A Posição Agnóstica

Este artigo é um capítulo de O Templo do Rei Salomão

Uma justificativa para a busca do Yoga.

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A Posição Agnóstica

A experiência direta é a chave para o Yoga; experiência direta daquela Alma (Ātman) ou Essência (Pūruṣa) que, agindo sobre a Energia (Prāṇā) e a Substância (Ākāśa), torna uma planta distinta de uma pedra, um animal de uma planta, uma pessoa de um animal, uma pessoa de outra, e uma pessoa de Deus, no entanto, em última análise, ela é o Equilíbrio subjacente de todas as coisas; pois, como diz o Bhagavad Gītā: “O Equilíbrio é chamado Yoga”.

Quimicamente falando, os vários grupos nos mundos orgânico e inorgânico são semelhantes em estrutura e composição. Um pedaço de calcário é muito parecido com outro, assim como os corpos de dois homens, mas não suas mentes. Portanto, se desejarmos descobrir e compreender aquele Poder que diferencia, e ainda assim, em última análise, equilibra todas as aparências, derivadas do objeto aparentemente inconsciente e recebidas pelo sujeito aparentemente consciente, devemos procurá-lo no funcionamento do cérebro humano[1].

Isto é apenas uma teoria, mas uma teoria que vale a pena desenvolver até que surja uma melhor a partir de fatos mais verdadeiros. Adotando-a, o realista transfigurado a contempla com admiração e então lança a Teoria ao mar e carrega seu navio com a Lei; postula que toda causa tem seu efeito; e, quando seu navio começa a afundar, recusa-se a abandonar sua miserável carga, ou mesmo a operar as bombas hidráulicas da Dúvida, porque sua filosofia declara o resultado final como incognoscível.

Se alguma causa for incognoscível, seja ela a primeira ou a última, então todas as causas são incognoscíveis. A vontade de criar é negada, a vontade de aniquilar é negada e, finalmente, a vontade de agir é negada. Proposições talvez verdadeiras para o Mestre, mas certamente não para o discípulo. Só porque Ticiano foi um grande artista e Rodin um grande escultor, não há razão para abolirmos as escolas de arte e impormos um embargo à argila.

Se a vontade de agir é apenas uma miragem da mente, então igualmente o é a vontade de diferenciar ou selecionar. Se isso for verdade, e a cadeia de Causa e Efeito for eterna, então como é que a Causa A produz o efeito B, e a Causa B o efeito C, e a Causa A + B + C o efeito X? De onde se origina esse poder de produção? Dizem que não há mudança, o meio permanecendo o mesmo em todos os momentos. Mas dizemos que há uma mudança – uma mudança de forma[2], e não apenas uma mudança, mas um nascimento distinto e uma morte distinta da forma. O que cria essa forma? A percepção sensorial. O que destruirá essa forma e nos revelará o que está por trás dela? Presumivelmente, a cessação da percepção sensorial. Como podemos provar nossa teoria? Eliminando toda percepção, toda forma de pensamento à medida que nasce, até que nada pensável reste, nem mesmo o pensamento do incognoscível.

O homem da ciência frequentemente dirá: “Eu não sei, eu realmente não sei de onde esses tijolos vieram, ou como foram feitos, ou quem os fez; mas aqui estão eles; vamos construir uma casa e morar nela”. Ora, de fato essa é uma visão muito sensata, e o resultado é que temos algumas casas muito boas construídas por esses excelentes pedreiros; mas, por estranho que pareça, este é o ponto de vista do fatalista, e uma ciência fatalista é de fato um tipo cruel de oxímoro. Na verdade, ele não é nada disso; pois, quando esgota seu estoque de tijolos, começa a procurar outros, e quando não consegue encontrar outros, pega um dos antigos e, desmontando-o, tenta descobrir do que é feito para poder fazer mais.

O que é varíola? Sinceramente, meu amigo, não sei de onde veio, nem o que é, nem como se originou; quando um homem a contrai, morre ou se recupera; por favor, vá embora e não me faça perguntas ridículas! Agora, esta, de fato, não seria considerada uma visão muito sensata a se adotar. E por quê? Simplesmente porque a varíola não é mais considerada um demônio maligno, mas é, pelo menos parcialmente, conhecida e compreendida. Da mesma forma, quando tivermos adquirido tanto conhecimento da Primeira Causa quanto da varíola, não mais acreditaremos em um Deus Benevolente ou algo do tipo, mas, pelo menos parcialmente, O conheceremos e compreenderemos como Ele é ou não é. “Não consigo aprender isso!” é o gemido de um garoto na escola e não a exclamação de um sábio. Nenhum médico que se preze dirá: “Não consigo lidar com esta doença”; ele diz: “Eu vou lidar com esta doença”. Assim também com o Incognoscível, Deus, a priori, Primeira Causa etc. etc., esta doença metafísica pode ser curada. Certamente não da mesma maneira que a varíola; pois os médicos têm uma linguagem científica para expressar suas ideias e pensamentos, enquanto um místico muitas vezes não tem; mas poderá curá-la por uma série de exercícios, ou um sistema de ensinamentos simbólicos, que gradualmente conduzirá o sofredor do material ao espiritual, e não o deixará olhando e se maravilhando com ele, como faria com uma estrela à noite.

