XXII – Livre Arbítrio

Este artigo é um capítulo de Os Pergaminhos Voadores

Um discurso sobre o livre arbítrio do ponto de vista de um membro da Golden Dawn.

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XXII
Livre Arbítrio

pelo M.H. Fra. Q.L. (Oswald Murray)

Enquanto a Teosofia Oriental postula a unidade de toda a Vida em sua fonte básica, ela torna a realização da união consciente entre o aspecto intelectual menor da mente com a Alma ou Manas Superior dependente do esforço do primeiro, ou em outras palavras, do esforço da personalidade.

Novamente, na Escola Hermética, da qual o Dr. Hartmann é um intérprete independente, a liberdade de cada pessoa de decidir se subirá o Monte da Iniciação ou permanecerá no plano inferior da vida racional e intelectual, é fortemente insistida.

A posição destas escolas seria, aparentemente, de que o Ser Primordial diferencia-se em Unidades ou átomos, cada um dos quais contém as potencialidades de seu original. O Livre Arbítrio sendo atribuído ao Ser original, segue-se que cada unidade ou átomo possui Livre Arbítrio em potecial. Encontrando-se na condição de encarnado, vivendo nos planos de autoconsciência mediados pelos sentidos, pode se esforçar ou decidir não se esforçar para alcançar a união com os seus Princípios Superiores, ou para trazer a iluminação desses aspectos mais elevados do seu ser, funcionando conjuntamente com o plano intelectual e racional da vida normal.

Isto só pode ser efetuado, de acordo com estas escolas, pelo grau exterior ou pessoal de vida atingindo-se e se esforçando para entrar em contato com os princípios interiores.

Este aparentemente é um dos véus que os sistemas orientais e antigos julgaram ser necessários até que o aluno se atrevesse por si mesmo a rasgá-los, mas a sua retenção no sentido do ensino da filosofia transcendental deixa de ser razoável. Também é uma contradição com aquelas porções do ensinamento teosófico que condenam “a ilusão da existência pessoal” e “a heresia da separatividade”. Também é insustentável diante dos ensinamentos teosóficos do Sr. Maitland com referência à corrente centrífuga no homem, que retorna a partir da circunferência do Ser como centrípeto, assim inferindo que a re-ascensão é o efeito sequencial na continuidade da descida, que a evolução é auto inerente à involução, esse desenrolar implícito no envolver.

Ensinar que essa conjunção com os princípios mais elevados da consciência pode ser feito pela vontade da personalidade inferior é atribuir uma vitalidade à personalidade que a própria Teosofia se contradiz em seus ensinamentos quanto à ilusão da existência pessoal, e perder de vista o fato de que o homem não é o formador, mas o formado, que a personalidade é apenas a manifestação externa do poder do self único determinando o poder.

Ensinar que cada átomo ou unidade, diferenciado do Ser original, possui Livre Arbítrio, implica que eles estão separados do Ser Original e possuem existência em si; ou cair na “heresia da separatividade” e esquecer a identidade da unidade e do Universal da auto-referência que está implícita na experiência e demonstra a relação permanente, sempre presente, que conecta a unidade com a fonte original. Sugerir que os aspectos mais baixos da mente se separaram daqueles que foram deixados e habitam nos planos mais elevados, até que a conjunção ou reintegração seja feita pelo menor, é perder de vista o fato de que, enquanto aspectos da consciência podem ser distintos, eles não podem ser separados sem destruir a unidade do Ser.

Implicar que o homem instintivo racional pode desenvolver sua força de Vontade, que ele pode criar sua própria condição de vida, é arrogar à personalidade externa a prerrogativa de dispor de um poder daquele self uno determinante que se manifesta através dele, do qual ele é o instrumento ou meio, a expressão do desdobramento.

O plano original do Grande Arquiteto não pode ser alterado pelas suas manifestações externas. O sucessivo desdobramento dos aspectos internos da consciência do homem deve estar sujeito à Lei do Determinante, que só conhece a si mesmo do centro para a circunferência, uma base e uma compleição.

A ação do Poder único determinante no plano da natureza ilustra o seu modo ou processo. Ele mostra os resultados obtidos por um contínuo, gradual, consecutivo, desdobramento a partir de dentro. O Sol desenvolve formas vegetais de vida a partir da semente, começando com a raiz, caule, botão, flor, fruta. A uniformidade da lei se manifestando nos modos correlacionados em diferentes planos é um axioma geralmente aceito no ocultismo, assim, por analogia, o nosso estado interno deve ser sucessivamente desdobrado a partir de dentro pelos raios do nosso Sol Espiritual ou Centro da Vida. Assim também deve ser o reconhecimento da relação permanente com a nossa Base do Ser ou Fonte Original retorna a vontade do Homem a sua Fonte Central.

Se pelo esforço da Personalidade substituímos o desejo de ter o reconhecimento sempre presente dentro de nós da recepção de todo o poder da Fonte central do Ser, o desejo de poder permanentemente associar nossas vidas, em pensamento, como uma manifestação externa do Poder Único Determinante, e assim relacionar as nossas ações com a Fonte original do Ser, isso provavelmente será mais propenso a contribuir para o desabrochar de dentro.

