreditam. Pecado original, não. Estupidez original, sim.

45. Ó minha adorável, minha deliciosa, a noite inteira eu verterei a libação dos Teus altares; a noite inteira eu queimarei o sacrifício de sangue; a noite inteira eu balançarei o turíbulo do meu deleite diante de Ti, e o fervor das orações intoxicará Tuas narinas.

Aqui existe uma identificação deliberada das mesmíssimas palavras da Invocação do Sagrado Anjo Guardião com essas apropriadas a uma fervente rapsódia endereçada a uma rameira.

Esta é mais uma indicação para Iniciados do Tantrismo.

46. Ó Tu que vieste da terra do Elefante, cingindo com a pele do tigre, e engrinaldado com o lótus do espírito, inebria Tu a minha vida com Tua loucura, para que Ela pule quando eu passe.

’A terra do Elefante’: a Índia. A referência é a Dioniso — a Bacchus Diphues. O símbolo do Atu 0 já foi explicado em detalhe. Note-se a ênfase dada aqui aos seus atributos: o viril ardor animal, a coragem e a ferocidade do tigre; a voluptuosa feminilidade passiva, sensual (grinalda), entretanto espiritual, do Lótus; no entanto, destes — cuja Boda Química é aquela de Nuit e Hadit — Ele é imune. (Ele é Inocência e Silêncio — o Bebe no Ovo de azul.) Eu O invoco para que ’inebrie a minha vida’ com Sua ’loucura’; para que me inspire com o seu êxtase essencial.

Ele é também, claro, Vishnu, — que era membro da Trimurti Hindu funcionando no último Aeon.

HINO À BACCHUS

Salve, filho de Samela!
A ti seja, a ti e a ela,
Louvor, e a vida eterna, e divindade bela!

Vergonhosa traição!
Da esposa olímpica a mão
Cruel trama teceu contra a doce paixão!

Vede! em rugidora flama
Desce Zeus! e como clama
Em Tebas, corpo em fogo, a nobre, a dama!

Nesse incêndio consumida,
Ergue a voz do deus querida
Pedindo que ao bebê no ventre salve  vida!

E tu lhe escutaste o rogo,
Tu, Zeus, percebeste o jogo,
E tiraste o bebê do chuveiro de fogo!

Em tua coxa sagrada
Foi a criança encerrada;
De néctar, de ambrósia e luz alimentada!

Com cabelos de serpente,
Corpo lindo, olhar ardente,
Ó Dionísio, tu surgiste finalmente!

Sim! os sonhos do destino
Nós ousamos dar de ensino
E celebrar enquanto amamos neste hino!

Ó tu, Dionísio, escuta!
Vem rápido, vem, labuta,
Sussurra teu segredo em cada orelha e gruta!

Ó tu, Dionísio, enceta
Qual apolônica seta!
Em cada coração teus chifres achem meta!

(“Orpheus”)

A última frase, ’que Ela pule quando eu passe’, é peculiarmente obscura. ’Ela’ pode ser tomado como se referindo a — a Ada Laird — a eu não sei o que!

Ele “sabia” muito bem, mas estava sendo gracioso. A referência é a um Arcano do Caminho do Eremita. Os estudantes sérios encontrarão seu esboço em Artemis Iota. O nome retido: a razão para a retenção será compreendida por aqueles que penetrem no arcano através da ordália da prática.

47. Comanda Tuas moças que Te seguem a que nos façam uma cama de flores imortais, para que ali tomemos nosso prazer. Comanda Teus sátiros a que amontoem espinhos entre as flores, para que ali tomemos nossa dor. Que o prazer e a dor sejam misturados em uma suprema oferta ao Senhor Adonai!

Finalmente, prazer e dor devem ser misturados, identificados, em uma Boda Química deles próprias. Pois todos os possíveis elementos de sensação devem tomar parte no supremo Sacramento. Omitir o que quer que seja seria deixar imperfeita, e, portanto ’maligna’, a coisa omitida; seria excluir um hóspede do Festim Nupcial: o Universo naquela dimensão particular.

Este é outro senso em que AL 1 22 pode ser compreendido.

