Os Yogas

Descreve os principais ramos de Yoga.

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Os Yogas

A experiência direta é o objetivo do Yoga. Como essa experiência direta pode ser obtida? A resposta é: através da Concentração ou Vontade. Svāmī Vivekānanda escreveu o seguinte o sobre este ponto:

Aqueles que realmente querem ser Yogīs devem desistir, de uma vez por todas, de demonstrar interesse superficial pelas coisas. Pegue uma ideia. Faça dessa ideia sua vida; sonhe com ela; pense nela; viva nessa ideia. Deixe que o cérebro, o corpo, os músculos, os nervos, todas as partes do seu corpo, fiquem cheios dessa ideia e apenas deixe todas as outras ideias em paz. Este é o caminho para o sucesso, e é assim que grandes gigantes espirituais são produzidos, os outros são meras máquinas falantes. ... Para ter sucesso, você deve ter uma tremenda perseverança, uma tremenda vontade. “Beberei o oceano”, diz a alma perseverante. “À minha vontade, as montanhas vão desmoronar”. Tenha esse tipo de energia, esse tipo de vontade, trabalhe duro e você alcançará a meta1.

“Ó Keśara”, brada Arjuna, “impõe em mim esta ação terrível!” Esta vontade de QUERER.

Os métodos adotados pelos Yogīs na abertura do Olho fechado que dorme na audição de todos nós servem para voltar a mente para dentro, por assim dizer, e fazer com que pare de vagar para fora, e então concentrar todos os poderes dela sobre si mesma e criar esta vontade de QUERER. Ao fazê-lo, ele finalmente se depara com algo que é indestrutível, por ser incriável, e que não conhece insatisfação.

Toda criança está ciente de que a mente possui um poder conhecido como faculdade reflexiva. Nós nos ouvimos falar; e nos separamos e nos vemos trabalhando e pensando; ficamos à parte de nós mesmos e observamos ou criticamos ansiosamente ou vigiamos destemidamente nossas vidas. Existem duas pessoas em nós – o pensador (ou o trabalhador) e o observador. A remoção da venda dos olhos do observador, pois na maioria dos homens o observador, como uma múmia, está envolta em incontáveis trapos de pensamento, é o que o Yoga pretende fazer: em outras palavras, realizar uma tarefa nada menor do que dominar as forças do Universo, a rendição das vibrações grosseiras do mundo externo às vibrações mais sutis do interno e então tornar-se um com o sutil Vibrador – o Próprio Observador.

Nós mencionamos os seis principais sistemas de Yoga e, agora, antes de entrarmos no que no momento são os dois mais importantes deles – a saber, Haṭha Yoga e Rāja Yoga, pretendemos, o mais breve possível, explicar os quatro restantes, e também as condições necessárias sob as quais todos os métodos de Yoga devem ser praticados.

Jñāna Yoga.
União através do Conhecimento.

Jñāna Yoga é o Yoga que começa com um estudo da sabedoria impermanente deste mundo e termina com o conhecimento da sabedoria permanente do Ātman. Seu primeiro estágio é Viveka, o discernimento entre o real e o irreal. Seu segundo é Vairāgya, indiferença ao conhecimento do mundo, suas tristezas e alegrias. Seu terceiro é Mukti, libertação, e unidade com o Ātman.

No quarto discurso do Bhagavad Gītā, o Jñāna Yoga é exaltado da seguinte forma:

Melhor que o sacrifício de qualquer objeto é o sacrifício de sabedoria, ó Parantapa. Todas as ações em sua totalidade, ó Pārtha, culminam em sabedoria.

Assim como o fogo ardente reduz o combustível a cinzas, ó Arjuna, o fogo da sabedoria reduz todas as ações a cinzas.

De fato, não há nada tão puro neste mundo como a sabedoria; aquele que se aperfeiçoa no Yoga encontra-a no Ātman no devido tempo2.

Karma Yoga.
União através do Trabalho.

Muito próximo do Jñāna Yoga está o Karma Yoga, o Yoga através do trabalho, que pode parecer apenas como se fosse um meio para o primeiro. Mas não é assim, pois não apenas deve o aspirante comungar com o Ātman através do conhecimento ou sabedoria que ele alcança, como também através do trabalho que o ajuda a alcançá-lo.

