Conhecimento

Este artigo é um capítulo de Pequenos Ensaios em Direção à Verdade

Sua fragilidade e utilidade no caminho.

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Conhecimento

Daäath — Conhecimento — não é uma Sephira. Não está na Árvore da Vida: ou seja, na realidade não existe tal coisa.

Existem muitas provas desta tese. A mais simples (se não a melhor) é talvez a seguinte:

Todo conhecimento pode ser expressado na forma de S=P

Mas se for assim, a ideia P está realmente implícita em S; portanto, não aprendemos nada.

E, claro, se não for assim, a afirmação é simplesmente falsa.

Agora veja como chegamos imediatamente ao paradoxo. Pois o pensamento “Não existe tal coisa como conhecimento”, “Conhecimento é uma ideia falsa”, ou como quer que possa ser formulado, pode ser expresso como S=P: ele mesmo é uma coisa conhecida.

Em outras palavras, a tentativa de analisar a ideia leva imediatamente a uma confusão mental.

Mas esta é a essência da Sabedoria Oculta a respeito de Daäth. Pois Daäth é a coroa do Ruach, o Intelecto; e seu lugar é no Abismo. Ou seja, ele se quebra em pedaços imediatamente quando é examinado.

Não há coerência abaixo do Abismo, ou dentro dele; para obter isso, que é um dos principais cânones da Verdade, devemos chegar a Neschamah.

Há outra explicação para isso, totalmente à parte da armadilha puramente lógica. S=P (a menos que sejam idênticos e, portanto, sem sentido) é uma afirmação de dualidade; ou, podemos dizer, a percepção intelectual é uma negação da verdade Samádhica. Portanto, é essencialmente falso nas profundezas de sua natureza.

A declaração mais simples e óbvia não resistirá à análise. “Vermelhão[1] é vermelho” é inegável, sem dúvidas; mas mediante investigação descobre-se que não faz sentido. Pois cada termo deve ser definido por meio de pelo menos dois outros termos, para os quais a mesma coisa é verdadeira; de modo que o processo de definição é sempre obscurum per obscurius[2]. Pois não existem termos verdadeiramente simples. Não existe uma percepção intelectual real possível. Aquilo que supomos ser tal coisa é na verdade uma série de convenções mais ou menos plausíveis baseadas no aparente paralelismo da experiência. Não há garantia final de que quaisquer duas pessoas entendam precisamente a mesma coisa por “doce” ou “alto”; até mesmo concepções como as de número talvez sejam apenas idênticas em relação às aplicações práticas vulgares.

Essas e outras considerações semelhantes levam a certos tipos de ceticismo filosófico. As concepções Neschâmicas não estão de forma alguma isentas dessa crítica, pois, mesmo supondo que sejam idênticas em qualquer número de pessoas, sua expressão, sendo intelectual, sofrerá o mesmo estresse que as percepções normais.

Mas nada disso abala, nem mesmo ameaça, a Filosofia de Thelema. Pelo contrário, pode ser chamada de a Rocha de sua fundação. Pois a questão de tudo é, evidentemente, que todas as concepções são necessariamente únicas, porque nunca pode haver dois pontos de vista idênticos; e isso corresponde aos fatos; pois existem pontos de vista próximos e, portanto, pode haver um acordo geral superficial, como existe, que se descobre ser falso mediante análise, como foi demonstrado.

Do exposto, será entendido como é que não há Transes de Conhecimento; e isso nos leva a investigar a tradição dos Grimórios de que todo conhecimento é milagrosamente atingível. A resposta é que, embora todos os Transes sejam Destruidores do Conhecimento — uma vez que, para começar, todos eles destroem o sentido de Dualidade — eles ainda colocam em seu Adepto os meios de conhecimento. Podemos considerar a apreensão racional como uma projeção da Verdade em forma dualística; de modo que aquele que possui uma dada Verdade tem apenas que simbolizar sua imagem na forma de Conhecimento.

Essa concepção é difícil; um exemplo pode esclarecer sua visão. Um arquiteto pode indicar as características gerais de um edifício no papel por meio de dois desenhos — uma planta baixa e uma de fachada. No entanto, nenhuma delas deixa de ser falsa em quase todos os aspectos; cada uma é parcial, cada uma carece de profundidade e assim por diante. E ainda assim, em combinação, elas representam para a imaginação treinada o que o edifício realmente é; além disso, “ilusões” como são, nenhuma outra ilusão servirá à mente para descobrir a verdade que elas intencionam.

Esta é a realidade oculta em todas as ilusões do intelecto; e esta é a base da necessidade do Aspirante ter seu conhecimento exato e adequado.

O Místico comum pretende desprezar a Ciência como uma “ilusão”: este é o mais fatal de todos os erros. Pois os instrumentos com os quais ele trabalha são todos dessa mesma ordem de “coisas ilusórias”. Sabemos que as lentes distorcem as imagens; mas, por causa disso, podemos adquirir informações sobre objetos distantes que se mostram corretas quando a lente é construída de acordo com certos princípios “ilusórios” e não por capricho arbitrário. O Místico desse tipo é geralmente reconhecido pelos homens como um tolo orgulhoso; ele conhece o fato e é endurecido em sua presunção e arrogância. Alguém o encontra instigado por sua vergonha subconsciente a ataques ativos à Ciência; ele se regozija com os aparentes erros de cálculo que ocorrem constantemente, não entendendo de forma alguma as limitações autoimpostas de validade da afirmação que estão sempre implícitas; em suma, ele finalmente abandona seus próprios postulados e se refugia na carapaça de caranguejo eremita do teólogo.

Mas, por outro lado, para aquele que fundou firmemente seu pensamento racional em princípios sólidos, que adquiriu profunda compreensão de uma ciência fundamental, e criou caminhos adequados entre esta e suas relativas que ele entende apenas no geral, que, finalmente, assegurou toda esta estrutura penetrando através dos Transes apropriados às Verdades Neschâmicas das quais ela é a projeção corretamente ordenada no Ruach, para ele o campo do Conhecimento, assim bem arado, bem semeado, bem fertilizado, bem deixado para amadurecer; está pronto para ele colher. O homem que realmente entende as fórmulas subjacentes de um assunto-raiz pode facilmente estender sua apreensão aos ramos, folhas, flores e frutos; e é neste sentido que os mestres medievais da Magia[3] afirmaram com razão que pela evocação de um dado Daimon, o digno Octinomos poderia adquirir o conhecimento perfeito de todas as ciências, falar em todas as línguas, comandar o amor de todos, ou lidar doutras formas com toda a Natureza do ponto de vista de seu Criador. Rudes são aqueles crédulos ou críticos que pensaram na Evocação como um trabalho de uma hora ou uma semana!

E qual é o ganho disso para o Adepto? Nem ouro puro, posso assegurar, nem a Pedra Filosofal! Mas ainda assim uma arma muito virtuosa de muita utilidade no Caminho; também, um grande conforto para o lado humano dele; pois o doce fruto que paira sobre a Árvore que torna os homens em Deuses é apenas este, amadurecido pelo sol e velado em flor suave, globo do Conhecimento.



  1. «“Vermillion” no original, um pigmento vermelho feito de sulfeto mercúrico.» ↩︎

  2. «Latim para explicar “o obscuro por meio do ainda mais obscuro”». ↩︎

  3. «Magick no original.» ↩︎


Traduzido por Alan Willms

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