Maravilha

Este artigo é um capítulo de Pequenos Ensaios em Direção à Verdade

Sobre como preparar o Ruach e o Neschama para o Transe da Maravilha.

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Maravilha

“Um pouco mais do que parentes; um pouco menos que queridos”[1] são o Transe do Sofrimento e a Visão da Maquinaria do Universo; esta última sendo o aspecto técnico da Apreensão da Lei da Mudança, que também é um Transe da mesma ordem que aquele do Sofrimento. Agora, um modo de vitória sobre todos estes é o Transe da Indiferença, em que alguém se distancia de toda a questão; mas é apenas um modo e (em sua forma geralmente conhecida) é cheio de falsidade e imperfeição. Pois manter-se indiferente é afirmar a dualidade, que é em si a raiz do Sofrimento. Para alcançar o mais elevado, deve-se unir a si mesmo com todas as coisas, comungar de tudo como um verdadeiro Sacramento. E esse movimento leva ao Transe da Maravilha.

Está escrito: “O temor do Senhor é o Princípio da Sabedoria”[2]. Aqui o Predicado se refere à Abertura do Grau de Magus; mas o Sujeito, devidamente traduzido, lê-se “O Maravilhamento diante do Tetragrammaton”, e assim se refere a este Transe. Pois aqui a pessoa se identifica totalmente com o Universo em seu aspecto dinâmico; e a primeira síntese do entendimento dele é essa Perplexidade quanto à aptidão e à necessidade de todo o mecanismo. Pois, dada a fórmula da Manifestação, a necessidade de conceber e perceber a Perfeição por meio do simbolismo da Imperfeição, o próprio processo de ideação torna-se apodítico. (Eu escrevo como se fosse para a menos instruída das Pequenas Crianças da Luz.)

O Transe da Maravilha surge naturalmente – é o primeiro movimento da mente – a partir da frase final do Juramento de um Mestre do Templo. “Interpretarei todos os fenômenos como um trato particular de Deus com a minha alma”. Pois, assim que a Compreensão ilumina a escuridão do conhecimento, todo fato aparece em seu verdadeiro aspecto milagroso.

Assim é: então, quão maravilhoso que assim seja!

Em todos os Transes importantes, e mais especialmente neste, o Postulante deveria ter adquirido o maior conhecimento e Entendimento possíveis do Universo apropriadamente assim chamado. Sua mente racional deveria ter sido completamente treinada em apreensão intelectual: isto é, ele deveria estar familiarizado com toda a Ciência. Isto evidentemente é impossível; mas ele deve aspirar à melhor aproximação de um Adeptado perfeito neste assunto. O método mais viável é fazer um estudo separado de algum ramo específico da Ciência, e um estudo geral da epistemologia. Então, por analogia, fortalecida pela contemplação, uma certa apreensão interna da Unidade da Natureza pode crescer na mente, uma que não será indevidamente presunçosa e enganosa.

Mas a nossa Obra exige mais do que isso. O Neschamah ou Mente Intuitiva também deve ser provido de Conhecimento e Entendimento daqueles Planos da Natureza que estão inacessíveis para os sentidos destreinados. Isto é, ele deve seguir nossos Métodos de Visão com ardor incansável.

Agora, em tudo isso, a verdadeira ciência unitiva e transcendental é a da matemática para o Ruach, e sua coroa, a Santa Cabala para o Neschamah. Por meio disto, a Obra não é, como a princípio pareceria, aumentada além da capacidade humana. Há um estágio crítico definido, comparável àquele familiar aos Adeptos do Āsana e do Dhāraṇā, após o qual os termos da Equação (como os últimos termos de uma Expansão Binomial) se repetem, embora de outra maneira, de modo que a meditação se torna progressivamente mais fácil. O Postulante, por assim dizer, se acha em casa. O conhecimento adicional não é mais um fardo para a mente. Ele é capaz de descartar os fatos grosseiros que se apresentam como complicação, e apreender sua essência na simplicidade. De fato, ele conseguiu desenvolver uma função superior da mente. O processo é semelhante ao que ocorre no estudo ordinário de uma ciência, quando, ao compreender a natureza de uma lei geral subjacente à diversidade de experiências, é possível não apenas assimilar novos fatos com facilidade, mas também predizer fatos novos completamente desconhecidos. Pode-se exemplificar a descoberta de Netuno a partir de considerações matemáticas sem pesquisa ótica, e a descrição de elementos desconhecidos pela contemplação da Lei Periódica.

Saiba então que cada um desses passos na Meditação é em si uma Energia motriz capaz de induzir o Transe da Maravilha; e este Transe (como todos os outros) cresce em sublimidade e esplendor com a quantidade e qualidade do material que é fornecido à mente pelo Adepto.

Portanto, aqueles que desprezam a ciência “profana” são desprezíveis. É sua própria incapacidade de verdadeiro Pensamento de qualquer tipo sério, sua vaidade e compaixão; e mais ainda! seu próprio senso subconsciente de sua própria vergonha e ócio, que os induz a construir essa frágil fortificação de ignorância pretensiosa.

Não há nada no Universo que não seja de suprema significância, nada que não possa ser usado como a pedra angular do Arco-Íris do Transe da Maravilha.

É necessário acrescentar apenas uma breve palavra a este ensaio básico: este Transe não é, por sua natureza, apenas passivo e intuitivo. Sua ocorrência inunda a mente com Energia Criativa; enche o Adepto de Poder e excita nele a Vontade de trabalhar. Ele o exalta ao Mundo Atzilúthico em sua Essência, e em sua manifestação ao Briático. Portanto, em um sentido muito especial, pode-se dizer que o Postulante está intimamente unido ao Supremo Senhor Deus Altíssimo, o Criador Verdadeiro e Vivo de todas as coisas, quando quer que ele entre neste majestoso Pilone do Transe da Maravilha.


[1] «Hamlet Ato 1, Cena 2.»

[2] «Provérbios 9:10.»


Traduzido por Alan Willms em janeiro de 2020.

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