48. Também, eu ouvi a voz de Adonai o Senhor o desejável sobre aquilo que está além.

48-52: Uma vez mais, o plano da Comunhão entre o Adepto e o Anjo muda: esta passagem é uma simples instrução. Deveria ser lida em conexão com o Cap. I, v. 9, e outros textos onde se menciona ’aquilo que está além’.  É-me dito aqui, com pela primeira vez na minha Iniciação de 1905-1906, que minha Missão para essa Humanidade concerne ao Próximo Passo da Escada de Jacó da Ascensão Espiritual da Raça. Eles devem progredir de uma maneira sadia e ordeira; não subindo que nem Ícaro a uma mal definida percepção como Nibbana; mas, com firmeza e espírito crítico, usando as faculdades que tem da maneira mais vantajosa; satisfazendo adequadamente, acuradamente, com aspiração inteligente, cada função de suas naturezas; sem tentarem escapar ao duro trabalho da evolução, sem tentarem correr antes de poder andar; assegurando cada passo à medida que é tomado; fortificando cada posição à medida que é conquistada antes de procederem ao ataque da linha seguinte de trincheiras.

A campanha de Napoleão em 1812 — a campanha de Moscou — deveria servir de aviso ao Aspirante.

Em minha experiência eu tenho notado que esse erro é o mais perigoso que jovens magistas que prometem tendem a cometer; enquanto que, no caso da grande maioria, isto simplesmente os impede de fazerem o mínimo progresso.

Eu cito o caso de Meredith Starr como instrutivo no mais alto grau.

O caso de Meredith Star é encontrado na Autohagiografia. Depois de sua morte, um enorme número de aspirantes continuaram a cometer o mesmo erro. Os mais recentes entre esses conhecidos do público estão Joseph Metzger, Kenneth Grant e Israel Regardie. O principal problema é que a Corrente Thelêmica naturalmente vivifica iniciativa e autoconfiança. Mas a menos que o discípulo seja assim verdadeiramente promissor que a Ordem decida gastar a energia necessária para disciplina-lo, ele deve disciplinar a si mesmo. E a tentação para ’ser melhor que o instrutor’ é quase irresistível, principalmente por que o instrutor é tão ameno, tão acomodado, parece tão temeroso e incerto de si mesmo!(Cf. Tao Teh King, Cap. XV.)

No entanto, desobedecer seu instrutor é mortal do ponto de vista espiritual. Você corta o elo com a Autoridade, pois o instrutor é o representante do Senhor do Aeon, e você se torna o joguete das forças além do controle do homem mortal. Você pode se tornar rico (normalmente nos moldes de um ladrão) ou famoso (normalmente nos moldes que Ordem consideraria infame); mas o seu Trabalho, para o qual você tinha se obrigado quando voe assinou o Juramento, é abandonado, e por isso muito da humanidade, que necessita de sua libertação para aumentar a sua própria, é diminuída. Você é um “soldado profissional que não ousa lutar”, e você sabe que Liber AL diz a respeito da atitude para com eles.

49. Que os habitantes de Tebas e seus templos não boquejem sempre os Pilares de Hércules e o Oceano do Oeste. Não é o Nilo uma água bela?

Cf. Cap. II, vv. 37-44 e Comentário. Vivendo em Tebas, buscai vossa água no Nilo, em vez de perder vosso tempo em vastas, vagas, vaporosas fantasias sobre o Atlântico. Em bom português, segui precisamente e pacientemente o sistemático curso de Iniciação prescrito pela A∴A∴ SEDE MINUNCIOSOS E METÓDICOS; COMPLETAI TODOS OS DETALHES E CONDIÇÕES. Um pássaro na mão é melhor que dois voando. De grão em grão a galinha enche o papo. Esses que desprezam detalhes são eventualmente destruídos precisamente por essas coisas que eles julgaram triviais; e seu desapontamento e desgraça são ainda mais humilhantes.

50. Que o sacerdote de Isis não descubra a nudez de Nuit, pois todo passo é uma morte e um nascimento. O sacerdote de Isis levantou o véu de Isis, e foi morto pelos beijos da sua boca. Então foi ele o sacerdote de Nuit, e bebeu do leite das estrelas.