Um bom exemplo de Karma Yoga é dado por Flagg em sua obra sobre Yoga, onde ele cita Zhuāngzǐ. Como segue:

O cozinheiro do príncipe Huì estava cortando um boi. Cada golpe de sua mão, cada movimento de seus ombros, cada passo de seu pé, cada impulso de seu joelho, cada whshh de carne cortada, cada chhk da faca, estavam em perfeita harmonia – em ritmo como a dança do bosque de amoreiras, simultâneas como os acordes de Jīng Shǒu. “Muito bem”, exclamou o Príncipe; “de fato você tem habilidade”. “Senhor”, respondeu o cozinheiro, “sempre me dediquei ao Dào (que aqui significa o mesmo que Yoga). É melhor que habilidade. Quando comecei a cortar bois, eu via diante de mim simplesmente bois inteiros. Após três anos de prática, não via mais animais inteiros. E agora trabalho com minha mente e não com meus olhos. Quando meus sentidos me rogam para que pare, mas minha mente me pressiona, recorro aos eternos princípios. Sigo as aberturas ou cavidades que possam existir, de acordo com a constituição natural do animal. Um bom cozinheiro troca sua faca uma vez por ano, porque ele corta. Um cozinheiro comum uma vez ao mês – porque ele retalha. Mas eu tenho essa faca há dezenove anos e, embora tenha cortado muitos milhares de bois, sua navalha está como se tivesse acabado de sair da pedra de amolar”3.

Mantra Yoga.
União através da Fala.

Esse tipo de Yoga consiste em repetir um nome ou uma frase ou verso continuamente, até que a pessoa que fala e a palavra dita se tornem um em perfeita concentração. Geralmente é usado como um complemento de alguma outra prática, sob um ou mais dos outros métodos de Yoga. Desta forma, o devoto do Deus Śiva repetirá o nome dele repetidamente até que finalmente o grande Deus abra seu Olho e o mundo seja destruído.

Alguns dos mantras mais famosos são:

“Auṃ maṇi padme Hūṃ”.

“Auṃ Śivāya Vaśi”.

“Auṃ Tat Sat Auṃ”.

“Namo Śivāya namaḥ Auṃ”.

O praṇava AUṂ4 desempenha um papel importante em todo o Yoga indiano e, especialmente, é considerado sagrado pelos Mantra-Yogīs, que o utilizam constantemente. Para pronunciá-lo adequadamente, o “A” parte da garganta, o “U” no meio e o “Ṃ” nos lábios. Isso tipifica o curso completo da respiração.

É o melhor suporte, o arco a partir do qual a alma, como a flecha, voa para Brahman, a flecha que é lançada do corpo como o arco, a fim de perfurar a escuridão, o combustível superior com o qual o corpo, como o combustível inferior, é acendido pelo fogo da visão de Deus, a rede com a qual o peixe de Prāṇā é puxado e sacrificado no fogo do Ātman, o navio sobre o qual um homem viaja sobre o éter do coração, a carruagem que o carrega para o mundo de Brahman5.

No final do Śiva Saṃhitā existem cerca de vinte versículos que tratam de Mantra. E, como em muitos outros livros hindus, uma quantidade considerável de mistério é tecida em torno dessas declarações sagradas. Lemos:

190. No lótus de quatro pétalas de Mūlādhāra fica a semente da fala, brilhante como um raio.

191. Em seu coração está a semente do amor, bonita como a flor Bandhūka. No espaço entre as duas sobrancelhas está a semente de Śakti, brilhante como dezenas de milhões de luas. Essas três sementes devem ser mantidas em segredo6.

Esses três Mantras só podem ser aprendidos com um Guru e não são dados no livro acima. Através de sua repetição um grande número de vezes, certos resultados acontecem. Tais como: após dezoito Lākhs, o corpo se eleva do chão e permanece suspenso no ar; depois de cem Lākhs, “o grande Yogī é absorvido no Para Brahman7.

Bhakti Yoga.
União pelo amor.

No Bhakti Yoga, o aspirante geralmente se devota a alguma divindade especial, cada ação de sua vida sendo realizada à honra e glória dessa divindade e, como Vivekānanda nos diz, “ele não tem que suprimir nenhuma de suas emoções, ele apenas se esforça para intensificá-las e direcioná-las a Deus”. Assim, se ele se devotou a Śiva, sua vida deve refletir ao máximo a vida de Śiva; se à Śakti a vida de Śakti, até que o observador e a coisa observada se tornem um em sua união mística de consecução.