O Rio da Vida

A Filosofia Transcendental mostra que a unidade está permanentemente relacionada com a sua Raiz ou Fonte do Ser. A experiência, quando analisada, encontra-se como tendo relação ou auto-referência entre o elemento permanente do Ser, que está sempre presente, que brota no pensamento e constitui por um lado o fundamento da cogitação com o “eu” real por outro. O pensamento é uma relação e a identidade do assunto se retira sempre para detrás da mente em questão. Assim, os eventos podem ser considerado no tempo, e o conhecimento fora do tempo. Então o mundo dos fenômenos está relacionado na experiência pelo Pensador à realidade subjetiva.

É esta "relação", presente no pensamento, a auto-referência implícita na experiência, que sempre une a Unidade com a sua raiz ou fonte – seu elemento permanente, e isso apareceria no Caminho, na Árvore da Vida pela reflexão que une o Microprosopo com o Macroprosopo, sua origem: pareceria também ser simbolizado pelo Rio da Vida “Nahar” que flui para fora do Éden Celestial ou Ser Espiritual ou Microprosopo ou o Ser manifestado no Tempo.

Mas a relação permanente entre a unidade ou "eu" e seu campo subjetivo deve provavelmente ter um aspecto oculto natural, bem como o metafísica que ilustrei. Em outras palavras, deve haver uma força por trás do pensamento do qual o que nós definimos como pensamento é a manifestação e deve ser a força que constitui a verdadeira relação entre a Unidade e o Universal. Essa relação permanente, essa Força manifestada como pensamento, eu acredito que seja o Rio da Vida portando dentro de si e desdobrando os quatro elementos do Ser; Espírito, Alma, Mente e Instinto.

O Sepher Yetzirah diz que essa emanação de Vida ou Espírito, a Sephirah, se estende através de todas as coisas. Através do poder e da existência de Deus, cada elemento tem seu poder e fonte de uma Força superior e todas as coisas têm sua origem comum no Espírito Santo.Então Deus é ao mesmo tempo a matéria e a forma do Universo, mas Ele não é apenas a forma, pois nada pode ou deve existir fora Dele.

Surge a pergunta se podemos formar alguma concepção concreta dessa Força que Emana – o Rio da Vida – que permanentemente relaciona o "eu" com sua fonte, bem como a relação metafísica descrita e que conhecemos como pensamento. Nos assistirá concepção da força centrífuga em que a centrípeta é inerente e indissociável, levando como faz esse desdobramento está implícito no envolvimento, que a evolução e o desenvolvimento são o efeito sequencial na continuidade da involução?

O circuito da eletricidade vai nos ajudar ainda mais, emitindo como positivo até atingir seu pólo negativo, quando ele retorna sobre si mesmo à sua fonte. Nisto de fato temos uma ilustração de um Campo Universal ou Cérebro, como é bem conhecido que a eletricidade não é criada novamente pelo dínamo. Ela é gerada ou emana de uma fonte subjacente da qual a Terra é apenas um reservatório ou condensador. Os experimentos de Edison, a pesquisa similar do Greenwich Observatory, mostra as tempestades magnéticas da Terra que coincidem com e estão correlacionados com as manchas solares, demonstrando assim como a vida dos nossos mineiros de carvão dependem do estado do Sol. Sabe-se bem que o magnetismo é um efeito da eletricidade. A passagem de uma corrente elétrica através de uma barra de ferro converte-o em um imã. A presença de uma corrente em um fio "induz" uma corrente em qualquer fio perto dele.

A ação do Sol sobre a Terra acima referida segue a mesma lei. A presença da eletricidade em nossa Terra, por si só acarreta a sua polaridade, os seus polos positivo e negativo, consequentemente sua força de atração e repulsão ou suas correntes centrífugas e centrípetas. A Aurora Boreal da nossa Terra e a Coroa Solar ou fotosfera são, provavelmente, efeitos semelhantes com relação a essas esferas. Então, o que o campo magnético ou a radiação é para um ímã, que embora não seja visto visualmente é ilustrado por limalha de ferro espalhada em um pedaço de papel e segurado sobre um imã – o que essas esferas são para um ímã, a Terra e o Sol, muito provavelmente a nossa aura é para nós. Esta aura Madame Blavatsky descreveu como uma aura magnética, um eflúvio psíquico partilhando tanto da mente quanto do corpo. É Eletro-vital e Eletro-mental.

Não temos nestas ilustrações exemplos da força que permeia o Universo, coexistindo na unidade e no todo, interrelacionando tudo em uma Unidade, manifestando em cada parte de acordo com uma lei universal e onipresente?

Temos aqui, acredito, a ilustração da força única e determinante, o Rio da Vida, manifestando a Unidade e o seu meio, e cognoscida por estas unidades como pensamento.

