A Consecução pelo Yoga

Este artigo é um capítulo de O Templo do Rei Salomão

O objetivo da prática dos Yogīs.

.
Leia em 7 min.

A Consecução pelo Yoga

De acordo com o Śiva Saṃhitā, há duas doutrinas nos Vedas: as doutrinas de “Karma Kāṇḍa” (obras sacrificiais etc.) e “Jñāna Kāṇḍa” (ciência e conhecimento). “Karma Kāṇḍa” é duplo – bom e mau, e, de acordo com a forma como vivemos, “há muitos prazeres no céu” e “há muitos sofrimentos no inferno”. Tendo compreendido a verdade de “Karma Kāṇḍa”, o Yogī renuncia às obras de virtude e vício, e se engaja em “Jñāna Kāṇḍa” – conhecimento.

Lemos no Śiva Saṃhitā[1]:

“Na devida estação, várias criaturas nascem para desfrutar das consequências de seu karma[2]. Assim como por engano a madrepérola é confundida com prata, assim também, por erro do próprio karma, o homem confunde Brahmā com o universo.

Estando demasiadamente e profundamente envolvido com o mundo manifestado, surge a ilusão sobre aquilo que é manifestado – o sujeito. Não há outra causa (para essa ilusão). Veramente, veramente, eu lhe digo a verdade.

Se o praticante de Yoga deseja cruzar o oceano do mundo, ele deve renunciar a todos os frutos de suas obras, tendo cumprido todos os deveres de seu āśrama”[3].

“Jñāna Kāṇḍa” é a aplicação da ciência ao “Karma Kāṇḍa”, as obras do bem e do mal, isto é, da Dualidade. Pouco a pouco, ele corrói o primeiro, como um ácido forte corrói um pedaço de aço, e finalmente, quando o último átomo é destruído, ele deixa de existir como ciência, ou como método, e se torna a Meta, ou seja, o Conhecimento. Isso é descrito com a mais bela explicação na obra acima mencionada, como se segue:

“34. Aquela Inteligência que incita as funções nos caminhos da virtude e do vício “sou eu”. Todo este universo, móvel e imóvel, vem de mim; todas as coisas são vistas através de mim; todas são absorvidas em mim[4]; porque não existe nada além do espírito, e “eu sou esse espírito”. Não existe nada mais.

35. Assim como em incontáveis copos cheios de água muitos reflexos do sol são vistos, mas a substância é a mesma; similarmente, os indivíduos, como copos, são incontáveis, mas o espírito vivificante, como o sol, é um.

49. Todo este universo, móvel ou imóvel, surgiu da Inteligência. Renunciando a tudo o mais, abriga-te nela.

50. Assim como o espaço permeia um jarro tanto por dentro quanto por fora, da mesma forma, dentro e além deste universo em constante mudança existe um Espírito universal.

58. Já que o conhecimento dessa Causa do universo destrói a ignorância, o Espírito é Conhecimento; e esse Conhecimento é eterno.

59. O Espírito, do qual este universo múltiplo que existe no tempo toma sua origem, é único e impensável.

62. Tendo renunciado a todos os falsos desejos e correntes, o Saṃnyāsī e o Yogī certamente veem em seu próprio espírito o Espírito universal.

63. Tendo visto o Espírito que traz felicidade ao seu próprio espírito, eles esquecem este universo e desfrutam da felicidade inefável do Samādhi”[5].

Assim como no Ocidente há vários sistemas de Magia, no Oriente existem vários sistemas de Yoga, cada um se propondo a conduzir o aspirante do reino de Māyā ao da Verdade em Samādhi. Os mais importantes são:

  1. Jñāna Yoga. – União pelo Conhecimento.
  2. Rāja Yoga. – União pela Vontade.
  3. Bhakti Yoga. – União pelo Amor.
  4. Haṭha Yoga. – União pela Coragem.
  5. Mantra Yoga. – União pela Fala.
  6. Karma Yoga. – União pelo Trabalho[6].