Todo incidente da vida é de importância estrutural. Nenhum homem se pode permitir omitir a experiência própria ao seu presente estágio de iniciação. Satisfaça a fórmula de Isis — não importa, no momento, que Isis seja uma manifestação ’mais baixa’ do Yin que Nuit! — e você chega imediatamente a ser sacerdote de Nuit, e recebe o Seu infinito amor. (Veja-se meu ’Através do Golfo’, Equinócio I, vol. 7, pp. 295-354.) Eu refiro o Aspirante ao diário de S.H. Frater O.I.V.V.I.O., o qual, em vez de percorrer pacificamente e metodicamente a trilha própria e o Trabalho apontado ao Zelador, tomou a vantagem de uma Regra sutil da A∴A∴ a qual permite a qualquer homem, qualquer que seja o grau dele, o declarar-se um Mestre do Templo, e, por mera virtude do seu Juramento, tornar-se um. Neste caso a intensa pureza da aspiração do nosso Irmão, e a Necessidade Mágica — em um assunto não diretamente ligado à sua carreira pessoal na Ordem — de que ele tomasse tal espantoso passo, com seus olhos abertos à responsabilidade e perigo envolvidos, salvou-o das consequências que teriam esmagado qualquer pretendente arrogante, insolente e presunçoso. Entretanto, sua ignorância dos detalhes dos Graus intermediários levaram-no constantemente a cometer os mais deploráveis erros, das devastadoras penalidades dos quais ele foi salvo pela amante vigilância do seu Superior na Ordem, pelo menos no que se referia às catástrofes mais críticas.

“Foi morto pelos beijos da sua boca”: Cf. v. 62.

’Bebeu do leite das estrelas.’ Esta referência é a uma forma particular do Elixir, somente obtido pelo Alquimista muito avançado via de regra. (No entanto, algumas vezes a Graça de nossa Senhora visita mesmo o Neófito) Cf. vv. 63-65.

51. Que o fracasso e a dor não desanimem os adorantes. As fundações da pirâmide foram talhadas da rocha viva antes do pôr-do-sol; chorou o rei na madrugada porque a coroa da pirâmide ainda não havia sido cortada da pedreira na terra distante?

Existe ainda uma terceira consideração a fazer sobre a doutrina do Próximo Passo. Parece de fato ser muito mais fácil vagar pelo País das Maravilhas da Tríada Superna do que cavoucar penosamente no Caminho de Tau; formular o voto de Renúncia de um Dhamma-Buddha, em vez de conquistar Asana através de angustiante aplicação e terrível agonia daquele detestado e desprezado fantasma físico, o corpo, cuja obsessão é ao mesmo tempo um insulto, uma amolação, e o âmago de Distração, Dispersão, Degradação, Desgosto e Desespero!

Mas isto é uma ’danosa heresia e uma perigosa ilusão’, devido ao simples fato que ninguém pode de forma alguma ter a mínima ideia da Natureza do Trabalho de qualquer Grau além do seu — e eu digo isto com toda a ênfase, a despeito da minha devoção e determinação de escrever os detalhes do Caminho dos Sábios — tendo mesmo me dado ao trabalho de inventar o que é praticamente uma linguagem nova para este fim. É verdade que eu tenho sido bem sucedido em que o Iniciado, ao chegar a qualquer Grau, instantaneamente reconhece a exatidão de minha descrição, assim confirmando sua confiança no meu conhecimento do assunto, é sua segurança de que ele realmente atingiu o grau em questão, e não está sendo enganado pela sua vaidade. Mas, até ter real experiência desta parte do Caminho, ele fatalmente interpretará erroneamente minha mais simples exposição dos seus mais evidentes sintomas.

A não ser que o Aspirante compreenda por completo e se conforme por completo com esta inerente incapacidade, ele está muito sujeito a tentar evadir a imprecisa, tediosa, terrível disciplina do seu Grau, tanto mais repugnante porque representa precisamente a limitação dele no momento, e a se divertir muito imaginando-se um Adepto Isento, ou um Arahat, ou mesmo — eu conheci um tal especialista na arte de se enganar a si próprio — um Ipsissimus! Não significava nada para o grande homem que a única referência àquele Grau em todos os nossos Livros Sagrados é uma indicação de certa prática (a qual em si está além da compreensão de qualquer pessoa a não ser os Mestres do Templo de mais poderosas mentes!) como a ’abertura do Grau’.

A Parábola da Pirâmide não requer comentário: é tão lúcida quanto sublime.

A passagem toda pode ser sumarizada como um apelo ao Bom Senso — chamado Senso Comum (lucus a non lucendo), porém a mais rara das faculdades humanas. No entanto, a verdade jaz além deste cínico apotegma. Bom senso é realmente comum a todos os homens: é a propriedade do Inconsciente, cuja Onisciência iguala sua Onipotência. O problema é que, praticamente em todo caso particular, o Intelecto insiste em interferir: a vaidade anseia por ser lisonjeada tentando ’aperfeiçoar’ o que é naturalmente perfeito — com resultados uniformemente desastrosos. Essa é uma das principais interpretações das repetidas diatribes do Livro da Lei contra ’a Razão’, contra ’Porque e sua raça’(CCXX, II, 27-33, etc.)ou qualquer outra semelhante usurpação da realidade do indivíduo pelas suas próprias, autocriadas ilusões. O intelecto deveria ser um aparelho através do qual podemos expressar os fatos da Natureza. Mas não é capaz sequer de interpreta-los: essa é a função de Neschamah. Mesmo sua faculdade crítica está limitada ao propósito de aparente coerência interna: de evitar qualquer aparência de conflito. Quando se arroga qualquer outra função, é ultra crepidam.