Neste contexto sugere-se uma reflexão para consideração no que diz respeito ao Sepher Yetzirah. Enquanto os quatro planos do Ser podem ser vistos como distinguíveis, eles devem ser inseparáveis, como a unidade do Ser não pode ser dividida, e, como o próprio Sepher Yetzirah diz, cada um dos Elementos do Ser tem sua fonte em uma forma superior e tudo do Espírito que é ao mesmo tempo Forma e Substância e no qual estão todas as coisas. De acordo com a Lei da Uniformidade, estes Elementos devem coexistir em Unidade, bem como no Universal, no microcosmo, bem como no macrocosmo. É provável, portanto, que podemos considerar os Quatro Mundos como os planos através dos quais a unidade desce de sua Fonte Original para seu estado atual circunferencial e por cuja descida obtém um veículo em cada elemento ou relação em cada lugar.

A Roda da Vida na porta da Cripta não é uma chave para esta questão? Mostrando, como o faz, todos os quatro elementos coexistindo na Unidade. Mas isso não pode ser considerado como uma integração de quatro seres viventes, cada um separado e tendo que ser integrado na Unidade, na medida em que a Unidade do Ser nunca poderia ser dividida e separada, sem implicar na aniquilação e no caos Se estes quatro Elementos são vistos como Espírito, Alma, Mente, Instinto, é evidente que estes não co-existiem em cada unidade. O problema sugerido é ou possivelmente pode ser obter um funcionamento consciente de cada um dos elementos do Ser em relação com o seu lugar ou Mundo.

Estes estados descendentes na ultimação da Unidade encontram seu paralelo no processo do pensamento. Cada pensamento tem um aspecto objetivo, bem como seu aspecto subjetivo, e pode-se dizer, assim como a unidade do ser, o pensamento emana do Ser original, é produzido a partir do não-manifesto em Atziluth, toma forma em Briah, e forma em Yetzirah e acaba em Assiah, em cuja consideração retornamos aos dois aspectos do Rio da Vida, que referimos no começo deste texto, a saber, o metafísico e o oculto.

O que constitui a diferença entre essa parte do Rio da Vida que toma forma em Briah, e encarna como volição, e aquilo que emana através de nós como o pensamento, permanecendo desencarnado, e que ocorre com esse Rio do Pensamento que toma forma desencarnada e termina através de nós?

Nós mesmos devemos ter sido produzidos a partir do não-manifesto em Atziluth, tomado alma e superfície em Briah, mente e forma em Yetzirah, uma casca concreta e instinto em Assiah. No entanto, continuamos permanentemente ligados à nossa própria fonte, por um Rio de Vida ou de eletricidade, que transmite a nós na reflexão e na intuição que nós percebemos como o pensamento da nossa fonte original. É esta a continuação do Rio da Vida que produz a nós? Esse Rio ainda flui através de nós seus veículos auto-desiluminados, e manifesta-se como pensamento? Então a nossa personalidade não é uma representação objetiva dos atributos presentes nesse Rio da Vida? Ou um reflexo na forma do tipo sobre o plano mediado pelos sentidos daquilo que se envolveu por determinação e está agora se desdobrando para nossa consciência, como a corrente centrífuga retorna sobre si mesma como centrípeta?

A concepção da Dualidade da Vontade, bem e mal, deve ter surgido provavelmente a partir do aparecimento da existência de um conflito entre o "Rio da Vida" fluindo através do homem e os impedimentos ou obstruções que surgem na circunferência pelas células atômicas ou vidas utilizadas na construção da casca externa ou organismo e o qual foi extraído dos estados animal, vegetal e mineral. Mas estas são apenas manifestações da Vida Universal Única, em igualdade com o Primum Mobile do Homem, e a relação ou reação entre essas vidas ou estados de consciência e a consciência da Entidade os usando deve ser na realidade uma relação de harmonia embora na aparência possa haver conflito, e não deve ser esquecido que o Primum Mobile ou Entidade que utiliza essas vidas em sua circunferência é, na realidade, o Rio da Vida uno, e deixe-me agora sugerir novamente a questão do que acontece com o pensamento assim acabado e que nós encontramos manifestado como o Rio da Vida?

A relação entre as células ou vidas utilizadas pela Unidade na integração de sua forma ou de seu corpo e do Primum Mobile que integrou este corpo, tem o seu paralelo no Universo Maior na relação da Unidade ou Manifestação exterior para o Universal, então determinando que corpo eles formam. O acabamento de cada unidade está, sem dúvida, de acordo com o plano arquetípico, do qual somos partes, manifestado objetivamente, embora ainda haja toda a aparência de revolta, de conflitos entre a unidade, ocupando as escolas do Ateísmo, do Materialismo, a Evolução e sua Determinação.

O conflito entre estas unidades de manifestação e sua Determinação é provavelmente tão real quanto aquele entre as Vontades e Vidas, formando a casca ou organismo e seu construtor ou controlador ou Primum Mobile. É o mesmo Rio da Vida agindo no plano mais próximo ou mais externo, aquele das cascas da matéria. Lembremo-nos que é a interação entre a Unidade da Vida ou Primum Mobile no homem e as outras unidades e particularizações do Universo que gera a multiplicidade de experiências, que é a função da unidade de se relacionar e unificar.


Traduzido por Alan Willms

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