O Nārada Sūtra diz o seguinte sobre Bhakti Yoga:

58. O amor (Bhakti) é mais fácil do que outros métodos.

59. Sendo auto evidente, não depende de outras verdades.

60. E por ser da natureza da paz e da bem-aventurança suprema8.

Este pequeno e requintado Sūtra começa:

1. Agora explicaremos o Amor.

2. Sua natureza é a extrema devoção a alguém.

3. O Amor é imortal.

4. Ao obtê-lo, o homem torna-se perfeito, torna-se imortal, fica satisfeito.

5. E, ao obtê-lo, ele não deseja nada, não se lamenta, não odeia, não se deleita, não faz nenhum esforço.

6. Conhecendo-o, ele fica intoxicado, petrificado e se alegra no Self (Ātman).

Isso é explicado em mais detalhes no final do Haṭha Yoga de Swami Svātmārāma:

Bhakti realmente significa a percepção constante da forma do Senhor pelo Antaḥkaraṇa. Foram enumerados nove tipos de Bhaktis. Ouvir suas histórias e se relacionar com elas, lembrar-se dele, adorar seus pés, oferecer flores a ele, curvar-se a ele (em alma), comportar-se como seu servo, tornar-se seu companheiro e oferecer o Ātman a ele. ... Assim, Bhakti, em seu aspecto mais transcendental, está incluído em Saṃprajñāta Samādhi9.

P., como estudante, já praticava há muito o Jñāna Yoga em seu estudo da Santa Cabala; ele também praticara Karma Yoga por seus atos de serviço enquanto Neófito da Ordem da Aurora Dourada; mas agora por sugestão de D.A., ele se engajou na prática de Haṭha e Rāja Yoga.

O Haṭha Yoga e o Rāja Yoga estão tão intimamente conectados que, em vez de formarem dois métodos separados, eles formam a primeira metade e a segunda metade de um só.

Antes de discutir o Haṭha ou o Rāja Yoga, será necessário explicar as condições sob as quais o Yoga deve ser realizado. Estas condições são as convencionais, portanto, cada indivíduo deve descobrir pela prática as que são mais adequadas para si.

i. O Guru.

Antes de iniciar qualquer prática de Yoga, de acordo com todos os livros hindus sobre esse assunto, primeiro é necessário encontrar um Guru10, um professor, a quem o discípulo (Celā) deve se devotar completamente: como diz o Śiva Saṃhitā:

11. Somente o conhecimento transmitido por um Guru é poderoso e útil; caso contrário, torna-se infrutífero, fraco e muito doloroso.

12. Aquele que obtém conhecimento satisfazendo seu Guru com toda atenção, obtém prontamente sucesso nisto.

13. Não há a menor dúvida de que Guru é pai, Guru é mãe e Guru é mesmo Deus: e, como tal, ele deve ser servido por todos, com seus pensamentos, palavras e ações11.

ii. Lugar. Solidão e Silêncio.

O lugar onde o Yoga é realizado deve ser um local bonito e agradável, de acordo com o Śiva Saṃhitā12. No Upaniṣada Kṣurika, 2:21, é afirmado que “um lugar silencioso” deve ser escolhido; e no Śvetāśvatara, 2:10:

Que o lugar seja puro, e também livre de pedras e areia,

Livre de fogo, fumaça e poças de água,

Aqui onde nada distrai a mente ou ofende os olhos,

Em um vale protegido do vento, um homem deve se acomodar.

A habitação de um Yogī é descrita da seguinte forma:

O praticante de Haṭha Yoga deve morar sozinho em um pequeno Maṭha ou mosteiro situado em um local livre de pedras, água e fogo; da extensão do comprimento de um arco, e em um país fértil governado por um rei virtuoso, onde ele não será perturbado.

O Maṭha deve ter uma porta muito pequena e não deve ter janelas; deve estar nivelado e sem furos; não deve ser muito alto nem muito comprido. Deve ser muito limpo, ser diariamente besuntado com esterco de vaca e estar livre de quaisquer insetos. Do lado de fora, deve haver um pequeno corredor com um assento elevado e um poço, e o local todo deve estar cercado por uma parede. ...13

iii. Horário.

As horas em que o Yoga deve ser realizado variam de acordo com as instruções do Guru, mas geralmente deve ser quatro vezes ao dia, ao nascer do sol, ao meio dia, ao pôr do sol e à meia noite.

iv. Comida.

De acordo com o Haṭha Yoga Pradīpikā: “Define-se dieta moderada como comer alimentos agradáveis e doces, deixando um quarto do estômago livre e oferecendo o ato a Śiva”14.