Note-se a palavra Mas em CCXX, ii, 34, marcando a antítese do correto curso de ação (vv. 34-51) contra o errôneo (vv. 27-33).

52. Houve também um beija-flor que falou ao cerastes de chifres, e rogou-lhe por veneno. E a grande cobra de Khem o Santo, a real serpente Ureus, respondeu-lhe e disse:

52-56. A Parábola do Íbis, do Beija-flor e da Serpente Uraeus.

Qualquer comentário serias impertinente: o significado da parábola, por profundo que seja, é tão lúcido quanto qualquer passagem em literatura; e a linguagem, lindamente ornada como é, possui uma sublimidade e simplicidade toda sua.

O valor moral, em particular, desafia aquele das tão elogiadas parábolas dos Evangelhos. Contrasta-se o sectarismo, a trivialidade e (com demasiada frequência) a obliquidade moral daquelas com esta obra prima.

53. Eu naveguei sobre o céu de Nu no carro chamado Milhões-de-Anos, e não vi nenhuma criatura sobre Seb que fosse minha igual. O veneno de minha presa é a herança de meu pai e do pai de meu pai; e como darei a ti? Vive tu e teus filhos como eu e meus pais temos vivido, mesmo durante cem milhões  de gerações, e pode ser que a misericórdia dos Poderosos confira sobre teus filhos uma gota do veneno antigo.

Está ultima sentença intima um fato muito importante sobre Iniciação: ela pode produzir uma mudança genética, isto é, uma modificação no código da DNA. Nós devemos observar, em adição, que está modificação não é necessariamente transmitida através do processo normal de geração. É primariamente um efeito de telecinético. Este é o fato científico por trás da lenda universal sobre “nascimentos de virgens”. Talvez ele seja determinado pela assim chamada ciência ortodoxa dentro de algumas centenas de anos. Nós deixamos esta afirmação como uma sugestão de pesquisas para parapsicologistas, sabendo que eles necessitarão uma cooperação muito completa de muitos outros ramos da ciência, especialmente as mais exatas, antes que eles determinem, não o processo, mas suas manifestações. Neste modo-somente-Lysenko estava certo.

54. Então o beija-flor afligiu-se em seu espírito, e voou por entre as flores, e foi como se nada tivesse sido dito entre eles. No entanto daí a pouco uma serpente o golpeou e ele morreu.

55. Mas um Íbis que meditava sobre a margem do Nilo o lindo deus ouviu e escutou. E ele abandonou seus hábitos de Íbis e tornou-se como uma serpente, dizendo Talvez em cem milhões de milhões de gerações dos meus filhos eles conseguiram uma gota do veneno da presa do Exaltado.

56. E vede! antes que a lua enchesse três vezes ele virou uma serpente Ureus, e o veneno da presa foi estabelecido nele e sua semente mesmo para sempre e para sempre.

A atitude do Íbis poderia ser definida como “vontade pura sem ânsia de resultado”. “A lua enchesse três vezes”: três meses lunar, ou uma estação do sol, é o tempo mínimo necessário para se estabelecer um novo ritmo psicossomático, se ele for volitivo.

57. Ó tu Serpente Apep, meu Senhor Adonai, é um grão do tempo mais mínimo, esta viagem pela eternidade, e à Tua vista as marcas são de lindo mármore branco intocado pela ferramenta do gravador. Portanto Tu és meu, mesmo agora e para sempre e para sempre mais. Amém.

Este verso completa a concepção tempo estabelecida na Parábola. No Conhecimento e Conversação do Sagrado Anjo Guardião, as divisões do tempo não mais implicam diferença. Paras usar a metáfora romana, cada dia é marcado com uma pedra branca. Mas não existe diferença entre estas pedras; todas parecem ser igualmente monumentos de brilhante candura, intocada pelos detalhes da vida. Todos os eventos ordinários param de perturbar o brilho uniforme da Pura Consciência da Eterna Comunhão.