Um ser quadridimensional, sem alguns símbolos matemáticos, seria incapaz de explicar a um ser tridimensional um mundo quadridimensional, simplesmente porque estaria se dirigindo a ele em uma linguagem quadridimensional. Da mesma forma, em menor grau, um médico seria incapaz de explicar a teoria da inoculação a um selvagem, mas é perfeitamente concebível que ele pudesse ensiná-lo a vacinar a si ou a outro; o que, afinal, seria o ponto principal.

Da mesma forma, o Yogī diz: Cheguei a um estado de Superconsciência (Samādhi) e você, meu amigo, não é apenas cego, surdo e mudo, e um selvagem, mas também filho de um porco. Você está totalmente imerso na Escuridão (Tamas); um filho da ignorância (Avidyā) e descendente da ilusão (Māyā); tão louco, insano e idiota quanto aqueles infelizes que vocês trancam em seus hospícios para se convencerem – como um de vocês mesmos observou perspicazmente – de que não são todos loucos delirantes. Pois vocês consideram não apenas uma coisa, que insultam ao chamar de Deus, mas todas as coisas, como reais; e qualquer coisa que tenha o menor odor de realidade vocês chamam de ilusão. Mas, como meu irmão, o Magista, lhes disse: “aquele que nega tudo afirma algo”, agora deixem-me revelar a vocês este “Algo”, para que possam encontrar por trás dos pares de opostos o que esse Algo é em si e não em sua aparência.

Já foi apontado em um capítulo anterior como, no Ocidente, símbolo foi adicionado a símbolo, e como, no Oriente, símbolo foi subtraído de símbolo. Como, no Ocidente, o Magista disse: “Uma vez que tudo veio de Deus, tudo deve proceder até Deus”, sendo o movimento para a frente e a aceleração do que já existe. Agora, analisemos o que se entende pelas palavras do Yogī quando ele diz: “Uma vez que tudo veio de Deus, tudo deve retornar a Deus”, sendo o movimento, como se verá imediatamente, para trás, uma desaceleração do que já existe, até que finalmente seja alcançado aquele objetivo do qual partimos originalmente, por meio da cessação do pensamento, do enfraquecimento das vibrações da ilusão até que deixem de existir, em Equilíbrio[3].


  1. Verworn em seu “General Physiology” diz: “Descobriu-se que a única realidade que somos capazes de descobrir no mundo é a mente. A ideia do mundo físico é apenas um produto da mente. … Mas essa ideia não é a totalidade da mente, pois temos muitos constituintes mentais, tais como as simples sensações de dor e de prazer, que não são ideias de corpos … todo processo de conhecimento, inclusive o conhecimento científico, é meramente um evento psíquico. … Este fato não pode ser negado pelo conhecido método do avestruz” (pp. 39-40).

    “O verdadeiro mistério dos mistérios é a mente humana. O motivo pelo qual uma pessoa, com uma pena ou um pincel, se senta e cria uma obra-prima, enquanto outra, com os mesmos instrumentos e oportunidades, produz uma mancha ou um rabisco, é vinte vezes mais curioso do que todas as reflexões dos místicos, as obras dos rosa-cruzes ou os dispositivos mecânicos que hoje parecem tão refinados, mas dos quais nossos filhos desdenharão por serem desajeitados” (R. B. Cunninghame Graham em seu prefácio ao “The Canon”). ↩︎

  2. A forma aqui é sinônimo do Māyā hindu, é também o principal poder do demônio budista, Māra, e até mesmo daquele poderoso demônio, Choronzon. ↩︎

  3. “Na realidade, as forças do universo só são conhecidas por nós graças às perturbações do equilíbrio. O estado de equilíbrio constitui o limite além do qual não podemos mais segui-las” (Gustave le Bon, “The Evolution of Matter”, p. 94). ↩︎


Traduzido por Alan Willms em julho de 2025. As notas «entre aspas especiais» são do tradutor. A foto ilustrativa não faz parte do texto original, ela é de Zoltan Tasi e foi tirada do Unsplash.

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