Coisas que foram cozidas e então esfriaram devem ser evitadas, também alimentos que contenham excesso de sal e acidez. Trigo, arroz, cevada, manteiga, açúcar, mel e feijão podem ser consumidos, e água pura e leite podem ser bebidos. O Yogī deve fazer uma refeição por dia, geralmente um pouco depois do meio dia. “O Yoga não deve ser praticado imediatamente após uma refeição, nem quando se está com muita fome; antes de iniciar a prática, deveria ser consumido um pouco de leite e manteiga”15.

v. Considerações físicas.

O aspirante ao Yoga deve estudar seu corpo e sua mente e cultivar hábitos regulares. Ele deve seguir rigorosamente as regras de saúde e saneamento. Ele deve se levantar uma hora antes do nascer do sol e tomar banho duas vezes por dia, de manhã e à noite, com água fria (se puder fazê-lo sem prejudicar sua saúde). Suas vestes devem ser quentes, para que ele não se distraia com as mudanças climáticas.

vi. Considerações morais.

O Yogī deve praticar a gentileza com todas as criaturas, abandonar a inimizade em relação a qualquer pessoa, “orgulho, engano e desonestidade” ... e a “companhia de mulheres”16. Além disso, no Capítulo 5 do Śiva Saṃhitā, os obstáculos do Prazer, Religião e Conhecimento são expostos consideravelmente. Acima de tudo, o Yogī “deve trabalhar como um mestre e não como um escravo”17.

Haṭha Yoga.
União pela Coragem.

Não importa qual consecução o aspirante procura alcançar, ou qual objetivo ele tem em vista, a única coisa acima de todas as outras que é necessária é um corpo saudável e um corpo que está sob controle. É inútil tentar obter estabilidade mental em alguém cujo corpo salta da terra para a água como um sapo; com tal corpo, qualquer influxo repentino de iluminação pode trazer consigo não esclarecimento, mas sim obsessão; por isso todos os grandes mestres impuseram a tarefa da coragem antes daquela da empreitada18. Aquele que ousa querer, quererá saber, e sabendo, manterá o silêncio19; porque até mesmo para pessoas tais como aquelas que entraram na Ordem Suprema, não há como eles romperem a quietude e se comunicarem com aqueles que não deixaram de ouvir20. O guardião do Templo é Adonai, só ele possui a chave do Portal, busque-a com Ele, pois não há outro que possa abrir a porta para você.

Agora, ousar demais é querer pouco, e ocorre que embora o Haṭha Yoga seja o Yoga físico que ensina o aspirante a controlar seu corpo, o Rāja Yoga também o ensina a controlar sua mente. Pouco a pouco, à medida que o corpo fica sob controle, a mente afirma seu domínio sobre o corpo; e pouco a pouco, à medida que a mente afirma seu domínio, ela fica gradualmente, pouco a pouco, sob o domínio do Ātman, até que finalmente o Ātman, Augoeides, o Self Superior ou Adonai preenche o Espaço que antes era ocupado apenas pelo corpo e mente do aspirante. Portanto, como se fosse pela morte do corpo, a ressurreição do Self Superior se realiza, e os pináculos daquele Templo, cujas fundações estão profundamente assentadas na terra negra, se perdem entre os estrelados Palácios de Deus.

No Haṭha Yoga Pradīpikā, lemos que “não pode haver Rāja Yoga sem Haṭha Yoga, e vice-versa, então para aqueles que vagam na escuridão das Seitas conflitantes incapazes de obter a Rāja Yoga, o mui misericordioso Yogī Svātmārāma oferece a luz do Haṭhavidyā”21.

Na prática desta união mística que é provocada pelos exercícios de Haṭha Yoga e Rāja Yoga, as condições necessárias são:

  1. Yama: Não matar (Ahiṃsā); veracidade (Satya); não roubar (Asteya); continência (Brahmacharya); e não receber nenhum presente (Aparigraha).

  2. Niyama: Limpeza (Śauca); contentamento (Santoṣa); mortificação (Tapas); estudo e auto rendição (Svādhyāya); e o reconhecimento do Supremo (Īśvara praṇidhāna).

  3. Āsana: Postura e a posição correta de manter o corpo, e a realização dos Mudrās.