58. Além disto, eu ouvi a voz de Adonai: Sela o livro do Coração e da Serpente; no número cinco e sessenta sela tu o santo livro. Como ouro fino que é batido em um diadema para a linda rainha de Faraó, como grandes pedras que são cimentadas juntas na Pirâmide da cerimônia da Morte de Asar, assim liga tu as palavras e os atos, de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite.

58-65. A passagem final sumariza o Livro inteiro. Ela exige íntimo estudo e destro manejo por parte do Comentarista; pois cada verso, se bem que completo por si só, é um elemento integral e necessário do todo.

58. ’eu’: o Escriba: cf. verso 48.

A significação do número LXV foi explicada na nota prefacial. As metáforas neste texto são curiosas. Uma é de ouro — ouro fino — batido com ouro fino para formar um círculo (O diadema, tradicionalmente, é um círculo de algum metal precioso, ornamentado ou não, para enfeitar o toucado de senhoras. — M.) para enfeitar a noiva e a rainha. A referência é ao Adepto em sua relação com Adonai.

A metáfora da pedra é, por outro lado, de Tiphereth. (O texto assume que a Grande Pirâmide de Gizé foi de fato planejada como um Templo de Iniciação onde muito apropriadamente se celebrava o Ritual do Deus Sacrificado.) Para o simbolismo todo da pedra, veja-se a Qabalah, os rituais da Maçonaria, etc.

Aqui A.C. aparentemente confundiu Gizé a cidade com Quéops o rei, a menos que seja um erro de copista. Nós lembramos o leitor que este comentário foi originalmente ditado para Frater O.P.V..

Note-se que as palavras e atos, sendo corretamente ligados, perdem sua natureza grosseira e tornam-se puro pensamento. (As letras capitais, Th, M, A, podem ser lidas אמת, Verdade.

No original inglês, a frase traduzida como ’de forma que em tudo há um só Pensamento de Mim Adonai teu deleite’ é ’so that in all is one Thought of Me thy delight Adonai’. Daí o acróstico.

59. Eu respondi e disse: Está feito mesmo de acordo com a Tua palavra. E foi feito. E aqueles que leram o livro e debateram sobre ele passaram à terra desolada das Palavras Estéreis. E aqueles que selaram o livro no seu sangue firam os escolhidos de Adonai, e o Pensamento de Adonai era uma Palavra e um Ato; e eles habitaram na Terra que os viajantes longínquos chamam Nada.

O criticismo intelectual deste Livro induz estéril controvérsia — mero pedantismo. Ele deve ser apreciado como um poema (selado no sangue), tomado como a nutrição da vida interior mais íntima. Estes que assim fazem se tornam candidatos de escola para o C. & C. do S.A.G. Sua Aspiração (Pensamento) é então cristalizada em Palavra e Ação: eles completam a Operação da Magia Sagrada.

A ’Terra’: a referência é a Nuit. Eles se tornam conscientes de que são Estrelas no Espaço. Para a interpretação toda deste símbolo como equivalente à compleição da Grande Obra.

As autoridades não foram citadas. A melhor de todas, depois de Liber  AL mesmo, é Liber NV. Então Liber HAD, então Liber XLIV, A missa da Fênix, então Liber V, O ritual da marca da Besta. O estudante sério é avisado para começar por este último, visto que foi adaptado para o Aspirante de qualquer grau. Ele levará aos outros tão tranquila e inexoravelmente como a gravitação.

60. Ó terra além do mel e das espécies e toda perfeição! Eu viverei ali com meu Senhor para sempre.

Aqui esta a ideia da vida do Adepto em si:

61. E o Senhor Adonai deleita-Se em mim, e eu porto a Taça da sua alegria à gente cansada da velha terra cinzenta.

E aqui, em relação aos seus semelhantes. Minha própria carreira deveria ser uma explicação adequada destes dois versos.

Para pessoas capazes de medirem a estarrecedora mudança na atmosfera anímica, no desenvolvimento intelectual, e no crescimento da consciência social da humanidade desde 1904, é isso.

62. Aqueles que dela bebem são atacados de aflição; a abominação tem poder sobre eles, e seu tormento é como a grossa fumaça negra da habitação maligna.

62-64. Esta doutrina é o mais mortífero veneno para os indignos (mesmo os místicos cristãos tiveram alguma concepção disto de ’comer e beber danação para si próprios’).

