A Criança

Este artigo é um capítulo de O Templo do Rei Salomão

A Criança (o Místico)

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A Criança

SOB os chifres brilhante de Capricórnio, quando as montanhas do Norte brilhavam como os dentes do lobo negro na fria luz da lua, e quando as amplas terras abaixo do cinturão flamejante da de Tellus, a de muitos seios, corou vermelha nos braços do sol de verão, Miriam buscou a caverna abaixo da caverna, na qual a luz nunca brilhou, para trazer a Luz do Mundo. E no terceiro dia ela partiu da caverna, e, entrando no estábulo do Sol, ela colocou sua criança no presépio da Lua. Da mesma forma nasceu Mitras sob a cauda da Cabra-Marinha, e Hórus, e Krishna – todos nomes místicos da mística Criança da Luz.

Eu sou a Antiga Criança, o Grande Agitador, o Grande Apaziguador. Eu sou Ontem, Hoje e Amanhã. Meu nome é Alfa e Ômega – o Princípio e o Fim. Minha morada é construída entre a água e a terra, as suas colunas são de fogo, e as paredes são de ar, e o teto acima é o sopro de minhas narinas, que é o espírito da vida do homem.

Nasço como um ovo no Leste, de prata e de ouro, e opalescente com as cores de pedras preciosas; e com minha Glória está a besta do horizonte feita de púrpura e escarlate, e laranja e verde, de várias cores como um grande pavão apanhado nas espirais de uma serpente de fogo. Ao longo dos pilares do Aethyr eu velejo, como uma fornalha de cobre polido, e explosões de fogo são vertidas de minhas narinas, e banham a terra de sonhos no esplendor de minha Glória. E no oeste a pálpebra de meus Olhos fecha – a queda fere a Noite do julgamento e da destruição, essa noite do abate do mal e da destruição dos ímpios, e a queima dos condenados.

Vestido nas chamas de minha boca, eu envolvo os céus, para que ninguém me veja, e para que os olhos dos homens sejam poupados da tortura da luz indescritível. ”Devorador de Milhões de Anos” é meu nome, “Senhor da Chama” é meu nome; porque eu sou como um olho de Prata situado no coração do Sol. Tu espalhaste as mechas de teus cabelos diante de ti, pois eu te queimo; tu o serpenteaste sobre tua testa, de modo que os teus olhos não pudessem ser cegados pelo fogo de minha fúria. Eu sou Aquele que era, que é, e que será; eu sou o Criador, e o Destruidor, e o Redentor da humanidade. Eu vim como o Sol a partir da casa do rugir de leões, e em minha vinda haverá riso, e pranto, e canto, e ranger de dentes. Vós pisareis sobre a serpente e o escorpião, e as hostes de seus inimigos serão como palha diante da foice de seu poder: mas vós deveis nascer na caverna das trevas e ser colocado na manjedoura da lua.

Vede! Sou como um bebê nascido em berço de lírios e rosas, e envolto nas faixas de panos de Juno. Minhas mãos são delicadas e pequenas, e meus pés são calçados em chamas, de modo que não toque os reinos desta terra. Eu me levanto, e deixo o berço de meu nascimento, e passeio por entre os vales e as colinas, através dos desertos queimados-pelo-sol do dia, e através dos bosques frios da noite. Em toda parte, em qualquer lugar, eu me encontro, em poços profundos, e nos córregos que dançam, e na superfície multicolorida dos lagos: lá eu sou branco e maravilhoso, uma criança de encanto e de beleza, uma criança que atrai canções da rosa selvagem, e beijos dos zéfiros da madrugada.

Herodes teria me matado, e Kansa teria me rasgado com os dentes de fogo; mas eu os iludi, como uma chama escondida em uma nuvem de fumaça, e refugiei-me na terra de Ptah e busquei refúgio nos braços de Seb. Ali as glórias da Luz revelaram-se para mim, e eu me tornei como uma filha de Ceres brincando nos soníferos campos de milho amarelo: ainda assim, como um bacanal desfeito pelo sol, eu pisoteei a formação de espuma que deveria partir das uvas púrpuras de Baco, e as soprando no gérmen da vida, as fiz fermentar, e borbulhar como o Vinho de Iacchus. Então, com a donzela, que também era eu mesmo, eu comunguei da Eucaristia do Amor – o milho e o vinho, e nos tornamos um.