  4. Prāṇāyāma: Controle do Prāṇā, e as forças vitais do corpo.

  5. Pratyāhāra: Tornar a mente introspectiva, voltada a si mesma.

  6. Dhāraṇā: Concentração ou a vontade de focar a mente em certos pontos.

  7. Dhyāna: Meditação ou o derramamento da mente sobre o objeto mantido pela vontade.

  8. Samādhi: Êxtase ou Superconsciência.

No que diz respeito às duas primeiras etapas acima, não precisamos lidar com elas por muito tempo. Estritamente falando, eles estão sob o título de Karma e Jñāna Yoga, e são como se fosse o evangelismo do Yoga – o “Tu farás” e “Tu não farás”. Eles variam de acordo com a definição e a seita22. No entanto, um ponto deve ser explicado, é preciso lembrar que a maioria dos trabalhos sobre Yoga são escritos por homens como Patañjali, para quem a continência, a veracidade etc. são simples ilusões da mente; ou por charlatães, que imaginam que, exibindo ao leitor uma massa de “virtudes” de classe média, suas obras terão um sabor tão elevado que eles próprios passarão por grandes ascetas que superaram as paixões bestiais da vida, enquanto na verdade eles estão dirigindo haréns em Boulogne ou fazendo propostas indecentes para floristas na South Audley Street. Esses últimos geralmente fazem comércio sob os nomes exaltados de Os Mahātmās; que, vindos diretamente do Sham Bazaar, vendem seus miseráveis băk băk a seus seguidores de mentalidade de ovelha como a palavra eterna de Brahman – “A chuva do Altíssimo!” E, não raro, terminam em meditação silenciosa dentro das paredes ilusórias de Wormwood Scrubs23.

O Oriente, assim como o Ocidente, há muito caiu sob o feitiço daquele Magista poderoso, mas de classe média – Sto. Sexo Envergonhado; e toda a sua literatura oscila entre os dois extremos da Pederastia e da Brahmacarya. Até mesmo a grande ciência do Yoga não permaneceu livre de ser poluída por seu hálito, de modo que, em muitos casos, evitando o naufrágio em Cila, o Yogī perdeu a vida nos redemoinhos de Caríbdis24.

Os Yogīs afirmam que as energias do corpo humano são armazenadas no cérebro, e as mais altas dessas energias se chamam “Ojas”. Eles também afirmam que aquela parte da energia humana que se expressa na paixão sexual, quando controlada, se transforma facilmente em Ojas; e é assim que eles invariavelmente insistem que seus discípulos guardem a energia sexual e convertam-na em Ojas. Assim lemos:

Somente o homem e a mulher castos podem fazer com que os Ojas se elevem e sejam armazenados no cérebro, e é por isso que a castidade sempre foi considerada a maior virtude. ... É por isso que em todas as ordens religiosas do mundo que produziram gigantes espirituais, você sempre encontrará essa insistência em intensa castidade. ... 25 Se as pessoas praticam Rāja Yoga e, ao mesmo tempo, levam uma vida impura, como podem esperar se tornar Yogīs?26

À primeira vista, esse argumento parece contraditório e, portanto, falacioso, pois, se a obtenção de Ojas é tão importante, como pode ser correto destruir uma paixão saudável, que é o principal meio de supri-la com a energia renovada necessária para mantê-la? A resposta do Yogī é bastante simples: vendo que a extinção do primeiro significaria a morte final do segundo, os vários exercícios de Mudrā foram introduzidos, para que essa paixão saudável possa não apenas ser preservada, mas cultivada da maneira mais rápida possível, sem a perda de vitalidade resultante das práticas adotadas. Acima de tudo, é necessário equilíbrio, e mesmo nesses estágios iniciais, a mente do aspirante deve estar completamente livre da obsessão de apetites não gratificados ou super gratificados. Nem a Lascívia e nem a castidade devem ocupá-lo sós; pois como Kṛṣṇa diz:

Realmente, o Yoga não é para quem come demais, nem para quem se abstém de comer em excesso, nem para quem é viciado demais em dormir, nem mesmo para quem fica demais em vigília, ó Arjuna.

O Yoga mata toda a dor para quem é regulado em comer e se divertir, regulado em executar as ações, regulado em dormir e acordar27.

Esse equilíbrio do que vulgarmente é conhecido como Virtude e Vício28, e que a Filosofia Yogī nem sempre aprecia, é ilustrado ainda mais fortemente na esclarecedora obra Konx om Pax, na qual o Sr. Crowley escreve:

Como é acima, é abaixo! disse Hermes o três vezes grande. As leis do mundo físico têm paralelos precisos nas esferas moral e intelectual. Para a prostituta, prescrevo um curso de treinamento pelo qual ela compreenderá a santidade do sexo. A castidade faz parte desse treinamento, e esperaria vê-la um dia como uma feliz esposa e mãe. Para a puritana, prescrevo igualmente um curso de treinamento pelo qual ela compreenderá a santidade do sexo. A falta de castidade faz parte desse treinamento, e esperaria vê-la um dia como uma feliz esposa e mãe.