Segundo o Bhagavad Gītā, desses seis métodos, os dois principais são: Yoga por Sāṅkhya (Rāja Yoga) e Yoga por Ação (Karma Yoga). Mas a diferença entre os dois está em sua forma e não em sua substância; pois, como o próprio Kṛṣṇa diz:

“Tanto a renúncia (Rāja Yoga) quanto o Yoga pela ação (Karma Yoga) conduzem à mais alta bem-aventurança; dos dois, o Yoga pela ação é verdadeiramente melhor do que a renúncia pela ação … Crianças, e não Sábios, falam do Sāṅkhya e do Yoga como se fossem diferentes; aquele que está devidamente estabelecido em um obtém os frutos dos dois. Aquele lugar que é conquistado pelo Sāṅkhya também é alcançado pelos Yogīs. Vê bem aquele que vê que o Sāṅkhya e o Yoga são um”[7].

Ou, em outras palavras, aquele que entende o equilíbrio da ação e da renúncia (da adição e da subtração) é como aquele que percebe que, na verdade, o círculo é a linha, o fim é o começo.

Para mostrar quão extraordinariamente e intimamente ligados estão os métodos do Yoga aos da Magia, citaremos os três versos seguintes do Bhagavad Gītā, que, com proveito, o leitor pode comparar com as citações já feitas das obras de Abramelin e Éliphas Lévi.

“Quando a mente, aturdida pelas Escrituras (Śruti), permanecer imóvel, fixa na contemplação (Samādhi), então alcançarás o Yoga”[8].

“Tudo o que fizeres, tudo o que comeres, tudo o que ofereceres, tudo o que deres, tudo o que fizeres de austeridade, ó Kaunteya, faze-o como uma oferenda a Mim.

Fixa tua mente em Mim; devota-te a Mim; sacrifica-te a Mim; prostra-te diante de Mim; assim harmonizado no SELF (Ātman), tu virás a Mim, tendo-Me como teu objetivo supremo”[9].

Estes dois últimos versos foram retirados de “O Yoga da Ciência Real e o Segredo Real”; e se colocados em uma linguagem ligeiramente diferente, poderiam facilmente ser confundidos com uma passagem de “O Livro da Magia Sagrada”.

O primeiro nem tanto. Ele foi tirado de “O Yoga pelo Sāṅkhya”, e lembra mais o Quietismo de Molinos e Madame de Guyon do que as operações de um magista cerimonial. E era justamente esse Quietismo que P. ainda não havia experimentado plenamente; e ocorreu que, percebendo isso, uma vez que a chave do Yoga lhe fora oferecida, ele preferiu abrir a porta da Renúncia e fechar a da Ação, e abandonar os métodos ocidentais pelos quais já havia avançado tanto, em vez de continuar neles. Este foi o primeiro grande Sacrifício que ele fez no caminho da Renúncia – abandonar tudo o que havia alcançado até então, isolar-se do mundo e, como um Eremita em uma terra desolada, buscar a salvação por si mesmo, através de si mesmo e a partir de Si mesmo. Por fim, como veremos, ele renunciou até mesmo a essa renúncia, pela qual agora sacrificou tudo, e, por uma unificação de ambos, uniu o Oriente ao Ocidente, as duas metades daquele todo perfeito que estavam separadas desde aquela noite em que o sopro de Deus se moveu sobre a face das águas e os membros de um mundo vivo lutavam para sair do Caos da Noite Antiga.


  1. Śiva Saṃhitā, ii. 43. 45. 51. ↩︎

  2. Trabalho e os efeitos do trabalho. A chamada lei de Causa e Efeito nos mundos moral e físico. ↩︎

  3. Os quatro āśramas são (1) Viver como um Brahmacārin – passar uma parte da vida com um professor brâmane. (2) Viver como um Gṛhastha – criar uma família e realizar os sacrifícios obrigatórios. (3) Viver como um Vānaprastha – retirar-se para a solidão e meditar. (4) Viver como um Sannyāsin – aguardar a libertação do espírito no Espírito Supremo. ↩︎

  4. No momento do Pralayā. ↩︎

  5. Śiva Saṃhitā, cap. I. ↩︎

  6. Além destes, existem vários Yogas menos conhecidos, em sua maioria variantes dos anteriores, tais como: Aṣṭāṅga, Laya e Tāraka. Veja Haṭha Yoga Pradīpikā, p. iii. ↩︎

  7. Bhagavad Gītā. Quinto Discurso, 2-5. ↩︎

  8. Ibid. Segundo Discurso, 53. ↩︎

  9. Ibid. Nono Discurso, 27, 34. ↩︎


Traduzido por Alan Willms em agosto de 2025. A imagem ilustrativa não faz parte do texto original, ela foi adaptada de uma foto de Negenman do Unsplash.

Gostou deste artigo?
Contribua com a nossa biblioteca