Infelizmente, eles pararam por aí. ’Atacados de aflição’: a atribuição da ordália, que é deleite. A ’abominação’: a Lei de Thelema, ou 666, ou Heru-ra-ha Mesmo. ’Grossa fumaça negra da habitação maligna’: a Luz dos assim chamados ’Rosa cruzes’. Inferno, o âmago da estrela. É claro que isto é muito desagradável a princípio. Consequentemente, muitos tolos não persistem em sua tolice.

É estranho que o texto se abstenha especificar a natureza do erro(Verso 63); aparentemente o único ponto em questão é se somos ’escolhidos’ ou não.

Note-se a palavra ’cansada’, e o símbolo de estagnação e passividade: (a) tem poder sobre eles, (b) grossa, (c) fumaça, (d) negra, (e) habitação. Contraste-se com estes os estigmas de Consecução no v. 64, todos fogosos, ativos e prontos, mesmo na esfera usualmente associada com a ideia de repouso — ’poente’. A própria Coroa do Sol é o cinturão deles (Cf. a adjuração da Rosacruz ’Seja tua mente aberta’, etc.) — o cinturão dos ’beijos mortais’, assim identificando a morte com o amor, a energia criadora.

O mistério se esclarece com referência ao v. 59. ’Ser escolhido’ é uma decisão que depende de nossa própria Vontade. Se o Livro for estranho ao estudante, envenená-lo-á completamente; ’ele deve sela-lo em seu sangue’; então, bebendo dele como de um Vinho que é idêntico à sua vida mesma, o livro os intoxica à realização de si mesmos como o Senhor Adonai, a Alma do Livro.

Este estudante se lembra de que este Livro não o envenenou na época em que ele o leu e o aprendeu de cor, pelo contrário, ele o levou a Iniciação de Neófito. Mas ele tem bebido grandes goles de taças envenenadas desde então, e sofrido o tormento, e sentindo a presença do maligno. Cf. VII, iii, 40-48. E cf. LXV, iv, 46. meu Senhor, eu Te amo!

63. Mas os escolhidos beberam dela, e tornaram-se mesmo como meu Senhor, meu lindo, meu desejável. Não existe nenhum vinho como este vinho.

’Torna-se mesmo como meu Senhor’: veja O Mundo Desperto.

64. Eles estão reunidos em um coração luminoso, como Ra que reuniu suas nuvens em volta Sua no poente num flamejante mar de alegria; e a serpente que é a coroa de Ra os cinge com o cinturão dourado dos beijos mortais.

’Alegria’ (em inglês ’Joy’: 26=2x13. Mas também 2+6=8).

65. Assim também é o fim do livro, e o Senhor Adonai o rodeia todo como um Raio, e um Pilão, e uma Cobra, e um Falo; e no meio Ele é como a Mulher que esguicha o leite das estrelas de seus seios; sim, o leite das estrelas de seus seios.

Cf. v. 14; meditai estritamente sobre a propriedade da primeira aparição deste particular símbolo justamente aqui.

O símbolo é agora completado pela introdução de Nuit em seu meio. Compare-se à aparição similar de Shin em IHVH.

(Se isto não foi explicado, faça-o completamente.)

Shin, o Espírito Santo, ao descer no meio do Tetragrama das Forças Cegas, transforma a Cruz dos Elementos no Pentagrama, o Símbolo do Homem, IHShVH, ’Jeheshua’. Sh é, evidente, o Elemento do Espírito. A letra tem que fazer  um papel duplo no Alfabeto Hebraico, talvez seja por isso que os Judeus continuam confundindo Espírito com Fogo até hoje.

Que a letra então, significando Nuit, transmutará אדני como Shin transmuta יהוה? A letra usual é He, ’A Estrela’, Atu XVIII, ♒ (Note-se que pela precessão dos Equinócios o Sol está agora em Aquário em vez de Pisces no Equinócio Vernal.). No Aeon do Deus Sacrificado os homens adoravam ♍ e ♓, a Virgem e o Peixe. Nós substituímos esses por ♒ (Nuit) e ♌ (Babalon e a Besta conjugados). Mas como צ ’não é a Estrela’, e♈ pivotam em torno de ♓ como ♌ e ♎ em torno de ♏ (Atus VIII e XI trocam de lugar, e assim Atus XVII e IV). Mas o atual Deus adorado progrediu de ♉, o laborioso Touro de Mitras sacrificado, ☉ no Norte, a ♊, as Crianças R.H.K. e H.P.K. Nós assim obtemos o Pentagrammaton אדהני cujo valor é 70, ץ, o Olho, Set ou Saturno, Atu XV, ’O Diabo’.

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