Ao fanático, recomendo um curso de Thomas Henry Huxley; ao infiel, um estudo prático da magia cerimonial. Então, quando o fanático tiver conhecimento e o infiel tiver fé, cada um pode seguir sua inclinação natural sem preconceitos; pois ele não mergulhará mais em seus excessos anteriores.

Assim também aquela que era prostituta por paixão nata pode se entregar com segurança ao prazer do amor; aquela que por natureza é fria pode gozar de uma virgindade de forma alguma prejudicada por seu curso disciplinar de promiscuidade. Mas uma entenderá e amará a outra29.

De uma vez por todas, não se esqueça de que nada neste mundo é permanentemente bom ou mau; e, desde que assim pareça, lembre-se de que a culpa é do observador e não da coisa vista, e de que o observador ainda está em um estado desequilibrado. Nunca esqueça as palavras de Blake:

“Aqueles que reprimem o desejo o fazem porque o deles é fraco o suficiente para ser contido; e o restritor ou razão usurpa seu lugar e governa os que não desejam”30. Não restrinja seus desejos, mas equilibre-os, pois: “Aquele que deseja, mas não age, gera pestilência”31. Realmente: “Levanta-te, e beba à sua bem-aventurança, pois tudo o que vive é santo.”32

Os seis atos de purificação do corpo por Haṭha Yoga são Dhauti, Basti, Netī, Trāṭaka, Nauli e Kapālabhāti33, cada um sendo descrito detalhadamente por Swami Svātmārāma. Mas os dois exercícios mais importantes pelos quais todos devem passar, se quiserem ter sucesso, são os de Āsana e Prāṇāyāma. O primeiro consiste em exercícios físicos que trarão ganho para quem exercita o controle sobre os músculos do corpo e o segundo sobre a respiração.

Os Āsanas, ou Posições.

De acordo com o Pradīpikā e o Śiva Saṃhitā, existem 84 Āsanas; mas Gorakṣa diz que existem tantos Āsanas quanto variedades de seres, e que Śiva contou oitenta e quatro Lākhs deles34. Os quatro mais importantes são: Siddhāsana, Padmāsana, Ugrāsana e Svastikāsana, descritos no Śiva Saṃhitā da seguinte forma35:

O Siddhāsana. Ao “pressionar com cuidado o calcanhar (esquerdo) à yoni36, o outro calcanhar do Yogī deve ser posto no liṅga; ele deve fixar o olhar no espaço entre as duas sobrancelhas ... e restringir seus sentidos”.

O Padmāsana. Ao cruzar as pernas, “coloque cuidadosamente os pés nas coxas opostas (a esquerda sobre a direita e vice-versa), cruze as duas mãos e coloque-as de maneira semelhante sobre as coxas; fixe a visão na ponta do nariz”.

O Ugrāsana. “Estique as duas pernas e mantenha-as separadas; segure firmemente a cabeça pelas mãos e posicione-a na altura dos joelhos”.

O Svastikāsana. “Coloque as solas dos pés completamente embaixo das coxas, mantendo o corpo reto e à vontade”.

Para o iniciante, a postura que persiste confortável pelo maior período de tempo é a correta para se adotar; mas a cabeça, o pescoço e o peito devem sempre ser mantidos eretos, o aspirante deve de fato adotar o que o livro de exercícios chama de “a primeira posição de um soldado” e nunca permitir que o corpo desmaie de forma alguma. O Bhagavad Gītā diz o seguinte sobre este ponto:

Em um lugar puro, estabelecido em um assento fixo próprio, nem muito alto e nem muito baixo ... em um local secreto por si só. ... Ali ... ele deveria praticar Yoga para a purificação do self. Mantendo o corpo, a cabeça e o pescoço eretos, firme e imóvel, olhando fixamente para a ponta do nariz e sem dispersar o olhar.

Quando essas posturas forem de alguma forma dominadas, o aspirante deve combinar com elas os exercícios de Prāṇāyāma, que gradualmente purificarão os Nāḍī ou centros nervosos.

Esses Nāḍī, que costumam ser classificados como sendo 72.00037, ramificam-se para fora do coração no pericárdio; os três principais são Iḍā, Piṅgala e Suṣumṇā38 o último dos quais é chamado de “o mais amado dos Yogīs”.