Então veio a mim uma mulher sutil e bonita de se ver, cujos seios eram como tigelas de alabastro cheias de vinho, e os cabelos púrpura cuja cabeça era como uma nuvem escura em uma noite tempestuosa. Vestida em uma gaze de escarlate e ouro, e joias com pérolas e esmeraldas e pedras mágicas, ela, como uma aranha fia em uma teia de raios solares e sangue, dançou diante de mim, lançando suas joias para os ventos, e nua, ela cantava para mim : “Ó amante de meu coração, teus membros são como calcedônia, brancos e redondos, e tingidos com o rubor misturado da safira, do rubi, e do sárdio. Teus lábios são como as rosas de Juno, e os teus olhos como as ametistas cravejadas no firmamento do céu. Ó! venha me beijar, porque eu tremo por ti; me encha de amor, porque eu sou consumida pelo calor de minha paixão; diga-me, Ó mata-me de beijos, queima-me no fogo de teu reino, Ó mata-me com a espada de teu êxtase!”

Então eu gritei-lhe em voz alta, dizendo: “Ó Rainha dos desejos da carne! Ó Rainha das terras assombradas por sátiros! Ó Senhora da Noite! Ó Mãe dos mistérios do nascimento e da morte! Que és cingida nas chamas da paixão, e adornada com esmeralda, e pedra da lua, e crisólito. Vede! em tua testa arde a estrela safira do céu, o teu cinto é como a serpente do Éden, e em volta de teus tornozelos trepidam os rubis e granadas do inferno. Ouça, Ó Lilith! Ó Feiticeira do sangue da vida! Meus lábios são para aqueles que não amamentam o Bem, e meus beijos para aqueles que não apreciam o Mal. E o meu reino é para os filhos da luz que pisoteiam as vestes da vergonha, e rasgam de seus quadris o linho da modéstia. Quando Dois forem Um, então tu serás coroada com uma coroa nem de ouro nem de prata, e nem de pedras preciosas, mas como com uma coroa de fogo, feita à luz da glória de Deus. Sim! quando minha espada cair, então aquilo que estiver fora será como aquilo que está dentro; então as lágrimas serão como beijos, e beijos como lágrimas; então todos serão impregnados e completados, e acharás em tua mão um cetro, nem de lírios nem de ouro, mas um cetro de luz, sim! um cetro da santidade e encanto de luz e de glória!”

Ó Crianças da terra dos Sonhos! Ó vós que cruzarias a barreira do sono, e vos tornarias como a Criança do Despertar e da Luz. Ai de vós! pois vós limpastes o exterior do cálice e da escudela; mas por dentro estão cheios de impurezas. Vós estais embebidos no sangue da corrupção, e sufocados com o vômito de palavras raivosas. Feche os olhos, Ó vós neófitos nos mistérios de Deus, para que não sejais cegos, e gritar como um homem cuja visão foi tornada escura por uma tocha ardente de alcatrão. Ó Crianças dos Sonhos! arai bem os campos da noite, e preparai-os para o Semeador da Aurora. Acautela-te para que não amadureça o milho dourado e vós não estais prontos para arrancar as orelhas inchadas, e festejar, e tornar-se como Bezaleel, cheio de um espírito divino de sabedoria e entendimento, e conhecimento – artífice hábil em ouro e em prata, e em bronze, em escarlate, em púrpura, e em azul.

Mas ai de vós que ficardes pelo caminho, pois a noite está à mão; hoje é a aurora, amanhã a noite de pranto. Cinge os seus quadris e corre para as colinas; e talvez no caminho sob os cedros e os carvalhos vós conhecereis Deus face a face e sabereis. Mas não se abateis se vós encontrardes Deus na espuma ou na borra do primeiro cálice: bebei e se agarrai à espada da coragem – adiante, sempre a frente, e sem medo!

Espíritos malignos deverão afligir o caminho do justo, e demônios, e todos os espíritos elementais do Abismo. Porém não temeis! pois eles adicionam grandeza e glória à força do poder de Deus. Siga seu caminho, mas mantenha teus pés em cima de seus pescoços, pois na região para onde vais, o serafim e a serpente vivem lado a lado.