Além de praticar Prāṇāyāma, ele também deve executar um ou mais dos Mudrās, conforme estabelecidos no Haṭha Yoga Pradīpikā e no Śiva Saṃhitā, para que ele possa despertar a Kuṇḍalinī adormecida, a grande deusa, como é chamada, que dorme enrolada na boca do Suṣumṇā. Mas antes de tratarmos de qualquer um desses exercícios, será necessário explicar a Constituição Mística do organismo humano e os seis Cakras que constituem os seis estágios do Tau da Vida hindu.


1 Vivekānanda, Raja Yoga, edição Udbodhan, pgs. 51, 52. “Todo vale se encherá, todo monte e ladeira se abaixará; e o que é torto se endireitará, e os caminhos escabrosos serão aplanados ... Preparai o caminho de Adonai.” – Lucas 3: 4,5

2 Bhagavad Gītā, Cap. IV, 33, 37, 38. Compare com o acima, “A Sabedoria de Salomão”, por exemplo: “Porque a sabedoria, que é a obreira de todas as coisas, me ensinou; pois nela há um espírito de entendimento, santo, único, múltiplo, sutil, vivo, claro, imaculado, claro, não sujeito à dor, amando o que é bom, rápido, que não pode ser impedido, pronto para fazer o bem ... pois a sabedoria é mais móvel do que qualquer movimento; ela passa e segue através de todas as coisas em virtude de sua pureza. Pois ela é o sopro do poder de Deus”. (Cap. VII, 22, 24, 25.)

3 Yoga or Transformation, p. 196. Controle, ou Restrição, é a Chave do Karma Yoga; fraqueza é a sua danação. Sobre o Karma Yogī, Vivekānanda escreveu: “Ele anda pelas ruas de uma cidade grande com todo o seu tráfego, e sua mente está tão calma quanto se estivesse em uma caverna onde nenhum som poderia alcançá-lo; e ele está trabalhando intensamente o tempo todo”. Karma Yoga, p. 17.

4 Consulte o Bhakti-Yoga de Vivekānanda, pgs. 62-68.

5 Deussen, The Upanishads, p. 390.

6 Śiva Saṃhitā, cap. v. A semente em cada caso é o Mantra.

7 O Absoluto.

8 Nārada Sūtra. Traduzido por T. Sturdy. Consulte também as obras de Bhagavan Ramanuja, Bhagavan Vyasa, Prahlada e, mais particularmente, o Bhakti-Yoga de Vivekānanda. O Bhakti Yoga tem duas divisões principais. (1) A preparatória, conhecida como Gauṇī; (2) A devocional, conhecida como Parā. Desta forma, ele assemelha-se muito, até mesmo nos detalhes, à Operação de Abramelin, na qual o aspirante, tendo se preparado completamente, dedica-se à invocação de seu Sagrado Anjo Guardião.

9 No Bhakti Yoga, o discípulo geralmente se dedica ao seu Guru, a quem oferece sua devoção. O Guru é tratado como o próprio Deus com quem o Celā deseja se unir. Eventualmente “Ele por si só não vê distinções! O poderoso oceano de amor entrou nele, e ele não vê homens, animais e plantas ou o sol, a lua e as estrelas, mas contempla seu Amado por toda parte e em todas as coisas. Bhakti Yoga, Vivekānanda, edição Udbodham, p. 111. Os Sufis eram Bhakti Yogīs, assim como Cristo. Buda era um Jñāna Yogī.

10 Um Guru é tão necessário no Yoga como um mestre de Música na Música.

11 Śiva Saṃhitā, cap. iii.

12 Ibid., Cap. V, 184, 185. O aspirante deve primeiro se juntar à assembleia de bons homens, mas falar pouco; segundo, deve comer pouco; em terceiro lugar, deve renunciar à companhia dos homens, à companhia das mulheres, à toda companhia. Ele deve praticar em segredo em um local isolado. “Para manter as aparências, ele deve permanecer na sociedade, mas não deve fixar seu coração nela. Ele não deve renunciar aos deveres de sua profissão, casta ou posição social, mas que ele os realize meramente como um instrumento sem pensar no evento. Fazendo assim, não haverá pecado.” A propósito, essa é uma sã doutrina Rosacruz.

13 Haṭha Yoga Pradīpikā, pgs. 5, 6. Observe a semelhança dessas condições com as estabelecidas no Livro da Magia Sagrada. Consulte também o Gheraṃḍa Saṃhitā, p. 33.

14 Haṭha Yoga Pradīpikā, p. 22. Sobre a questão da comida, Vivekānanda diz o seguinte em seu Bhakti Yoga, p. 90: “A vaca não come carne, nem a ovelha. Eles são ótimos Yogīs? ... Qualquer tolo pode se abster de comer carne; certamente, isso por si só não lhe torna mais especial do que animais herbívoros”. Consulte também Gheraṃḍa Saṃhitā, pgs. 34-36.