Sume lege. Abra o Livro de TI MESMO, pega e lê. Comei, pois este é o teu corpo; bebei, pois este é o sangue de tua redenção. O sol que tu vês durante o dia, e a lua que tu contemplas durante a noite, e todas as estrelas do céu que queimam sobre ti, são parte de ti mesmo – são tu mesmo. E assim é a taça do Espaço que os contém, e o vinho do Tempo em que eles flutuam; pois esses dois são parte de ti – são Tu mesmo. E também Deus quem os lança para fora dos cofres de seu tesouro. Ele, também, embora tu não saibas disso, é parte de ti – é TU MESMO. Tudo está em ti, e tu estás em tudo, e a existência não está isolada, sendo apenas uma rede de sonhos em que os sonhadores da noite estão enlaçados. Leia, e tu te tornaras; comei e bebei, e tu serás.

Embora fraco, tu és teu próprio mestre; não dê ouvidos aos tagarelas de palavras vãs, e tu te tornarás forte. Não há nenhuma revelação exceto a tua própria. Não há entendimento exceto o teu próprio. Não há consciência à parte de ti, mas que é mantida feudal para ti no reino de tua Divindade. Quando tu saberdes tu saberás, e não haverá nenhum outro além de ti, pois tudo se tornou como uma armadura em torno de ti, e tu mesmo um invulnerável e invencível guerreiro da Luz.

Não dê atenção aos pedantes que conversam como macacos entre as copas das árvores; observa antes os mestres, que na caverna sob a caverna expiram o sopro da vida.

Um diz para ti:

“Abandonai tudo o que for fácil, siga o difícil; não coma do melhor, mas do mais repugnante; não ceda aos teus prazeres, mas nutre bem teu descontentamento; não conforta a ti mesmo, mas procura as águas da desolação; não repouses, mas trabalhes nas profundezas da noite; não aspirai às coisas preciosas, mas às coisas baixas e desprezíveis.”

Mas eu te digo: não dê atenção a este homem vão, este tagarelador de palavras! Pois não há Religiosidade na facilidade, em bons pratos, e em prazeres, em conforto, em descanso, e em coisas preciosas.

Assim, se em ti achares uma taça de joias, eu te digo, beba dela, pois é o cálice da tua salvação; não procurai, portanto, uma tigela estúpida de chumbo pesado!

Ainda outro dirá a ti:

“Não deseje coisa alguma, não deseje nada; não procure pelo melhor, mas o pior. Despreza-te, calunia-te; fale levianamente de ti mesmo”.
E mais uma vez:
“Para apreciar o sabor de todas as coisas, então nada aprecie.”
“Para conhecer todas as coisas, então decida não possuir nada.”
“Para ser tudo; então, esteja realmente disposto a não ser nada.”

Mas eu digo a ti: este está repleto como a bexiga de um louco com vento e um chocalho de ervilhas secas; pois quem quer tudo, é ele quem procura o melhor; pois aquele que honra a si mesmo, que mais se orgulha e quem fala muito de si mesmo, é aquele que também reinará na Cidade de Deus.

“Para não ter gosto por nada, então aprecie o sabor de todas as coisas.
“Para resolver nada possuir, então possua todas as coisas.
“Para ser nada, então realmente seja tudo.”

Abra o livro de Ti Mesmo na caverna sob a caverna e o leia pela luz de teu próprio entendimento, então em breve tu nascerás novamente, e serás posto na manjedoura da Lua no estábulo do Sol.

Porque, crianças! quando vos deterdes em uma coisa, vós deixarás de abrir-vos a todas as coisas. Para chegar ao Todo, vós deveis desistir do Todo, e da mesma forma possuir o Todo. Em verdade vós deveis destruir todas as coisas e fora de Nenhuma-coisa encontrar e edificar o Templo de Deus conforme definido pelo Rei Salomão, que está assentado entre o Tempo e o Espaço; os pilares são a Eternidade, e as paredes o Infinito, e o chão a Imortalidade, e o Teto – mas vós sabereis disso futuramente! Arruina-te se assim tu lerdes a ti mesmo; mas se está escrito para adornar-te, então não poupai o último centavo, mas cobre a ti mesmo com todas as joias e pedras preciosas da terra; e de uma criança brincando com a areia à beira-mar tu te tornará Deus, cujo escabelo é o Abismo, e de cuja boca sai a espada da salvação e da destruição dos mundos, e em cuja mão repousam as sete estrelas do céu.


Traduzido por Wagner Fernandes

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