15 Śiva Saṃhitā, iii, 37.

16 Ibidem, iii, 33.

17 Vivekānanda, Karma Yoga, p. 62.

18 Como no caso de Jesus, o aspirante, pela alegria que lhe é apresentada, ousa suportar a cruz, desprezando a vergonha, se ele for “sentado à direita do trono de Deus”. Hebreus, 12:2.

19 “Se não houver intérprete, que ele fique em silêncio na igreja; e que ele fale consigo mesmo e com Deus” (1 Coríntios, 14:28) tem mais de um significado.

20 “E quando ele abriu o sétimo selo, houve silêncio no céu pelo espaço de meia hora” (Apocalipse 8:1).

21 Haṭha Yoga Pradīpikā, p. 2.

22 Em todos os Mistérios, seus participantes sempre foram pessoas que não cometeram crimes. Deve-se lembrar que Nero não se atreveu a se apresentar nos Eleusianos (Sueton. vit. Nero, e. 3A). E Porfírio nos informa que “nos Mistérios era exigido que se honrasse os pais, e não ferisse os animais” (de Abstinentia, iv, 22).

23 «Local onde opera um presídio desde 1875.»

24 «Na mitologia grega há um canal estreito de água onde de um lado há o monstro Cila, e do outro o monstro Caríbdis.»

25 Certamente não no caso da Religião Maometana e de seus Adeptos Sufistas, que beberam da safra de Baco, bem como do vinho de Iacchus. A questão da Castidade novamente é uma daquelas que se apoiam no temperamento e não no dogma. É curioso que o astuto Vivekānanda tenha caído nessa armadilha de homens.

26 Raja Yoga de Svāmī Vivekānanda, p. 45.

27 Bhagavad Gītā, vi, 16, 17.

28 Ou mais corretamente, como diz o budista – habilidade e inabilidade.

29 Konx om Pax de A. Crowley, pgs. 62 e 63.

30 O Matrimônio do Paraíso e o Inferno.

31 Ibidem.

32 Visões das Filhas de Albion.

33 Haṭha Yoga Pradīpikā, p. 30. Dhauti é de quatro tipos: Antara Dhauti (lavagem interna); Danta Dhauti (limpeza dos dentes); Hrida Dhauti (limpeza do coração); Mula Shodhana (limpeza do ânus). Basti é de dois tipos, Jala Basti (Basti com água) e Sushka Basti (Basti seca) e consiste principalmente na dilatação e contração do músculo do esfíncter do ânus. Netī consiste em inserir um fio pelas narinas e puxá-lo pela boca, Trāṭaka em firmar os olhos, Nauli em mover o intestino e Kapālabhāti, que é de três tipos:Vyutkrama, Vatakrama e Sheetkrama, ou puxar o vento ou a água pelas narinas e expulsá-lo pela boca, e vice-versa. Consulte também o Gheraṃḍa Saṃhitā, pgs. 2-10. Este pequeno livro deve ser lido junto com o Haṭha Yoga Pradīpikā.

34 O Gheraṃḍa Saṃhitā dá trinta e duas posturas.

35 Śiva Saṃhitā, pgs. 25, 26.

36 O “triângulo de carne” imaginário próximo ao períneo.

37 Além dos 72.000 nervos ou veias, frequentemente outros 101 são mencionados. Cada uma dessas 101 veias principais tem 100 veias ramificadas delas, cada uma novamente com 72.000 veias tributárias. O total (101 + 101 × 100 × 100 × 72.000) é igual a 727.210.201. A 101ª é o Suṣumṇā. O Yoga atravessa todas estas, exceto a 101ª, eliminando toda a consciência até que o Yogī “se funde no supremo, indescritível e inefável Brahman”. Consulte também o Gheraṃḍa Saṃhitā, p. 37. Sabe-se que os Nāḍīs são purificados pelos seguintes sinais: (1) Uma pele clara. (2) Uma voz bonita. (3) Uma aparência calma no rosto. (4) Olhos brilhantes. (5) Ouvir constantemente o Nāda.

38 O Suṣumṇā pode ser comparado de diversas maneiras a Prometeu, ou ao junco oco, que como mediador entre o céu e a terra transmitiu o fogo místico da lua. Novamente, o Mahāliṅga ou ό φαλλός. Para mais informações, consulte The Canon, p. 119.


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Traduzido por Alan Willms em julho de 2020.

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